terça-feira, 30 de novembro de 2010

Crianças podem tomar café?
Tudo depende da quantidade consumida e da idade do seu filho. Entenda como as substâncias da bebida agem no organismo das crianças
Renata Losso, especial para o iG São Paulo |
Foto: Getty Images
O café é uma bebida estimulante e pode ser um aliado para os estudos - ou um obstáculo para o desenvolvimento

É provável que você já tenha negado o pedido do seu filho de dar somente um golinho na sua xícara de café, afinal, não são poucos os pais que veem a bebida como prejudicial para a saúde das crianças. Mas na opinião da nutricionista Simone Simas, da Prolab – Centro Diagnóstico Cardiológico, em Curitiba, no Paraná, já se foi o tempo de ver a cafeína como um mal para as crianças: “Na quantidade correta, o café pode proporcionar benefícios para o desenvolvimento infantil e ajudar no aprendizado escolar”.

Simone conta que o café pode ser uma boa fonte de estímulo para crianças que apresentam dificuldade de concentração devido ao sono, especialmente aquelas que estudam no período matinal. “Além de conter substâncias importantes como antioxidantes, minerais e vitaminas, o café aumenta o estado de atenção e alerta das crianças e colabora para o entendimento das aulas”, afirma Simas. Porém, não é indicado que seja consumido em quantidades excessivas.

“O consumo máximo indicado para crianças é de duas xícaras ao dia, preferencialmente com leite, e o consumo deve ser feito no café da manhã e da tarde”, explica a nutricionista. Segundo ela, estudos apontam que a combinação de café com leite é a ideal, já que o segundo apresenta grandes quantidades de cálcio e zinco. Exagerar no consumo, no entanto, é transformar todos os benefícios do café em problemas.

A escolha da quantidade


Insônia, agitação, irritabilidade, dores de estômago e aumento da pressão arterial são alguns dos sintomas que o excesso de café pode trazer a crianças e adultos. E para o pediatra antroposófico Sérgio Spalter, autor de um blog sobre alimentação infantil, o lado ruim do café não para por aí. Segundo ele, a bebida também pode atrapalhar a absorção de cálcio no organismo e causar enjoos e arritmias cardíacas.

O médico afirma que o sistema neurológico do ser humano deve amadurecer de forma adequada, e o consumo do café não é apropriado para tal. “Vivemos num mundo em que as crianças sofrem pela presença de constantes estimulações sensoriais, o que já aumenta a hiperatividade e a agitação infantil; o café se torna mais um fator de estímulo, se consumido por elas”.

Para a nutricionista da Unifesp Carla Fiorillo, a indicação do consumo de café depende da quantidade ingerida. “Sabe-se que a cafeína possui efeito estimulante e também pode atrapalhar a absorção de ferro – o que pode levar à anemia. Mas, por outro lado, o café contém substâncias benéficas para indivíduos de qualquer idade”, diz a especialista. Segundo ela, se uma criança ultrapassar as duas xícaras de café com leite por dia – em proporções de ¾ de leite para ¼ de café – pode perder a concentração e ter seus estudos afetados.
Mas a partir de que idade pode-se liberar o consumo do café para a criança? Na opinião de Fiorillo, é melhor que o café seja consumido por crianças maiores de seis anos. Porém, se a família já tem o hábito de consumir café preto acompanhado de leite dentro de casa, dentro das quantidades recomendadas, Fiorillo não vê contra-indicações. “Para crianças e adultos, alguns estudos já apontam o consumo moderado de café como responsável pela redução do colesterol e do risco de desenvolvimento de diabetes”, afirma.

Ainda assim, é uma recomendação controversa. Spalter acredita que, na infância, quanto mais o café puder ser evitado, melhor: “Se for tomá-lo, que seja a partir da adolescência e diluído no leite, para diminuir os efeitos da cafeína”.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Como fazer seu filho comer verduras e legumes
Na hora da refeição, a palavra-chave para os pequenos comerem bem é persistência. Mas algumas dicas práticas também ajudam
Clarissa Passos, iG São Paulo |

Foto: Getty Images Ampliar
Envolver seu filho na compra e preparo dos alimentos pode fazer com que ele passe a gostar de vegetais antes rejeitados

Há pouco tempo, uma propaganda de TV ganhou popularidade ao retratar uma cena que toda mãe gostaria de ver: no supermercado, um menino esperneava e pedia desesperadamente para a mãe comprar brócolis e chicória. Mas nem só no mundo da publicidade é possível vencer a frequente negativa das crianças frente aos legumes e verduras. O segredo para fazer seu filho comer vegetais está na persistência - e em um pouco de criatividade.
Até por volta dos dois anos de idade as crianças não costumam oferecer resistência aos alimentos. Muitas estão até habituadas ao consumo de batatas, cenouras e espinafre, mas em forma de sopa ou papinha. Quando é hora de apresentar estes alimentos em sua forma natural, a criança estranha - e rejeita.
Outro fator que agrava a equação é o contato do pequeno com alimentos industrializados. "Os problemas aparecem depois. Principalmente com a introdução de açúcar e frituras, que têm um sabor bem mais acentuado que as verduras, e bem mais doce que as frutas", diz o pediatra Sergio Spalter, autor do blog "Cozinhando com o Dr. Spalter", sobre alimentação e nutrição infantil.
Aí é que entra a responsabilidade dos adultos. Em primeiro lugar, o papel dos pais é controlar o que entra em casa. Se pães integrais e produtos de hortifruti frescos estão sempre à mesa, as crianças terão menos chances de consumir balas e salgadinhos.
Além disso, existe o puro e simples - mas não menos eficaz - bom exemplo. "Os pais são o grande exemplo dos filhos. Quando a criança senta-se à mesa e vê seus pais se alimentando de forma adequada, com frutas, verduras e legumes, isso a encoraja a consumir estes alimentos", afirma Daniela Murakami, nutricionista da Nutrir e Brincar, consultoria especializada em nutrição infantil.
Dificuldades e dicas
Nem sempre, no entanto, controlar o que entra na sua casa e alimentar-se de forma saudável bastam para fazer com que os pequenos comam todo o prato de escarola - e ainda peçam uma maçã de sobremesa. Existem abordagens práticas que ajudam os pais a educarem suas crianças para uma alimentação balanceada.
O pediatra Sergio comenta, por exemplo, uma feliz coincidência: se por volta dos 2 anos a criança passa a estranhar alguns alimentos, essa também é a fase em que começa a exercitar a fantasia. Então, por que não fazer da hora da comida um momento de imaginação? Conte histórias e faça jogos para estimulá-los a comer. Uma simples receita de macarrão com legumes pode virar uma poção mágica e as crianças podem se divertir (e comer melhor) se forem desafiadas a adivinhar o conteúdo de cada colherada.
Deixe a criança brincar com os alimentos e convide-a a participar da feira semanal e do preparo dos pratos. Ver que a cenoura é cor de laranja, sentir a textura de sua casca, comprá-la e observar a preparação dela pode despertar o interesse pela até então desconhecida e rejeitada raiz.
Variar nos cortes, na preparação e na apresentação também podem ajudar. Se a criança não come brócolis refogado, tente fazer bolinho de brócolis ou colocar a verdura no arroz. Muitas crianças podem rejeitar cenoura cortada em rodelas, mas gostar de comê-las em palitinhos. E um prato com uma carinha desenhada com os alimentos é bem mais atraente do que a disposição simples da comida.
O que não fazer
Perdidas entre tantas orientações e sugestões do que fazer, as mães costumam se esquecer do que não fazer. "Nunca castigue seu filho caso ele rejeite determinado alimento. Isso fará com que a criança
tenha uma experiência negativa por aquele alimento, associando-o a uma coisa ruim", alerta Daniela.
Também não perca tempo forçando a criança a aceitar couve de bruxelas, especialmente se ela já come chuchu, espinafre e batata doce. Seu filho não é obrigado a gostar de todas as verduras e legumes existentes na face da Terra. "Os pais devem sempre oferecer frutas, legumes e verduras, mesmo que a criança recuse no primeiro momento, pois o paladar muda com o tempo", acrescenta ela.
Pesquisa liga comportamento das mães a hábitos alimentares dos filhos
Estudo britânico apontou relações entre postura das mães e tendência das crianças a comer em maior ou menor quantidade
Reuters Health | IG
Foto: Getty Images
Comportamento da mãe em relação à alimentação: influência duradoura

