Somos tão felizes no sexo quanto dizemos que somos?
Pesquisa da Harvard diz que o sexo é o momento em que as pessoas estão mais felizes. Mas quanto disso é verdade?
Carina Martins, iG São Paulo |
Felizes mesmo as pessoas ficam quando estão fazendo sexo. O resto do tempo, ou 46,9% dele, preferem nem pensar na atividade que estão executando. Deixam a mente divagar enquanto trabalham, dirigem ou se arrumam, esquecendo o que estão fazendo para pensar em outra coisa (talvez em sexo?). O resultado, indica uma pesquisa feita pela Harvard e divulgada este mês na revista Science, é que o desligamento entre o que pensamos e o que fazemos promove índices altos de infelicidade. Concentrados no que estão fazendo, e felizes, os entrevistados disseram estar enquanto faziam sexo, bem mais do que qualquer outra atividade.
Foto: Getty Images
Em uma sociedade de consumo, uma vida sexual plena torna-se um objeto de desejo em si
Os pesquisadores de Harvard sabem muito mais do que nós sabemos, mas algumas coisas são do repertório de todos. Como, por exemplo, o fato de que nem sempre o que as pessoas dizem é necessariamente o que elas pensam, fazem ou sentem. O estudo aponta que, quando consultados via celular, os entrevistados diziam que não há felicidade como a proporcionada pelo sexo. Mas será que é realmente isso que vivem? "Orgasmo é o fenômeno que proporciona extremo prazer ao ser humano. Ele foi selecionado filogeneticamente como uma atividade que proporciona prazer justamente para garantir a reprodução das espécies", diz o psicólogo e terapeuta sexual João Batista Pedrosa.
A concentração nesta atividade específica, para ele, também teria respaldo orgânico. "Na hora do sexo, as pessoas ficam concentradas e, na obtenção do orgasmo, entram num estado único de desligamento da realidade por segundos. É tanto que os franceses chamam o orgasmo de ‘le petit mort’, ou seja, a pequena morte. O orgasmo está associado à diminuição do fluxo sanguíneo no córtex órbito-frontal, uma parte do cérebro que é fundamental para o controle do comportamento", diz."Acho que a grande maioria das respostas não estão ligadas a uma idealização do sexo, mas que elas realmente sentem isso, ou seja, gostam do sexo".
Gostar de sexo é uma coisa. Aproveitar a sexualidade de maneira saudável a ponto de ela ser a principal fonte de satisfação da vida cotidiana é outra. E é aí que pode haver uma diferença: o que os entrevistados contam sobre suas vidas pode ser o que vivem, mas pode ser o que acham que deveriam viver. Com base em sua experiência profissional, o especialista em sexualidade Paulo Tessarioli afirma que o sexo costuma ser mais fonte de angústia do que plenitude. "Não tenho nenhuma dúvida disso, é um fato. O sexo hoje está muito mais voltado a ser um complicador do que um facilitador na vida das pessoas", diz. A explicação para o resultado da pesquisa, ele acredita, estaria na importância do discurso. "Numa sociedade consumista, o sexo não fica de fora. Vira um objeto que eu tenho que desejar e ter. Esse sexo que está no nível do discurso é inatingível, completamente construído e idealizado".
Para Tessarioli, não é que a prática não seja importante, mas o discurso acaba sendo mais. "As pessoas falam demais, e isso vem ao encontro de uma tentativa de mostrar a si mesmo e ao mundo que 'eu estou bem'. Mas nem sempre isso se sustenta na realidade. E no discurso eu posso sustentar tudo", afirma. Fora do discurso, ele vê um mundo em que as pessoas têm "muitas dúvidas, muitas incertezas, muita insatisfação e pouco desejo". A combinação entre a cobrança de uma vida sexual perfeita e a realidade de dúvidas e falta desejo é fonte de sofrimento para muita gente. "Para quem está consciente disso, realmente é de uma angústia ímpar".
Os pesquisadores de Harvard acreditam que, para ser feliz, ajuda muito evitar as distrações que levam a mente para longe de nós mesmos. O conselho de Tessarioli para ter uma vida sexual tão satisfatória quanto a dos entrevistados da pesquisa parece ser é o mesmo. "As pessoas precisam perceber o que realmente querem. Parece grandioso, mas é tão simples", diz. Eleger momentos de reflexão pode ajudar - como caminhar sem levar o celular ou usar fones de ouvido, por exemplo. "Momentos de reflexão são bons para que a pessoa consiga de alguma forma se conectar com isso e não ficar no meio da massa".
Um comentário:
Prezado Prof. Guilherme,
Agradeço pelo interesse em divulgar no seu blog esta pauta em que fui um dos consultores. Gostaria, caso me permita, divulgar o blog do Programa "Affair com você", www.affaircomvoce.com.br, onde estou como apresentador e consultor.
Mais uma vez, agradeço pela atenção!
Psic. Paulo G. P. Tessarioli
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