quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Diabetes gestacional ainda é pouco diagnosticado


Especialistas pedem mais atenção à doença que ataca na gestação

Fernanda Aranda, de Salvador - IG


O bebê vira atração da maternidade. Enfermeiras, parentes e visitantes só comentam sobre a criança nascida com mais de 4 kg que destoa dos pequeninos no berçário.

Mas o que só parece sinal de saúde em excesso pode indicar uma doença desenvolvida pela mãe na gravidez que sequer foi diagnosticada.

“O chamado diabetes gestacional ainda passa batido no Brasil, um risco importante para a saúde materna e que aumenta a mortalidade infantil”, afirma Rosa Maria Sampaio, coordenadora de Hipertensão e Diabetes do Ministério da Saúde.

Os principais especialistas do mundo na doença metabólica estão reunidos até o domingo (dia 4) em Salvador, e – em coro – pedem mais atenção aos casos da doença que acomentem as mulheres grávidas. Por causa das mudanças físicas e hormonais que acontecem durante a gestação, uma parte das futuras mães acaba desenvolvendo o diabetes gestacional, diagnosticado em especial na 28ª semana de gestação.

A doença, de forma imediata, aumenta a pressão arterial da mulher, influencia nos riscos de parto prematuro e de complicações após o nascimento da criança, que costuma nascer maior do que a média e com peso em excesso (acima de 4 kg). Além do perigo imediato, as novas pesquisas começam a alertar que os filhos de mães com diabetes gestacional são mais propensos a desenvolver doenças crônicas quando viram adultos.

"Estes bebês têm risco aumentado de três a cinco vezes de serem diabéticos no futuro. Os dados também indicam que eles são mais obesos e hipertensos depois de crescidos", confirma o diretor da Federação Internacional do Diabetes (WDF), Anil Kapur.

Atenção geral

A última vez que o diabetes na gestação foi mapeado no Brasil o calendário ainda marcava 1991. A coordenadora nacional da série de estudos feitos na época, Maria Inês Schimidt – professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista na área pela Escola Johns Hopkins, nos Estados Unidos – encontrou na época uma parcela de 7% do total de gestantes com diabetes.

“É importante esclarecer que diabetes gestacional é aquele que aparece na gravidez e vai embora depois que o nenê nasce”, diz a médica. “O que temos hoje é uma parcela de mulheres que já diabética há muito tempo e descobre a doença só na gestação.”

Segundo ela, como o diabetes cresceu de forma acelerada nos últimos anos, as grávidas com a doença também já devem somar maior número. “Por isso hoje, o chamado grupo de risco para diabetes gestacional mudou muito. Se antes a atenção maior era com as mulheres acima de 35 anos, hoje as adolescentes estão mais obesas e mesmo uma gravidez precoce pode desenvolver diabetes. A atenção precisa ser geral”, afirma.

Ainda assim, mesmo as diabéticas sendo mais numerosas, nem sempre são identificadas no pré-natal. O levantamento do Ministério da Saúde, referente aos anos 1990 e 2007, mostrou que dobrou o número de crianças que morreram antes de completar 1 ano de vida por causa da doença da mãe, sendo o diabetes uma das principais. A informação complementa a declaração do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão – na conferência latinoamericana ele informou que hoje no País são 11 milhões de diabéticos, mas só 7 milhões sabem que têm a doença.

Não identificar uma grávida diabética é facilitar que esta mulher conviva com a mesma doença descontrolada no futuro. “Fizemos um trabalho com 84 gestantes que tinham diabetes gestacional. Acompanhamos estas mulheres por 10 anos e percebemos que após cinco anos da data do parto, metade delas tinha voltado a ter a doença”, afirmou Adriana Forti, coordenadora do Centro Integrado de Diabetes do Estado do Ceará.

“Esta informação é muito importante porque as poucas mulheres que descobrem ter diabetes gestacional acham que estarão totalmente curadas quando a criança nasce, o que não acontece na prática.”

Sinal de alerta

Para Bruce Duncan, médico norte-americano que atua no Brasil no controle de diabetes gestacional (autor de mais de 100 artigos científicos ligados ao tema), identificar a grávida com diabetes é importante para monitorar toda a situação de risco que vive o núcleo familiar. “Se a mulher tem diabetes gestacional é preciso dar um cartão amarelo à saúde de toda família”, diz ele. “Significa que não só ela, mas seus filhos, marido, mãe e outros parentes não estão se alimentando de forma saudável e todos correm risco de desenvolver doenças crônicas”, alerta.

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