Um novo estudo mostrou que o comportamento da mãe durante as refeições pode influenciar os hábitos alimentares dos filhos quando adultos. Crianças em idade escolar cujas mães controlam de perto suas dietas se apresentaram mais propensas a comer em excesso, enquanto que aquelas pressionadas pela mãe a comer mais ficaram mais restritivas em relação à comida.
As constatações, divulgadas na publicação “Journal of the American Dietetic Association”, não significam que as estratégias dos pais na hora das refeições necessariamente levem seus filhos a comer em excesso ou a se tornarem meticulosos demais com a comida.
Os pesquisadores dizem que, na verdade, é provável que a pressão ou restrição por parte dos pais geralmente seja uma reação aos hábitos alimentares dos filhos.
Diversos estudos constataram que quando os pais controlam a alimentação dos filhos – tanto negando o consumo de qualquer alimento prejudicial à saúde quanto pressionando os filhos a expandirem suas escolhas alimentares – as crianças têm maior probabilidade de desenvolver hábitos alimentares longes do ideal. Mas ainda não está claro se as táticas dos pais são a causa ou o efeito dos hábitos alimentares dos filhos.
Tampouco se sabe ao certo como tudo isso influencia no peso dos filhos. Alguns estudos, por exemplo, relacionaram o controle rigoroso da dieta a um risco maior das crianças se tornarem acima do peso, enquanto outros não encontraram qualquer relação.
Para o novo estudo, a doutora Jane Wardle e seus colegas da University College London pesquisaram 213 mães de crianças de 7 a 9 anos de idade, alunas de cinco escolas londrinas. As mães responderam a um questionário sobre a resposta dos filhos à comida – se o filhos tipicamente comiam em excesso caso tivessem a oportunidade – assim como sinais de “fuga” da alimentação, como comer lentamente ou não terminar as refeições.
As mães também relataram suas estratégias do horário das refeições – incluindo se elas tentavam convencer os filhos a comer mesmo quando eles diziam não ter fome, ou ainda se acreditavam que os filhos iriam se empanturrar se não tivessem quaisquer restrições alimentares.
No geral, a equipe de Wardle encontrou uma correlação entre a pressão para comer de forma saudável por parte das mães e o grau de meticulosidade dos filhos. Da mesma forma, as restrições alimentares impostas pelas mães tiveram uma correlação com a resposta dos filhos em relação à comida: quanto mais restrições, maior a probabilidade dos filhos de se empanturrar se isso lhes fosse permitido. As ligações foram observadas independentemente do peso das crianças.
Pais modelos
Segundo Wardle e seus colegas, diversos estudos apontam que pais estão sempre reagindo a seus filhos ao escolher restringir a alimentação ou pressionar os filhos a comerem mais.
Alguns estudos constataram, por exemplo, que crianças pressionadas pelos pais a comer mais costumam ser magras. E, segundo relatou a equipe de Wardle, tal relação se encaixa com a noção de que tais pais estão sempre preocupados que os filhos estejam abaixo do peso.
Por outro lado, estudos de irmãos constataram que as mães costumam impor mais restrições alimentares ao filho mais pesado – mais uma vez sugerindo que muitas mães reagem ao peso e aos hábitos alimentares dos filhos.
“Com as crescentes evidências de um fundamento genético para o comportamento e o consumo alimentar das crianças, os resultados atuais são consistentes em relação à ideia de que as práticas alimentares das mães são, até certo ponto, reações às predisposições dos filhos em relação à comida”, disse ela.
Os pesquisadores ressaltam que, desta forma, a relação também pode caminhar na direção contrária – o que torna importante reconhecer que as crianças podem tanto influenciar e serem influenciadas pela forma como os pais lidam com a alimentação.
Em geral, os especialistas recomendam que os pais tentem chamar a atenção dos filhos para alimentos saudáveis desde os primeiros anos de vida – por exemplo, pedindo ajuda aos pequenos na hora de comprar comida e preparar as refeições. No caso das crianças que fazem birra na hora de comer, a American Dietetic Association sugere que os pais ofereçam regularmente comidas coloridas, tornando o ambiente alimentar prazeroso e sem a interferência de distrações como a TV.
Diversos estudos também apontam a importância dos pais funcionarem como modelos de alimentação para os filhos: se os pais consomem frutas e verduras regularmente, as crianças provavelmente terão mais vontade de fazer o mesmo.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sexo após a menopausa


Exercícios com tonificadores ajudam as mulheres a reativar o interesse pelas atividades sexuais depois do climatério


Larissa Drumond - IG

Assim como existe um nome para a primeira menstruação da mulher, conhecida tecnicamente como menarca, a última é a tão temida menopausa. O período que a antecede é conhecido como climatério, que, na maioria dos casos, acontece por volta dos 45 anos e termina aos 65, culminando na menopausa. Nesse período, as mulheres costumam ter grandes alterações hormonais: tanto ondas insuportáveis de calor com transpiração excessiva, como o aparecimento de problemas sexuais podem virar realidade.

Segundo dados apresentados no XI Congresso Mundial de Menopausa, realizado em Buenos Aires em 2005, a prevalência de disfunção sexual entre as mulheres de meia-idade é acima de 50%. As queixas de dor na penetração, decorrentes das alterações hormonais, geram dificuldades na manutenção da excitação, diminuindo ainda mais a lubrificação vaginal e, consequentemente, reduzindo as possibilidades para se alcançar o orgasmo. Por conta de tudo isso, o desejo sexual é bem reduzido ou até inibido.

Paulo G. P. Tessarioli, psicólogo, terapeuta de casais e de família e especialista com Título de Especialidade em Sexualidade Humana (TESH), Ana Lúcia Cavalcanti e Ana Paula Junqueira Santiago, médicas ginecologistas e sexólogas, desenvolveram uma pesquisa sobre a satisfação sexual em mulheres com a chegada da menopausa, intitulada “A influência do uso do tonificador na consciência do assoalho pélvico das mulheres na menopausa”.

