quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Atividades em excesso prejudicam o bebê

 

Cada vez mais alardeadas como a chance para criar um momento de vínculo, aulas extracurriculares são desnecessárias para as crianças menores

 
Renata Losso, especial para o iG São Paulo
 
 
 
Foto: Getty Images Ampliar
Natação: atividade lúdica pode ser prazerosa, mas não é necessária

Em um mundo competitivo, pais querem qualificar seus filhos o quanto antes, enchendo suas agendas com aulas de inglês, natação, judô, balé e piano. Mas ao seguirem cegamente esta premissa, alguns pais podem pecar pelo excesso. O jornal britânico “The Telegraph” publicou semana passada uma carta, assinada por mais de 200 especialistas, classificando o momento atual das crianças com a máxima “too much, too soon” (“muito e muito cedo”, na tradução literal). Para eles, as crianças devem ser protegidas da superestimulação dos tempos modernos. E nessa história nem mesmo os bebês estão a salvo.

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Segundo o recém-lançado livro “Too Much, Too Soon?” (ainda sem publicação no Brasil), escrito por Sylvie Hétu e editado por Richard House, as agendas de até mesmo alguns bebês já estão superlotadas com atividades de todos os tipos: de natação a salsa. “É muito comum um bebê ter aulas diferentes todos os dias”, disse a autora ao jornal britânico “Daily Mail”. Mas será que no Brasil acontece o mesmo? De acordo com a psicóloga e terapeuta familiar Irma Pohlman, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, os pais esperam que seus filhos sejam os melhores e, muitas vezes, já saem da maternidade em busca da perfeição. “Esta característica pode estar ligada aos pais que sofreram dificuldades para conseguir espaço no início de suas carreiras e não querem que o filho passe pelo mesmo”, diz.

Não é difícil encontrar atividades como natação e yoga para mães e bebês, mesmo se eles ainda não completaram um ano de vida. Se bem dosadas, elas podem promover um momento de vínculo. “Natação é uma atividade lúdica que permite uma interação de qualidade entre mãe e filho”, defende o puericulturista Celso Eduardo Olivier. Mas é importante determinar e permitir também momentos de ócio.
Foto: Mariana Newlands
Brincar: essencial para a criança
Mãe, podemos fazer o que quisermos agora?


Desde os primeiros meses, a criança precisa de tempo para brincar. E, para isso, a agenda não pode estar cheia. De acordo com a psicóloga e terapeuta familiar Monica Dorin Schumer, especialista em desenvolvimento infantil e conexões entre pais e filhos, do Rio de Janeiro, ao participar de muitas atividades dirigidas, a criança pode acabar perdendo a espontaneidade. “Se não tiver um tempo livre para brincar e ser criança, ela vai crescer sem saber fazer nada sozinha”, diz.

As mães também devem saber que não é preciso realizar uma atividade direcionada para desenvolver vínculos afetivos com seus filhos. Estar presente nos cuidados diários já dá conta do recado. “Se a mãe dá comidinha, dá banho, veste a criança, brinca e leva ao parque, o vínculo já está sendo construído”, garante Monica.

Limites

No caso das crianças mais velhas, capazes de se expressar, é fácil perceber se a rotina anda estressante. Basta dar ouvidos a elas. Quando elas têm até três anos, é preciso ler os sinais. Segundo Celso, crianças menores ficam mais irritadas e estressadas se não tiverem suficiente tempo para descansar durante a semana. Os sinais dos bebês são o choro e os distúrbios do sono. Para Monica, a criança também pode mostrar alterações na alimentação (comer demais ou muito menos) e ter problemas na escolinha.

“Depende muito de cada criança”, afirma ela. Enquanto uma pode levar tudo numa boa, outra pode sentir muita falta de tempo livre. Mas a criança envolvida desde muito cedo com atividades direcionadas pode acabar se tornando muito medrosa, precisando sempre de alguém para orientá-la, além de não se sentir capaz. O espírito competitivo dos pais pode gerar crianças exigentes demais consigo mesmas. Ao perderem uma competição de natação, por exemplo, elas não terão mais vontade de participar.

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Para o pediatra e neonatologista Jorge Huberman, do Instituto de Saúde Plena e do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, até os três anos a criança deve participar de uma ou duas atividades direcionadas, ocupando, no máximo, dois horários por semana. A partir dos seis meses o especialista indica a natação e, a partir dos 18 meses, um esporte com momentos lúdicos. Irma Pohlman assina embaixo. De acordo com a especialista, as atividades realizadas devem ser o mais simples e serenas possíveis. “Pense no que você mesmo gostaria caso fosse um bebê”, resume.

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