sábado, 15 de outubro de 2011

Maioria dos Estados não cumpre lei do piso nacional para professor

Levantamento do iG mostra que nove ainda não pagam salário base estabelecido e 16 não preveem tempo mínimo fora da sala de aula



Cinthia Rodrigues, iG São Paulo


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A tão falada valorização dos professores ainda não chegou ao patamar mínimo exigido por lei na maior parte do Brasil. Levantamento realizado pelo iG mostra que a maioria das redes estaduais não garante aos homenageados deste 15 de outubro a remuneração e a condição de trabalho prevista na lei 11.738, que já completou quatro aniversários e foi confirmada até no Supremo Tribunal Federal.

Das 27 unidades da federação, apenas Acre, Rondônia, Paraíba, Sergipe, Mato Grosso e Espírito Santo cumprem a legislação em vigor. Nove Estados ainda pagam salário base menor do que os R$ 1.187 previstos no piso e pelo menos 16 preveem menos de um terço da carga horária para formação, reuniões e preparo de aulas – apontados como a grande ferramenta para melhorar a qualidade do professor e da educação no País.

É preciso parar de falar em valorização e fazer o mínimo que já está estabelecido"
 
O pior piso é o de Minas Gerais, que deve mudar após 112 dias de greve. Atualmente, são R$ 369,89 por uma carga horária de 24 horas. Feita a equivalência para a carga horária de 40 horas, usada para o piso nacional, o valor seria de 616,48. A base vale para os professores leigos, como são chamados os profissionais contratados que não têm formação superior. Com exceção do Distrito Federal e do Amapá, todas as outras unidades da federação ainda contam com mestres que estudaram apenas até o ensino médio.


Outra parte da legislação ainda menos seguida pelas redes estaduais é a previsão de um terço da carga horária remunerada para o professor atuar fora da sala de aula. A situação é prevista na lei do piso por conta do entendimento de especialistas de que não é possível dar aula sem antes prepará-la e depois avaliar os resultados. O Supremo Tribunal Federal julgou que a previsão é constitucional e necessária, mas 16 Estados não cumprem e outros três não informaram se há reserva.

No Ceará - que não por acaso viveu a segunda maior greve de professores do País este ano atrás apenas dos mineiros - os professores têm zero de tempo para preparo de aula. A paralisação levou à promessa do governo de mudança, mas a nova proposta ainda está em elaboração.

Veja abaixo a lista completa com os dados de cada Estado:

Unidade da Federação
Piso para leigos
(R$)*
Piso para licenciados (R$)*
Porcentual de carga horária reservada para preparo do professor
Região norte



amazonas
663,09
1.807,52
25%
acre
1.187,97
1.759,58
33%
amapá
não existe
1.053,00
40%
pará
1.120,00
1.332,00
não informado
Rondônia
1.187,91
1.380,00
40%
roraima
2.080,00
2.880,00
12%
tocantins
1.239,31
2.854,51
não informado
região nordeste



alagoas
1.187,97
2.031,42
25%
bahia
1.105,56
1.385,98
33%
ceará
739,84
1.327,00
0%
Paraíba
1.234,66
1.481,86
33%
pernambuco
1.187
1.247,00
30%
piauí
1.187,97
1.418,15
30%
rio grande do norte
1.187,00
1.187,00
17%
maranhão
854,98
1.056,76
20%
sergipe
1.187,97
1.663,16
38%
região centro-oeste



distrito federal
não existe
2.162,87
25%
goiás
1.006,00
1.525,18
não informado
mato grosso
1.664,90
2.497,36
33%
mato grosso do sul
1.193,40
1.988,88
10%
região sudeste



são paulo
1.894,12
1.988,83
17%
minas gerais
616,48
917,56
25%
espírito santo
1.187,97
2.793,06
32%
rio de janeiro
1.333,07
2.194,77
25%
região sul



paraná
1.189,97
1.699,96
20%
santa catarina
1.187,00
1.380,00
20%
rio grande do sul
862,80
1.463,48
20%




Foto: Amana Salles/Fotoarena
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A professora Clélia Brandão, conselheira da Câmara de Educação Básica, ressalta que sem a carga horária remunerada à parte das aulas, os docentes buscam remuneração em mais empregos, correm de uma escola para outra e não têm tempo para pensar no trabalho que fazem. “Acho que o Brasil é o único lugar do mundo em que professor trabalha em tantas escolas. É preciso parar de falar em valorização e fazer o mínimo que já está estabelecido.”

O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) pede ao governo federal ajuda para cumprir a lei. Em nota, a presidente do órgão e secretária do Mato Grosso do Sul, Maria Nilene Badeca da Costa, afirmou que “nenhum secretário estadual de educação é contra o piso do magistério. Ao contrário. Todos consideram que o piso valoriza os profissionais e, por consequência, reflete na melhoria da qualidade da educação”.

“No entanto, são 27 diferentes realidades”, continua ela. “O principal entrave é o orçamentário. Há situações em que praticamente todos os recursos para a educação já estão comprometidos com a folha de pagamento e a questão de Lei de Responsabilidade Fiscal, que precisa ser observada pelos entes federados. O Consed entende que a União deveria viabilizar maior aporte de recursos para a educação.”

Ela aponta a desigualdade na divisão do investimentos. “Do montante nacional investido em educação - correspondente a 5% do PIB - 80% são responsabilidade de Estados e municípios. Já o governo federal, que arrecada 60% de todos os impostos no País, colabora com apenas 20% do total”, diz.

Os Estados com maior piso para professor são Roraima e Tocantins, o primeiro reserva apenas 12% da carga para que o professor prepare as aulas e faça reuniões, no segundo a Secretaria Estadual de Educação recusou a informação pública.

* com colaboração de Daniel Aderaldo, iG Ceará, Denise Motta, iG Minas Gerais e Wilson Lima, iG Maranhão

2 comentários:

plataovag disse...

Outrora o dia de hoje era lembrado com orgulho....Os tempos são outros

plataovag disse...

Slogan da escola "Professor é a profissão mais nobre que existe"!
Pensei "nobre" é ganhar pouco , ser humilhado, desmotivado ,violentado e não valorizado.
bom se for então tá certo...