quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Bebês amamentados somente com leite materno têm melhor imunidade


Benefício só ocorre quando a criança é alimentada apenas com leite da mãe até os seis meses

BBC Brasil
29/09/2010 08:33

Bebês alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de idade ganham proteção extra contra infecções, dizem cientistas gregos. O efeito observado independe de fatores como acesso à saúde e programas de vacinação, eles explicam. Segundo os especialistas da Universidade de Creta, o segredo estaria na composição do leite materno.

As conclusões do estudo, que envolveu pouco mais de 900 bebês vacinados, foram publicadas na revista científica Archives of Diseases in Childhood. A equipe ressalta, no entanto, que o benefício só ocorre quando o bebê é alimentado com leite da mãe apenas. Ou seja, acrescentar fórmulas ao leite materno não produz o mesmo efeito.
Especialistas em todo o mundo já recomendam que bebês sejam alimentados somente com leite materno pelo menos durante os seis primeiros meses de vida.
Estudo

Os pesquisadores gregos monitoraram a saúde de 926 bebês durante 12 meses, registrando quaisquer infecções ocorridas em seu primeiro ano de vida. Entre as infecções registradas estavam doenças respiratórias, do ouvido e candidíase oral (sapinho). Os recém-nascidos receberam todas as vacinas de rotina e tinham acesso a tratamentos de saúde de alto nível.


Quase dois terços das mães amamentaram seus filhos durante o primeiro mês, mas o número caiu para menos de um quinto (menos de 20%) seis meses depois. Apenas 91 bebês foram alimentados exclusivamente com o leite da mãe durante os seis primeiros meses.

Os pesquisadores constataram que esse grupo apresentou menos infecções comuns durante seu primeiro ano de vida do que os bebês que foram parcialmente amamentados ou não amamentados. E as infecções foram menos severas, mesmo levando-se em conta outros fatores que podem influenciar os riscos de infecção, como número de irmãos e exposição à fumaça de cigarro.

O pesquisador Emmanouil Galanakis e sua equipe disseram que a composição do leite materno explica os resultados do estudo. O leite contém anticorpos recebidos da mãe, assim como outros fatores imunológicos e nutricionais que ajudam o bebê a se defender de infecções. "As mães deveriam ser avisadas pelos profissionais de saúde de que, em adição a outros benefícios, a amamentação exclusiva ajuda a prevenir infecções em bebês e diminui a frequência e severidade das infecções", dizem os especialistas.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O preço da vida: R$ 10
Adolescentes, dependentes químicos e ameaçados de morte. Dívida por droga é o principal motivo
Fernanda Aranda, iG São Paulo
Quinta-feira, 17h. Faltavam só 60 minutos para a  vida de Daniel  acabar. A mãe  não confiava mais em dar dinheiro para o filho de 15 anos que já tinha roubado a vizinhança toda e torrado tudo em droga. “Os homens” tinham prometido dar o tiro na cara. O medo maior do garoto, no entanto, era da sessão de porrada que viria antes da “bala de misericórdia”. Quem deve ao tráfico, é sabido, não tem morte rápida. E, daquela vez, Daniel não tinha a menor esperança de conseguir R$ 50 para salvar sua pele. O prazo vencia às 18h.
Por valor ainda menor, outros meninos da mesma idade de Daniel deixam a vida por causa da dependência química. A nota de R$ 10 que eles não entregam na "boca” para pagar o quanto devem por uso de crack vira o preço médio de suas vidas, segundo constatou o iG nos programas de proteção à criança ameaçada de morte em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Nunca ninguém contou quantos deles morreram por não darem dinheiro ao mercado paralelo de entorpecentes. Sob a forma de algarismos, estes meninos estão misturados entre os dados que fazem da violência a principal causa de morte de homens brasileiros entre 10 e 25 anos. Estão também entre os números que contam a escalada de 32% de homicídios nos últimos 15 anos. Freqüentam ainda as informações sobre déficit de vagas para tratamento clínico – e eficiente – para combater o vício nas drogas.
Daniel tinha 50 minutos para não fazer parte destes estudos numéricos do IBGE e Ministério da Saúde. A tentativa de salvamento foi acompanhada pela reportagem que assistiu ao início da ação de uma rede articulada e sigilosa no País que, diariamente, trabalha para que estes adolescentes não virem estatísticas resultantes da parceria entre drogas, saúde falha e assassinatos.
O rosto
A sigla do grupo é PPCAAM: Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte. O início da atuação é o ano de 2003, em São Paulo e Belo Horizonte. O avanço da epidemia de crack – e a consequente proliferação de homicídios, como detectou pesquisa da PUC de Belo Horizonte – fez com que a Secretaria Especial de Direitos Humanos tivesse a necessidade de ampliar a rede.
Hoje, 11 capitais já têm o programa de proteção, escolhidas de acordo com os níveis altos de letalidade juvenil. A missão é acolher pessoas com menos de 18 anos e com a vida ameaçada. Além dos garotos, alguns familiares também precisam ser protegidos. Eles mudam de bairro, de escola e de rotina por pelo menos três meses. Em casos mais extremos, até a identidade é trocada. Orkut, MSN, celular são proibidos. Nada pode ser transformado em pista para seus algozes. Se um deles for morto enquanto estiver protegido, é decretado o fim do pacto de confiança selado, com muito custo, entre os agentes do PPCAAM e os meninos.
Até agora, já passaram pelas mãos do programa 1.592 crianças e adolescentes, 60% deles por causa do envolvimento com o tráfico de drogas. Quando não são os traficantes que os sentenciam à morte, são fome, falta de moradia adequada, abandono dos pais, transtornos mentais, tentativas de suicídio, testemunho de crimes e brigas de gangue que dividem o ranking de outros motivos para a proteção.
“Mas mesmo quando a droga não é o motivo principal para a proteção, os meninos e meninas sempre trazem algum relato que associa seus problemas ao uso de cocaína, crack e álcool”, afirma a coordenadora do PPCAM do Espírito Santo, Renata Freire Batista.
No mês passado, 641 jovens no País estavam tentando sair do alvo da morte violenta por meio da proteção dos PPCAAMs. Os rostos que precisam ficar escondidos têm perfil quase unânime: 76% são negros, 59% têm entre 15 e 17 anos, 95% não terminaram o ensino fundamental. Metade – apenas metade – é desligada do programa por consolidação da inserção social e cessação da ameaça.
O restante? Foge, não aceita a proteção, não consegue ficar seguro sem as drogas, não encontra uma opção de tratamento público e disponível para "já". "Ou simplesmente não entende que morrer é perigoso", conta Célia Cristina Whitalker, secretária executiva da comissão municipal de direitos humanos de São Paulo, pasta responsável pelo PPCAM paulistano.
“Eles já experimentaram a violência tantas outras vezes antes de chegar até nós que têm dificuldade para reconhecer como é uma vida sem ameaça”, conta Célia.
“São tão seduzidos pela violência, que o nosso primeiro desafio é mostrar que não há glamour em ser ameaçado.”

Mais informações em:

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mau humor é termômetro de "overdose" de malhação


Exercício físico melhora sensação de felicidade; falta de efeito é sinal de “overtraining”

Fernanda Aranda, enviada a Belo Horizonte


Os médicos de todas as áreas “receitam” exercício físico para combater ou prevenir as mais variadas doenças – infarto, resfriado e até depressão. A preocupação que agora surge no cenário da medicina esportiva é com a “overdose” desta medicação. O tema da moda entre os especialistas é encontrar um instrumento capaz de avaliar quando é hora de reduzir a dose dos treinos. O mau-humor é um dos escolhidos para indicar estes excessos.

“Feito qualquer medicamento de qualidade, o exercício físico também precisa de limites. Mas como é sempre tido como inofensivo, as pessoas esquecem de suspeitar que o excesso desta prática pode fazer mal”, afirmou o médico especializado em medicina do esporte Tales de Carvalho, durante o Congresso Brasileiro de Cardiologia em Belo Horizonte (evento que acontece até quarta-feira – 29 – e será usado para definir as novas diretrizes da medicina esportiva do País).

Carvalho e um grupo de cardiologistas e vários locais do País estão empenhados em criar um questionário eficiente e de fácil aplicação para conseguir – em pouco mais de dois minutos – identificar o mal chamado de overtraining (treino em excesso em português), já disseminado como nocivo e perigoso em muitas pesquisas clínicas.

As experiências internacionais e algumas iniciativas isoladas no Brasil já encontraram um início de caminho. O humor e a hipertensão são dois exemplos de melhora imediata com a prática de esporte, seja uma caminhada, ginástica ou boxe, e podem ser usados para avaliar a dose correta das atividades.

