quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Educação no Brasil




Espera-se que a educação no Brasil resolva, sozinha, os problemas sociais do país. No entanto, é preciso primeiro melhorar a formação dos docentes, visto que o desenvolvimento dos professores implica no desenvolvimento dos alunos e da escola, o que poderia resultar em dados positivos para a sociedade


 
Ao propor uma reflexão sobre a educação brasileira, vale lembrar que só em meados do século XX o processo de expansão da escolarização básica no país começou, e que o seu crescimento, em termos de rede pública de ensino, se deu no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980.

Com isso posto, podemos nos voltar aos dados nacionais:

O Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados (PISA). Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil crianças ainda estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação). Professores recebem menos que o piso salarial (et. al., na mídia).

Frente aos dados, muitos podem se tornar críticos e até se indagar com questões a respeito dos avanços, concluindo que “se a sociedade muda, a escola só poderia evoluir com ela!”. Talvez o bom senso sugerisse pensarmos dessa forma. Entretanto, podemos notar que a evolução da sociedade, de certo modo, faz com que a escola se adapte para uma vida moderna, mas de maneira defensiva, tardia, sem garantir a elevação do nível da educação.

Logo, agora não mais pelo bom senso e sim pelo costume, a “culpa” tenderia a cair sobre o profissional docente. Dessa forma, os professores se tornam alvos ou ficam no fogo cruzado de muitas esperanças sociais e políticas em crise nos dias atuais. As críticas externas ao sistema educacional cobram dos professores cada vez mais trabalho, como se a educação, sozinha, tivesse que resolver todos os problemas sociais.

Já sabemos que não basta, como se pensou nos anos 1950 e 1960, dotar professores de livros e novos materiais pedagógicos. O fato é que a qualidade da educação está fortemente aliada à qualidade da formação dos professores. Outro fato é que o que o professor pensa sobre o ensino determina o que o professor faz quando ensina.

O desenvolvimento dos professores é uma precondição para o desenvolvimento da escola e, em geral, a experiência demonstra que os docentes são maus executores das ideias dos outros. Nenhuma reforma, inovação ou transformação – como queira chamar – perdura sem o docente.

É preciso abandonar a crença de que as atitudes dos professores só se modificam na medida em que os docentes percebem resultados positivos na aprendizagem dos alunos. Para uma mudança efetiva de crença e de atitude, caberia considerar os professores como sujeitos. Sujeitos que, em atividade profissional, são levados a se envolver em situações formais de aprendizagem.

Mudanças profundas só acontecerão quando a formação dos professores deixar de ser um processo de atualização, feita de cima para baixo, e se converter em um verdadeiro processo de aprendizagem, como um ganho individual e coletivo, e não como uma agressão.

Certamente, os professores não podem ser tomados como atores únicos nesse cenário. Podemos concordar que tal situação também é resultado de pouco engajamento e pressão por parte da população como um todo, que contribui à lentidão. Ainda sem citar o corporativismo das instâncias responsáveis pela gestão – não só do sistema de ensino, mas também das unidades escolares – e também os muitos de nossos contemporâneos que pensam, sem ousar dizer em voz alta, “que se todos fossem instruídos, quem varreria as ruas?”; ou que não veem problema “em dispensar a todos das formações de alto nível, quando os empregos disponíveis não as exigem”.

Enquanto isso, nós continuamos longe de atingir a meta de alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade e carregando o fardo de um baixo desempenho no IDEB. Com o índice de aprovação na média de 0 a 10, os estudantes brasileiros tiveram a pontuação de 4,6 em 2009. A meta do país é de chegar a 6 em 2022.

Eliane da Costa Bruini
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Pedagogia
Pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL













segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

MEC: piso para professor em 2012 é de R$ 1.451,00

 

Todas as redes públicas precisam pagar, no mínimo, este valor mensal para uma carga semanal de 40 horas


iG São Paulo |

O Ministério da Educação confirmou o valor do novo piso nacional para professores em R$ 1.451. O salário é o mínimo que deve ser pago mensalmente a professores que tenham carga horária semanal de 40 horas. Os docentes que trabalham em jornadas diferentes precisam receber um montante proporcional.


O valor é 22,22% maior do que o piso de 2011, que era de R$ 1.187. O ajuste foi feito conforme determina a lei que institui o piso nacional, de 16 de junho de 2008, aprovada pelo Congresso Nacional. Ele se baseia na arrecadação do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica.

Na semana passada, o MEC já havia avisado Estados e municípios que o valor para 2012 é retroativo a janeiro e redes que não estejam pagando esta quantia precisarão ressarcir os professores.

Ainda há muitas redes que não pagam o piso. O tema é uma das razões para uma paralisação nacional de professores prevista para os dias 14, 15 e 16 deste mês.

Estados pressionam por valor menor

A manifestação também será contra a pressão que os governadores Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, Antonio Anastasia (PSDB), de Minas Gerais, Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, Cid Gomes (PSB), do Ceará, e Jaques Wagner (PT), da Bahia, fazem para que a Câmara dos Deputados vote um um recurso que muda a forma como o piso para professor é reajustado. Eles defendem um reajuste pela inflação, que ficaria em 6%. Para os sindicatos, a criação do piso tinha o objetivo de valorizar a carreira e, repor a inflação, tornaria a lei nula.

Municípios pedem mais verba federal

A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) divulgou que o aumento de 22% terá um impacto de R$ 1,6 bilhão nas contas das prefeituras. A estimativa, que leva em conta informações referentes a 2.039 cidades, foi feita a partir da diferença entre as médias salariais pagas hoje a professores das redes municipais e o piso de R$ 1.451 para 2012 fixado pelo MEC.

A entidade cobra uma maior participação da União no custeio do pagamento dos salários dos professores. A Lei do Piso prevê que, nos casos em que o município não possa bancar o valor, a União repassará recursos complementares. Mas, desde que a legislação está em vigor, nenhuma prefeitura ou governo estadual cumpriu os pré-requisitos necessários – como a comprovação de incapacidade financeira – para obter a complementação.

* com informações da Agência Brasil

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Regra das oito horas de sono pode ser mito

 

Padrão de sono segmentado em duas partes, que seria normal, foi sendo alterado por mudanças sócio-culturais


BBC |IG


Dados científicos e históricos sugerem que a recomendação de oito horas ininterruptas de sono por dia pode ser baseada em um mito.

