segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Escolas privadas dominam ranking das melhores do Enem

 

Rede pública aparece pouco em lista de colégios com melhores desempenhos. Entre primeiros 1 mil, apenas 7,4% não são particulares


Priscilla Borges, iG Brasília



O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por escola de 2010 evidencia mais uma vez a desigualdade entre os estudantes de escolas públicas e privadas. A diferença nos desempenhos entre colégios das duas redes é gigantesca. No ranking elaborado pelo iG com base em dados divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério da Educação, das 1 mil instituições com melhores notas, há apenas 7,4% de escolas públicas – a maioria colégios federais ou técnicos. Somente duas dessas 74 escolas pertencem às redes municipal e estadual.
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O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, é o primeiro entre os públicos a figurar entre os melhores, na 8ª posição do ranking. A média total (provas objetivas e redação) obtida pelos 157 alunos que fizeram as avaliações foi de 726,42. Os participantes representam 98,1% dos alunos matriculados no 3º ano do ensino médio na instituição. Na sequência, o destaque da rede pública é o Colégio Militar de Belo Horizonte.

As duas exceções ao perfil dos melhores colégios públicos apontados pelas notas do Enem 2010 são o Colégio Municipal Castro Alves, localizado na cidade de Posse (GO), e o Centro Estadual de Ensino Médio Tiradentes, de Porto Alegre (RS). Eles aparecem nas posições 522ª e 904ª da lista que contém 4.203 escolas que tiveram mais de 75% de alunos fazendo o Enem e receberam médias globais (o Ministério da Educação não divulga as notas dos colégios que não tiveram mais de dez alunos participando do Enem).

Pela primeira vez, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, divulgou o percentual de alunos de cada colégio que participou do exame. Para evitar comparações entre instituições com níveis de participação muito diferentes, o iG optou por considerar no ranking – feito a partir das médias totais dos alunos (objetiva e redação) – apenas os colégios com maior percentual de estudantes participantes que receberam médias globais.

Das 4.203 escolas com esse perfil, 1.080 são da rede pública. Em apenas 63 delas todos os alunos concluintes do ensino médio compareceram à aplicação do exame. O número de colégios com participação de 100% dos estudantes no Enem sobe para 748 entre as instituições da rede privada.

“Não é de hoje que essas diferenças aparecem. Participam do Enem os estudantes que têm perspectiva de entrar no ensino superior. Esse não parece um objetivo da maioria dos alunos da rede pública”, pondera Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep e professor da Universidade de São Paulo (USP).

Tradição

O Colégio Militar de Belo Horizonte é uma das escolas mais tradicionais de Minas Gerais. Localizado na região da Pampulha na capital mineira, ele foi criado em 1955. A política pedagógica segue a linha adotada em outras 11 escolas ligadas ao Exército brasileiro no País. Alguns aspectos podem ser considerados a receita do sucesso: ensino integral, seleção de alunos, dedicação dos professores.
Foto: Denise Motta, iG Minas
Para a diretoria do Colégio Militar de BH, que seleciona os seus estudantes, receita do sucesso no Enem inclui ensino integral e dedicação dos professores

Professor de história e sociologia do colégio, o major Edmundo Leonel de Alencar afirmou ao iG que a instituição possui tradição de bons desempenhos no Enem, em vestibulares e olimpíadas de matemática. “Nossa boa formação se deve ao trabalho sério dos professores, de dedicação, da maior parte deles, exclusiva”, ressalta. Atualmente, o Colégio Militar de BH possui 664 alunos matriculados nos ensino fundamental e médio.

Diferenças de notas

Apesar da presença reduzida de escolas públicas no ranking elaborado pelo iG, as diferenças das notas das instituições que estão na lista não divergem significativamente das privadas. A escola com melhor desempenho na rede particular, o Colégio São Bento, do Rio de Janeiro, obteve média 761,70. O Colégio de Aplicação da UFV, primeiro entre os gratuitos, ficou com 726,42. As menores médias de cada rede também são semelhantes: 432 da Escola Estadual Indígena Txeru Ba e Kua, de Bertioga (SP), contra 480,56 do Colégio Espaço Fera, de Pernambuco.

Os dados divulgados nesta segunda-feira pelo Inep mostram que o número de escolas com desempenho abaixo da média nacional nas provas objetivas – de 511,21 pontos – é maior entre a rede pública. Do total de colégios públicos que tiveram alunos participando do Enem (17.211), apenas 14% superaram a meta nacional.

Das escolas com taxa de participação maior que 75%, 467 conseguiram o feito. Entre as 6.689 privadas avaliadas, 75% atingiram a média nacional: 2.960 colégios entre os mais participativos obtiveram notas superiores à média do País. O MEC não considerou a nota da redação nessa conta, porque as redações não podem ser comparadas entre 2009 e 2010.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, classificou as desigualdades entre as escolas brasileiras como “intolerável”. “Dois terços da explicação de qualquer desempenho está fora da escola e, muitas vezes, sobrecarregam as escolas de responsabilidades que não são delas. Temos de ter cautela nas comparações, mas a desigualdade entre as escolas brasileiras é intolerável”, disse, afirmando que é preciso combatê-las urgentemente.

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