“Se a sensação de cansaço, desânimo, tristeza, angústia e mau-humor não melhorarem é indicativo de que a dosagem do exercício pode estar errada. A pressão também precisa ficar controlada ou, em caso de hipertensos, deve reduzir após a prática de atividades”, acrescenta Carvalho que em suas avaliações já utiliza um roteiro de perguntas para identificar se o praticante de exercícios se sente “apavorado”, “confuso”, “cansado” entre outras sensações que denunciam “efeito colateral” do esporte excessivo .

Inimigo maior

O overtraining ainda é um problema muito menor do que o sedentarismo, este sim uma epidemia nacional que afeta, segundo os dados mais atualizados do Ministério da Saúde, 90% dos brasileiros, sendo ainda maior entre as mulheres.

“As nossas preocupações com o excesso de treinos não podem funcionar como mais uma barreira para as pessoas fazerem exercícios”, acredita o médico Nabil Gorayebe, principal referência nacional em medicina do esporte, ligado à Sociedade Brasileira de Cardiologia e à Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. “Mas é fato também que não podemos continuar sem controle nenhum, fazendo com que em alguns casos a prática seja mais nociva do que positiva”, afirma.

Danos fatais

A dosagem errada do esporte pode desencadear problemas sérios de saúde – como lesões musculares, arritmias – até mesmo nos atletas amadores, como reforça o médio Tales de Carvalho. Mas entre os esportistas profissionais e pessoas que participam de maratonas de corrida e ciclismo, o overtraining vai além do mau humor e da pressão alta e pode ser fatal.

De acordo com as pesquisas do médico do esporte do Instituto Dante Pazzanese, Ricardo Cortesini, a prática contínua e de alta dosagem de esporte faz com que os corações dos atletas sejam maiores do que os órgãos de pessoas que não têm a mesma rotina esportiva.

Estas alterações anatômicas não necessariamente são um problema, mas em situações de excesso de treino ou falta de acompanhamento podem ser o gatilho de uma doença cardíaca grave e também de morte súbita, muito mais comum no mundo do esporte (entre esportistas a incidência é de 1,76 casos em 100 mil pessoas. Em amadores o número de morte súbita cai para 0,76 em 100 mil pessoas).

Outro fator que potencializa os danos negativos do excesso de treino é a alimentação inadequada, neste caso mais comum em amadores e frequentadores de academias. “As pessoas fazem regimes por conta própria, vão para academia sem comer nada de carboidrato e desmaiam em cima da esteira. Uma mistura entre excesso e falta de cuidado”, informa Gorayebe.



domingo, 26 de setembro de 2010

Ensino religioso: assunto para sala de aula?

Igreja Católica pede que pais fiscalizem oferta das aulas, que é obrigatória na rede pública. Tema gera controvérsias nas escolas

Priscilla Borges, iG Brasília | 26/09/2010 07:00

Os católicos que frequentam as igrejas de Brasília se depararam, no dia 12 de setembro, com um pedido do arcebispo metropolitano de Brasília, Dom João Braz de Aviz, que levanta um tema bastante polêmico para a educação. Dom João recomendava, no folheto distribuído durante as missas, que os pais exigissem das escolas a oferta de ensino religioso.

“Senhores pais, o ensino religioso é um direito do educando garantido por lei. É importante que pais e alunos exijam e acompanhem, na escola, o conteúdo e a forma em que está sendo oferecido. É importante também verificar as escolas que não estão oferecendo e por quê”, dizia o curto bilhete.

Segundo a Arquidiocese de Brasília, o recado pretende conscientizar os católicos sobre o direito à educação religiosa na escola. “Infelizmente, há um grande número de pais que ainda não conhecem o que o filho pode acessar”, afirma o padre André Lima, assessor de comunicação da entidade.

Para ele, as escolas têm de oferecer professores qualificados, que respeitem a multiplicidade de religiões existentes no País. “Por isso, é direito dos pais exigirem de suas escolas professores que sejam capacitados na sua religião”, afirma.
  De fato, o ensino religioso deve integrar os currículos de todas as escolas de ensino fundamental do País. Porém, a lei determina que as aulas não sejam vinculadas a qualquer religião específica. Criada em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação diz, no artigo 33, que a oferta do ensino religioso é “parte integrante da formação básica do cidadão” e, por isso, deve ser oferecida nos horários normais das escolas públicas. O respeito à diversidade cultural religiosa deve ser respeitado, “vedadas quaisquer formas de proselitismo”, e a matrícula dos alunos nesse tipo de disciplina tem de ser opcional.
A LDB afirma também que os sistemas de ensino estaduais e municipais têm de criar procedimentos para definir conteúdos e habilitar os professores. “As escolas não podem tomar partido de jeito nenhum, apesar disso. Não se pode fazer proselitismo para qualquer que seja a religião”, ressalta o conselheiro César Callegari, do Conselho Nacional de Educação.

Callegari se preocupa com as consequências de um acordo assinado em novembro de 2008 entre o governo brasileiro e a Santa Sé (estado jurídico da Igreja Católica). Ratificado em fevereiro deste ano, o documento define o estatuto jurídico da Igreja Católica no País. Entre os 20 artigos do acordo, um deles (o 11) trata do ensino religioso. Ele repete o texto da LDB, mas o conselheiro teme que isso dê liberdade excessiva à igreja. “Eu, pessoalmente, acho que educação religiosa é assunto das famílias e das igrejas. Em um Estado laico, não cabe esse tipo de educação nas escolas”, opina.

Para Lourenzo Baldisseri, núncio apostólico no Brasil (equivalente a um embaixador do Vaticano), incluir a educação religiosa no acordo feito entre o Vaticano e o Brasil não fere a constituição brasileira. “O Brasil reconhece o ensino religioso como fundamental para a formação integral da pessoa. Não é, portanto, uma imposição da Igreja. As aulas de ensino religioso serão ministradas por professores, que serão habilitados simultaneamente pela autoridade religiosa, seja católica ou de outras religiões, seja do Estado, com garantia de profissionalismo e das exigidas normas próprias sobre o pessoal. Isso significa que o ensino religioso será ministrado a todos aqueles que escolherão segundo a própria religião e o estado tem a obrigação de proporcionar este serviço”, afirma.

Nas escolas, também não há consenso sobre o papel do ensino religioso para a formação de crianças e adolescentes. Para alguns professores, as famílias é que deveriam se ocupar do tema. Para outros, a discussão sobre valores morais deveria ser ampliada, dentro das aulas de religião. Dora Incontri, pós-doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP), considera a discussão sobre o tema erroneamente bipolarizada entre a laicidade do Estado e a religião confessional.

“Defendo que as escolas trabalham dimensões interreligiosas. Minha idéia é incluir a espiritualidade na escola e tratar também das religiões do ponto de vista histórico, filosófico, artístico. Esse embate entre fanatismo e materialismo impede a inclusão equilibrada do ensino religioso”, defende.

Falta interesse


Foto: Fellipe Bryan Sampaio
No colégio Elefante Branco, há uma sala transformada em santuário católico. Estudantes usam espaço para ler e descansar, não rezar

Para as amigas Jessyca Cristina da Cunha e Jhennifer Bueno de Souza, ambas de 17 anos e estudantes do 3º ano do ensino médio, não cabe ao colégio oferecer aulas de religião. “Não faz sentido. O ambiente da escola não é para isso. Existem outros lugares em que podemos procurar espiritualidade”, afirma Jessyca. Jhennifer lembra que faltam professores para disciplinas de matrículas obrigatórias e se questiona quem ministraria esse conteúdo.

“A gente já não tem aulas direito do que realmente precisamos para o vestibular, por exemplo. E vamos ter aula de religião?”, questiona. Jessyca e Jhennifer são alunas do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, em Brasília. A escola, que só possui alunos adolescentes, oferece a possibilidade de eles se matricularem na disciplina de ensino religioso, mas não há interessados em cursá-la.

A supervisora pedagógica, Cleonice Ribeiro, conta que nos 16 anos de trabalho no colégio nunca viu uma turma ser formada, nem mesmo um aluno manifestando interesse em participar desse tipo de atividade. Ela, que é católica, reconhece que o tema é polêmico, mas acredita que seria positivo se todos os estudantes tivessem de passar por aulas de ensino religioso. “Ajudaria muito. Não para tratar dessa ou daquela religião, mas para falar de valores, mesmo. Precisamos disso na escola, as famílias não acompanham esses adolescentes”, critica.

Lúcia Helena Marques Araújo, diretora do colégio, concorda. “Seria interessante que houvesse um espaço para conversar com eles exclusivamente sobre gentileza, respeito, tolerância. Mas se não for matéria que valha nota e reprove, eles não se interessam, não adianta”, lamenta. Priscilla Magalhães, 19, acredita que a disciplina tem de continuar sendo oferecida, mas sugere mais motivação para que os jovens participem. Ronny Barbosa, 18, diz que, se houvesse uma turma na escola, assistiria às aulas.