Segundo especialistas, o processo biológico natural prevê um sono segmentado em duas partes, mas o padrão foi aos poucos sendo alterado por transformações sócio-culturais.

Foto: Getty ImagesAmpliar
Sono: segundo estudo, oito horas initerruptas de sono seria "mito"

No início da década de 90, o psiquiatra Thomas Wehr realizou uma experiência na qual um grupo de pessoas ficou em um ambiente escuro durante 14 horas por dia em um período de um mês.

Os voluntários precisaram de um tempo para regular o sono mas, na quarta semana, eles apresentaram um padrão de sono muito diferente: eles dormiam por quatro horas, acordavam durante uma ou duas horas e depois dormiam por mais quatro horas.


Além desta pesquisa, em 2001 o historiador Roger Ekirch, da Universidade Virginia Tech, publicou um estudo depois de 16 anos de pesquisa que revelou várias provas históricas de que o sono humano é dividido em dois períodos.

Quatro anos depois, Ekirch publicou o livro At Day's Close: Night in Times Past ("No Fim do Dia: A Noite no Passado", em tradução livre), que mostra mais de 500 referências a um padrão de sono segmentado, em diários, registros jurídicos, livros médicos e literatura, desde a Odisseia, de Homero, até um relato antropológico a respeito de tribos modernas da Nigéria.

Estas referências descrevem um primeiro período de sono que começava cerca de duas horas depois do anoitecer, seguido de um período em que a pessoa ficava acordada por uma ou duas horas e então um segundo período de sono.

"Não é apenas um número de referências, é a forma como é relatado, como se fosse de conhecimento de todos", disse Ekirch.

Atividade noturna

Na experiência de Wehr, durante o período de duas horas em que as pessoas ficavam acordadas, havia atividade. Estas pessoas se levantavam, iam ao banheiro ou fumavam e algumas até visitavam os vizinhos. A maioria das pessoas ficava na cama, lia, escrevia ou rezava.

Vários livros de orações do final do século 15 traziam preces especiais para as horas entre os períodos de sono. Estas horas nem sempre eram solitárias, as pessoas geralmente conversavam ou tinham relações sexuais.

Um manual médico da França do século 16 até aconselhava os casais que a melhor hora para conceber um filho não era no final de um longo dia de trabalho, mas "depois do primeiro sono".

Faça o teste e descubra: Qual o seu estilo de sono?

Ekirch descobriu em sua pesquisa que as referências ao primeiro e segundo sono começaram a desaparecer no final do século 17. Isto começou nas classes sociais superiores do norte da Europa e nos 200 anos seguintes se espalhou para o resto da sociedade ocidental. E, por volta da década de 20, a ideia do primeiro e segundo sono já tinha desaparecido.

O pesquisador atribui esta mudança à melhoria na iluminação pública, na iluminação doméstica e a um aumento do número de cafeterias, que, em alguns casos, ficam abertas a noite inteira. A noite se transformou em um período de atividade normal e o tempo de descanso diminuiu.

Noite, crime e luz

O historiador Craig Koslofsky, tem uma explicação para como a noite mudou, em seu liro Evening's Empire ("Império da Noite", em tradução livre).

"Antes do século 17, as associações feitas com a noite não eram boas", afirmou o historiador. Segundo Koslofsky, a noite era um período ocupado por criminosos, prostitutas e bêbados.

"Mesmo os ricos, que podiam pagar pela luz das velas, tinham coisas melhores nas quais gastar o dinheiro. Não havia prestígio ou valor social associados à noite."


Mas, tudo começou a mudar na época da Reforma e da Contra Reforma, no século 16, quando protestantes e católicos começaram a participar de cerimônias noturnas. Esta tendência se espalhou pela esfera social, mas apenas para aqueles que tinham dinheiro para pagar por velas.
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Mas, com o início da iluminação pública, as atividades noturnas começaram a se espalhar por todas as classes. Em 1667, Paris se transformou na primeira cidade do mundo a ter luzes nas ruas. Lille ganhou sua iluminação com velas no mesmo ano e Amsterdã, dois anos depois.

Londres ganhou suas luzes em 1684 e, no final daquele século, mais de 50 grandes cidades da Europa contavam com iluminação noturna. A noite virou moda e passar estas horas na cama era visto como perda de tempo. E, segundo o pesquisador Roger Ekirch, a Revolução Industrial intensificou ainda mais este processo.

Um livro médico de 1829 pede que os pais obriguem suas crianças a não seguirem o padrão do primeiro e segundo período de sono, por exemplo.


Preferência

Nos dias de hoje a maioria das pessoas parece ter se adaptado ao padrão de oito horas ininterruptas de sono, mas Erkich acredita que muitos problemas do sono podem ter suas raízes na preferência natural do corpo humano por um período de sono dividido em períodos. E também à popularização da iluminação artificial. Esta parece ser a raiz do problema que acomete muitas pessoas que acordam durante a noite e não conseguem voltar a dormir.

"Na maior parte da evolução nós dormimos de uma certa forma. Acordar durante a noite é parte da fisiologia normal humana", afirmou o psicólogo do sono Gregg Jacobs.

A ideia de que precisamos dormir em um único período pode ser prejudicial à saude, segundo Jacobs, caso as pessoas que acordem à noite fiquem ansiosas.

"Muitos acordam durante a noite e entram em pânico. Digo a essas pessoas que isto é apenas uma volta ao padrão de sono segmentado", disse o neurocientista especialista em relógio biológico da Universidade de Oxford Russell Foster.

Mas, a maioria dos médicos não reconhece que o sono ininterrupto de oito horas pode não ser natural. "Mais de 30% dos problemas de saúde relatados por médicos têm origem direta no sono. Mas o sono tem sido ignorado em treinamentos médicos e existem poucos centros para o estudo do sono", afirmou Foster.

Por Stephanie Hegarty

sábado, 25 de fevereiro de 2012

"Eu não gosto de pessoas"

 

Fobia social é um dos transtornos psicológicos mais comuns em todo o mundo e um dos menos reconhecidos e diagnosticados


Chris Bertelli, iG São Paulo |


Foto: Bia Alves / FotoarenaAmpliar
Clege Firmino: hoje, após diagnóstico e medicação, convivência
com outras pessoas melhorou

Clege Firmino nunca soube definir exatamente o que sentia. Para ela, se afastar das pessoas era um comportamento natural, repetido também em casa, pela mãe e pelos quatro irmãos.

