sexta-feira, 29 de julho de 2011

Escrita cursiva deve coexistir com a bastão, dizem especialistas

Professores defendem que ensino de letra de mão, banida em Indiana (EUA), ajuda a assimilar significados e desenvolver personalidade


Marina Morena Costa, iG São Paulo
 
 
“Que letra feia!” Os recados dos professores para que alunos escrevam com letra legível estão com os dias contatos no Estado norte-americano de Indiana. O governo tornou opcional o ensino da letra cursiva (de mão), que deverá ser banido definitivamente nos próximos anos e em outros 40 Estados, que integram uma iniciativa de padrão comum de currículo escolar. Para educadores brasileiros, a mudança não deve ocorrer por aqui, pois, diferentemente dos EUA, computadores e tablets estão longe de substituir totalmente caneta e papel.

Foto: Thinkstock
Criança escreve com letra de forma, a principal ensinada nas escolas de Indiana (EUA)

No Brasil, a maioria das escolas inicia a alfabetização pelas letras bastão, mais fáceis de desenhar. E a letra cursiva impera. Mais rápida de escrever, seu domínio pode ser crucial em concursos públicos e vestibulares, que exigem redações e respostas discursivas em caneta e papel. Legibilidade e rapidez são o diferencial entre os candidatos.

A substituição da letra cursiva pela de forma ou pela digitação só será cogitada no Brasil quando o País estiver totalmente computadorizado e as pessoas não usarem papel para escrever, avalia a professora da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) Maria Helena de Moura Neves, doutora em Letras e autora de livros sobre ensino de português. “Estão valorizando o técnico e abrindo mão da auto-suficiência dos indivíduos para se comunicar”, afirma.

Maria Helena avalia que a escrita cursiva ajuda a criança a compreender melhor o significado, pois é composta por palavras. Já a letra de forma e a digitação são formadas pela união de peças soltas, as letras. “Ao escrever em letra cursiva, sua mente marca que você está compondo unidades separadas com significado”, diz.

O professor-doutor de português e escritor Cláudio Moreno concorda que ao escrever, o ser humano liga o movimento da mão a significados. “(Abolir a letra cursiva) É uma proposta de jerico. A história já provou diversas vezes que uma tecnologia não substitui a outra”, enfatiza.

Moreno destaca que a escrita é importante para a identificação pessoal e afirma com base em sua experiência como docente que a letra cursiva desenvolve atenção e a fixação do conteúdo. A coordenação motora fina e a definição da lateralidade (nome dado à predominância motora de um dos lados do corpo – canhoto, destro ou ambidestro) também são estimuladas pela escrita.

Clareza

Já a professora Neide Noffs, psicopedagoga e diretora da faculdade de Educação da PUC-SP, avalia que a medida norte-americana já era esperada e não considera uma mudança relevante. “A digitação e a letra de forma são mais claras. A palavra ‘braço’ em letra cursiva pode fazer com que a criança confunda o “b” com o “r”. Na letra bastão não tem esse problema”, afirma. Neide destaca que no processo de alfabetização a leitura antecede a escrita e por isso a clareza das palavras é importante.

A professora recomenda aos seus estudantes de licenciatura que iniciem a alfabetização pela letra bastão, mas acredita que as duas modalidades de escrita devem coexistir e ser ensinadas em sala de aula. “As crianças ficam preocupadas com a legibilidade da palavra. Quando você não consegue identificar a letra ela é considerada feia. Recomendo todos os modelos e não vejo motivo para abolir a letra cursiva.”

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