Lucas Matias, 17, que é espírita, acredita que a religião contribui para formação das pessoas. Mas teme que a proposta de ensino na escola acabe sendo tendenciosa para determinada crença. Ele também critica um espaço criado pela direção dentro do Elefante Branco. Uma pequena salinha foi transformada em santuário. Há crucifixos e imagens de santos da Igreja Católica. “Acho errado. Não há o mesmo espaço para todas as religiões”, pondera.

Participação em massa

Entre as crianças, a polêmica da oferta do ensino religioso é bem menor. A professora Maria Luiza Rodrigues, que dá aulas de geografia e ensino religioso há cinco anos no Centro de Ensino Fundamental Polivalente, em Brasília, conta que suas turmas são sempre cheias. Este ano, mais de 600 alunos se matricularam para assistir as aulas de religião. “Há pais que ficam receosos no início, depois se acalmam. As atividades se concentram apenas em valores morais”, diz.

Para as crianças, as aulas são fáceis e descontraídas. Larissa Carnaúba, 11, Nathália Fayad, 11, Renato Gabriel Alencar, 12, e Bruna Dourado, 11, contam que se relacionam melhor com os colegas por causa delas. “A gente aprende a respeitar o próximo e tratar bem todas as pessoas”, afirma Larissa. Luísa Lisita, 11, diz que, desde o primeiro dia de aulas, a professora avisou que não falaria sobre religiões específicas.

Apesar de dar as aulas de ensino religioso e gostar do trabalho com os meninos, Maria Luiza acredita que a disciplina não deveria ser tratada pelo lado espiritual. “Acho que deveria ser aula de cidadania. Existem temas muito importantes para serem discutidos com as crianças, como o bullying, por exemplo. Mas não deveria ter o enfoque religioso”, analisa.

Escola religiosa, aula sem catecismo


No Colégio Marista João Paulo II, crianças e adolescentes têm aulas de ensino religioso. Desde as turmas da educação infantil até o ensino médio, há horários reservados na grade curricular (de uma a duas vezes por semana) para que os alunos discutam temas como ética, amizade, amor, respeito e fé. A coordenação da área, a Pastoral, garante que não há espaço para catequizar os estudantes. “Nosso objetivo é fortalecer a espiritualidade deles, mas respeitando as crenças de cada um e focando nos valores fundamentais para a vida em sociedade, como o respeito ao próximo e a ética”, ressalta a coordenadora Flávia Guimarães.

Flávia conta que a escola recebe crianças de diferentes orientações religiosas, mesmo sendo católica. Há pais que se preocupam com o tipo de conteúdo trabalhado nessas aulas. Mas, de acordo com a professora Maria Lúcia de Araújo, eles se tranquilizam ao longo do tempo. “Eles percebem que não nos fixamos em ensinar ou profetizar a religião católica. Falamos sobre valores humanos, perdidos no mundo hoje. Usamos textos bíblicos, filmes e músicas”, conta.

Durante a aula, a turma da educação infantil canta e dança. A resposta sobre o que aprendem nas aulas de religião está na ponta da língua. “A gente fala sobre o papai do céu”, diz Daniela Galheiro dos Santos, 3 anos. Ana Miletti, 3, diz que a professora falar para eles sobre paz e amor. Yago Arthur Severo, 4, garante que gosta muito das aulas. “A professora é legal, a gente reza, canta e fala de Jesus”, conta.

Coração obeso e sob pressão projeta queda na expectativa de vida

Especialistas alertam que o brasileiro poderá viver com menos qualidade de vida no futuro

Fernanda Aranda, enviada a Belo Horizonte | 25/09/2010 18:50


 

Os brasileiros vivem mais hoje. Mas também estão mais gordos, com a pressão mais alta e muito mais sedentários. Para os especialistas, o fenômeno que atualmente demonstra crescimento simultâneo da expectativa de vida e da obesidade não tem vida longa: a projeção é que as próximas gerações, se não virarem a mesa, vão viver menos do que seus pais.

Este sábado, dia 25, é celebrado no mundo todo o Dia Mundial do Coração, data escolhida para que o planeta preste atenção neste órgão que apesar de vital, anda muito mal cuidado. No Brasil, segundo as estatísticas divulgadas semana passada pelo IBGE, as doenças cardíacas ocupam o topo do ranking das causas de mortalidade tanto em homens quanto em mulheres.

O fato novo neste cenário é que os problemas coronarianos têm cruzado mais cedo o caminho dos brasileiros. O adoecimento cada vez mais precoce por causas cardíacas e a projeção de impacto na expectativa e qualidade de vida da população são os temas principais que serçao abordados pelos especialistas no Congresso Brasileiro de Cardiologia, que começa amanhã em Belo Horizonte (Minas Gerais) e vai até o final da semana.

“Nossos últimos dados dão conta que, atualmente, 5% das crianças e adolescentes já têm a pressão alta, a principal inimiga do coração”, afirmou a professora de cardiologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Andrea Araújo Brandão. “Os dados do IBGE indicam ainda que na população infantil do País, a quantidade de obesos e com sobrepeso foi ampliada de 3,5% - nos anos 70 - para os atuais 19%. A OMS (Organização Mundial de Saúde) já afirmou que 200 milhões de pessoas em idade escolar vivem com algum fator de risco cardíaco (obesidade, hipertensão, colesterol desregulado e diabetes são os principais). É uma geração que por estes fatores pode contrariar o que vem ocorrendo nas últimas décadas e viver menos do que seus pais”, lamenta a especialista.

Viver menos não é seqüela exclusiva. As limitações também são mais graves. Ter um acidente vascular cerebral ou um infarto antes dos 40 anos ( duas doenças em ascensão) e sobreviver aos dois eventos pode significar enfrentar o resto da vida sem andar, falar ou produzir normalmente.

Medicamentos ameaçados

Osvaldo Kohlmann, professor de nefrologia (o rim, depois do coração, é o órgão mais afetado pela pressão alta , obesidade e diabetes) da Universidade Federal de São Paulo, avalia que a evolução da medicina, o desenvolvimento científico e a consequente elaboração de medicamentos mais eficazes e seguros são explicações que permitiram, até agora, as linhas estatísticas da sobrevida do brasileiro crescerem de mãos dadas com os gráficos de obesidade, hipertensão e outros problemas crônicos.

O consenso entre os experts no assunto, entretanto, é que nem mesmo estes remédios mais evoluídos têm efeito total quando o paciente não muda o estilo de vida. “A pessoa que toma medicamento para controlar a pressão mas continua sedentária e comendo mal vai sempre precisar aumentar a dose para tentar potencializar o efeito”, afirma Kohlmann. Não são raros os pacientes, afirma ele, que acabam tomando um coquetel de sete ou oito remédios diferentes por dia quando a dose única de uma só das medicações daria conta não fosse a manutenção dos hábitos de vida não saudáveis.

O médico do Ambulatório de Hipertensão da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e gerente da Novartis, uma das farmacêuticas especializadas em remédios cardíacos, Leandro Martins, acrescenta que a própria eficácia da droga depende dos hábitos de vida do doente.

De acordo com ele, o consumo exagerado de sódio (sal) ameaça o mecanismo de ação até das drogas lançadas a menos de um ano. A informação fica ainda mais crítica com a pesquisa do Ministério da Saúde que indica que cada habitante do País consome de 4 gramas de sódio por dia, duas vezes a mais do que o indicado para não comprometer a saúde.

Crianças sem remédio

Os mesmos estilo de vida do adulto que ameaça a qualidade do medicamento é repassado a criança que acaba adoecendo mais cedo do coração, formando um ciclo de difícil saída. A agravante é que a maioria dos remédios não foi desenvolvida para ser usada por crianças. “Ninguém nunca estudou pacientes que começam a tomar drogas contra a pressão alta aos 8 anos de idade e vão continuar com esta necessidade até pelo menos os 60 anos”, diz a média Andréa Brandão.
O estilo de vida resta como alternativa mais segura, tanto para crianças quanto para adultos.

sábado, 25 de setembro de 2010

Cotistas do ProUni têm desempenho superior aos não cotistas, diz Haddad


Segundo o ministro da Educação, o sistema de cotas não estimula o conflito racial

23 de setembro de 2010 18h 48
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O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira, 23, durante o 10º Encontro Nacional de Assuntos Estratégicos, que no Programa Universidade para Todos (ProUni) foi possível ver o acerto da política de cotas. “O ProUni é um modelo de cotas e vemos que a qualidade dos alunos não caiu. Pelo contrário, os alunos têm desempenho superior ao dos não cotistas”, afirmou.

Haddad criticou a tese defendida pelos críticos das cotas, segundo os quais o sistema estimularia o conflito racial. “O conflito não aconteceu, pelo contrário, a diversidade se impôs, e nada melhor que brancos convivendo com negros. Conviver com a diferença é um elemento fundamental da educação. Se você não sabe conviver com a diferença, não está educado”, destacou.

O ministro da Promoção da Igualdade Racial, Elói Ferreira de Araújo, salientou que um dos principais desafios para o próximo governo é o combate ao racismo. “O Estado brasileiro precisa superar o racismo. O mito da democracia racial sempre povoou os olhares de estudiosos e da inteligência nacional e apenas colaborou com a segregação”, disse Araújo.

Segundo ele, o acesso à educação da população negra sobressai dentre as ações afirmativas. “Hoje 300 mil jovens pretos e pardos estão nas universidades brasileiras por meio do ProUni e mais 50 mil com os sistema de cotas das próprias universidades”, salientou

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, apontou o caráter estratégico da cultura para o desenvolvimento do País e destacou o aumento do orçamento da pasta, que passou de 0,2% (R$ 236 milhões) para 1,3% (R$ 2,5 bilhões).

“Antes a cultura não era tratada como uma política pública. Hoje sabemos que ela é responsável por 6% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no País) nacional e incorpora quase 7% da mão de obra com carteira assinada. Não dá para pensar que o desenvolvimento cultural é uma espécie de perfume que emana no desenvolvimento econômico. É preciso investimento”, disse o ministro.

Para ele, mais importante que o orçamento é pensar na ampliação do acesso da população à atividade cultural. “A cultura é um direito de todos, e o Estado tem o dever de proporcionar o acesso a esse direito.”

O tema principal do 10º Encontro Nacional de Assuntos Estratégicos é Rumo a 2022: Estratégias para a Segurança e o Desenvolvimento do Brasil. O evento termina nesta sexta, 24.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitária, diz Nicholas Carr
 
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

Nicholas Carr cutucou a onça da internet com um argumento longo e bem-desenvolvido no livro "The Shallows What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso O que a Internet Está Fazendo como Nossos Cérebros" e será lançado no Brasil pela Agir). Em poucas palavras, a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando estúpidos.

Era o que estava implícito no título de um artigo de Carr em 2008 (ele prefere o qualificativo de "superficiais") que deu origem a uma controvérsia acesa. E, também, ao livro, que já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos e está sendo traduzido em 15 línguas.
Divulgação
Nicholas Carr recusa a pecha de alarmista, mas recomenda restrição do acesso de alunos à internet nas escolas
Nicholas Carr recusa pecha de alarmista, mas recomenda restrição do acesso de alunos à internet nas escolas


Carr recusa a pecha de alarmista, mas sua preocupação com os efeitos não pretendidos das "tecnologias de tela" é tanta que ele recomenda a restrição do acesso de alunos à internet nas escolas. Não descarta que a rede possa evoluir para a veiculação de ideias menos superficiais, mas tampouco vê indícios de que irá nessa direção.
"A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários", lamenta o jornalista. Ele já foi assinante de Facebook e Twitter, mas abandonou esses serviços para manter a concentração e a capacidade de refletir em profundidade.

Leia abaixo trechos da entrevista telefônica dada por Carr da casa de parentes em Evergreen, Colorado, onde se refugiou depois de evacuado em consequência de incêndios florestais que se aproximavam de sua casa nas montanhas Rochosas.

FOLHA - Seu livro, "The Shallows", deplora a internet como ameaça à mente formada pela invenção de Gutenberg, que nos deu o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Industrial e o Modernismo. Mas a invenção de Gutenberg também não destruiu a mente e a filosofia medievais, assim como toda a cultura clássica greco-romana? Ou seria mais preciso dizer que ambas as invenções amplificaram e continuaram a cultura do passado?
NICHOLAS CARR - Toda tecnologia de comunicação e escrita traz mudanças. Perdemos coisas do passado e ganhamos outras coisas novas. Isso é verdadeiro mesmo para o período anterior a Gutenberg, com a invenção do alfabeto, pela maneira como alterou a memória humana e nos deu maior capacidade de intercambiar informação. A internet, assim como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e certos aspectos da mente intelectual, mas também, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes.

FOLHA - Uma espada de dois gumes, por assim dizer.
CARR - Sim.

FOLHA - Se a leitura e a reflexão profundas estão em risco, como explicar o sucesso de coisas como o Kindle e mesmo de seu livro?
CARR - As coisas não mudam de imediato. Há ainda um grande número de pessoas que leem livros. O número ao menos dos que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas haverá pessoas lendo livros por muito tempo no futuro. Meu argumento é que essa prática está se mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa. Acho também que, à medida que mudamos para dispositivos como Kindle ou iPad para ler livros, mudamos nossa maneira de ler, perdemos algumas das qualidades de imersão da leitura.

FOLHA - Mas as pessoas não os usam para navegar, leem como se fossem de fato livros.
CARR - O Kindle se sai bastante bem na tarefa de reproduzir a página impressa. O que sabemos sobre o futuro desses aparelhos é que as companhias que os fazem tendem a competir com base nas novas funções que lhes acrescentarem. A questão é saber se os leitores eletrônicos, ao competir, vão manter a competência da página impressa, ou se vão começar a incorporar novas funções baseadas na internet, redes sociais, sistemas de mensagens e outras ferramentas. Mesmo com o Kindle já vemos a tendência a incorporar novas funções, como as de redes sociais. Infelizmente, o efeito das novas funções será acrescentar mais distrações à experiência de ler.

FOLHA - O que pode ser feito em termos práticos e individuais para resistir a essa tendência_ reservar algumas horas no dia ou na semana para permanecer desconectado? É o que o Sr. faz nas montanhas do Colorado?
CARR - (Risos) Não escrevi o livro para ser do tipo de autoajuda. A mudança que estamos vendo faz parte de uma tendência de longo prazo, na qual a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento que envolvem encontrar informação precisa rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas. Por outro lado, como indivíduos, nós temos escolha. Mesmo que a desconexão se torne mais e mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está embutida na nossa vida profissional e cada vez mais na visa social, a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo nossa dependência em relação às tecnologias de tela e exercendo nossa capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa.

FOLHA - Seu livro lembra o filme Fahrenheit 451 (1966), de François Truffaut, baseado em romance de Ray Bradbury em que as pessoas decoravam livros para impedir que todos fossem destruídos. O Sr. acredita que essa seja a mensagem mais comum extraída dele, a importância de permanecer desconectado para preservar algo que não se deve perder?
CARR - Sim, e fico mesmo gratificado com isso. Muitas pessoas que o leram reagiram dessa maneira. O valor do livro para elas, pessoalmente, foi confirmar algo que talvez não tivessem percebido claramente antes, que estão de fato perdendo essa habilidade de ler e pensar em profundidade. Estão questionando sua dependência da nova tecnologia digital e, em alguns casos, tentam moderar o uso das engenhocas e retornar à leitura de material impresso, reservando tempo para contemplação, reflexão e meditação, modos mais solitários e calmos de pensar.

FOLHA - As escolas deveriam restringir o uso de computadores e internet pelos alunos, em lugar de se lançar de cabeça na tecnologia?
CARR - Sim. Nos Estados Unidos tem havido uma corrida para considerar que computadores na escola são sempre uma coisa boa, até mesmo uma confusão da qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam conectados. É um erro. Certamente os computadores e a internet têm um papel importante a desempenhar na educação, e as crianças precisam aprender competências computacionais, a usar a internet de maneira eficaz. Mas as escolas precisam perceber que essa é uma maneira de pensar diferente de ler um livro. É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual.

FOLHA - O sr. tem um blog que as pessoas podem acompanhar por assinaturas RSS, uma página pessoal, outra para o livro, mas não tem Twitter. É um limiar que não se dispõe a cruzar?
CARR - Eu já tive conta no Twitter um par de anos atrás, e também no Facebook. Na medida em que me dei conta de que minha vida intelectual estava mais e mais envolta pela internet, decidi sair. Acho que esses serviços, mesmo que sejam obviamente úteis para as pessoas, são também os que mais distraem, constantemente nos interrompendo com pequenas mensagens. Foi aí que eu tracei a fronteira, mesmo que eu perca algo por não estar no Facebook ou Twitter. As interrupções são um preço alto demais a pagar.

FOLHA - O sr. consideraria a internet responsável pela epidemia de casos de transtorno deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ou atribui isso à medicalização de comportamentos pela grande indústria farmacêutica para vender remédios domesticadores?
CARR - Preciso ser cuidadoso com a resposta, porque não tenho certeza de que a ciência sobre isso seja definitiva, ainda. Há indicações de que as tecnologias que as crianças usam, de videogames a Facebook, possam contribuir para TDAH. É algo que precisa ser mais estudado. Para os pais que estejam preocupados com a capacidade de seus filhos de manter a atenção, poderia ser apropriado restringir as tecnologias.

