quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tingir o cabelo na gravidez aumenta risco de câncer em bebês

Usar tinturas ou alisadores de cabelo durante os três primeiros meses de gravidez dobra o risco de o bebê desenvolver leucemia

AE | IG

Foto: Getty Images Ampliar
Tingir o cabelo pode prejudicar o bebê e leva-lo ao câncer

O uso desses produtos aumenta em quase duas vezes o risco de o bebê desenvolver leucemia nos primeiros dois anos de vida. Embora seja considerada uma doença rara, a leucemia atinge cerca de 5% das crianças nessa idade.

A conclusão é do primeiro estudo epidemiológico brasileiro que investigou o tema. O trabalho foi realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) em parceria com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) por mais de dez anos. Ao menos por enquanto, os dados sugerem que as mulheres não devem pintar os cabelos durante a gravidez.

O trabalho foi realizado em 15 centros de todas as regiões do País, exceto a Norte. Foram analisadas 650 mães: 231 com filhos diagnosticados com leucemia antes de 2 anos de idade e 419 mães controle sem filhos com câncer.

Segundo o biólogo da ENSP Arnaldo Couto, autor do estudo, das 231 mulheres cujos filhos tiveram leucemia, 35 (ou 15,2%) usaram produtos químicos no cabelo no primeiro trimestre da gravidez. Entre as 419 mães controle, 41 (ou 9,8%) utilizaram tinturas no mesmo período.
“O estudo mostrou que a doença não se manifestou ao acaso. Há uma associação significativa entre a exposição a tinturas e alisantes com o desenvolvimento de leucemia”, diz Couto.
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Maria do Socorro Pombo-de-Oliveira, chefe do Programa de Hematologia e Oncologia Pediátrica do Inca, que coordena o estudo, confirma a importância do achado e afirma ter ficado surpresa com os resultados. “É a primeira vez que um trabalho olha para essa direção. Mas, como se trata de uma doença rara, o número de casos precisa ser confirmado em análises experimentais posteriores”, diz ela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Orientação varia de acordo com médico
Não existe uma recomendação formal que proíba as mulheres grávidas de usar produtos para tingir ou alisar os cabelos durante a gravidez. O que há é uma cautela geral - por parte dos médicos e das próprias gestantes -, exatamente por causa da falta de estudos que apontem os riscos do uso desses produtos.

Segundo o ginecologista Antônio Moron, da Unifesp, hoje em dia existe uma tolerância maior ao uso desses produtos teoricamente mais modernos e menos perigosos. De acordo com ele, os médicos costumam liberar o uso a partir do quarto mês de gestação. "A gente libera a henna por ser um produto natural", afirma.

Mesmo assim, ele considera os resultados do estudo importantes para fazer um alerta. "Embora preliminares, os dados apontam uma associação significativa. No mínimo, a partir de agora vamos ter mais cautela."

Para o hematologista Vanderson Rocha, do Hospital Sírio-Libanês, vários estudos tentam descobrir as causas da leucemia nos primeiros anos de vida, mas esse é o primeiro a fazer uma associação direta.

"O fato de a pesquisa ser retrospectiva - ou seja, a doença tem de se manifestar para depois ser pesquisada - é um fator limitante do trabalho. Ainda é um primeiro estudo, mas ele abre portas para outros", diz.

Para Rocha, uma próxima etapa seria avaliar qual o componente químico leva ao câncer e de que maneira ele atua. "Enquanto isso não acontece, toda gestante deve evitar ter contato com produtos químicos", diz.

A médica Maria do Socorro Pombo-de-Oliveira reforça que nenhuma química deve ser usada nos cabelos em nenhuma fase da gravidez, nem mesmo a henna. "A substância da henna atua em uma enzima importante no desenvolvimento das leucemias. Então, mesmo sendo natural, ela pode interagir e trazer riscos para o bebê do mesmo jeito."

Celso Junior, diretor da Associação Brasileira de Cosmetologia, também concorda que não é aconselhável tingir os cabelos na gravidez. "Podem ocorrer reações alérgicas e, além disso, é muito difícil estabelecer níveis de riscos para cada momento da gestação". 

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