Antonio Carlos Abdalla, curador da mostra, fala ao iG. Veja galeria de fotos da exposição em cartaz no CCBB
Foto: Romulo Fialdini/ Divulgação
"São Paulo", 1924
“Tarsila do Amaral – Percurso Afetivo” traz ao Rio de Janeiro 85 obras, entre pinturas, desenhos, objetos e gravuras da pintora modernista que não recebia uma grande exposição na cidade há 43 anos. A ideia central para a mostra surgiu a partir da descoberta do “Diário de Viagens”, preciosidade em poder da família da artista. É documento de caráter íntimo, e possibilita essa intromissão nos aspectos mais particulares da vida de Tarsila do Amaral.
Foto: Paulo Jabur
Eliane Giardini e o curador Antonio Carlos Abdalla, na abertura da exposição
Ausência sentida, o quadro “Abaporu”, símbolo da antropofagia modernista, não está em exibição. Ele permanece no Malba (Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires). Antonio Carlos Abdalla, curador da mostra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ), conversou com a reportagem do iG. “Não era absolutamente inviável insistir na vinda do quadro. Porém, ele esteve recentemente por três vezes no Brasil e isso dificultaria um pouco as coisas”, conta Abdalla.
Filha de pianista e compositora, Tarsila teve uma infância na qual a música representou um elemento do seu cotidiano. Já adulta, foi amiga de Mário de Andrade, Villa-Lobos, Souza Lima, entre outros nomes do modernismo musical brasileiro. No dia 14 de março, às 18h30, o público poderá conhecer uma pouco mais dessa faceta da pintora, durante o concerto “Tarsila Musical”, que faz parte da programação da exposição “Tarsila do Amaral – Percurso Afetivo”, no Teatro II do CCBB Rio.
iG: Qual foi a maior dificuldade na realização da mostra?
ANTONIO ABDALLA: Foi conciliar os interesses e disponibilidades de acervos museológicos e colecionadores particulares numa única data. Além, é claro, de organizar tudo em comum acordo com o CCBB carioca. Tarsila do Amaral é das artistas brasileiras mais requisitadas para exposições nacionais e internacionais. Daí talvez por que suas mostras individuais são tão esperadas.
ANTONIO ABDALLA: Foi conciliar os interesses e disponibilidades de acervos museológicos e colecionadores particulares numa única data. Além, é claro, de organizar tudo em comum acordo com o CCBB carioca. Tarsila do Amaral é das artistas brasileiras mais requisitadas para exposições nacionais e internacionais. Daí talvez por que suas mostras individuais são tão esperadas.
iG: Consegue explicar por que Tarsila continua tão atual?
ANTONIO ABDALLA: Bem, creio que principalmente a genialidade dos trabalhos, os fatores históricos e as contingências que giram em torno de sua vida. Tarsila é tão atual quanto qualquer outro grande artista que continua despertando ao longo de décadas, séculos um interesse renovado sobre sua obra. Todo grande artista não é atual, mas atemporal. Artistas datados se perdem na história.
ANTONIO ABDALLA: Bem, creio que principalmente a genialidade dos trabalhos, os fatores históricos e as contingências que giram em torno de sua vida. Tarsila é tão atual quanto qualquer outro grande artista que continua despertando ao longo de décadas, séculos um interesse renovado sobre sua obra. Todo grande artista não é atual, mas atemporal. Artistas datados se perdem na história.
Foto: Romulo Fialdini/ Divulgação
"Paisagem com ponte", 1941
iG: Que papel de destaque ela tem na busca de uma identidade no modernismo brasileiro?
ANTONIO ABDALLA: Certa feita li que o Brasil é tão único que é o único lugar do mundo com "certidão de nascimento para o Modernismo", com hora e lugar registrados (risos). Tarsila, apesar de não ter participado diretamente da histórica Semana de 1922, acabou se integrando de tal forma com os modernistas que virou um símbolo do movimento. Ela foi, além dos outros nomes que integraram o movimento, uma ponte cultural entre o que acontecia aqui e na Europa. Tinha circulação incrível para uma mulher de sua época.
ANTONIO ABDALLA: Certa feita li que o Brasil é tão único que é o único lugar do mundo com "certidão de nascimento para o Modernismo", com hora e lugar registrados (risos). Tarsila, apesar de não ter participado diretamente da histórica Semana de 1922, acabou se integrando de tal forma com os modernistas que virou um símbolo do movimento. Ela foi, além dos outros nomes que integraram o movimento, uma ponte cultural entre o que acontecia aqui e na Europa. Tinha circulação incrível para uma mulher de sua época.
iG: O que permitiu isso?
ANTONIO ABDALLA: O talento e, sem dúvida, a personalidade e cultura que Tarsila tinha. Dizendo claramente um clichê: ela estava na hora e no lugar certos.
ANTONIO ABDALLA: O talento e, sem dúvida, a personalidade e cultura que Tarsila tinha. Dizendo claramente um clichê: ela estava na hora e no lugar certos.
iG: Houve alguma tentativa para se trazer o seu quadro mais famoso, Abaporu, à exposição?