FOLHA - A TV e o rock também já foram acusados no passado como ameaças aos intelectos jovens, mas não há carência de novos escritores e artistas. Será que não temos uma tendência para ser alarmistas?
CARR - Sempre que uma tecnologia nova e popular aparece, há pessoas que adotam uma visão exageradamente otimista, de uma utopia social, e pessoas que adotam uma visão exageradamente negativa, de que ela vai destruir a civilização. No livro tento não adotar uma visão unilateral da tecnologia, porque acho que ela tem muitas coisas boas, do acesso mais fácil a informação até novas ferramentas para autoexpressão. De certo modo, os jovens se encontram na melhor posição para resistir a essa tendência e serem literários, artísticos. Meu temor é que, na medida em que empurramos celulares, smartphones e computadores para as crianças em idades cada vez mais precoces, elas não venham a desenvolver as habilidades mentais mais contemplativas e atentas. Isso seria uma grande perda para a cultura, pois a expressão artística requer reflexão mais calma, tranquila, introspectiva. Se as crianças perderem isso, veremos uma diminuição nas realizações culturais e artísticas.

FOLHA - Algumas pessoas discordam, como o psicólogo evolucionista Steven Pinker, de Harvard, e acham que é alarmismo.
CARR - Pinker escreveu um artigo para o jornal "The New York Times" no qual não mencionou diretamente meu livro, mas não estou certo de que ele tenha um argumento persuasivo, para ser franco. Há quem pense que não é importante ou preocupante perdermos formas mais contemplativas de pensamento. Acreditam que nosso futuro está na troca rápida de mensagens e no processamento acelerado de informações. As pessoas valorizam aspectos diferentes da cultura e da vida intelectual. Não espero que todos concordem comigo.

FOLHA - Há um artigo seu na edição da revista "Nieman Reports" sobre o tema que traz também uma entrevista com o neurocientista Marcel Just, em que ele defende as novas tecnologias como mais adequadas para cérebros que evoluíram para ver e não tanto para ler. Ele diz: "É inevitável que as mídias visuais se tornem mais importantes para transmitir ideias, e não só para inflamar". O sr. concorda?
CARR - É uma afirmação no estilo de Marshall McLuhan, de que nos afastaremos do texto em direção ao vídeo e ao áudio. Não discordo disso como observação de uma tendência geral. O que me interessa mais é o que perdemos e ganhamos com essa transição.

FOLHA - Se entendo bem o que diz Just, ele defende que meios visuais também podem veicular ideias, ou seja, pensamentos mais profundos.
CARR - Com certeza eu já assisti bons filmes e tive experiências e reflexões profundas com eles. Há muitas maneiras de pensar com profundidade e atenção, e é certo que se pode fazer isso indo ao cinema, por exemplo. Infelizmente a internet, quando nos oferece vídeos e áudios, raramente o faz com vistas a uma imersão, pois eles vêm sempre acompanhados de distrações e interrupções, quando se está olhando para uma tela de computador ou smartphone.

FOLHA - Mas é concebível que a internet possa mover-se numa direção que combine os poderes da informação visual com os do texto para promover pensamentos em profundidade?
CARR - Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar. A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários, voltados para a solução de problemas, que encoraja as multitarefas e a rápida transmissão ou recepção de migalhas de informação. A tecnologia pode mudar rapidamente, mas não vejo razão para pensar que vá [noutra direção].

FOLHA - Um argumento central no seu livro se baseia na plasticidade do cérebro humano, mas isso é algo que afeta o cérebro individual, quando seu argumento diz respeito a uma mudança na cultura, na civilização. Isso não envolve um tipo de raciocínio lamarckista, de que alterações em cérebros individuais conduzam a uma mudança na cultura da espécie?
CARR - Bem, se nossos cérebros individuais estão mudando e mudando a ênfase de pensamento, isso terá efeitos culturais e sociais. Minha questão é que as mudanças individuais que vêm do uso da tecnologia que se espalha pela sociedade, na medida em que a sociedade se modifica para pôr mais ênfase na tecnologia e na medida em que as transmitimos para nossos filhos, treinando-os para usá-las desde a infância... essa é a trilha pela qual mudanças individuais se tornam mudanças sociais e culturais. Seu modo de pensar se torna central para a sociedade.

FOLHA - Bem, nós podemos estar nos tornando mais estúpidos por causa do Google, como dizia o título de seu artigo de 2008 na revista "The Atlantic", mas isso não quer dizer necessariamente que nossos filhos nascerão mais estúpidos.
CARR - Certamente. Mas eu não usei a palavra "estúpidos"; "superficiais" seria uma palavra mais adequada. Não fui eu quem fez o título (risos). Está óbvio nesta altura que nossas vidas mentais refletem uma combinação de herança genética com o modo como fomos criados para usar nossas mentes. Não acho que a tecnologia tenha um efeito que se transmita aos genes, seria preciso muito mais tempo para isso. Mas sabemos que a mente é muito adaptável, especialmente quando jovem, e quando transmitimos ferramentas também influenciamos a maneira como o cérebro se adapta.

FOLHA - Se jornais impressos de fato um dia forem extintos, como um jornal na internet deveria ser escrito para promover leitura e reflexão aprofundada? Conter menos ou nenhum hyperlink, ou ter blocos de texto que possam ser lidos em 27 segundos e sejam interessantes o suficiente para levar o leitor a prosseguir para o próximo bloco?
CARR - (Risos) As experiências que os jornais estão começando a fazer, como apresentar seu conteúdo digital por meio de várias aplicações ("apps"), pode ser o caminho do futuro. Não simplesmente publicar um sítio na rede que seja uma maçaroca de links, manchetes e migalhas, mas criar uma experiência de leitura por meio de aplicações que reflitam a experiência de leitura do impresso, mais focalizada em encorajar a leitura aprofundada do que na coleta apressada de páginas e muitos pedaços de informação. Mas não sabemos se isso será popular.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um exercício para cada tipo de dor de cabeça

Especialistas recomendam atividades diferentes para aliviar sintomas sem uso de remédio

Chris Bertelli, iG São Paulo


Na receita de Silvana Mei, 22 anos, não constam medicamentos como aqueles que se pode comprar na farmácia. A recomendação médica para acabar com a enxaqueca que a atacava duas vezes por semana foi uma só: exercícios físicos.
Foto: Getty Images
Antes de correr para a farmácia, a solução para a dor de cabeça pode estar na academia

Assim como ela, mais de 72 milhões de brasileiros sofrem com dores de cabeça todo ano, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cefaleia. Engana-se quem ainda acha que o alívio pode estar nas prateleiras das farmácias. Quando aquela enxaqueca dá sinais de que está chegando, o melhor é correr para a academia.

“No momento do exercício, há a produção de endorfina e serotonina, este último o neurotransmissor do bem-estar. Ele age como uma morfina natural do organismo”, explica a neurologista Carla Jevoux, da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).

Para que ele seja um "santo remédio”, no entanto, a prática precisa ser regular, ou seja, realizada no mínimo três vezes por semana. “A produção constante desses hormônios é capaz de proteger o cérebro da dor, aumentando o limiar de resistência a ela”, afirma.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina conseguiu expressar os benefícios da atividade física em números. O estudo, que ouviu mais de quatro mil pessoas em todo o país, revelou que um sedentário tem 43% mais dor de cabeça do que alguém que faz exercícios.

Antes de escolher qual atividade física praticar é preciso identificar qual o tipo da sua dor de cabeça.

Tensional

Em muitos casos, o exercício substitui a medicação e a visita esporádica à farmácia é transformada em ida frequente à ginástica. As cefaleias do tipo tensional (como o próprio nome já diz, provocadas por estresse, tensão) são as que apresentam mais melhora com o exercício.

“Em casos de estresse, o ideal são atividades que mudem o foco do pensamento e promovam relaxamento como ioga, alongamento e pilates”, recomenda Rodrigues. Aulas de dança de salão, sapateado, ou balé, por exemplo, também podem entrar na lista.
Saber o que está causando o problema é realmente o ponto chave para que o tratamento seja eficaz. Dores causadas por mudanças bruscas na dieta, por exemplo, pedem outro tipo de interferência. Para estes casos, musculação de alta intensidade com uma hora de duração é o mais indicado.

TPM

Não bastasse a irritabilidade, a sensibilidade exacerbada e a cólica, a tensão pré-menstrual também vem acompanhada da dor de cabeça, mais parecida com a tensional, mas que varia com a oscilação hormonal. Para esses dias, o professor de educação física recomenda exercícios aeróbicos progressivos.

“É melhor evitar o exercício muito intenso sem aquecimento adequado. É preciso ir devagar, aos poucos, ou a dor pode piorar e começar a latejar”, conta. Segundo pesquisa da SBC, 60% das mulheres sofrem de cefaleia durante o período menstrual.

“É um hábito que costuma ser eficiente, já que ajuda na produção de substâncias que não deixam a dor aparecer”, expõe a neurologista.