“Nós não recebíamos primos, os parentes não visitavam a nossa casa”, relembra. Considerava-se apenas tímida e pouco sociável.

Em fase escolar, na hora do intervalo, preferia se trancar no banheiro a participar das brincadeiras infantis ou dividir o lanche e algum papo com os colegas. Ao ser impelida a responder alguma pergunta ela se sentia muito mal.

“Escrever na frente dos outros, então, era uma verdadeira tortura”, recorda.


Na adolescência, quase foi atropelada ao tentar atravessar a rua. “Tinha tanta vergonha, achava que as pessoas estavam me olhando. Então, não olhava para os lados. Ficava vermelha. Quase morri ao atravessar a rua sem checar se vinha algum carro”, conta.
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Nas tentativas – forçadas – de se aproximar de outras meninas, Clege ficava tão tensa que não conseguia sorrir.

“Eu fazia caretas, o sorriso não saia.”

O comportamento estranho a afastou ainda mais de outras pessoas e ela cresceu quase sem amigos e sem namorado.

“Com 21 anos decidi que ia beijar pela primeira vez. Fui a uma festa, tinha que ser ali. Sem coragem, bebi muito para poder conversar com um rapaz. Beijei, mas foi à base de muita cerveja”, lembra.
Festa de aniversário, Clege nunca teve. Ela conta que não gosta de comemorar e que fica nervosa até mesmo se outra pessoa está celebrando a data. Uma vez, ao descobrir que organizam uma festa surpresa para ela, simplesmente foi embora.

“Acho muito constrangedor e desconfortável. Eu não gosto de pessoas”, diz a funcionária pública carioca.

A solidão nunca a incomodou. Mas o suor excessivo, a taquicardia, a garganta dolorida, a boca seca e o ardor nos olhos e no rosto sim. Os sintomas, confundidos com condições como princípio de infarto ou estresse, a levaram a mais de dez médicos diferentes, sem nenhum resultado conclusivo.

Só depois dessa via-crúcis em diferentes especialidades é que foi encaminhada a um psicólogo. Clege descobriu então que todo o sofrimento não era fruto de uma simples característica pessoal, mas sim de uma doença, tratável e comum: a fobia social.

“Em geral, o paciente demora mais de 10 anos para ter um diagnóstico adequado. A procura por ajuda só acontece quando comorbidades como a depressão ou o abuso de álcool e de drogas aparecem”, relata José Alexandre Crippa, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto.

"Alguns procuram se 'automedicar' por meio do álcool. Eu tentei. Mas, graças a Deus, não me tornei uma alcoólatra", revela Clege. Crippa confirma que a opção é realmente um recurso muito comum entre os pacientes.

O médico é autor do único estudo sobre a prevalência do transtorno de ansiedade social em universitários brasileiros – ele avaliou 2700 estudantes, de ambos os sexos e das mais diferentes graduações. A pesquisa demonstrou que 11% dos avaliados tinham o problema. Mas o mais agravante, segundo o pesquisador, foi notar que menos de 1% dos diagnosticados sabiam que tinham uma doença.

“Isso comprovou em números o quanto essa condição é subreconhecida. Por isso, também, as pessoas não buscam ajuda”, comentou.
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Embora pouco diagnosticada, a fobia social é uma das doenças psicológicas mais comuns: a prevalência na população mundial chega a 10%, enquanto os índices do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), por exemplo, chegam a 0,8%.

“A própria natureza dessa condição faz com que a procura por um médico seja pequena. Os fóbicos se sentem intimidados e não vão procurar um especialista“, pondera Crippa.

Outro fator crucial é enxergar a fobia realmente como uma doença e não somente como um traço de personalidade. “Dificilmente se sabe que isso é um problema. As pessoas acham que é fraqueza de caráter e vão se sentindo piores por isso”, relata o professor da USP.

A fobia social distingue-se da simples timidez muitas vezes de maneira tênue. “A pessoa desenvolve um medo que traz prejuízos para a vida. Ela tem perdas sociais importantes e chega a apresentar sintomas físicos”, alerta Rodrigo Grassi de Oliveira, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse da PUC do Rio Grande do Sul. Os mais comuns são: taquicardia, tremores, falta de ar, suor frio ou excessivo, sensação de desmaio, gagueira, rubor facial, dores de cabeça ou de estômago e boca seca.

Foto: Getty ImagesAmpliar
Clege foi atrás de sua felicidade e, com terapia e medicamentos, leva uma vida normal

“Os tímidos não têm prejuízo social. Já os fóbicos desenvolvem a ‘evitação’: eles evitam a qualquer custo entrar em contato com outras pessoas”, explica Crippa.

Clege sabe bem do que os médicos estão falando. Ao conversar com outra pessoa, sua tanto que precisa se enxugar com uma toalha. Já foi embora correndo de um encontro com uma colega, sem explicações, de tanta vergonha. Perdeu a amiga. Na primeira entrevista de emprego, não conseguiu se controlar.

“Tremia tanto que o consultor me deu um copo de café e tirou as coisas de cima da mesa para que eu não sujasse nada. Claro que não consegui o trabalho”, conta.

"Timidez é uma coisa, todos têm um pouco, mas fobia social é realmente incapacitante. E se a gente não procurar algum tipo de tratamento, passa uma vida inteira sem viver", conclui.

Consequências

Estudos já identificaram que portadores desse transtorno ganham menos do que seus pares em condições semelhantes de escolaridade e idade. A dificuldade em lidar com o outro aparece como um fator negativo determinante em um ambiente de trabalho.

A doença traz consequências sociais importantes, que vão além do ambiente corporativo. Quem tem a doença tem mais propensão ao suicídio e ao uso constante e abusivo de álcool e drogas.

A fobia social é mais comum em mulheres – na proporção de três para dois – e dá sinais significativos já no começo da infância. No entanto, fica mais evidente aos 20 ou 30 anos, quando muitos desenvolvem depressão.

“É o momento de maior exposição e a pessoa ainda está em processo de desenvolvimento. Por isso, não consegue controlar as respostas fisiológicas. É quando se depara com a doença”, aponta Grassi.
A fobia social não é hereditária, mas tem um componente genético importante, além, é claro, do padrão familiar.

