Estudo é o primeiro a verificar cientificamente relação de causa e efeito entre mudança climática e crise humana em larga escala
Foto: Tony Cenicola/The New York Times
Mudanças climáticas como a pequena era do gelo poderiam estar ligadas a crises humanas, diz estudo
Marcada por guerras, inflação, fome e diminuição da população humana, os anos 1600 ficaram conhecidos como a grande crise da Europa. Mas, enquanto historiadores têm colocado a culpa dessas tumultuadas décadas na transição entre feudalismo e capitalismo, um novo estudo aponta para outro culpado: o período conhecido como a Pequena Idade do Gelo.
A Pequena Idade do Gelo freou a produção agrícola e terminou por levar à crise europeia segundo os autores do estudo que afirmam ser este o primeiro trabalho a verificar cientificamente uma relação de causa e efeito entre uma mudança climática e uma crise humana em larga escala.
Antes da revolução industrial, todos os países europeus eram basicamente agrários, e como assinalou um dos autores da pesquisa David Zhang: “Nas sociedades agrícolas, a economia é controlada pelo clima [uma vez que ele dita as condições de crescimento”.
A equipe liderada por Zhang, da Universidade de Hong Kong, se debruçou sobre os dados da Europa e outras regiões do Hemisfério Norte entre 1500 a 1800. Eles compararam dados climáticos, como por exemplo a temperatura com tamanho da população, taxas de crescimento, guerras e também outros distúrbios sociais, como produção agrícola e fome, preços dos grãos e salários.
Leia mais:
2010 iguala recorde de anos mais quentes da história, diz agência da ONU
Inverno rigoroso na Europa tem relação com aquecimento global
Os autores dizem que alguns efeitos, como escassez de alimentos e problemas de saúde, mostraram-se quase que imediatamente entre 1560 e 1660 – o período mais duro da Pequena Idade do Gelo – durante o qual o processo de crescimento das áreas cultivadas diminuiu.
Assim como a terra arável diminuiu, o mesmo aconteceu com a população europeia segundo o estudo. Os pesquisadores também constataram que no final dos anos 1500, a altura média da pessoas caiu cerca de dois centímetros, seguindo a curva de queda da temperatura, devido ao aumento da desnutrição e somente voltou a subir quando as temperaturas aumentaram depois de 1650.
Outros efeitos – como a fome, a Guerra dos 30 anos (1618-48), ou a conquista dos Manchú da China – levaram décadas para se manifestar. “A temperatura não é uma causa direta para a guerra ou para a perturbação social”, afirmou Zhang. E completou: “A causa direta para a guerra e perturbação social é o preço dos grãos. Por isso dizemos que que a mudança climática é a causa final”.
O novo estudo é uma lição de história e um alerta segundo os pesquisadores. [Conforme nosso clima muda devido ao aquecimento global] os países em desenvolvimento vão sofrer mais, por que a maior parte da população desses países depende da produção agrícola”, conclui Zhang.
A pesquisa foi publicada online pelo periódico científico Proceedings of National Academy of Sciences (PNAS).
Nenhum comentário:
Postar um comentário