ANTONIO ABDALLA: Sim. Não era absolutamente inviável insistir na vinda do quadro. Porém, ele esteve recentemente por três vezes no Brasil e isso dificultaria um pouco as coisas. Conscientemente fiz a opção curatorial de dar ênfase a outras obras importantes de Tarsila. Afinal, ela é uma artista que tem uma Obra, com "O" maiúsculo.
ANTONIO ABDALLA: Sim. Não era absolutamente inviável insistir na vinda do quadro. Porém, ele esteve recentemente por três vezes no Brasil e isso dificultaria um pouco as coisas. Conscientemente fiz a opção curatorial de dar ênfase a outras obras importantes de Tarsila. Afinal, ela é uma artista que tem uma Obra, com "O" maiúsculo.
iG: Sem o Abaporu, não fica faltando um traço importante do panorama de sua arte?
ANTONIO ABDALLA: Fixar a importância de Tarsila no Abapuru apenas e como fixar a importância de Da Vinci na Gioconda... e aí seguem centenas de outros exemplos. Mas o Abapuru está na mostra! Lá, entrelaçado com A Negra, na obra Antropofagia, que, ousaria dizer, é obra de imensa envergadura. Símbolo maior do modernismo brasileiro e de tudo o que aquela revolução, talvez não tão pacífica, significou para todos.
ANTONIO ABDALLA: Fixar a importância de Tarsila no Abapuru apenas e como fixar a importância de Da Vinci na Gioconda... e aí seguem centenas de outros exemplos. Mas o Abapuru está na mostra! Lá, entrelaçado com A Negra, na obra Antropofagia, que, ousaria dizer, é obra de imensa envergadura. Símbolo maior do modernismo brasileiro e de tudo o que aquela revolução, talvez não tão pacífica, significou para todos.
iG: Por que se preferiu não separar a exposição por ordem cronológica?
ANTONIO ABDALLA: Tudo começou com um mergulho na ideia da memória... O álbum é como uma coleção de fotografias, organizada emocionalmente pela memória. Com essa abertura para o aleatório, resolvi abdicar de fazer uma retrospectiva. Procurei dar um enfoque propositalmente afetivo e, assim, o visitante pode se encantar, ou não claro, com as obras livres de classificações fechadas. A exposição foi feita para emocionar.
ANTONIO ABDALLA: Tudo começou com um mergulho na ideia da memória... O álbum é como uma coleção de fotografias, organizada emocionalmente pela memória. Com essa abertura para o aleatório, resolvi abdicar de fazer uma retrospectiva. Procurei dar um enfoque propositalmente afetivo e, assim, o visitante pode se encantar, ou não claro, com as obras livres de classificações fechadas. A exposição foi feita para emocionar.
Leia também:
iG: Como veio a ideia da parte musical, sobre musicas destinadas à pintora?
ANTONIO ABDALLA: Tarsila tinha uma grande aproximação com a música. Em casa, sua mãe foi uma grande pianista e ela mesma pensou em determinado momento seguir carreira de pianista. Também tinha talento para isso, no ambiente cultural que frequentou, entre os intelectuais dos quais se aproximou, a música era parte importante. Ela acabou se tornando amiga de Souza Lima, Ernesto Nazareth, Donga, Villa-Lobos, Arthur Rubinstein, Eric satie, Milhaud... Enfim, de uma grande quantidade de compositores e intérpretes.
ANTONIO ABDALLA: Tarsila tinha uma grande aproximação com a música. Em casa, sua mãe foi uma grande pianista e ela mesma pensou em determinado momento seguir carreira de pianista. Também tinha talento para isso, no ambiente cultural que frequentou, entre os intelectuais dos quais se aproximou, a música era parte importante. Ela acabou se tornando amiga de Souza Lima, Ernesto Nazareth, Donga, Villa-Lobos, Arthur Rubinstein, Eric satie, Milhaud... Enfim, de uma grande quantidade de compositores e intérpretes.
Serviço:
Exposição - Tarsila do Amaral - Percurso Afetivo
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ)
Rua Primeiro de Março, 66. Centro. Rio de Janeiro
Tel: (21) 3808-2020
De 3ª a domingo, das 9h às 21h
Entrada franca
Concerto - Tarsila Musical
Teatro II: Quarta-feira, 14 de março, às 18h30
Entrada franca (é necessário retirar senha uma hora antes do início da programação)
Intérpretes: Adelia Issa, soprano; Anna Maria Kieffer, meio-soprano; Antonio Carlos Carrasqueira, flauta; Maria José Carrasqueira, piano; Quinteto Villa-Lobos e convidados.
Teatro II: Quarta-feira, 14 de março, às 18h30
Entrada franca (é necessário retirar senha uma hora antes do início da programação)
Intérpretes: Adelia Issa, soprano; Anna Maria Kieffer, meio-soprano; Antonio Carlos Carrasqueira, flauta; Maria José Carrasqueira, piano; Quinteto Villa-Lobos e convidados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário