O que os homens ensinam sobre a saúde da mulher. E vice-versa
O Delas ouviu seis especialistas e encontrou dicas preciosas de autocuidado em cada um dos sexos. Vejas as principais
Fernanda Aranda, iG São PauloOs homens são de Marte, as mulheres de Vênus e todas as diferenças que recheiam livros de autoajuda e conversas de bar, também aparecem na saúde.
A literatura médica, as pesquisas, os psicólogos e os psiquiatras já destinaram bom espaço para traçar o comportamento feminino e masculino nos consultórios, nas clínicas e nos hábitos preventivos de doenças.
As diferenças dos sexos são perceptíveis a qualquer profissional de saúde e os “aplausos” e “puxões de orelha” são distribuídos de forma igual entre os gêneros.
Como os homens já podem fazer as unhas sem que ninguém torça o nariz e as mulheres trocam pneu de carro sem que ninguém fique com pena, o Delas foi ouvir especialistas para saber o que elas podem aprender com eles quando o assunto é saúde. Ao mesmo tempo, o ginecologista e obstetra do Hospital da Mulher Pérola Byington, André Luiz Malavasi, alerta que a lição de casa também precisa ser feita pelos maridos, filhos, irmãos, namorados e amigos.
“As mulheres passaram séculos só observando o comportamento masculino. Como não tinham espaço na sociedade, assistiram”, afirma. “Quando conquistaram espaço, já tinham bagagem sobre o universo masculino. Já os homens ainda sabem muito pouco sobre as mulheres. Precisam olhar mais e observar melhor, processo que já começou mas ainda está só no início.”
Além de Malavasi, foram convidados a participar a psiquiatra Célia Lídia da Costa, os urologistas Joaquim de Almeida Claro e Luiz Renato Montez Guidoni, a dermatologista Clarice Kobata e a psicóloga especializada em estresse Ana Cristina Limongi-França.
Elas vão ao psicólogo; eles à academia
Dois indicadores são básicos para medir qualidade de vida e prevenção de doenças. Um é o estresse. O outro a prática de exercícios. Para dar empate na guerra dos sexos, mulheres têm mais a ensinar aos homens com relação ao primeiro quesito. Já eles dão aula no tema briga contra o sedentarismo.
Segundo várias pesquisas já realizadas as mulheres são mais numerosas nas estatísticas de estresse. A última, feita por uma seguradora de saúde, mostrou que enquanto 51% delas dizem viver ameaçadas pelo estresse, entre eles a parcela cai para 39%. A vantagem estatística não é vista com maus olhos pela psicóloga especializada em estresse e consultora da Faculdade de Economia e Administração da USP, Ana Cristina Limongi-França.
“Dizem que as mulheres são mais estressadas, mas a minha avaliação é que elas ‘gritam’ mais. Colocam para fora o estresse e procuram ajuda especializada. Já os homens são mais retraídos, o que não é nada benéfico. A minha avaliação é que eles retraem tanto estes sentimentos que, não à toa, lideram os dados de mortes por infarto”, diz.
Se as mulheres vão mais à terapia, os homens procuram mais a academia e os exercícios físicos. O último inquérito de saúde do brasileiro, realizado pelo Ministério da Saúde, mostrou que o sedentarismo é epidemia nacional – só 10% praticam atividades físicas com a regularidade recomendada – mas as mulheres são ainda mais desleixadas do que eles. Enquanto 8% delas fazem ginástica, entre eles o dado sobe para 12%. Entre os meninos, quase 40% praticam esportes contra 22% das garotas. Lição aprendida!
Na sala de espera, o vazio deles e a pressão delas
Caso o estresse não seja controlado e a falta de exercícios fiscos culmine em um problema de saúde, por exemplo, a sala de espera pode servir como “laboratório” da diferença entre o comportamento feminino e o masculino. Se o paciente for homem, conta o coordenador do Hospital do Homem de São Paulo, Joaquim de Almeida Claro, ele sempre terá a companhia feminina, seja de esposa, mãe, irmã ou namorada. Já as mulheres, estarão sozinhas.