“Toda criança nasce com a habilidade de se conectar com outras pessoas, só que isso precisa ser estimulado. Quando não há estímulo na família, ela pode se tornar inábil nessa área”, atesta o coordenador da PUC.

Melhorar é possível

O tratamento mais eficaz exige atenção multidisciplinar, aliando terapia cognitivo-comportamental (psicoterapia) ao uso de medicamentos (psiquiatria). De acordo com Crippa, o mais comum é o uso de antidepressivos – a médio e longo prazo – e a curto prazo remédios que possam atuar em alguma situação específica, no caso de uma exposição em público, por exemplo.

Para Clege, a medicação e a terapia trouxeram à tona o que há de melhor nela: a confiança e o respeito por si mesma.

“Acabou a tremedeira, posso comer junto com as pessoas, conversar ficou mais fácil. Sinto um alívio imenso. Quando você não se impõe, é desrespeitado. Estava paralisada e aos poucos tomo atitudes. Ainda não gosto de ir a festas, mas não perco a aula de dança de salão. Espero que as pessoas com quem convivi, que careceram do meu calor humano, entendam que minhas atitudes não foram por querer, foram realmente por incapacidade. Hoje aprendi a respeitar os meus limites e viver bem com eles”.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

António Nóvoa fala sobre conteúdos que devem ser prioritários na escola



O educador português e reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, defende a priorização do conhecimento e da cultura no currículo. "Outros conteúdos devem ser responsabilidade da sociedade."



 


"Imagine que a escola é um pote." O pedido tem sido repetido pelo educador português António Nóvoa, um dos mais respeitados nomes na área de formação de professores, em palestras ao redor do mundo. Ele mostra no telão a imagem de um recipiente em que dentro se veem itens como Matemática, Língua e História. "Porém as crianças precisam ter noções de meio ambiente, certo?", diz. "E aulas de cidadania e higiene", completa ele, inserindo, por meio de uma animação, mais conteúdo na vasilha. "Alguém precisa preveni-los também contra a aids, a violência sexual..." Quando o pote já está quase cheio, ele mesmo responde: "Tudo isso é importante, mas não deve ser responsabilidade da escola."

Reitor da Universidade de Lisboa e doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e em História pela Universidade Sorbonne, em Paris, Nóvoa conjuga experiência internacional e conhecimento histórico ao defender que, para fazer um bom trabalho, a escola deve decidir o que é essencial ensinar aos alunos - e gastar tempo e esforços apenas com isso. "À escola o que é da escola", diz. Outros conteúdos devem ser cobrados de outras instituições. Leia a seguir a entrevista que o educador deu a NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR no fim do ano passado, quando esteve no Brasil.

Qual é o principal desafio de um gestor escolar atualmente?

ANTÓNIO NÓVOA
Acredito que é decidir o que é essencial ensinar aos alunos e garantir que as disciplinas elementares não sejam prejudicadas pela avalanche de conteúdos que são propostos atualmente. Hoje, a equipe docente se ocupa da Educação Ambiental, alimentar e comportamental e com programas de prevenção a aids, acidentes de trânsito e violência sexual. Todos muito importantes, mas que não são responsabilidade da escola. Ao tentar colocar tudo no mesmo pote, falta espaço para o básico.

Como saber o que é essencial?

NÓVOA
Há um pensamento notável de Olivier Reboul, filósofo francês (1925-1992). Ele diz que deve ser ensinado na escola tudo o que une e tudo o que liberta. O que une é aquilo que integra cada indivíduo num espaço de cultura, em determinada comunidade: a Língua, as Artes Plásticas, a Música, a História etc. Já o que liberta é o que promove a aquisição do conhecimento, o despertar do espírito científico, a capacidade de julgamento próprio. Estão nessa categoria a Matemática, as Ciências, a Filosofia etc. Com base nesse princípio, podemos selecionar o que é mais importante e o que é acessório na Educação das crianças.

Temas como Educação sexual, alimentar e ambiental poderiam ser descartados do currículo escolar?

NÓVOA
Não, mas hoje existem instituições e profissionais com conhecimento nessas áreas que podem prover essa formação. Há museus, associações, estudiosos, institutos e fundações mais preparados para tratar de certos temas do que um professor. Nós, docentes, não podemos fazer tudo. Devemos concentrar esforços numa Educação especificamente escolar. É claro que isso implica uma maior responsabilidade da sociedade com outros temas, com espaço para a cobrança por todos, inclusive os gestores escolares.

Por que é tão difícil separar o conteúdo escolar do "conteúdo social"?

NÓVOA
Esse é um problema dificílimo, sobretudo no Brasil, em que tantos alunos têm ainda enormes carências sociais. Por isso, há a tendência de a equipe docente ceder espaço para atividades que, teoricamente, ajudam na promoção da igualdade de direitos. Contudo, não existe inclusão social se os estudantes não aprendem as ferramentas básicas do conhecimento e da cultura. No século passado, muito se investiu em um conceito de Educação integral, no qual a escola deveria acolher a criança, ensinar todo o necessário e depois devolvê-la pronta à sociedade. Isso fazia sentido porque a maior parte da população era analfabeta e ignorante. A escola tinha de compensar o que não existia fora dela. Hoje, ocorre justamente o contrário. É hora de devolver a criança à sociedade.


Até que ponto o gestor pode mexer no currículo quando há uma política nacional definida pelo governo?

NÓVOA
Muitas propostas de Educação complementares ao currículo não são impositivas. Cabe aos diretores de cada escola escolher o que priorizar. Tanto é assim que em vários países, embora a política educacional seja única, verifica-se um dualismo cada vez mais acentuado: as elites investem na Educação privada, cuja base estrutural é a aprendizagem, enquanto as escolas públicas estão cada vez mais centradas em dimensões sociais e assistenciais. Essa Educação feita em duas velocidades é o pior dos cenários para o nosso futuro, pois só aumenta a desigualdade de oportunidades.

O que responder aos que cobrarão o ensino de outros temas?

NÓVOA
Que não se pode pretender que a sala de aula resolva todos os problemas. Muitas vezes, se ouve a pergunta: o que a escola pode dar à sociedade? Agora é tempo de inverter a questão: o que a sociedade pode dar à escola? Como a comunidade vai ajudar na missão educativa? À escola o que é da escola. À sociedade o que é da sociedade.