Enxaqueca

Para manter a enxaqueca longe de você, há duas opções: musculação pesada ou exercícios aeróbios. O importante é que seja vigoroso. “Tem que ficar ao menos ofegante. Um treino bom para isso, por exemplo, pode ser uma caminhada mais forte como andar quatro minutos e correr um. Isso melhora o fluxo sanguíneo e atenua a dor de cabeça”, diz Rodrigues.

Além disso, você pode optar por aulas de spinning, jump (em cima de pequenas camas elásticas) ou boxe, que são intensas. “É possível reduzir a freqüência das crises e a dor passa a ser mais moderada”, diz Carla.
No entanto, se a sua enxaqueca já se instalou, preste atenção na intensidade da dor. Se estiver insuportável, evite o exercício, procure um quarto escuro e relaxe. Mas, se a dor ainda estiver chegando, vale a pena tentar atividades relaxantes como ioga ou alongamento.

Sem receita

Para este remédio, não há contraindicação, mas alguns casos exigem atenção. Quem tem hipertensão, diabetes, outras doenças crônicas ou problemas na coluna deve tomar cuidado. “É preciso ficar atento para a dor gerada pelo exercício. Por isso, é importante uma avaliação prévia. Pode haver compressão de vértebra, por exemplo, que faz pressão no nervo, causando dor”, relata Isaias Rodrigues, professor de educação física da Monday Academia.

A neurologista alerta também para o caso da cefaleia do esforço físico, que aparece depois de uma atividade extenuante. “Em geral, ela aparece se a pessoa está em um lugar de calor, no sol ou em altitudes elevadas. Tem características pulsáteis, mas, diferente da enxaqueca, atinge os dois lados da cabeça. Pode durar cinco minutos ou até dois dias. O importante, nesses casos, é procurar um médico para que ele afaste outro qualquer problema”, alerta Carla Jevoux.

Uso de medicamento para dor aumenta risco de úlcera

Consumo indiscriminado de antiinflamatório gera complicações gástricas. No Brasil, mulheres consomem duas vezes mais que os homens

Lívia Machado, iG São Paulo



Foto: Thinkstock/Getty Images
Automedicação contra dor eleva as chances de desenvolver problemas gastrointestinais

Ao primeiro sinal de dor, calor, inchaço e vermelhidão, o diagnóstico caseiro parece certeiro. O conhecimento raso e popular infla o uso indiscriminado de medicamentos supostamente nocivos, com um recorte especial aos antiinflamatórios.

O que a crendice e a automedicação desconhecem é o poder corrosivo do destes remédios, responsáveis pelo aparecimento de úlceras, hemorragias e outras doenças gastrointestinais.

"Nos Estados Unidos, onde há um razoável controle da venda de tais produtos, 16 mil pessoas por ano morrem em conseqüência de tal relação", revela Angel Lanas, professor do Departamento de Gastroenterologia da Universidade do Alabama, nos EUA.

Lanas é um dos participantes de um recente estudo conduzido pelo chefe de gastroenterologia e hepatologia da Universidade Chinesa de Hong Kong, Francis Chan, que mapeou os efeitos negativos dos antiinflamatórios no sistema gastrointestinal.

Foram entrevistadas 4.500 pessoas, em 32 países. No Brasil, a pesquisa foi realizada por profissionais da Universidade de São Paulo (USP), em 10 centros de atendimento médico, entre hospitais públicos e clínicas privadas. Foram selecionados 1.213 pacientes com sintomas de queimação e náusea, que tinham realizado uma endoscopia digestiva nas primeiras 24 horas.

Segundo Décio Chizon, professor de pós-graduação da disciplina de Gastroenterologia da USP, 20% dos pacientes faziam o uso de antiinflamatórios. O especialista explica que a relação entre o medicamento e o surgimento de úlceras é direta e independe do tempo de uso. Apenas uma dose em pessoas hipersensíveis ou com histórico de problemas no aparelho digestivo é suficiente para provocar lesões.

“O risco de ter úlcera é 12 vezes maior em pacientes que fazem o uso de antiinflamatórios, principlamente entre os que têm mais de 60 anos. Podemos afirmar, hoje, com base nas pesquisas e na análise clínica, que 25% das pessoas que fazem o uso crônico desses medicamentos desenvolverão esse tipo de ferida.”

Sintomas ocultos

O mapeamento dos dados dá corpo aos estudos antigos que tentam comprovar o perigo da ingestão de medicamentos sem prescrição ou acompanhamento médico. Entretanto, a pesquisa foi feita com pacientes que tinham sintomas pontuais, típicos de problemas gastrointestinais. Os médicos alertam, porém, que lesões sérias podem aparecer sem queixas óbvias.

“Azia, náuseas, vômitos e cólicas abdominais são os sintomas mais frequentes e servem de alerta, mas não necessariamente significam que já existe uma lesão. Outro fator importante é que a falta desses sintomas também não afasta a possibilidade de complicações.”

Brasileiras consomem mais

O uso de antiinflamatórios é duas vezes maior na população feminina. A indicação começa logo cedo, como um aliado no combate às cólicas menstruais. O risco de complicações gástricas, em mulheres jovens, é abaixo da média, mas não raro, tampouco incomum.

“Pacientes com sensibilidade podem desenvolver úlceras e até sangramentos, independente da idade. Há inúmeras formas de tratar cólicas menstruais sem a necessidade de recorrer aos antiinflamatórios. É fundamental consultar um especialista que sugira o tratamento ideal.”

Os casos mais freqüentes ocorrem em mulheres portadoras de artrite ou artrose, que, para aliviar a dor, recorrem aos antiinflamatórios. “Com a idade avançada, os riscos são mais elevados. A artrite é uma doença mais prevalente em mulheres. Sem controle real da venda desses medicamentos, eles passam a ser a forma mais fácil e imediata de combater a dor.”

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sua Majestade, o bebê

O narcisismo infantil é uma fase natural e necessária para o desenvolvimento – mas depois dela, a criança precisa entender os limites e a existência do outro

Livia Valim, especial para o iG São Paulo | 20/09/2010 16:21



Foto: Getty Images
A partir dos 4 anos, a criança deve perceber a existência dos outros

Um recente estudo da Universidade de San Diego em parceria com a Universidade do Alabama mostrou que o narcisismo vem crescendo entre os norte-americanos nos últimos 15 anos. As teorias para explicar este fenômeno culpam pais, professores e a mídia, que permitem ou até celebram atitudes permissivas, voltadas para o individualismo.

Os pais usam a desculpa de que estão criando filhos com a auto-estima elevada e mais preparados para competir no mercado de trabalho. Mas o que vem acontecendo, não só nos EUA, é chegarem à idade adulta pessoas que exigem tratamento especial, são mandonas e tomam decisões inconsequentes. “É só ver quem é valorizado pela sociedade: o indivíduo que consegue o que quer a qualquer custo. É preciso passar a dar importância à construção e não à destruição”, diz a psicóloga Mônica Amaral, especializada em narcisismo.

"Sua Majestade, o bebê!’. Como Freud determinou na teoria psicanalítica [em um artigo escrito em 1914 que levava este título], toda criança passará necessariamente por uma fase narcísica”, explica o psicólogo Guilherme Cerioni, do Hospital das Clínicas. Esta fase egocêntrica é natural e até importante para a criança novinha. Até mais ou menos três anos, ela não entende que o outro não faz parte dela e não está ali apenas para satisfazê-la. “O narcisismo é necessário para que a criança reconheça seus próprios sentimentos e desenvolva sua personalidade”, explica a supervisora e professora Izabella de Barros, do curso de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Os pais devem começar a ficar atentos a partir dos 4 ou 5 anos, para observar se isso está virando um traço de personalidade. Nesta fase, os pequenos devem ser ensinados que não podem ter tudo o que querem na hora em que querem, que a mamãe não pode ser só deles e que precisam respeitar os amiguinhos e parentes. “Alguns pais encontram dificuldade em dizer ‘não’ e impor limites por inúmeros fatores, como a falta de tempo relacionada com a demanda da vida moderna e a inexperiência”, enumera Cerioni.

Espelho meu

Não é preciso esperar passar a fase naturalmente narcísica para ensinar solidariedade e colocar limites. Definir recompensas e punições e apresentar limites deve começar desde cedo. “Nomear sentimentos também é importante. Dizer ‘estou muito triste com o que você fez’ ajuda a criança a assimilar as consequências de seus atos”, diz Izabella.

Antes de tudo, é preciso fazer um exercício de autoconhecimento, pois pais narcisistas dificilmente se darão conta que seus filhos estão indo pra esse caminho. “Quando pai e mãe estão voltados para si mesmos, a criança acha que precisa agir assim para ser bem vista”, lembra Mônica.
 
A linha que separa uma boa auto-estima do narcisismo exacerbado é tênue, por isso cria tantas confusões na cabeça dos pais. Todos querem ter filhos que sejam confiantes de suas capacidades e não deixem as inseguranças tomarem conta, mas como saber se esta confiança já está passando dos limites? “No exercício da auto-estima, tem que perceber se a criança está levando em conta o outro e não apenas usando as pessoas para se satisfazer”, ensina Izabella. O resultado do narcisismo desmedido pode ser cruel na idade adulta. “O excesso de si mesmo em detrimento de uma relação com o mundo traz um sentimento de vazio ou até depressão sem causa conhecida”, alerta Mônica.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Congestionamento de problemas de saúde

O trânsito complicado pode provocar dores musculares, estresse, crises respiratórias. Saiba evitar

Fernanda Aranda, iG São Paulo


A distância de 30 quilômetros foi percorrida em 3horas e 4 minutos. Durante todo o trajeto, em velocidade tartaruga, o médico ortopedista Rubens Rodrigues não apenas lamentou o congestionamento que separava a sua casa do aeroporto como também abria e fechava as mãos, esticava os braços para cima e girava os pés repetidas vezes.

A “coreografia” dentro do veículo é só uma das dicas para evitar os males dos engarrafamentos, que vão além do estresse. Nos últimos 10 anos, segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) surgiram, em média, 165 mil novos carros. O crescimento da frota na década foi de 103%, bem maior do que o aumento populacional no mesmo período, de 17,1% (mostram os dados do IBGE).

O descompasso entre veículos, pessoas e espaço físico fez com que o problema do trânsito parado deixasse de ser um privilégio só de São Paulo e fosse exportado para as principais capitais do País. Prova disso é uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente que detectou poluição veicular acima dos padrões seguros ditados pela Organização Mundial de Saúde não apenas na atmosfera paulista, como também em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba.

O Delas conversou com especialistas para saber como amenizar os principais problemas de saúde trazidos pelo tráfego congestionado.

Dores nas costas
Pela janela do carro você olha, com piedade, as pessoas que se apertam no ônibus, espremidas e em pé. Antes de ter pena, o médico do Instituto de Ortopedia de São Paulo (IOT) faz um alerta.

“Para a coluna, não há mal pior do que o aparente conforto dos automóveis. Ficar sentado por mais de uma hora é o suficiente para desencadear dores lombares e cervicais”, afirma Rubens Rodrigues.

Por isso, durante o trajeto, ele orienta a esticar os braços, como se estivesse se espreguiçando. “Um único percurso por trânsito congestionado é suficiente para provocar um microtrauma nas costas. O acúmulo pode desencadear um problema crônico. Por isso, além de mexer os braços, é importante fazer alongamento ao sair do carro”, orienta o especialista.

Problemas de circulação

Outro impacto imediato é na saúde das pernas, pés e aparelho circulatório. A ausência de movimentos, faz com que o sangue tenha mais dificuldade para percorrer o organismo. As varizes não são as únicas sequelas. Embolias, em casos mais severos, também podem ser um efeito colateral.

O presidente do Sindicato de Taxistas de Porto Alegre, Luiz Nozari, diz que a situação é tão preocupante que na capital gaúcha a entidade já fez parceria com a associação de cirurgiões vasculares para conscientizar sobre o problema.

“Não há nada mais grave do que sair do banco do carro e ir direto para o sofá. Sempre preconizamos o exercício físico após o trânsito e, como cada pessoa tem um limite, a sugestão mais democrática é a caminhada”, sugere Nozari.

Comparar a rotina de um taxista, que fica no trânsito uma média de 12 a 14 horas por dia, com a de uma pessoa que não trabalha na praça não é um exagero. Isso porque, grande parte dos trabalhadores do País, antes de pegar a maratona engarrafada, fica horas sentado em frente ao computador, em um escritório, na sala de aula ou em reunião. Por isso, além de movimentar as pernas e caminhar após o trânsito, uma boa dica é beber muito líquido durante o dia, receita básica para quem quer amenizar os problemas circulatórios.
 
Dores de cabeça e estresse

Em um congestionamento, não faltam gatilhos para a dor de cabeça, explica Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia.

“Ansiedade por não querer chegar atrasado ao compromisso, raiva por ter de pegar trânsito mais uma vez, poluição e barulho potencializam as crises de enxaqueca e de dores de cabeça”, explica o neurologista.

Segundo o médico, estes fatores não causam a dor de cabeça, mas evidenciam que a pessoa é suscetível à doença. “Neste caso, a ocasião não faz o ladrão mas o revela”, compara. “Como hoje os congestionamentos tornaram-se problemas inevitáveis é importante que a pessoa tenha mecanismos de controle de estresse. Cada um tem o seu, mas existem os universais como ioga e meditação”, diz.

Em situações estressantes, afirmam os especialistas, a respiração também é prejudicada, o que influencia a circulação e as dores cabeça. Inspirar e expirar profundamente ajuda a melhorar o quadro. O taxista Luiz Nozari sugere ainda aproveitar a paisagem, que às vezes fica escondida no congestionamento.

Poluição e problemas respiratórios

Os escapamentos dos automóveis estão a todo vapor do lado de fora. A sensação é de que dentro do carro estaremos mais protegidos dos gases tóxicos. Engano. O Laboratório de Poluição da USP já fez medições com um aparelho especializado, chamado monoxímetro, e constatou que no interior dos veículos a poluição chega a ser 30% maior do que às margens das grandes avenidas de São Paulo.

Fechar os vidros e ligar o ar-condicionado nem sempre é uma boa opção, já que a implicação imediata dos gases em excesso é a debilitação do aparelho respiratório, também prejudicado pela atmosfera resfriada.
 
“A alta concentração dos poluentes nos centros urbanos associada à baixa umidade leva a irritação e inflamação das mucosas respiratórias e as pessoas já portadoras de doenças respiratórias crônicas (asma, bronquite, rinite) têm maior tendência a apresentar crises”, explica o pneumologista Mauro Gomes, membro da comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia em material divulgado pela entidade.
A solução neste caso não é simples. Os especialistas orientam que a melhor maneira é optar por outras formas de locomoção antes de priorizar o transporte individual. Ainda que a falta de ônibus, metrô e vans públicas de qualidade pareça incentivar o uso dos automóveis, o excesso de carros que prejudica os pulmões provoca um ciclo de doenças que começam pelo trato respiratório, cardiovascular e até depressivo. Pesquisa do Instituto do Coração (Incor) já mostrou inclusive que a poluição veicular potencializa infartos, acidentes vasculares cerebrais e diabetes.
Porto Alegre tem lei para tornar ensino do Holocausto obrigatório

Iniciativa é inédita no País. Abordagem do tema deve ser realizada nas aulas de história, mas ainda precisa ser regulamentada

Tatiana Klix, iG São Paulo
19/09/2010 08:00

Porto Alegre é a única cidade brasileira com uma lei que torna obrigatório o ensino do Holocausto, o massacre de judeus pelo regime nazista, na Alemanha, durante a 2ª Guerra Mundial. O tema será abordado na disciplina de história, segundo o texto aprovado por unanimidade nesta semana pela Câmara de Vereadores da capital do Rio Grande do Sul.

A proposta, que tem o apoio da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS), é de autoria do vereador Valter Nagelstein – atual titular da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) de Porto Alegre – e foi elaborada a partir de uma sugestão do então prefeito da cidade, José Fogaça (candidato ao governo do Estado). Segundo o autor do projeto, esta parte importante da história mundial é abordada de forma superficial nas escolas, e a lei é uma maneira de garantir que os fatos que atentaram contra os direitos humanos naquele período não sejam esquecidos.

“Senti a necessidade de apresentar esta demanda quando fui visitar o museu do Holocausto, em Israel. Posteriormente, em conversa com o prefeito sobre os horrores do período, surgiu a proposta da lei. É uma maneira de garantir que o assunto seja melhor abordado”, explica Nagelstein. Segundo o secretário, o que aconteceu durante o 3º Reich não é apenas uma questão sionista, mas de várias minorias perseguidas.

Regulamentação é necessária

Ainda não se sabe como a iniciativa inédita será aplicada, na prática, nas escolas municipais de Porto Alegre. No texto da lei, a recomendação é de que o assunto seja integrante das aulas de história e há apenas uma exigência, a de que seja apresentado algum conteúdo audiovisual aos alunos. Segundo o assessor de relações étnicas da Secretaria de Educação do município, professor Manoel José Ávila da Silva, a rede pública da cidade já vem abordando a questão do Holocausto com os alunos, mas para alterar o currículo é preciso que o tema seja regulamentado pelo Conselho Municipal da Educação.