O trabalho, apresentado no X Congresso da Sociedade Latinoamericano, foi desenvolvido na cidade de São Paulo com oito mulheres, com idade média de 52 anos, que apresentavam dificuldade em ter orgasmos. Todas receberam kits compostos por três tonificadores de diferentes pesos e diâmetros e foram orientadas a fazer exercícios diários de contração e relaxamento da musculatura do assoalho pélvico.

Convidada a fazer parte da pesquisa por sua ginecologista, a professora Maria Amélia Andrade, 52 anos, entrou na menopausa aos 42. “No começo, passei um tempo com tranquilidade; mas, depois, passei a sentir calores horríveis, sudorese, não tinha uma noite de sono reparadora e tudo isso mexeu muito com o meu humor”, confessa. Mas, o problema maior era se sentir incapacitada por conta da disfunção orgástica. “Embora tivesse vontade, não sabia como mudar o quadro de minhas respostas sexuais e, assim, passei a evitar o contato”.

Depois de preencher um questionário explorando sua vivência sexual, Maria Amélia recebeu instruções sobre a sexualidade da mulher neste período e um kit com material para uso contínuo, durante 30 dias. “No momento em que comecei a ver minhas respostas aumentadas, ou seja, quando percebi que sustentava os pesos, passei a adquirir mais confiança em mim mesma. Não sei exatamente quantos dias levei, mas foi um processo relativamente rápido”, lembra.

O resultado foi positivo, provando que o uso do tonificador facilitou a percepção vaginal e reativou o interesse pela atividade sexual em cinco das oito mulheres que participaram da pesquisa. “Ganhei uma dimensão maior do meu corpo. Aprendi que posso operar mudanças, dar novos significados ao que ocorre comigo e essas condições despertaram meu desejo e minha busca pelo prazer sexual”, ressalta a professora. Os especialistas concluíram ainda que a associação do trabalho de orientação psicossexual e o uso de artefatos influenciam positivamente o desenvolvimento da consciência corporal. Casada há 30 anos, Maria Amélia não tem receios ao dizer que os lubrificantes especiais, os exercícios vaginais e as palestras com terapeutas sexuais originaram uma nova forma de ver a vida, longe de mitos infundados e tabus. “Sexo é fundamental na vida e estou aprendendo”, finaliza.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Na menopausa, 68% das mulheres têm sobrepeso


Pesquisa mostra ainda que, nesta fase, sexo feminino é mais vulnerável à hipertensão e diabetes

Agência Brasil


Estudo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) indica que 68% das mulheres chegam na menopausa com sobrepeso ou obesidade. O levantamento mostra ainda que 67% têm problemas relacionados aos sistemas vasomotores – a contração e a dilatação dos vasos sanguíneos. A pesquisa constatou que no primeiro atendimento para tratar a menopausa, as mulheres apresentam geralmente hipertensão arterial (44,94%), diabetes (10,01%), e tabagismo (8,39%).

O estudo, um dos mais amplos já realizados no Brasil sobre o tema, revela que a média etária de ocorrência da menopausa no Brasil é de 48,1 anos. O levantamento foi feito com cerca de 6 mil mulheres, em uma investigação que durou 11 anos (entre 1983 e 2004) e foi feita no Setor de Climatério do Hospital das Clínicas.

O levantamento também mostra que a idade da mulher na época em que ocorre a menopausa tem influência significativa sobre os sintomas e as doenças que normalmente aparecem no período: 27,8% das pacientes que tiveram a menopausa entre 41 e 45 anos de idade apresentaram sintomas vasomotores acentuados, contra 18,3% entre aquelas que entraram na menopausa com idade acima de 55 anos.

A professora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do estudo, Angela Maggio da Fonseca, destaca, por ocasião do Dia Mundial da Menopausa, comemorado hoje (18), que o estudo é uma forma de os médicos conhecerem a fisiologia desse período da mulher. “E possibilita a escolha de um tratamento adequado, melhorando a qualidade de vida de todas elas”.

Segundo a professora, nesse período são necessários uma alimentação adequada e exercícios físicos, principalmente a caminhada. "E hoje nós temos os hormônios, tão criticados, mas que são excelentes. O que precisa é ter prudência e dar os hormônios a quem precisa, na dosagem certa, na quantidade e no tempo apropriado”, recomenda.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os riscos genéticos do casamento entre primos
Novela debate a polêmica, mas retrata assunto de forma incorreta, afirmam especialistas
Lívia Machado, iG São Paulo |
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Foto: Rede Globo/Divulgação
Sinval e Fátima, personagens da novela Passione, descobrem que são primos-irmãos e buscam o aconselhamento genético

Nas novelas, temas polêmicos ou pouco debatidos na sociedade são, por vezes, mais fundamentais e atraentes do que um belo casal de protagonistas famosos.
Em Passione, da Rede Globo, o pedido de casamento entre dois primos-irmãos arrebatou a audiência e a apresentou aos espectadores uma especialidade da medicina pouco conhecida e de difícil acesso para a maioria da população brasileira: a genética.
Após a descoberta de uma relação de parentesco, a possibilidade de gerar filhos com alguma doença genética fez com que Sinval (Kayky Britto) e Fátima (Bianca Bin) procurassem um médico geneticista para saber que rumo dar ao relacionamento.
É fato que o conto global pouco reflete o mundo real. Os especialistas da área, embora agradeçam a chance de popularizar o assunto, criticam a forma como o autor abordou os riscos de uma união entre primos e o aconselhamento genético do casal em rede nacional.
Na cena, que foi ao ar esta semana, o médico revela aos personagens que os riscos são altíssimos, e sugere que optem pela adoção quando decidirem ter filhos. Salmo Raskin, diretor da Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), explica que os riscos são, na verdade, relativamente baixos.
“Foi interessante quebrar o tabu sobre o tema em uma novela. Nos consultórios, a falta de informação é comprovada diariamente. A maioria das pessoas entra na consulta temerosa, baseada nos altos riscos divulgados pelo senso comum. Após o aconselhamento, ficam aliviados.”
Casais sem relação de parentesco têm 3% de chance de ter filhos com alguma anomalia genética. Para os consangüíneos, ou seja, pessoas que são parentes pelo sangue, o risco dobra, e passa a ser de 6%. “É errado dizer que o risco é alto. Pelo contrário. A maioria dos casais tem 94% de chances de não ter filhos com nenhuma doença genética.”
Entretanto, essa matemática só traduz a realidade de um casal que não apresente histórico de doenças genéticas na família. Cabe ao médico investigar as três últimas gerações e avaliar a possibilidade de combinações negativas.
A SBGM critica a falta de critérios para sustentar a tese de que Fátima e Sinval terão filhos com alguma doença genética. Além disso, defende Raskin, nenhum geneticista orienta seus pacientes sobre qual atitude tomar. “Optar pela adoção é uma decisão pessoal. Não cabe ao especialista sugerir absolutamente nada, apenas apresentar os riscos.“
Mayana Zatz, professora titular e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células Tronco da Universidade de São Paulo (USP), também condena a postura apresentada na novela. A médica defende que o papel do geneticista é explicar os riscos em uma linguagem clara, objetiva, apenas. "Não aconselhamos ter ou não filhos. Apontamos o coeficiente de risco, é errado indicar uma postura.”
Para facilitar o entendimento, a médica revela que costuma usar a metáfora das maçãs. A proposta é apresentar os riscos de uma forma mais palatável, em uma situação imaginária que ajude os casais a analisar com cautela. “Imagine que você tem um risco de no máximo 10% de gerar filhos com alguma doença genética. Pense em uma mesa com 100 maçãs. Apenas 10 delas contêm um veneno mortal. Você correria o risco de escolher aleatoriamente e comer uma das frutas?” demonstra a médica.
A especialista comenta que os homens tendem a avaliar as possibilidades como menos temor. As mulheres, como carregarão as crianças por nove meses, depois do valor apresentado, julgam os riscos altos e preferem não arriscar.
Possibilidades
Do que a medicina conhece e descreve, hoje, existem mais de 10 mil doenças genéticas. Calcular as chances em casos de parentesco, por ora, no Brasil, é uma matemática cara e pouco acessível.
Clínicas de aconselhamento genético pipocam pelo País e podem cobrar de mil a 10 mil reais por exames, dependendo da doença e complexidade do gene a ser estudado. Do lado público, alguns hospitais, ligados a universidades, realizam tal serviço.
Para o diretor da SBGM, o controle e mapeamento das doenças genéticas no Brasil só poderão ser feitos quanto esse tipo de atendimento estiver presente na rede pública de saúde. O especialista defende que não é preciso desonerar os cofres das secretarias ou do Ministério para ampliar o acesso. Segundo ele, bastaria oferecer o atendimento médico.
“O geneticista pode estudar a história genética do casal e, com um cálculo no papel, sem grandes tecnologias, apresentar um coeficiente aproximado de risco.”
Nordeste
Dados apresentados no último congresso de Medicina Genética, em Salvador, mostram que o Brasil tem uma incidência altíssima em algumas regiões do nordeste para um tipo de anomalia genética conhecida como mucopolissacaridose ou MPS – ela compromete o Sistema Nervoso Central e diversas outras partes do corpo.
No sertão da Bahia, um trabalho pontual de mapeamento e atendimento dessas populações, revelou índices de MPS alarmantes nessa região. A média mundial é de um habitante para cada 200 mil. No local, porém, há uma pessoa diagnosticada com a doença para cada cinco mil habitantes.
O motivo é simples: o índice de casamentos consanguíneos é elevado nessas populações, o que aumenta a chance de doenças genéticas na família. Tal dado, na visão dos geneticistas, serve de alerta: se existisse acompanhamento genético nessas populações, os índices poderiam ser controlados.
“Esse exemplo não indica que os riscos são altíssimos em função dos casamentos entre parentes. Há muitos anos atrás, alguém que era portador do gene dessa doença se instalou na região. Com os casamentos consanguíneos, e sem mapeamento genético, a população afetada pela doença cresceu com o passar do tempo", defende Raskin.
A especialista da USP, porém, prega cautela no discurso. “Não podemos minimizar o problema. Em algumas populações do nordeste, o índice de doenças que provocam deficiências mentais ou físicas não é baixo. É uma questão de saúde pública, que precisa ser analisada com critérios pelas famílias.”

sábado, 20 de novembro de 2010

Somos tão felizes no sexo quanto dizemos que somos?
Pesquisa da Harvard diz que o sexo é o momento em que as pessoas estão mais felizes. Mas quanto disso é verdade?
Carina Martins, iG São Paulo |
Felizes mesmo as pessoas ficam quando estão fazendo sexo. O resto do tempo, ou 46,9% dele, preferem nem pensar na atividade que estão executando. Deixam a mente divagar enquanto trabalham, dirigem ou se arrumam, esquecendo o que estão fazendo para pensar em outra coisa (talvez em sexo?). O resultado, indica uma pesquisa feita pela Harvard e divulgada este mês na revista Science, é que o desligamento entre o que pensamos e o que fazemos promove índices altos de infelicidade. Concentrados no que estão fazendo, e felizes, os entrevistados disseram estar enquanto faziam sexo, bem mais do que qualquer outra atividade.
Foto: Getty Images
Em uma sociedade de consumo, uma vida sexual plena torna-se um objeto de desejo em si

Os pesquisadores de Harvard sabem muito mais do que nós sabemos, mas algumas coisas são do repertório de todos. Como, por exemplo, o fato de que nem sempre o que as pessoas dizem é necessariamente o que elas pensam, fazem ou sentem. O estudo aponta que, quando consultados via celular, os entrevistados diziam que não há felicidade como a proporcionada pelo sexo. Mas será que é realmente isso que vivem? "Orgasmo é o fenômeno que proporciona extremo prazer ao ser humano. Ele foi selecionado filogeneticamente como uma atividade que proporciona prazer justamente para garantir a reprodução das espécies", diz o psicólogo e terapeuta sexual João Batista Pedrosa.
A concentração nesta atividade específica, para ele, também teria respaldo orgânico. "Na hora do sexo, as pessoas ficam concentradas e, na obtenção do orgasmo, entram num estado único de desligamento da realidade por segundos. É tanto que os franceses chamam o orgasmo de ‘le petit mort’, ou seja, a pequena morte. O orgasmo está associado à diminuição do fluxo sanguíneo no córtex órbito-frontal, uma parte do cérebro que é fundamental para o controle do comportamento", diz."Acho que a grande maioria das respostas não estão ligadas a uma idealização do sexo, mas que elas realmente sentem isso, ou seja, gostam do sexo".
 
Gostar de sexo é uma coisa. Aproveitar a sexualidade de maneira saudável a ponto de ela ser a principal fonte de satisfação da vida cotidiana é outra. E é aí que pode haver uma diferença: o que os entrevistados contam sobre suas vidas pode ser o que vivem, mas pode ser o que acham que deveriam viver. Com base em sua experiência profissional, o especialista em sexualidade Paulo Tessarioli afirma que o sexo costuma ser mais fonte de angústia do que plenitude. "Não tenho nenhuma dúvida disso, é um fato. O sexo hoje está muito mais voltado a ser um complicador do que um facilitador na vida das pessoas", diz. A explicação para o resultado da pesquisa, ele acredita, estaria na importância do discurso. "Numa sociedade consumista, o sexo não fica de fora. Vira um objeto que eu tenho que desejar e ter. Esse sexo que está no nível do discurso é inatingível, completamente construído e idealizado".
 
Para Tessarioli, não é que a prática não seja importante, mas o discurso acaba sendo mais. "As pessoas falam demais, e isso vem ao encontro de uma tentativa de mostrar a si mesmo e ao mundo que 'eu estou bem'. Mas nem sempre isso se sustenta na realidade. E no discurso eu posso sustentar tudo", afirma. Fora do discurso, ele vê um mundo em que as pessoas têm "muitas dúvidas, muitas incertezas, muita insatisfação e pouco desejo". A combinação entre a cobrança de uma vida sexual perfeita e a realidade de dúvidas e falta desejo é fonte de sofrimento para muita gente. "Para quem está consciente disso, realmente é de uma angústia ímpar".
 
Os pesquisadores de Harvard acreditam que, para ser feliz, ajuda muito evitar as distrações que levam a mente para longe de nós mesmos. O conselho de Tessarioli para ter uma vida sexual tão satisfatória quanto a dos entrevistados da pesquisa parece ser é o mesmo. "As pessoas precisam perceber o que realmente querem. Parece grandioso, mas é tão simples", diz. Eleger momentos de reflexão pode ajudar - como caminhar sem levar o celular ou usar fones de ouvido, por exemplo. "Momentos de reflexão são bons para que a pessoa consiga de alguma forma se conectar com isso e não ficar no meio da massa".

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Menopausa: o lado bom

Campanhas, estudos e especialistas querem provar que a menopausa pode ser uma fase ótima para as mulheres

Bartira Betini, especial para o iG São Paulo

Uma forma diferente de encarar a menopausa tem sido debatida por psicólogos norte-americanos. E não só nos Estados Unidos. No Brasil, muitos profissionais acreditam que esse momento na vida da mulher pode ser encarado como algo positivo - e não apenas como um poço de dificuldades.

Os motivos que originaram tanta negatividade em torno da menopausa são reais: muitas mulheres, na fase que antecede a menopausa, têm desconfortos físicos, como calores, inchaço, sudorese, dificuldades para dormir e depressão. Isso fez com que o climatério, que é a fase anterior à menopausa seja cercado de cuidados médicos, mas pouco se fala do lado psicológico e das possíveis vantagens do período.

Para Vera Moris, psicóloga da PUC-SP, com mestrado e doutorado em psicologia clínica, é inevitável que a menopausa seja um marco emocional para o término de um ciclo e início de outro. “Algumas perdas serão enfrentadas e a mulher precisa estar pronta para isso. Se ela focar que terá descobertas interessantes, o ônus fica menor e ela não sofre tanto com os sintomas”, acredita.

Algumas ações americanas foram colocadas em prática para ajudar a mulher a encarar o período da menopausa de outra forma. O Instituto Nacional de Saúde dos EUA realiza, desde 1991, campanhas e pesquisas com o mesmo objetivo: abordar as preocupações da menopausa e descobrir as vantagens do período.

Os psicólogos estão trabalhando para entender as atitudes da sociedade em relação à menopausa e ajudar as mulheres a lidarem melhor com o significado psicológico dela. A psicóloga americana Sylvia Gearing ajuda pacientes a ver os benefícios da menopausa e do envelhecimento. "Como as mulheres têm menos estrogênio nesta fase, podem ter mais clareza de pensamento, autocontrole e determinação”, disse em artigo publicado no site da American Phycological Association.

Ainda, uma pesquisa realizada pela Universidade de Copenhague, publicada no jornal oficial da Sociedade Européia da Menopausa e Andropausa, Maturitas, revelou outros aspectos positivos desta fase da vida feminina. Após questionar 393 mulheres de meia-idade, o estudo afirmou que aproximadamente metade delas considerou a menopausa benéfica. Os motivos apontados por elas é bem-estar, alívio por não terem mais que lidar com a menstruação e maiores possibilidades de crescimento pessoal e liberdade para concentrarem-se nas próprias vidas.

Juventude x maturidade

Em uma sociedade que cultua a beleza e a juventude, entrar na menopausa, para muitas mulheres, é sinônimo de tornar-se velha e sem valor. “Ao olhar-se no espelho, observando as rugas e vendo sua imagem envelhecida, com gordurinhas a mais, é difícil não ficar ansiosa”, diz Olga Tessari, psicóloga, pesquisadora da USP, e mantenedora do site AjudaEmocional.com.

Esta também é uma fase, para a maioria das mulheres, onde os filhos já crescidos e criados não exigem mais os cuidados maternos de antes. “Se ela passou a vida se preocupando com os filhos, com o dia a dia deles, como lidar com o vazio que a independência deles gera?”, continua Olga.

É importante, segundo os especialistas, aceitar que a vida passa por fases e que todas essas mudanças também têm o seu lado positivo. Na menopausa, não é diferente. Por exemplo, a atividade sexual está livre de riscos de gravidez e o sexo pode se tornar ainda mais libertador e prazeroso; a mulher pode dedicar-se mais a si mesma, praticar atividades que sempre teve vontade, podendo realizar seus projetos pessoais engavetados pela falta de tempo.

“A mulher deve usar e abusar das experiências de vida acumuladas ao longo dos anos e permitir-se viver intensamente o momento. Mulheres que chegam à menopausa com boa autoestima passam por essa fase de forma tranquila, inclusive lidando melhor com os sintomas físicos causados pelo desequilíbrio hormonal”, conclui Tessari.

5 dicas do ginecologista Ivaldo Silva, professor do Departamento de Ginecologia da Unifesp, para viver a menopausa de maneira mais tranquila:

- Embora a menopausa seja um sinal de envelhecimento, não há motivo para desespero: é uma fase da vida e, por isso, inevitável. Aproveitar os aspectos positivos é a melhor saída

- Aquela preocupação com a gravidez não é mais necessária, portanto, as relações sexuais com o parceiro podem se tornar ainda mais prazerosas

- Utilize este momento para fazer uma análise de sua vida: como os filhos já estão grandes e há uma estabilidade financeira maior, aproveite para curtir horas de lazer, sozinha ou ao lado do marido

- A menopausa surge e, juntamente a ela, a possibilidade de refletir mais e parar para melhorar a si mesma. Autoconhecimento é a palavra-chave

- Culturalmente, a menopausa é tratada como um período ruim, mas não há necessidade de colocar um peso a mais nesta vivência: analise-a como uma fase diferente e um momento de mudança. Se apegue à filosofia de que há muito a ser vivido ainda.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CFM convoca junta médica para avaliar cirurgia do diabetes


O Conselho Federal de Medicina (CFM), de forma inédita, convocou um grupo de representantes de sociedades médicas, universidades e cirurgiões com o objetivo de atualizar os procedimentos usados na cirurgia bariátrica. Entre as decisões está o aval para a utilização de técnicas semelhantes à já usada na redução de estômago para o controle do diabetes, uma das doenças que mais mata a população.
Fernanda Aranda, iG São Paulo

Esta técnica ainda não é regulamentada, mas, mesmo sem aprovação do CFM, algumas clínicas e hospitais realizam o procedimento. O apresentador de televisão Fausto Silva, por exemplo, foi um dos que se submeteu a ela. Ontem, no entanto, a Justiça Federal de Goiás proibiu o médico de Faustão, Áureo Ludovico de Paula, de operar mais pacientes com previsão de R$ 100 mil pagos por cada cirurgia realizada sem permissão. A estimativa é que 400 pessoas já tenham sido operadas por Ludovico.

Enquanto a técnica cirúrgica não passar por avaliação da junta médica reunida pelo CFM, a prática permanece irregular no País. Será responsabilidade desta câmara de médicos avaliar se, além dos obesos, os diabéticos também podem ser beneficiados pela cirurgia bariátrica, além de modernizar outras práticas da cirurgia. As reuniãoes já começaram, mas ainda não há um prazo para que as decisões sejam anunciadas.

No Brasil, a cirurgia bariátrica foi aprovada como procedimento médico no ano 2000. Na última década, a ciência trouxe muitas novidades, entre elas, a possibilidade de usar os procedimentos bariátricos como solução para os que precisam controlar diariamente a insulina e são privados do consumo de diversos alimentos.

A necessidade de uma cirurgia como esta é reforçada pelo número de pessoas que sofrem da doença. Hoje, segundo o último diagnóstico nacional, feito em novembro, 21 milhões de brasileiros convivem com o diabetes. Só no público feminino, o problema metabólico ocupa o 10º lugar no ranking de mortalidade, ao lado de problemas como infarto, derrame, HIV e câncer, informou o Ministério da Saúde.

Pesquisas clínicas

Em paralelo à polêmica em volta da cirurgia feita em Fausto Silva, pesquisas clínicas sérias estão em andamento para avaliar a eficácia desse tipo de cirurgia bariátrica no controle do diabetes. Existem hoje ao menos três grandes estudos do tipo (dois no Estado de São Paulo e um Pernambuco) sendo conduzidos por universidades.

As conclusões iniciais, ainda muito embrionárias, indicam que ao reduzir o estômago a anatomia do órgão é modificada, em uma técnica chamada interposição de íleo. Com isso, a produção de hormônios ligados ao diabetes também é alterada, culminando no controle da doença.

Os resultados, no entanto, não são conclusivos. Não há comprovação de que a técnica resolva o problema a longo prazo, não se sabe de que forma o fígado é comprometido no processo após cinco anos de cirurgia ou quais as outras seqüelas da técnica no organismo. Um dos objetivos do novo grupo formado pelo Conselho Federal de Medicina, inclusive, é justamente separar de forma clara o que é pesquisa clínica do que é experimento médico não regulamentado e irregular.

Ao mesmo tempo em que não querem que a ciência saia prejudicada com o fim dos estudos clínicos, os especialistas temem que a população seja ludibriada com informações sobre a cura do diabetes e acabem pagando por cirurgias ainda sem risco e benefício comprovados.

Pacientes X cobaias

Luiz Vicente Berti, médico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, diz que os primeiros passos da pesquisa sobre o controle cirúrgico do diabetes projetam um caminho promissor a ser seguido, mas todos os procedimentos precisam seguir à risca os protocolos de pesquisa científica realizadas em seres humanos. Isso inclui, ressalta, autorizações de comissões de ética e também dos pacientes submetidos ao estudo. Nos protocolos que trabalhamos, fazemos deste jeito, diz Berti.

Mesma ressalva faz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Ruy Lyra da Silva Filho. O Brasil é um dos países que mais burla evidências científicas. Os procedimentos vêm sendo utilizados sem a validação da ciência. Achismo não tem lugar na medicina, afirma Filho.

Ele diz que as pesquisas feitas em universidades são importantes para o avanço da medicina, mas que os resultados precisam ser avaliados a longo prazo. Essa cirurgia para o diabetes ainda não pode ser usada na sociedade em geral. As pessoas que são submetidas não deixam de ser cobaias, até que passemos a ter evidências sólidas do resultado. Isso leva anos, alerta o presidente da SBD. Mesma cautela tem Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Ainda é preciso esclarecer qual ou quais as técnicas cirúrgicas mais apropriadas, quais os eventuais riscos e efeitos adversos, quais os pacientes que poderiam se beneficiar da cirurgia e se os resultados desta operação representam alguma vantagem sobre os atuais tratamentos clínicos disponíveis, que têm evoluído bastante, pondera Meirelles.
Novo medicamento contra diabetes recupera funções do pâncreas


O Brasil está participando de um estudo que, se comprovada a eficácia, pode mudar a vida dos diabéticos. Centros de pesquisa de diferentes países testam uma nova geração de uma classe de medicamentos que pode reduzir a quantidade de medicação utilizada por pacientes com diabetes tipo 2 e ainda recuperar parte do funcionamento do pâncreas. Os novos remédios devem chegar ao mercado dentro de um ano.

Priscilla Borges, iG Brasília

Produzidas por indústrias americanas, suíças e japonesas, as novas medicações estão sendo consideradas como a terceira geração de drogas já conhecidas de quem tem a doença. As incretinas são hormônios gastrointestinais existentes no organismo, que desaparecem quando a pessoa desenvolve diabetes do tipo 2. Os diabéticos tomam essa classe de medicamentos para aumentar a quantidade de insulina no organismo e produzir saciedade.

Hoje, no mercado, existem dois tipos de incretinas sintetizadas, as orais e as injetáveis. Elas fazem parte da primeira geração dos medicamentos, que precisam ser tomados diariamente. As novas pesquisas testam a terceira geração desses remédios, feitas para serem tomadas (ou injetadas) apenas uma vez por semana. A segunda geração não produziu os efeitos esperados pelos cientistas.

São medicações sofisticadas, de ação prolongada e com menos efeitos colaterais, garante o endocrinologista João Lindolfo Borges, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. Borges faz parte do Centro de Pesquisa Clínica do Brasil, instituto privado vinculado à Universidade Católica de Brasília (UCB). Para ele, as vantagens do remédio são inúmeras, inclusive na melhoria na produção de insulina.

Excesso de peso

Segundo o médico, essa é a única classe de remédios contra o diabetes – a doença não tem cura – capaz de reverter a perda do funcionamento do pâncreas, que entra em falência por causa da doença. Borges explica ainda que as incretinas sintetizadas em laboratório atuam no sistema nervoso central inibindo a fome mais rápido e retardando o esvaziamento do estômago. Isso significa que os pacientes demoram mais a comer.

Isso é importante porque 90% dos pacientes com diabetes tipo 2 têm excesso de peso. Se ele perde peso, outros benefícios são adquiridos. Por exemplo, a pressão melhora, a taxa de triglicerídeos também, afirma o pesquisador. A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que 250 milhões de pessoas em todo o mundo tenham diabetes e que 30% delas não saibam da doença.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que 7,5 milhões de brasileiros com mais de 18 anos têm a doença diagnosticada. Desse total, 90% são pacientes com diabetes tipo 2. O professor da UCB lembra que, mesmo com os medicamentos, os pacientes precisam lembrar que manter a dieta alimentar e praticar exercícios são essenciais para o tratamento da doença.

Pesquisas constantes

No Centro de Pesquisa Clínica do Brasil, Borges desenvolve outros estudos com medicamentos já utilizados para tratar o diabetes. Um deles deve ser apresentado em junho no Congresso Americano de Diabetes, nos Estados Unidos. Há algum tempo pesquisadores alertaram para o perigo de uma droga comumente utilizada no tratamento do diabetes, as glitazonas.

Segundo esses estudos, elas aumentariam a incidência de doença cardiovascular e osteoporose os pacientes que a ingerem. A pesquisa Borges mostra como as glitazonas provocam a perda óssea nas pessoas que a utilizam. No estudo feito por ele, não houve aumento de casos de doença cardiovascular.