A menor presença dos conteúdos sociais garante a qualidade do ensino?

NÓVOA
Garante que os conteúdos essenciais tenham mais tempo para ser ensinados pelo professor. Porém a qualidade do trabalho didático depende fundamentalmente da existência de bons professores. Nos anos 1970, demos muita importância à racionalização, planificação e avaliação do ensino, à procura de fórmulas racionais, que deveriam orientar nossa ação. Na década seguinte, focamos as reformas dos programas e dos currículos. Em seguida, voltamos nossas atenções à administração e gestão das escolas. Por esse caminho, alimentávamos a ilusão de que as novas tecnologias resolveriam todos os problemas. Agora, neste início do século 21, começamos a compreender que nada consegue substituir um bom professor. Os educadores competentes valem muito mais do que qualquer técnica, método ou teoria. A equipe gestora deve dar toda a atenção a isso se quiser construir uma escola melhor.

Como a escola pode ajudar na formação de professores melhores?

NÓVOA
Tenho defendido que os docentes precisam se formar dentro das escolas, em contato com o cotidiano e com os estudantes. É preciso criar estruturas que tenham incorporado o conhecimento, a pesquisa e as práticas profissionais e coloquem tudo isso a serviço da formação. O que se passa num hospital universitário pode servir de inspiração. Os jovens residentes são formados por outros médicos com grande proximidade com a pesquisa e o dia a dia da profissão. Da mesma forma, os professores deveriam ser formados por outros mestres e interagir com a academia.


Como garantir que os professores iniciantes tenham um acompanhamento dos mais experientes?

NÓVOA
É preciso assegurar que cada aluno-mestre (aquele que está estudando para ser professor) vá adquirindo autonomia no exercício profissional. Primeiro, observando os mais experientes. Depois, ajudando-os e, finalmente, assumindo a docência sob a supervisão de um tutor. Ao mesmo tempo, deve-se promover a integração de todos eles na cultura da profissão, incentivando a participação em tudo o que acontece na instituição escolar. Ainda é recomendado transformar certos casos e situações do trabalho escolar em problemas de pesquisa, ou seja, discutindo-os do ponto de vista teórico e prático, refletindo sobre eles e produzindo conhecimento pertinente para a profissão. É uma rotina desse tipo que permite concretizar uma formação eficaz dentro da escola.

Há bons exemplos de instituições que adotam tal sistema?

NÓVOA
Sim. Há muitos modelos no mundo inteiro. Eu próprio participei de experiências desse tipo em universidades nos Estados Unidos, na Suíça e em Portugal. Em alguns casos, o sistema funciona em escolas comuns da rede pública. Em outros, há instituições especiais associadas a universidades e, como regra geral, sempre existe um tutor dos professores novatos. Com a integração à vida profissional, a supervisão se transforma, progressivamente, em trabalho de cooperação com os colegas. A ação dos amigos críticos, aqueles que nos ajudam a refletir e a avançar na profissão, torna-se dominante. E, pouco a pouco, os jovens professores vão assumindo, também eles, o papel de colegas críticos dos outros.

Pesquisas realizadas pela Fundação Victor Civita mostram que o coordenador pedagógico ainda atua pouco na formação dos professores. Como mudar essa realidade?

NÓVOA
A formação deveria ser a preocupação central dos coordenadores pedagógicos. Se concebermos a formação numa perspectiva de cooperação e de partilha, é possível pensar todo o trabalho escolar baseado nela. Em Portugal, um bom exemplo é o do Movimento da Escola Moderna, que pratica um sistema de formação cooperada desde os anos 1960. Os organizadores recolhem boas práticas de ensino na rede pública e socializam o material em reuniões aos sábados ou durante a semana para quem se interessar. São mais de 2 mil associados em 17 núcleos regionais. O trabalho tem dado bons resultados em sala de aula.

Como o gestor pode promover a cooperação entre os docentes dentro da própria escola?

NÓVOA
A profissão de professor é muito desgastante e exigente. Hoje, ela não pode ser vivida isoladamente. É fundamental falar dos problemas com os colegas, em diálogo aberto, num quadro de partilha e de colaboração mútua. É muito importante que haja alguém que dinamize esses processos e que ajude a organizar o trabalho escolar - e esse alguém pode ser o coordenador pedagógico. Nada se consegue sozinho. Os problemas educativos só podem ser resolvidos por meio de uma ação coletiva.

O que torna um coordenador pedagógico preparado para fazer esse trabalho de orientação dos colegas?

NÓVOA
Ele deve ter os conhecimentos necessários anteriores, mas, a partir do momento em que é colocado como um líder, deve assumir uma atitude de pesquisador de casos e possibilidades de soluções e, sobretudo, fazer um exercício de reflexão sobre a própria experiência docente. É muito importante que o coordenador pedagógico - ou quem exerça o papel de formador - saiba ouvir e tenha uma grande capacidade de se relacionar e de organizar.



Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
Avaliações em Educação: Novas Perspectivas
, António Nóvoa e Albano Estrela, 192 págs.,
Ed. Porto,
16,50 euros
Profissão Professor, António Nóvoa, Daniel Hameline, José Gimeno Sacristán e outros, 192 págs., Ed. Porto, 16,50 euros

INTERNET
Informações sobre o Movimento da Escola Moderna





























































quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Secas moderadas derrubaram a civilização maia

 

Pesquisadores dizem que secas semelhantes às atuais foram suficientes para acabar com a cultura que dominou a América Central



Maria Fernanda Ziegler, iG São Paulo |

Foto: Science/AAASAmpliar
Templo Tikal, na Guatemala, um dos mais significativos da
cultura maia


A grande e catastrófica seca que teria derrubado a civilização maia em 950 a.C., foi na verdade uma sequência de oito secas moderadas, bem semelhantes com as que acometem atualmente o planeta. De acordo com um grupo internacional de pesquisadores, que pela primeira vez conseguiu quantificar a consequência da falta de chuvas há mil anos, e ao contrário do que se acreditava, as secas foram modestas, mas suficientes o bastante para desencadear eventos sociopolíticos que levaram os maias ao colapso.

Por anos, cientistas suspeitaram que o lento declínio da cultura maia, que dominou o Méxido e a América Central, estava relacionado com secas. Mas até agora, ninguém havia medido a chuva desse período de decadência, que durou 200 anos. De acordo com os cálculos do estudo, que combinou registro das mudanças climáticas em estalagmites com registros fósseis em lagos e modelos hidrológicos, as secas foram provocadas por uma redução de 25% a 40% das precipitações no verão.