“A mulher quase sempre passa por um processo médico sozinha. Seja um câncer ou até mesmo o pré-natal”, afirma o ginecologista e obstetra do Hospital Pérola André Luiz Malavasi. Para ele, é muito importante a parceria e a companhia, inclusive, para a melhora do quadro clínico e evolução para a cura. “Eles podiam aprender isso com elas.”
Porém, se são mais presentes na sala de espera, também têm mais chance de fazer pressão. É fato que a ausência masculina como acompanhantes não permite fazer deles o exemplo, mas em outras áreas eles costumam ser mais relaxados. E a performance da mulher, apesar da “complacência”, nem sempre exclui pressão e crueldade, em especial quando o problema do homem é impotência ou ejaculação precoce, diz o urologista do hospital Santa Isabel e chefe do serviço de urologia do Hospital Geral de Guarulhos, da Santa Casa de São Paulo, Luiz Renato Montez Guidoni.
Eles demoram, elas se arriscam
É verdade que o caminho até chegar à sala de espera e consultas clínicas é bem diferente para ambos. As mulheres já nascem sabendo que vão ao médico e incorporam o autocuidado na rotina. Já os homens precisam de um problema de saúde bem mais complexo para cogitar uma visita ao doutor. A resistência é tão importante que as principais autoridades de saúde se reuniram, no mês passado, para “convencer” o sexo masculino a frequentar as consultas.
Se as mulheres vão mais ao médico – e deviam inspirar mais os homens – elas também arriscam mais a saúde em nome da estética, alerta a dermatologista Clarice Kobata. Apesar de estarem mais vaidosos do que antes, os homens ainda não topam sem reservas testar fórmulas mágicas, sem regulamentação, que prometem uma pele incrível ou cinco quilos a menos em uma semana. Rifar a saúde por causa do espelho tem o cigarro como um dos principais exemplos, conta a psiquiatra do ambulatório de tabagismo do Hospital A.C Camargo, Célia Lídia da Costa. A mulher até procura mais ajuda para parar de fumar do que o homem. “O problema é que elas utilizam o cigarro para emagrecer e quando engordam voltam a fumar. Eles sabem que não vale a pena arriscar a saúde a este ponto”, diz.
Elas questionam, eles obedecem
Na corrida para o médico, as mulheres chegam na frente. Mas a obediência aos conselhos do especialista é mais forte nos pacientes do sexo masculino, até porque quando visitam o doutor já estão em um estágio avançado da doença e questionar não é o comportamento mais indicado.
Outra característica é que a mulher nunca se coloca em primeiro lugar. Questiona a importância de tomar decisões, pensa nos filhos, no marido, no emprego. “O homem se coloca em primeiro lugar. Ele suporta menos ficar doente”, acredita o urologista Guidoni. O médico explica que este pode ser um aspecto positivo, desde que não extrapole, já que eles também, em caso de doença, costumam ser espaçosos.
“Pelo aspecto da busca da qualidade de vida, é uma postura positiva dos homens. Só é negativa porque acaba envolvendo demais essas pessoas, a família, como se fosse o centro do universo, o que pode sobrecarregar a mulher.”
Eles curam, elas postergam
A praticidade masculina aparece até quando as doenças diagnosticadas são mais sérias. Para comparar, o câncer de mama é uma doença que ameaça a feminilidade de forma muito semelhante àquela com a qual o câncer de próstata parece ferir a masculinidade. O problema delas ataca a vaidade, pode resultar na mutilação das mamas. O deles, pode acabar em incontinência urinária e disfunção erétil. As mulheres, até por reconhecerem sintomas que não são físicos, acabam sofrendo mais. Os homens concentram forças em melhorar.
“Os dois têm muito a aprender um com outro. Mas para resumir, diria que a mulher quer melhorar na medida do possível. O homem quer melhorar a qualquer custo”, define o urologista Guidoni.
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