Ele explica que o precursor que produz as células dos ossos é o mesmo das células adiposas. Com a glitazona, esse processo pode sofrer intervenção e ser invertido, fazendo o corpo produzir mais gordura e menos osso. O médico conta que o remédio deve ser retirado do mercado em breve.

Testes em humanos

Como qualquer avaliação de medicamentos em seres humanos, a utilização desta nova geração de incretinas em brasileiros teve de ser aprovada pelo Conselho de Ética da universidade, pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Os pacientes que participam da pesquisa recebem todo o tratamento gratuitamente.
Ronco é indício de problemas cardíacos e diabetes

Mulheres também sofrem da doença, que afeta 32% da população
Fernanda Aranda, iG São Paulo
O barulho não parece um som feminino, mas ronco também é problema de mulher. O sinal noturno, inclusive, não deveria ser motivo para vergonha e sim para cautela.

As pesquisas mais recentes atestaram que o ruído é um forte indício de risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes, as três doenças que mais ameaçam a vida das brasileiras.

Após os 40 anos de idade, afirmam os especialistas, elas perdem a proteção hormonal e aparecem equiparadas aos homens nas estatísticas de uma doença chamada apneia do sono, que tem como um dos sintomas clássicos o ronco.

Geraldo Lorenzi, pneumologista da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em medicina do sono, explica que apneia é um problema “traiçoeiro”, caracterizado pela ausência repetida de respiração por alguns segundos enquanto a pessoa está dormindo.

“Homens e mulheres sofrem deste mal e o ronco, nestes casos, é alto, contínuo e parece que ressuscita a pessoa. É comum acordarem com o próprio barulho, como se estivessem afogadas”, diz. “Nem todo mundo que ronca tem apneia, mas todos que têm apneia roncam.”

Antes a apneia era considerada grave porque compromete a qualidade de vida, impede o descanso durante o sono, atrapalha a concentração, o humor e até os relacionamentos. Agora, a preocupação dos estudiosos é dupla: os estudos têm mostrado que a probabilidade de sofrer problemas cardíacos, vasculares e também metabólicos é duas vezes maior em quem tem apneia, como explica o cardiologista do Instituto do Coração (Incor) e pesquisador da qualidade do sono, Rodrigo Pedrosa.

“Como a pessoa fica sem respirar por alguns instantes diminui a oxigenação do organismo. Isso faz com a pressão arterial fique mais alta, aumentando os riscos de enfarte e AVC”, explica. “Outro problema é que, sem oxigênio, a produção de adrenalina também é super estimulada, o que aumenta a produção de glicose e, por consequência, o diabetes.”

Pedrosa afirma que diversos estudos norte-americanos já confirmaram a relação entre apneia e complicações cardíacas. Um deles, feito por meio da análise de 1.000 atestados de óbitos, concluiu que o risco de morte cardiovascular era duplicado nos que sofriam agravos do sono. “Confirmamos o risco em um estudo feito no Incor. Analisamos 80 pacientes, metade com apneia, outra sem. Identificamos arritmia (batimentos irregulares do coração) em 30% dos pacientes com apneia e apenas em 6,25% nos que não tinham a queixa.”

Mulheres desavisadas

Uma pesquisa feita o ano passado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que a apneia é muito mais presente nas “camas” da população do que se imagina. Em análise feita com 6 mil adultos foi atestado que 32% deles tinham algum grau de ausência de respiração no sono. Para entrar no grupo era preciso ter mais de 15 “paradas” de respiração por minuto dormindo. Em casos graves, são mais de 30 paradas.

A responsável pelo Instituto de Medicina do Sono, Lia Bittencourt, explica que os sinais do problema são sonolência constante, hipertensão e cansaço, quase sempre negligenciados pelos pacientes e pelos médicos.

Rosana Alves, especialista em sono da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, lembra que entre as mulheres a identificação do problema é ainda mais difícil. “Primeiro porque no sexo feminino, em vez de sonolência, um dos sintomas comuns de apneia é depressão, o que dificulta ainda mais o diagnóstico. Depois porque as mulheres escutam o ronco dos maridos e avisam que eles estão com problema. O inverso nem sempre acontece e a queixa passa sem ser percebida.”

Obesidade e tratamento

A apneia do sono acontece quando há muita gordura na faringe, dificultando a passagem do ar, o que provoca as paradas respiratórias. Por isso, as pessoas obesas estão no topo do ranking do grupo de risco. Idosos, que ficam com a musculatura do pescoço mais frágil, também são mais vulneráveis. Má formação craniana é outro motivo, sendo mais comum em crianças (1% dos menores de 18 anos tem apneia).

O tratamento convencional é feito com a utilização de um aparelho chamado CPAP. É uma espécie de máscara, ligada a uma tubulação, que precisa ser usada toda noite. Como é muito grande e cara (entre R$ 1.500 e R$ 6.000) precisa de orientação médica constante para não ser descartada ou subutilizada pelo paciente.

A diretora do Instituto de Medicina do Sono da Unifesp, Lia Bittencourt, complementa: emagrecer, tocar instrumentos de sopro e fazer acupuntura são outros tratamentos não convencionais que estão sendo investigados, já com resultados promissores.

“É preciso procurar ajuda do médico. Costumo dizer que morrer de vergonha do ronco é pior do que morrer por causa do ronco”, compara o pneumologista Geraldo Lorenzi.
Pesquisa revela como privação de sono pode desencadear diabetes

O estudo descobriu que proteína que regula o relógio biológico em mamíferos está relacionada à síntese de glicose no fígado
AE - IG

Pesquisadores americanos descobriram que uma proteína que regula o relógio biológico de mamíferos também está relacionada à síntese de glicose no fígado durante períodos de jejum prolongado. A descoberta, publicada na revista Nature Medicine, ajuda a entender a relação entre privação de sono e distúrbios metabólicos, como obesidade e diabete, abrindo caminho para novas estratégias terapêuticas.

Quando ficamos muito tempo sem alimento, o organismo mantém a taxa de glicose no sangue estável e garante energia aos órgãos graças a um processo chamado gluconeogênese (síntese de glicose a partir de gordura ou das proteínas dos músculos). Os cientistas descobriram agora que esse mecanismo é regulado por uma proteína chamada criptocromo. Em experiências com ratos, foi possível reduzir a glicemia dos animais ao controlar os níveis de criptocromo no fígado.

“Acredito que estamos descobrindo novas formas de tratar o diabete tipo 2. Mas ainda estamos em um estágio muito inicial”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo Steve Kay, diretor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade da Califórnia e coordenador do estudo. “Serão necessários pelo menos dez anos até se tornarem viáveis os testes clínicos.” Para Kay, o aumento na incidência de doenças como obesidade e diabete está intimamente relacionado ao estilo de vida moderno, que impede um padrão regular de sono.

O criptocromo foi inicialmente conhecido pelos cientistas como substância-chave na regulação do relógio biológico das plantas. Depois, descobriu-se que tem a mesma função nos mamíferos. Mas seu papel na regulação da produção de glicose no fígado foi uma surpresa para a equipe de pesquisadores.