“Nosso estudo sugere que o sistema de armazenamento de água ou lagos foi reduzido para 30% de sua capacidade durante cada uma destas secas. Se considerarmos que a civilização maia morava uma região com poucas chuvas – a evaporação na região é duas vezes maior que as chuvas – fica fácil perceber as fortes implicações destas reduções para a agricultura e consumo humano”, disse ao iG Martín Medina-Elizalde do Centro de Pesquisa Científica de Yucatán, no México.

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Medina-Elizalde lembra que há poucos rios na Península de Yucatán, e a maioria da água doce está no lençol freático. “A população maia não tinha sistema de bombeamento de água. Eles confiavam plenamente nas chuvas de verão para abastecer a agricultura e o uso doméstico de água, mas com as secas, um terço da população ficou sem água”, disse.

Os pesquisadores também perceberam que as secas que ocorreram durante o período da queda do império maia têm intensidade muito parecida com aquelas projetadas para a região de Yucatán e América Central, pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC. “O alerta está claro. Precisamos nos beneficiar de todo o conhecimento que temos e que a antiga civilização maia não tinha. Precisamos desenvolver instituições sociopolíticas honestas e eficientes para lidar com a crise climática, se não quisermos experimentar consequências que a população maia enfrentou há mil anos”, disse.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Ter um melhor amigo melhora saúde da criança

 

Laços de amizade ajudam crianças a superar experiências difíceis e diminuem impacto negativo sobre autoestima infantil, diz estudo canadense


NYT | IG

"Ter um melhor amigo presente durante um evento desagradável tem impacto imediato sobre o corpo e a mente de uma criança", disse o coautor do estudo William Bukowski, professor de psicologia e diretor do Centro de Investigação em Desenvolvimento Humano na Universidade Concordia, em Montreal. "Se uma criança passa sozinha por problemas com um professor ou uma discussão com um colega de classe, vemos um aumento considerável nos níveis de cortisol e diminuição da sensação de autoestima".

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Para o estudo, os investigadores pediram a 55 meninos e 48 meninas de cinco e seis anos para registrar seus sentimentos e experiências em um diário ao longo de quatro dias. Níveis de cortisol das crianças - o hormônio do estresse - também foram monitorados em testes de saliva regulares.


Foto: Thinkstock/Getty ImagesAmpliar
Melhor amigo ajuda a melhor nível de cortisol e autoestima das
 crianças durante experiências ruins

O estudo, recentemente publicado na revista “Developmental Psychology”, revelou aumento do cortisol e autoestima diminuída quando a criança teve uma experiência negativa. No entanto, quando havia um melhor amigo presente para compartilhar a experiência ruim, os níveis de cortisol e os sentimentos de autoestima apresentaram uma mudança menor.

Leia: Amizades feitas na infância podem oferecer grandes benefícios para a vida adulta

Os pesquisadores notaram que o que acontece durante a infância pode afetar as pessoas na vida adulta, incluindo ter sentimentos de baixa autoestima. "Nossas reações fisiológicas e psicológicas diante de experiências negativas na infância impactam mais tarde", explicou Bukowski em um comunicado da universidade. "A secreção excessiva de cortisol pode levar a significativas alterações fisiológicas, incluindo a supressão imunológica e diminuição da formação óssea. Aumento de estresse pode realmente retardar o desenvolvimento da criança".

Os autores da pesquisa disseram que estudos anteriores mostraram também que ter amizades podem ajudar a proteger as pessoas contra o assédio moral, exclusão social e outras formas de agressão.

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"O Grito", de Edvard Munch, será leiloado em Nova York em maio

Valor do clássico quadro pode chegar até R$ 137 milhões

 


EFE - IG                   

Foto: Reprodução
"O Grito", de Edvard Munch


"O Grito", de Edvard Munch, será leiloado em Nova York no próximo dia 2 de maio como parte de uma venda de arte impressionista e moderna na qual pode alcançar um preço de US$ 80 milhões (R$ 137 milhões), já que é a única versão desta obra-prima que ainda está nas mãos de um colecionador particular.

Simon Shaw, um porta-voz da Sothebys, casa responsável pelo leilão, informou que o quadro "define a modernidade e é instantaneamente reconhecível porque é uma das poucas imagens que transcendem a história da arte e que tem um alcance global".

Shaw acrescentou, em comunicado de imprensa, que este é um momento "particularmente propício" para que essa obra-prima pintada em 1895 saia ao mercado, já que em 2013 se completa o 150º aniversário do nascimento de seu autor.

O quadro, a única versão das quatro existentes que ainda pertence a um colecionador, está atualmente com Petter Olsen, cujo pai foi amigo, vizinho e empregador de Munch, e, nesse sentido, Shaw assinalou que se trata de "uma oportunidade sem precedentes para comprar uma obra de semelhante influência".

Por isso, e "pela pouca frequência com a qual verdadeiros ícones saem ao mercado", Shaw apontou que "é complicado antecipar o valor de "O Grito", embora o sucesso recente na venda de obras-primas sugere que o preço possa superar os US$ 80 milhões".

Esta obra fundamental do expressionismo será exposta ao público a partir do dia 13 de abril em Londres e, desde o dia 27 desse mesmo mês, poderá ser contemplada em Nova York.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Escola pioneira com laptops não tem infraestrutura para usá-los

 

Direção do colégio em Brasília lamenta falta de armários e rotatividade de docentes, que impedem funcionamento pleno do programa


Priscilla Borges, iG Brasília - IG                 


O Centro de Ensino Fundamental 1 do Planalto, em Brasília, é uma das escolas pioneiras no Brasil do programa Um Computador por Aluno (UCA), criado pelo Ministério da Educação em 2007. Mesmo após cinco anos de atividades, a direção ainda encontra dificuldades para colocar em pleno funcionamento os 700 laptops que recebeu do governo.

Problema semelhante: Sem infraestrutura, laptops ficam guardados em escola de Brasília

Alexandre Fachetti Vaillant Moulin, diretor da escola, é um entusiasta do projeto. “Temos que melhorar o programa e não destruí-lo”, afirma. Ele reconhece, no entanto, que os desafios para colocar as atividades do programa em prática são grandes. Os problemas de infraestrutura do colégio e a rotatividade de professores são dois entraves, segundo ele.

