sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Estudo e novas tecnologias funcionam como gatilho para miopia

 

Uso excessivo de games, livros e computadores antecipam problemas de visão na população infantil e criam uma nova geração de míopes



Lívia Machado, de Porto Alegre
Foto: Getty Images Ampliar
Sinais da miopia costumavam aparecer aos 14 anos, mas hoje chegam aos seis


Estudar cansa. A frase não é desculpa para abandonar a escola, mas deixou de ser lamentação infantil ao ganhar embasamento cientifico. Videogame, livros e computadores, quando usados durante longos períodos, são gatilhos de miopia em crianças.

A incidência da doença é diretamente proporcional ao nível de escolaridade. Quem estuda mais está suscetível, revela Célia Nakanami, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica e médica da Universidade Federal de São Paulo.

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A afirmação é baseada no resultado de um trabalho realizado pela especialista com alunos de escolas públicas e privadas de São Paulo, durante o ano de 2005, e refeito em 2009. Mais de duas mil crianças foram submetidas a exames oftalmológicos para identificação de grau. Em escolas particulares, o índice de míopes é o dobro do registrado nas públicas.

As novas tecnologias pioraram a realidade diagnosticada no ambiente escolar. Antigamente, os olhos eram saturados apenas durante os estudos. Hoje, o lazer é pontuado pelo uso do videogame, de jogos de computador e do celular, todos grandes vilões da saúde ocular, como explica a médica.

“Caminhamos para formar uma nova geração de míopes. Além dos livros, as novas tecnologias induzem o problema de visão com o passar do tempo. Exigem que o olho trabalhe exaustivamente buscando nitidez e foco, pois sempre estão a uma distância curta da face”, diz.
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Revelação

O processo é similar ao mecanismo de uma máquina fotográfica. Os olhos funcionam como o zoom, usado para registrar os objetos próximos. Esse esforço provoca a miopia, ou seja, o crescimento do globo ocular.

“Adultos míopes já possuem o globo ocular maior. Em crianças, esse aumento é prejudicial, pois a musculatura ainda está em formação. O desgaste acaba antecipando o aparecimento da doença. Ela poderia dar sinais aos 14 anos, mas aparece aos seis”, diz Célia.

Mas a doença não depende apenas de fatores externos. A genética é preponderante: filhos de míopes têm mais risco de desenvolver a doença. Quando as duas variáveis se juntam, o uso de óculos ou lentes corretivas é inevitável.

Como evitar

Contra a genética, porém, pouco se pode fazer. Mas é possível retardar o surgimento da doença oferecendo descanso e repouso aos olhos, além de consultas anuais ao oftalmologista.
 
Foto: Mariana Newlands
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A prevenção é bastante simples: piscar mais, manter os objetos a uma distância maior de 30 centímetros e dar folgas constantes para os olhos ao longo do dia. Uma das técnicas que permite maior relaxamento do globo ocular, segundo a médica, é mirar o horizonte. Na falta de uma bela vista para o mar, vale fechar o livro, desligar a televisão, o computador e criar brincadeiras lúdicas.

Apesar dos dados crescentes, segundo Célia, o índice de míopes no Brasil está entre 7 e 12%, ainda bem abaixo da média mundial. Países subdesenvolvidos costumam registrar números menores de portadores da doença, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Paulo Augusto. Por outro lado, na China, o número bate a casa dos 70%. “Além da predisposição genética e étnica, os intelectuais e letrados têm maior risco, mas o crescimento econômico amplia o acesso. Devemos ter muitos míopes não diagnosticados”, completa ele.


* A repórter viajou a Porto Alegre a convite da organização do 36º Congresso Brasileiro de Oftalmologia

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