quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Diabetes descontrolado


Estudo mostra que 76% dos afetados pela doença não controlam suas taxas glicêmicas

Fernanda Aranda, iG São Paulo




Uma das doenças que lideram as causas de morte da população feminina brasileira não consegue ser controlada pela ampla maioria das pessoas que sofrem deste problema de saúde.

Levantamento feito por um grupo de pesquisadores ligados à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), à Fundação Oswaldo Cruz e ao Centro de Controle do Diabetes da Bahia revelou que 76% dos diabéticos não conseguem manter as taxas glicêmicas adequadas, o que aumenta os riscos de panes cardiovasculares, enfartes e derrames.

O estudo, realizado com 6.671 adultos das dez maiores cidades do Brasil, foi publicado em edição recente do Acta Diabetalógica, jornal internacional que reúne as principais informações sobre o diabetes.

Para as mulheres – segundo o Ministério da Saúde a doença ocupa o décimo lugar no ranking de causas de morte na população entre 10 e 49 anos – os perigos dos índices inadequados de glicemia ficam ainda mais próximos.

Isso porque, afirmam os especialistas, o descontrole do diabetes é impulsionado não só pela alimentação inadequada mas por problemas psíquicos, como a depressão. Já é sabido, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, que as doenças depressivas atingem o dobro da população feminina na comparação com a masculina. A proporção de obesas – outro fator de risco para a falta de controle da doença – também é maior do que a de homens.

Entre os diabéticos do tipo 1, doença que é mais influenciada por fatores genéticos, o estudo sobre o descontrole do diabetes mostrou que a taxa de pacientes que convivem com a doença controlada é de apenas 10%. Entre os portadores do tipo 2 de diabetes – provocado em especial pela alimentação desregrada – o grupo dos “controlados” está em ligeira vantagem, mas soma só 26% do total.

Tratamento individualizado

A boa notícia para quem sofre de diabetes e não consegue controlá-lo é que os médicos já sabem um caminho de tratamento positivo. O médico Augusto Pimazoni, coordenador dos Grupos de Educação e Controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo, desenvolveu um método de tratamento do diabetes, utilizado nos que não conseguem controlar a doença, e já conseguiu um índice de êxito de 70%.

A chave do sucesso é simples e recebe o nome de “individualização”. “Durante um tempo, em geral um mês, pedimos para os pacientes medirem as taxas de glicemia seis vezes por dia, durante três dias da semana”, explica o especialista. “Com esta avaliação minuciosa, conseguimos identificar os fatores que de fato influenciam na variação glicêmica e personalizar o tratamento. Para uns, o jejum pode ser o fator determinante do descontrole, para outros a alimentação. Em alguns casos são as manifestações depressivas”.

O novo método já foi aplicado em 200 pacientes, submetidos às técnicas desde 2007. Em novembro do ano passado, ganhou o prêmio de melhor criação no Congresso Brasileiro de Diabetes, realizado em Fortaleza. Pimazoni afirma que o método já foi apresentado para a Universidade Federal do Paraná – que pretende testá-la em gestantes com diabetes – e também já foi solicitado pelo Centro de Estudos do Diabetes de Salvador.

Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, também cita a possibilidade da individualização terapêutica do diabetes como uma das vantagens conquistadas nos últimos tempos. Além disso, ele ressalta a importância de manter o peso equilibrado como uma das formas de controle.

“Muitas vezes, mesmo em grandes obesos, a perda de cerca de 10% do peso já promove melhoras significativas no metabolismo e na pressão arterial, ainda que não se atinja o peso ideal”.

Mais expectativa de vida

O diabetes – que hoje já faz 21 milhões de vítimas no Brasil – está em tendência de aumento em todo mundo. Uma das causas do problema é a alimentação recheada de gordura, refrigerante, frituras e fast food, explica Ruy Lyra da Silva Filho, vice presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

“Estudos já mostraram que o diabetes influencia em uma redução de expectativa de vida entre 8 e 12 anos. Por isso, é tão importante controlar e tratar a doença”, avalia o especialista.

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