Foto: Alan Sampaio / iG Brasília
Crianças se encantam com atividades no laptop,
 mas uso esbarra em dificuldades de infraestrutura
e na rotatividade de professores da escola


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Moulin conta que a escola recebeu 40 computadores para iniciar uma fase piloto em 2007. Naquela época, pouco foi feito pela Secretaria de Educação do Distrito Federal para ajudar a direção a concretizar o projeto na escola. Quem colocou a internet para funcionar foram pesquisadores. Eles deram à escola um aparelho que disponibiliza internet pela rede elétrica.

Com o primeiro problema resolvido, ainda faltava capacitar professores e, em seguida, montar uma estrutura capaz de armazenar e transportar os 700 laptops que chegaram à escola depois, em 2008. “Não conseguimos chegar à fase de maturação que o projeto exige para deixarmos que eles levem os computadores para casa”, diz o diretor.

A escola também não tem armários para guardar os equipamentos nas salas, nem para transportá-los até elas. Com isso, eles ficam guardados em caixas, no laboratório de informática. Cada vez que um professor decide usá-los, transporta as caixas com a quantidade necessária em um carrinho de compras de supermercado.


A bateria dos pequenos computadores – que têm capacidade para acessar internet e vêm com jogos educativos para trabalhar matemática, português, ciências – dura entre uma hora e meia e duas horas. Portanto, a rede elétrica precisaria aguentar várias máquinas ligadas ao mesmo tempo. Além disso, todas as salas teriam de oferecer tomadas para eles.

O colégio está localizado a 4 quilômetros do Palácio do Planalto, na vila de mesmo nome, que abrigou os trabalhadores da construção da capital. Atende 680 alunos, do 2º período da pré-escola até a 8ª série do ensino fundamental. Foi construída com paredes pré-moldadas, tem teto de cimento e as crianças sofrem com o calor nas salas de aula, que aguardam reforma há anos.

O problema da tomada só foi resolvido em 2010. Agora, todas as salas têm tomadas e, por elas, todos os laptops podem ser conectados à internet de uma só vez. No entanto, a utilização está aquém do que a direção do CEF 1 do Planalto gostaria. As turmas só utilizam os computadores uma ou duas vezes por semana.

Vencendo barreiras pedagógicas

Francisco Hugo Vieira de Freitas, professor do 1º ano do ensino fundamental, é um dos poucos docentes que nunca teve “medo” da tecnologia que chegou à sala de aula. Ao contrário, com apoio da direção, montou um mini-laboratório de informática dentro da sala de aula, com cinco computadores. Neles, prepara atividades para os alunos.

Além disso, Freitas gosta de utilizar os laptops com as crianças. A facilidade que elas têm para descobrir como manusear os equipamentos anima o professor, mas espanta outros. “A resistência diminuiu um pouco agora, mas tem muita gente que não sabia como ligar um laptop e se esquecia que essas crianças são do século 21”, ressalta.

Onde a inovação é realidade: Tablets substituem livros em escolas brasileiras

Para formar os professores e ajudá-los a criar atividades com os computadores, Moulin acredita que a escola deveria ter um coordenador. Além disso, a rotatividade dos docentes precisaria diminuir. No ano passado, 50 educadores fizeram capacitação na Universidade de Brasília (UnB), mas 30% já saíram de lá. “Isso nos prejudica muito”, diz.

Mesmo assim, o diretor acredita que o projeto de distribuir tablets aos professores e estudantes das escolas públicas será positivo. Mas para isso, ele acredita que a oferta do equipamento tem de acompanhar investimentos na infraestrutura das escolas. “É uma ferramenta pedagógica a mais, que deve ser estimulada”, defende

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Trocar refrigerante por água realmente emagrece, diz estudo

 

Substituir por bebidas sem açúcar também adianta, mas o benefício para a saúde é menor, defendem pesquisadores


Reuters Health* - IG                    

Foto: Getty ImagesAmpliar
Água: troca pode ajudar a perder uns quilinhos

Trocar seu refrigerante por água – ou ao menos a versão diet – realmente pode ajudar a perder alguns quilos, concluiu um recente estudo.


Uma sugestão bem comum na batalha contra os quilos a mais na balança é trocar os refrigerantes açucarados por água ou outras bebidas livres de calorias que ajudam a matar a sede.

Mas, mesmo sendo um conselho absolutamente lógico, até agora nenhuma pesquisa tinha sido feita para mostrar se mudar esse hábito realmente funciona na dieta.

Neste estudo, os pesquisadores designaram aleatoriamente 318 adultos com sobrepeso para um de três grupos: o primeiro substituiu bebidas açucaradas por água, o segundo trocou por bebidas diet, e o terceiro recebeu orientações sobre perda de peso e pôde fazer as trocas que quisesse na dieta.

Depois de seis meses, todos os três grupos haviam perdido, em média, de 2kg a 2,5kg Os dois grupos que cortaram as bebidas açucaradas, no entanto, foram mais propensos a perder ao menos 5% de seu peso inicial: isso ocorreu com 20% deles, contra 11% no grupo que recebeu apenas orientações sobre emagrecimento.
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Uma perda de peso de 5% é “clinicamente significativa” – ou suficiente para que sejam observados benefícios à saúde, como a redução da pressão arterial, disse a pesquisadora principal, Deborah F. Tate, da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA).

“As pessoas que precisam perder peso, muitas vezes acham assustador revisar a dieta e adaptá-la de forma mais saudável. Trocar algumas bebidas doces por opções sem açúcar pode parecer uma alternativa relativamente fácil”, afirmou Tate em entrevista à Reuters Health.

Em média, os participantes do estudo perderam cerca de 2% de seu peso corporal. Para a pesquisadora, não é uma perda enorme, mas é um passo na direção certa.

“Pode ser um bom primeiro passo. Depois de se habituar a consumir bebidas livres de calorias, você pode fazer alterações nos seus hábitos alimentares” sugeriu ela.

As descobertas, publicadas no American Journal of Clinical Nutrition, são baseadas em adultos que eram significativamente obesos, e estavam ingerindo pelo menos 280 calorias em forma de líquidos (excluindo leite) todos os dias.


