sábado, 9 de julho de 2011

“Creche é escola e não depósito de criança”, diz professora

Educadores comemoram parecer do Conselho Nacional de Educação que defende férias na Educação Infantil

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo |
 
Quando soube do parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) a favor das férias nas escolas de educação infantil, Aparecida Leite de Oliveira, de 53 anos, levantou os braços e começou a pular de alegria. “Eba, eles estão vendo que a gente é professor”, disse a docente com 20 anos de experiência. Para educadores dos Centros de Educação Infantil, como são chamadas as creches em São Paulo, as férias são um reconhecimento de que eles são professores e trabalham em escolas – e não profissionais de assistência social.

Foto: Amana Salles/Fotoarena Ampliar
Atividade com tampinhas em creche de São Paulo
Na unidade do Jardim Luso, onde trabalha Aparecida, todas as professoras são formadas em Pedagogia e algumas pós-graduadas. A maioria têm experiência anterior no ensino fundamental e optou por mudar de faixa etária, segundo elas, por entender a importância da educação nesta etapa. “Eles estão com todas as janelas de aprendizado abertas, tudo que você oferece, dá retorno”, afirma Aparecida.

Na sexta-feira, depois da soneca pós-almoço, ela distribuiu para as crianças de 3 anos baldes com água e depois tampinhas de potes de tinta para serem lavadas com pincéis. A atividade divertiu o grupo, mas a professora estava de olho no aprendizado. “Assim eles estão desenvolvendo a percepção de cores, de quantidade e a coordenação motora, além de gostarem mais das tampinhas quando elas forem para a caixa de brinquedos.”

Em outra turma, Simone do Rosário de Oliveira Silva, de 43 anos, diz que a diferença de desenvolvimento entre as crianças que chegam ao fundamental com e sem a educação infantil a levou a optar pelas creches. “Eu percebia isso quando pegava uma primeira série. Muda tudo, postura, vocabulário e desenvolvimento motor”, conta.

Para ela, as férias escolares são fundamentais tanto para o descanso dos professores quanto das crianças, que devem ter um tempo com as famílias. “As pessoas demoram a nos entender como escola porque pensam que a criança é um adulto pequeno e que não precisa de estímulo. Só vai se desenvolver depois”, lamenta. “Creche é escola e não depósito de criança. O ambiente é de aprendizado.”

Simone afirma compreender que existem famílias necessitadas de um alguém que cuide dos filhos o ano todo, mas acha que estes casos específicos não justificam o fim das férias. “Acho que podem ser contratados profissionais para cuidar das crianças, mas os professores e as atividades precisam de férias”, afirma.

O parecer e a briga judicial da prefeitura de São Paulo tratam apenas do recesso de dezembro e janeiro. Durante o mês de julho, todas as creches funcionam normalmente, mas é perceptível a diminuição dos alunos. Na semana passada, no Jardim Luso, mais da metade dos alunos acima de dois anos faltaram. Apenas os berçários continuavam cheios. “Em alguns dias temos duas crianças por turma, mas todos os professores têm que vir”, conta a diretora Adriana Maria Pochini Martins, 40 anos.

Em alguns dias temos duas crianças por turma, mas todos os professores têm que vir"

Custo quatro vezes maior

Segundo o secretário de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, o custo por aluno por ano em São Paulo é de R$ 12 mil, quatro vez maior do que a média no Brasil, que é de R$ 2,5 mil.

Todos recebem cinco refeições diárias: café da manhã às 8h15, logo depois da entrada, suco às 9h30 após a primeira atividade, almoço às 11h, leite ou mamadeira depois da soneca às 13h30 e jantar às 15h30. “Se a família não der mais nada, a alimentação mínima da criança está garantida aqui”, afirma a diretora.

As instalações incluem parque pequeno, parque maior, parede de azulejos que serve, por exemplo, para atividades de pintura e horta e salas equipadas com brinquedos e colchonetes. Há ainda banheiros e refeitórios apropriados ao tamanho dos alunos.

Entre os custos mais altos, no entanto, está a remuneração e a formação contínua dos professores.  Os salários iniciais são de R$ 2,4 mil para uma carga de 30 horas semanais e, todos os dias, uma hora é gasta com reunião com a coordenação pedagógica ou preparo da programação semanal. Os alunos ficam na escola das 8h às 17h30, mas há duas professores para cada turma, uma das 7h às 13h e outra das 12 às 18h.

Como as turmas são reduzidas - para os bebês, há um professor para cada sete alunos e as maiores crianças, com até 4 anos, ficam em grupos de 12 estudantes por educador - a média é de um docente para cada cinco crianças. Logo, apenas em pagamentos e considerando o salário base, o gasto é de cerca de R$ 500 por mês e R$ 6 mil por ano por aluno - mais que o dobro da média do País.

O padrão é garantido apenas nas creches próprias da prefeitura. As conveniadas seguem regras próprias e, muitas vezes, não têm professores formados. A cidade enfrenta ainda o problema de falta de vaga para todas as crianças. Segundo Scheneider, a secretaria municipal atende atualmente 60% da demanda.



     

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