Sono irregular

Diversos estudos mostram que pessoas que sofrem privação de sono tendem a se tornar mais obesas e diabéticas ao longo dos anos, mas ninguém sabia como a alteração no relógio biológico prejudicava o metabolismo, afirma Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono e professora da Universidade Federal de São Paulo. “Essa proteína parece ser o link, mas é precoce afirmar que não há outros mecanismos envolvidos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Filhos diabéticos ensinam pais a ter uma alimentação saudável

Pesquisas mostram que segredo de prevenção ainda está na gravidez e na amamentação
Fernanda Aranda, iG São Paulo


O caminho foi percorrido ao contrário. Ainda não tinham completado nem 15 anos de idade e tiveram de ensinar os responsáveis por fazer a feira e o supermercado de suas casas a como manter uma alimentação saudável.

A explicação para a inversão de papéis no caso de Raphael Sobral Vieira dos Santos, hoje com 16 anos, e Letícia Silva Souza, 17, aparece também no histórico de meninos e meninas que descobrem o diabetes na infância ou adolescência. O diagnóstico dos filhos obriga os adultos a mudarem de postura.

“Comecei a sentir os sintomas aos 12 anos de idade. Tinha muita sede, ia frequentemente ao banheiro. Um dia desmaiei e entrei em coma. Quando saí do hospital, precisamos fazer uma revolução dentro de casa”, conta Raphael. “Minha mãe aprendeu, por minha causa, a importância de uma alimentação saudável. Hoje, com equilíbrio, posso comer de tudo. Não só os meus pais adotaram essa postura, como meus amigos que vivem a base de muito hambúrguer e batata frita reconhecem que o certo é se alimentar como eu me alimento”, conta o garoto que nunca precisou da supervisão dos adultos para manter seus níveis de glicemia controlados.

“Pelo contrário. É ele que me lembra das refeições a cada três horas e os alimentos necessários”, diz com o orgulho a mãe Rosana. O mesmo papel de “professora” de casa ocupa Letícia, desde que descobriu o diabetes aos 11 anos. “Tenho uma vida normal. No começo tive um pouco de dificuldade com a alimentação mais saudável e com tantas diferenças na dieta. Mas junto com a minha mãe, tiramos isso de letra”, afirma a garota, que também reconhece ter um padrão alimentar de melhor qualidade do que o de seus colegas.

Tipo 1 e tipo 2

Raphael e Letícia são portadores do diabetes tipo 1, que não tem uma relação muito íntima com hábitos alimentares e sedentarismo. Este tipo da doença costuma se manifestar entre os 5 e 15 anos de idade, tem aparecimento abrupto e o tratamento é quase sempre com a insulina. A dieta precisa ser muito saudável e as refeições espaçadas por tempo máximo de 4 horas entre uma e outra.

Já o diabetes tipo 2 tem origem na dieta rica em gorduras e açúcares e também na falta de exercícios físicos. Antes costumava ser associado apenas com o passar dos anos, mas agora com o crescimento do número de crianças obesas e sedentarismo, já existem pesquisas que confirmam o diabetes tipo 2 como um dos inimigos da infância e da adolescência.

Se no diabetes tipo 1, os portadores da doença mais jovens assumem o papel de tutores da alimentação saudável, para o outro tipo da doença metabólica, as pesquisas demonstram que a contribuição dos pais para o aparecimento da doença nos filhos é evidente.

Gravidez, amamentação e os primeiros dois anos de vida da criança são apontados pelos especialistas como períodos cruciais para a formação de um futuro adulto saudável. Os médicos, nutricionistas e autoridades em saúde pública atestam que estas fases são chave para prevenir o aumento de doenças crônicas na infância e também na vida adulta.

“Já temos evidências científicas bem importantes que mostram que ainda dentro da barriga da mãe, o bebê forma a sua preferência por certos alimentos”, afirma Elsa Giugliani, coordenadora de Saúde da Criança do Ministério da Saúde.

“Este processo tem relação com os sabores, proteínas e nutrientes dos produtos ingeridos pela mulher, que passam pelo líquido amniótico. Uma das evidências de que a alimentação durante a gestação é importante não só para a mãe não engordar muito, mas para o futuro da criança”, completa a médica.

As pesquisas

Uma das evidências da influência da alimentação da grávida nas preferências futuras da criança foi atestada por um estudo publicado no Jornal Americano da Academia de Pediatria. Os pesquisadores da Pensilvânia acompanharam por mais de cinco anos 46 mulheres. O trabalho começou no início da gravidez de todas. Elas foram divididas em três grupos. Um deles bebeu um suco de cenoura, três vezes por semana, durante toda a gestação. A segunda turma só fez do suco uma rotina semanal na amamentação, também três vezes por semana. O terceiro grupo não colocou a cenoura na dieta.

Os resultados mostram que quando as crianças nascidas das mães participantes da pesquisa chegaram aos 5 anos de idade, os filhos de mulheres do primeiro e do segundo grupo gostavam de cenoura e comiam o vegetal sem nenhum problema. Já os meninos e meninas gerados no terceiro grupo torciam o nariz só de olhar para a salada de cenoura. No primeiro e no segundo grupo, o índice de garotos que comiam cenoura foi quase três vezes maior.

Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), diz que ainda mais importante do que os alimentos ingeridos na gestação e na amamentação das crianças, é a forma como os pais se comportam durante os primeiros dois anos de vida.

“A comida, em especial a gordurosa e calórica como o chocolate, é oferecida como uma recompensa, por algo bacana que eles tenham feito”, afirma. “Isso cria uma relação de compensação com os alimentos, que não tende a ser saudável no futuro”, diz.

A médica Elsa, do Ministério da Saúde, acrescenta que “também não adianta oferecer às crianças alimentos que não fazem parte da rotina dos pais”. "O filho não terá nenhum prazer em comer os vegetais, legumes e verduras se os adultos não comem este tipo de produto. Também não é proveitoso se, quando o fazem, a reação quase sempre é de uma careta.”

Desafio

O fato da alimentação saudável não fazer parte da rotina de crianças e adolescentes tem um peso muito alto no aumento de diabetes tipo 2, colesterol e hipertensão nesta parcela da população. Rosa Sampaio, coordenadora de Diabetes e Hipertensão do Ministério da Saúde diz que a descoberta destes problemas em uma população de pouca idade tem feito com que os responsáveis pelas políticas públicas de saúde se debrucem sobre o tema para traçar as recomendações mais efetivas de alimentação adequada e também de prática de exercícios antes da dolescência.

“É uma nova preocupação em nossa agenda, mas é uma preocupação que precisa ser solucionada de forma imediata”, afirma.

Na Caderneta de Saúde da Criança, elaborada por técnicos do Ministério, já existem os dez passos da alimentação segura de crianças até 5 anos

Dez passos da alimentação saudável

Passo 1 – Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento

Passo 2- A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos ou mais

Passo 3- A partir dos seis meses, priorizar alimentos como cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada

Passou 4 - A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança

Passo 5 - A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida na colher. Começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar sua consistência até chegar à alimentação da família.

Passo 6 - Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida

Passo 7 - Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições

Passo 8 - Evitar açúcar, café, enlata¬dos, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação

Passo 9 - Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o armazenamento e a conservação adequada

Passo 10 - Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando sua aceitação.