Embora o grupo que trocou o refrigerante com açúcar pelo diet tenha emagrecido, em média, tanto quanto o que subsitituiu a bebida açucarada por água, este último apresentou reduções significativas da pressão arterial – bem maiores do que o grupo do refrigerante diet.

Não está claro por que isso aconteceu, afirmou Tate. Mas o grupo teve melhores níveis de hidratação, o que pode ajudar a explicar a melhora da pressão arterial.

Alguns estudos já descobriram que as pessoas que bebem regularmente refrigerantes diet de fato têm um maior risco de desenvolver diabetes quando comparados com pessoas que passam longe das bebidas adoçadas artificialmente. Mas as razões para essa relação ainda são desconhecidas, e podem não ser relacionadas com as bebidas dietéticas por si só.

* Por Amy Norton

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Investir mais em educação não garante resultados melhores

 

Relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) indica que investimento alto nos professores garante bom ensino


EFE/IG

Os países que mais investem em educação por aluno entre os 6 e os 15 anos não são necessariamente os que tem alunos com melhor rendimento, segundo uma análise do relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgado nesta quinta-feira (15) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Investimento no Brasil:
Estados terão entre R$ 2 mil e R$ 3,5 mil por ano para cada aluno

Valor insuficiente: Pesquisa aponta que custo de creche é o dobro do que o MEC prevê

"O dinheiro sozinho não pode comprar um bom sistema educacional", concluiu a OCDE em seu relatório "Pisa in Focus", que indica que os países que obtiveram melhores resultados nessas provas em 2009 são os que acreditam que "todas as crianças podem ter êxito na escola".

Leia mais sobre o Pisa

Segundo a organização com sede em Paris, uma das chaves do sucesso dos sistemas educacionais é considerar que todos os estudantes podem ter êxito e não deixar que os alunos com problemas repitam de ano ou sejam transferidos a outras escolas, ou que sejam agrupados em diferentes turmas em função de suas habilidades.

"Superado o nível de aproximadamente US$ 35 mil" de investimento por estudantes entre os 6 e os 15 anos em unidades monetárias harmonizadas, a despesa "não está relacionada com o resultado", indicou a OCDE. A organização citou como exemplo países que investem mais de US$ 100 mil por aluno, como Luxemburgo, Noruega, Suíça e Estados Unidos, e que obtêm resultados similares a nações que destinam a metade por estudante, como Estônia (US$ 43.037), Hungria (US$ 44.342) e Polônia (US$ 39.964).

Assim, os dois países que obtiveram os melhores resultados nas últimas provas do Pisa (Finlândia, com US$ 71.385; e Coreia do Sul, com US$ 61.104) estão bastante distantes dos que mais investiram (como Luxemburgo, com US$ 155.624 acumulados por aluno; e Suíça, com US$ 104.352). O Chile investe por aluno US$ 23.597, mais que o México (US$ 21.175), ambos acima de países "associados" à OCDE como o Brasil (US$ 18.261) e a Colômbia (US$ 19.067). Todos eles superam a Turquia, que com US$ 12.708 de investimento por aluno é a lanterna da lista de 33 Estados-membros da OCDE.

Outro dos fatores cruciais detectados pela OCDE é que os países com os melhores resultados nas provas trianuais sobre compreensão de texto, Matemática e Ciências Naturais são aqueles que mais investem em seus professores. Os docentes do ensino médio da Coreia do Sul e de Hong Kong, ambos com excelentes resultados nas provas Pisa, ganham "mais que o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) per capita médio em seus respectivos países". "Em geral, os países que alcançam bons resultados no Pisa atraem os melhores estudantes à profissão de professores e lhes oferecem salários mais altos e um grande status profissional", indicou a OCDE. No entanto, essa organização precisou que essa relação entre professores e resultados não acontece entre os países menos ricos.

Aspirina pode inibir metástase, revela estudo

 


Descoberta pode levar à produção de remédios novos e mais eficazes para conter tumores como os de mama e próstata


AFP | IG


A aspirina e outros medicamentos de uso doméstico podem inibir a disseminação do câncer porque ajudam a interromper as vias químicas que alimentam os tumores, afirmaram cientistas australianos nesta terça-feira.

Cientistas do Centro de Câncer Peter MacCallum, de Melbourne, afirmaram ter feito uma descoberta biológica que ajuda a explicar como vasos linfáticos - a chave para que tumores se espalhem pelo corpo - respondem ao câncer.

"Nós demonstramos que moléculas como a da aspirina podem funcionar de forma eficaz na redução da dilatação destes grandes vasos e, assim, reduzir a capacidade dos tumores de se espalharem para lugares distantes", afirmou o pesquisador Steven Stacker.

Há muito os médicos suspeitavam que remédios anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina, poderiam ajudar a inibir a disseminação do câncer, mas eram incapazes de identificar exatamente como isto ocorria.

Leia: Aspirina diminui incidência de câncer colorretal em pessoas com risco genético

Ao estudar as células dos vasos linfáticos, os cientistas descobriram que um gene em particular mudava sua expressão em cânceres que se espalham, mas o mesmo não ocorria quando o câncer não se disseminava.

Os resultados publicados no periódico Cancer Cell revelam que o gene é um link entre o crescimento do tumor e a via celular que pode causar inflamação ou dilatação em vasos do corpo.

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Quando estes vasos linfáticos se alargam, a capacidade de agirem como "linhas de suprimento" para os tumores e se tornar condutos mais eficazes para o câncer se espalhar é aumentada. Mas a aspirina atua fechando a dilatação dos vasos.

"Portanto, parece que descobrimos uma interseção bioquímica entre todos estes diferentes contribuintes", disse Stacker.

A descoberta pode levar à produção de remédios novos e mais eficazes, que poderiam ajudar a conter muitos tumores sólidos, inclusive o de mama e o de próstata, bem como potencialmente fornecer um "sistema de alerta precoce" antes que o tumor comece a se espalhar.


No ano passado, um estudo publicado na revista médica The Lancet demonstrou que as taxas de câncer de cólon, próstata, pulmão, cérebro e garganta foram reduzidas com a ingestão diária de aspirina.

Muitos médicos recomendam o uso regular de aspirina para diminuir o risco de ataque cardíaco, derrames relacionados a coágulos e outros problemas circulatórios. Um efeito colateral do uso diário do medicamento é o risco de se desenvolver problemas estomacais.

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