sábado, 13 de agosto de 2011

Alzheimer: o que revela um novo estudo com gêmeos


Recentemente falei sobre a importância de se tratar Alzheimer preventivamente, antes que os sintomas apareçam. Um novo estudo sobre a doença na população da Suécia, baseado na investigação de 14.000 pares de gêmeos que foram acompanhados por 25 anos, acaba de ser divulgado. Sua idealizadora, a psicóloga Margaret Gatz, deu uma entrevista publicada na revista Nature (5 de agosto).

Os resultados dos seus estudos apontam para uma contribuição genética mais importante do que a ambiental para o desenvolvimento da doença. A Dra. Gatz falou disso em uma conferencia em Washington, que reproduzo em aqui em parte. Mas antes disso vamos recordar a importância do estudo de gêmeos em pesquisas como essas.

O que os estudos de gêmeos nos ensinam?

A comparação entre gêmeos monozigóticos (ou idênticos) e dizigóticos (ou fraternos) nos dá pistas muito importantes para sabermos qual é a importância da genética e do ambiente na determinação de uma característica. Se a característica for determinada somente por nossos genes – por exemplo, grupo sanguíneo – os gêmeos idênticos deverão sempre ter o mesmo grupo sanguíneo, enquanto os gêmeos fraternos serão como irmãos não gêmeos, ou seja, podem ou não ter o mesmo tipo de sangue. Se uma característica for só ambiental – por exemplo, a língua que falamos – não haverá diferenças entre gêmeos idênticos e fraternos, desde que criados juntos. Todos devem falar a mesma língua. E se a característica for multifatorial, isto é, depender da interação entre nossos genes e o ambiente, haverá maior semelhança (concordância) entre gêmeos idênticos e fraternos. Quanto maior a diferença relativa entre os idênticos e os fraternos, maior o peso do componente genético na determinação da característica. E foi isso que a Dra. Gatz  pesquisou nesse grupo de 14.000 pares de gêmeos.

O que mostrou a pesquisa ?

Segundo a psicóloga, o resultado do estudo revelou que o risco de se desenvolver a Doença de Alzheimer (DA) depende aproximadamente 70% de nossos genes. Ou seja, em cada um de nós há uma combinação diferente de genes, mas de um modo geral eles tem uma importância maior que o ambiente para deteminar o nosso risco de desenvolver DA.

Qual é o recado da Dra. Gatz?

Segundo ela, as pessoas precisam tomar cuidado para não exagerar na crença em algumas medidas que podem, aparentemente, prevenir o aparecimento da doença– tais como, atividades que dependem de raciocínio, atividades sociais e exercício físico. Na realidade o exercício físico e a redução de fatores de risco cardiovasculares são as evidências mais fortes diz ela. No nosso estudo observamos que a diabete de adulto e a obesidade são fatores de risco para DA. Mas por outro lado, as medidas protetoras como o exercicio físico e atividades cognitivas teriam o efeito maior dependendo dos nossos genes.

Em resumo

Estamos todos em risco, sabemos disso, principalmente com o aumento da expectativa de vida. Fazer exercícios físicos e evitar a obesidade é uma receita que é útil para todo mundo. Não há contraindicação. Por outro lado, esse estudo reforça a estratégia sobre a qual falei na minha coluna de 28 de julho. Temos que descobrir meios de tratar a DA preventivamente, muito antes que os sintomas apareçam, principalmente levando em conta que os jovens de hoje tem uma probabilidade enorme de serem centenários.

Por Mayana Zatz

Fonte: Revista Veja

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