“As grades curriculares respeitam regulamentos próprios dos órgãos e conselhos de ensino. Uma lei aprovada na Câmara é uma boa iniciativa para dar resposta aos anseios da sociedade, incentivar o debate de determinados assuntos, mas não provoca mudanças imediatas nas escolas”, explica.

Segundo Silva, a Secretaria de Educação já incentiva discussões relacionadas a questões étnicas e raciais, bem como de preconceito, e neste contexto o Holocausto está inserido. Este ano, o município organizou uma Jornada Interdisciplinar, com apoio de entidades judaicas, para apresentar o tema aos professores e dar suporte ao ensino. Está em andamento, também, um concurso de redação sobre o Holocausto. Mas com certeza não será criada uma disciplina, avisa Silva.

O professor explica que existem orientações do Ministério da Educação (MEC), a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, que orientam o ensino relacionado a preconceitos em geral. A prefeitura pretende manter o que já vem fazendo e ampliar a atenção ao Holocausto.



Os riscos da dieta da proteína


Pesquisa mostra que regimes ricos em proteína aumentam risco de ter, prematuramente, doenças cardíacas e câncer

The New York Times



Dietas com baixo consumo de carboidratos, como a de Atkins, ajudam as pessoas a perder peso. Porém, aqueles que simplesmente substituem o pão e as massas por calorias de proteína e gordura animal podem enfrentar um aumento no risco de desenvolver prematuramente doenças cardíacas e câncer, segundo um novo estudo.

A pesquisa descobriu que a taxa de mortalidade entre pessoas que aderiram mais seriamente ao regime das proteínas era 12% maior, ao longo de aproximadamente duas décadas, do que entre aquelas que consumiram dietas ricas em carboidratos.

Mas as taxas de mortalidade variavam, dependendo das fontes de proteína e gordura usadas para substituir os carboidratos. As pessoas que retiravam mais proteínas e gordura de fontes vegetais, como feijões e nozes, apresentaram uma chance 20% menor de morrer ao longo do período do que as pessoas numa dieta com alto teor de carboidratos.

Mas aqueles que obtinham a maior parte de sua proteína e gordura de fontes animais, como carnes vermelhas e processadas, tinham 14% mais chances de morrer de doenças cardíacas e 28% mais chances de morrer de câncer, segundo a análise.

O estudo, publicado no início deste mês no periódico Anais de Medicina Interna analisou dados de mais de 85 mil mulheres saudáveis, entre 34 e 59 anos, que participaram do estudo Saúde das Enfermeiras, e quase 45 mil homens entre 40 e 75 anos que participaram do estudo de Acompanhamento dos Profissionais de Saúde. Os participantes responderam a questionários a cada quatro anos.

“Se as pessoas querem seguir uma dieta de baixo consumo de carboidratos, isto pode proporcionar algum direcionamento”, disse a principal autora do artigo, Teresa T. Fung, professora associada de nutrição no Simmons College, em Boston. “Eles provavelmente deveriam comer menos carne”.

* Por Roni Caryn Rabin

domingo, 19 de setembro de 2010

Escritores clássicos para crianças
http://delas.ig.com.br/filhos/escritores+classicos+para+criancas/n1237748120192.html

Dinheiro pode sim trazer felicidade

Prosperidade viabiliza a felicidade, que está um passo além de ter a condição mínima de existência

Verônica Mambrini, iG São Paulo | 18/09/2010 07:16



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Aumentar a renda é um dos caminhos possíveis para a felicidade

Dinheiro traz felicidade? Manda buscar, segundo os bem-humorados. Os realistas também acreditam que sim, dinheiro é muito bom, e quanto mais, melhor. Enquanto isso, os idealistas não querem nem ouvir falar dessa associação. O tira-teima científico veio com uma pesquisa da Universidade de Princeton, publicado no começo do mês, que não apenas confirma a ligação entre ambos, como quantifica a renda necessária para ter um aumento na felicidade. Até US$ 75 mil em ganhos anuais, a sensação de felicidade cresce. Daí em diante, a diferença é pouco significativa – em moeda nacional, o valor corresponde a R$130 mil por ano, que dividido em doze meses equivale a rendimentos de R$10.800 por mês.

A explicação é simples: sem ter as necessidades básicas atendidas, sobram preocupações com problemas imediatos, como alimentação, moradia e saúde, e, dessa forma, é mais difícil tirar contentamento da vida, segundo Angus Deaton, economista do Centro de Saúde e Bem-Estar da Universidade de Princeton, um dos autores do estudo. Outras pesquisas confirmam essa ideia. De acordo com o Royal College of Psychiatrists, no Reino Unido, pessoas com problemas financeiros têm o dobro de chances de desenvolver doenças mentais, como depressão e ansiedade, ao longo da vida, em comparação com quem não tem. Desemprego e crises econômicas, segundo a sociedade médica, detonariam ondas de problemas mentais.

Ser feliz é um estado da alma

 
No Brasil, o Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conduziu o projeto “O que é felicidade para você”, para estudar o tema sob a perspectiva brasileira. “Na nossa pesquisa, estamos tentando delinear a felicidade do brasileiro e buscar se o dinheiro afeta o brasileiro em si”, afirma Guilherme Takamine, um dos pesquisadores. A área de estudo, chamada de Bem Estar Subjetivo, diferencia conceitos como felicidade e satisfação, que não são exatamente iguais. É preciso também relativizar estudos desse tipo, porque medem realidades sociais muito diferentes de acordo com a população e o país onde foram feitos.

Para Pedro Pires, pesquisador da UFRJ, a psicologia tem se aproximado muito do conceito oriental de felicidade, que é de um estado interior da pessoa, que pouco depende das circunstâncias. Por outro lado, a satisfação costuma ser temporária e ligada a fatores externos, como uma roupa nova ou um aumento de salário. É mais um caminho para chegar à felicidade, mas não o único, segundo Pires. “A felicidade tende a ser conceituada dentro da psicologia do bem-estar como um estado constante e interno, mas possui relação com graus de satisfação, que se relaciona também com dinheiro”, afirma. Outros elementos, como se engajar em atividades sociais ou a formação religiosa podem levar a relações diferentes com a moeda. Ações altruístas, por exemplo, proporcionariam estados mais duradouros de satisfação. “O importante é solidificar outros valores, que promovam possibilidades de satisfação e um estado de felicidade”.

Um passo além do necessário

 
Para a filosofia, a felicidade não pode ser confundida com a satisfação das necessidades. “Essa ideia faz sentido numa sociedade extremamente excludente, que vive da reprodução da miséria. A felicidade está um passo além de ter a condição mínima de existência”, afirma Dulce Critelli, professora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana. “Essas pesquisas tendem medir a felicidade em termos de saciedade, de quanto eu consigo consumir”. Não que isso seja irrelevante para Dulce. “O problema é limitá-la a isso”.

A medida da felicidade, para ela, passa por outros campos da vida humana, como a realização pessoal, qualidade nas relações com amigos e família, e a capacidade de interferência no mundo, por exemplo. “Elas não medem a capacidade de encontrar satisfação numa conversa ou no ajudar uma pessoa”, diz Dulce. Por trás dessa noção de felicidade, a filósofa acredita que esteja um ritmo semelhante ao da vida biológica, em que tudo é cíclico. Dorme-se, sente-se sono, dorme-se de novo. O consumo, assim como a necessidade de comida, é constante. Já felicidade vinda de valores subjetivos não se descarta, acumula-se, como amizades e afetos na vida da pessoa.

Conforto é satisfação

Se satisfação não é exatamente felicidade, dá para ser feliz sem estar satisfeito? “O caminho é esse: realizar aspirações sem ter problemas para pagar o dia a dia”, diz o consultor em finanças pessoais Conrado Navarro, autor do blog Dinheirama. “O grande problema é insistir em aumentar o padrão de vida artificialmente, se endividando.” Navarro cita o exemplo de pessoas que parcelam a perder de vista os sonhos de consumo para sustentar um padrão de vida artificialmente alto. “Aceitar a realidade pode ser um pouquinho frustrante no primeiro momento, mas respeitar esse limite e poupar traz uma sensação de realização maior”, acredita o consultor.
 
Nos últimos anos, o Brasil está passando por uma explosão de crédito e consumo que aumentou o acesso a bens mais básicos para a população e democratizou o conforto para a classe média. “Estamos aprendendo a consumir agora. Isso traz um desafio maior para as famílias, porque elas querem se incluir socialmente pelo consumo, e rapidamente”, alerta Navarro. “É impossível fazer decisões financeiras sem emoção, mas é preciso tentar racionalizar o compromisso desses cursos”, afirma. “Dinheiro tem que ser um instrumento de liberdade. Ter cada vez mais roupas e sapatos não faz uma pessoa cada vez mais feliz. É preciso focar no que vai trazer mais valor para a família”. Talvez, no balanço final, o dito popular mais adequado seja o que afirma que a melhor parte de ter dinheiro é não precisar pensar nele.