Talentos brasileiros que ganharam medalhas representando o País mundialmente se preparam para fazer faculdade nos Estados Unidos
Gustavo Haddad Braga, 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio no Colégio Objetivo de São José dos Campos (SP), Maria Clara Mendes da Silva, 17 anos, aluna do 3º ano da única escola estadual de Pirajuba (MG) e Deborah Alves, 18 anos, formada no ano passado no Etapa, na capital paulista, têm trajetória estudantil similiar. Medalhistas nas últimas olimpíadas internacionais de física e matemática, os jovens tiveram os talentos descobertos ainda na infância, se dedicaram muito, receberam treinamento específico e pretendem continuar os estudos fora do País.
Foto: Arquivo Pessoal
Deborah comemora a aprovação em Harvard
Deborah já está com a matrícula feita em Harvard, onde começa em agosto no curso genérico – ainda não decidiu qual carreira seguir. Seu currículo foi aceito na melhor universidade do mundo mesmo antes da medalha de bronze que obteve na semana passada na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), na Holanda. Ela não tem dúvidas de que foram as competições educacionais que garantiram sua vaga. “Destaques acadêmicos contam muito lá e participações extracurriculares também”, explica.
Em 2010, ela já havia integrado a equipe brasileira na IMO, no Cazaquistão, quando ficou com uma menção honrosa, e ganhou prêmios no Romênia Masters e em regionais da América do Sul. Antes, foi medalhista diversas vezes na Olimpíada Brasileira de Matemática, que seleciona os representantes do Brasil nas rodadas internacionais. “Comecei na 5ª série e fui querendo aprender cada vez mais”, resume.
A partir da 7ª série, a paulistana ganhou bolsa de 90% no Etapa, onde se formou no ano passado. Filha de empresária e engenheiro, chegou a contar com ajuda dos irmãos mais velhos, um engenheiro e uma economista, até chegar a um nível de matemática acima. “Agora os problemas são muito específicos, só eu que entendo mesmo.”
Foto: Arquivo Pessoal
Maria Clara, de roxo, e restante da equipe brasileira na Holanda para Olimpíada Internacional de Matemática
Com Deborah na Holanda, esteviveram outros cinco brasileiros. Maria Clara, 17 anos, é a única do grupo que estudou em uma escola pública comum – três eram de particulares e dois de colégios militares. Ela também levou uma medalha de bronze.
Enquanto Deborah mora na maior cidade brasileira, a mineira vive em um município rural de 4 mil habitantes e frequenta a única escola de ensino médio do local à noite. No mais, a história é parecida. Maria Clara começou a disputar a Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas na 5ª série, quando ganhou seu único bronze na competição. De lá para cá, foram cinco ouros na de escolas públicas, prêmios na Olimpíada Brasileira de Matemática, na Romênia e na América do Sul.
Durante o dia, não conta com cursos específicos, mas também dedica horas a mais ao estudo de matemática sozinha ou com fóruns que acompanha pela internet. Uma vez por mês, passa quatro dias no Rio de Janeiro para o treinamento que faz parte do prêmio que ganha todo ano. “Acho que a valorização no Brasil melhorou muito, depois que você se destaca, tem bastante incentivo para seguir em frente”, diz.
Ela ainda não decidiu qual universidade cursará depois que se formar, mas já sabe onde. “Vou me inscrever para as principais dos Estados Unidos, Harvard e MIT com certeza, talvez outras também.”
Foto: Arquivo pessoal
Gustavo Haddad Braga (ao centro) com parte do time brasileiro na Olimpíada Internacional de Física
Primeiro ouro em física
Com um pouco mais de tempo para pensar, o primeiro brasileiro a obter ouro na Olimpíada Internacional de Física, Gustavo Haddad Braga, também já pensa em ir para universidades norte-americanas, embora ainda esteja decidindo. Aos 16 anos e no 2º ano do ensino médio, ele já foi aprovado duas vezes no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), uma no Instituto Militar de Engenharia (IME) e duas na Universidade de São Paulo. Sendo que, na Fuvest 2010, quando ainda ia se formar no ensino fundamental, ficou em 4º lugar entre os treineiros.
Gustavo foi desafiado a estudar além do conteúdo da escola pela primeira vez na 6º série. Na época, a professora o inscreveu em uma competição para alunos dos últimos anos do fundamental. Ganhou a primeira de muitas medalhas. Em 2008, já estava em nível internacional.
Participou duas vezes da Olimpíada Internacional de Ciência Júnior - em 2008, na Coréia do Sul (ouro) e em 2009 no Azerbaijão (prata), ganhou um bronze na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica em 2010, na China, estreou com bronze na Olimpíada Internacional de Física, na Croácia, no ano passado, e levou o ouro na mesma competição este mês na Tailândia. “Essa foi a mais importante porque contou com a participação recorde de 84 países e foi a primeira medalha de ouro conseguida não só pelo Brasil, mas também por qualquer país ibero-americano.”
Ele atribui o desempenho à dedicação de professores, ao treinamento da equipe, mas principalmente à própria dedicação. “Várias horas de estudo diário fora do período normal de atividades escolares”, resume. A rotina ainda inclui simulados todos os sábados. “Um conselho que dou para todos aqueles que desejem se aprofundar é, em primeiro lugar, acreditar em si mesmos e em seu potencial e seguir estudando, não por obrigação, mas sim por que gosta do que faz”, diz.
Entre as motivações para tanta dedicação, destaca a oportunidade de estar no exterior. “A possibilidade de conhecer lugares e pessoas novas sempre foi um incentivo adicional nas competições.”
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