"Se eu fizesse filmes para adultos, não gostaria que meus filhos assistissem até os 17 anos", diz funcionário do Google
  Foto: The New York Times 
  Pais e escola mantêm crianças longe de tecnologia
Escolas de todo o mundo têm levado computadores para as salas de aula às  pressas, e muitos políticos americanos dizem ser tolo não fazer isso. Mas  opiniões contrárias podem ser encontradas no epicentro da economia tecnológica,  onde alguns pais e educadores têm uma mensagem muito importante a passar:  computadores e escolas não se misturam.
Esta é filosofia da Escola Waldorf da Península, que também existe em outras  partes dos Estados Unidos e em outros países, Brasil incluído. As atividade  preveem e aprendizagem através de tarefas criativas e mão na massa. Aqueles que  apoiam essa abordagem dizem que os computadores inibem o pensamento criativo, o  movimento, a interação humana e a atenção. O método não é longe, mas sua  presença entre os mestres da indústria tecnológica ressalta o crescente debate  sobre o papel dos computadores na educação.
"Eu fundamentalmente rejeito a noção de que você precisa de aparelhos de  tecnologia na escola primária", disse Alan Eagle, 50, cuja filha, Andie, é uma  das 196 crianças que estudam educação primária na Waldorf; seu filho William,  13, está no ensino médio nas proximidades. "A ideia de que um aplicativo em um  iPad pode ensinar melhor os meus filhos a ler ou fazer contas é ridícula."
Eagle sabe um pouco sobre tecnologia. Ele se formou em ciência da computação  pela Universidade Dartmouth e trabalha em comunicações executivas no Google,  onde escreveu discursos para o presidente Eric E. Schmidt. Ele usa um iPad e um  smartphone. Mas ele diz que sua filha, uma aluna da quinta série, “não sabe como  usar o Google", e que seu filho está apenas aprendendo. (Começando na oitava  série, a escola aprova o uso limitado de aparelhos tecnológicos.)
Três quartos dos alunos aqui têm pais que trabalham em alta tecnologia.  Eagle, como outros pais, não vê contradição. A tecnologia, diz ele, tem o seu  tempo e lugar: "Se eu trabalhasse na Miramax e fizesse filmes para adultos eu  não gostaria que meus filhos assistissem até que tivessem 17 anos”.
Enquanto outras escolas na região se gabam de suas salas de aula cheias de  computadores e equipamentos de ponta, a escola Waldorf abraça um olhar simples e  retro – quadros com giz colorido, estantes com enciclopédias, mesas de madeira  cheia de livros e lápis preto número 2.
Em uma terça-feira recente, Andie Eagle e sua turma da quinta série  reforçavam suas habilidades em tricô, fazendo amostras de tecido. É uma  atividade que a escola diz ajudar a desenvolver a solução de problemas, a  padronização de competências, a matemática e a coordenação. O objetivo a longo  prazo: fazer meias.
No final do corredor, uma professora perguntou a alunos da terceira série uma  conta de multiplicação, pedindo-lhes para fingir que seus corpos eram  relâmpagos. Ela perguntou quanto é quatro vezes cinco – e, em uníssono, eles  gritaram "20" e apontaram seus dedos para o número no quadro negro. Uma sala  cheia de calculadoras humanas.
Na segunda série, os alunos de pé em um círculo aprendiam habilidades de  linguagem, repetindo versos ditados pela professora, ao mesmo tempo que  brincavam de pega pega. É um exercício que visa sincronizar corpo e cérebro.A  professor de Andie, Cathy Waheed, que é uma ex-engenheira de computação, tenta  tornar o aprendizado irresistível e altamente tátil. No ano passado, ela ensinou  frações pedindo às crianças que cortassem alimentos – maçãs, quesadillas, bolo –  em quartos e metades.
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"Durante três semanas, nós aprendemos frações comendo", disse ela. "Quando eu  tinha partes suficientes de uma fração de bolo para alimentar a todos, você acha  que eles prestavam atenção?"
Alguns especialistas em educação dizem que a pressão para equipar as salas de  aula com computadores é injustificada porque nenhum estudo mostra claramente que  isso leva a melhores resultados em exames ou outros ganhos mensuráveis.
E a aprendizagem através de frações de bolo e tricô é melhor? Os defensores  da Waldorf dificultam a comparação, em parte porque como uma escola privada ela  administra testes não padronizados no ensino fundamental. E eles seriam os  primeiros a admitir que seus alunos podem não se sair tão bem nestes testes,  porque, dizem, eles não são treinados para decorar uma matemática padronizada e  um currículo de leitura.
Quando perguntado sobre a evidência da eficácia das suas escolas, a  Associação da Escola Waldorf da América do Norte aponta o resultado de uma  pesquisa realizada por um grupo de filiados que mostra que 94% dos estudantes  que se formaram nas escolas Waldorf nos Estados Unidos entre 1994 e 2004  frequentaram a faculdade - mas lá, o processo não se baseia em um único teste  como no Brasil.
É claro, esse número pode não ser surpreendente, dado que estes são alunos de  famílias que valorizam a educação o suficiente para procurar uma escola privada  seletiva e geralmente têm os meios para pagar por isso.
Com a ausência de evidências claras, o debate se resume à subjetividade, a  escolha dos pais e uma diferença de opinião sobre um quesito: engajamento.  Defensores de se equipar as escolas com tecnologia dizem que computadores podem  prender a atenção dos alunos e, de fato, que os jovens que foram desmamados em  dispositivos eletrônicos não vai funcionar sem eles.
Ann Flynn, diretora de tecnologia da educação para a Associação Nacional de  Conselhos Escolares, que representa os conselhos escolares em todo o país, disse  que os computadores são essenciais. "Se as escolas têm acesso a essas  ferramentas e podem comprá-los, mas não estão usando essas ferramentas, elas  estão enganando nossos filhos", disse Flynn.






