Escolas americanas estimulam o fim do “melhor amigo”
Como forma de prevenir o bullying, pedagogos norte-americanos estimulam as crianças a terem um círculo maior de amizades
Camila de Lira, iG São Paulo
Duas crianças conversam, brincam e não se desgrudam o tempo todo. A cena é comum, mas agora está causando polêmica e sendo minada por pedagogos norte-americanos. Isso porque eles chegaram à conclusão de que este tipo de relação, onde há a figura do melhor amigo, pode ser destrutiva para as crianças. "Nós conversamos com os alunos e trabalhamos para que eles tenham um grupo maior de amigos, e que não sejam possessivas", declarou Christine Laycob, diretora da Mary Institute e do Saint Louis Country Day School, em St. Louis, ao jornal The New York Times.
Na reportagem do jornal norte-americano, Jay Jacobs, diretor do acampamento infantil Timber Lake, em Nova York, também defendeu a tese de que o melhor amigo pode ser prejudicial. Segundo ele, quando uma criança tem apenas um amigo, ela perde a habilidade de explorar as opções do mundo. "Além disso, pode ser devastador quando há uma briga entre as duas crianças", completa em entrevista ao jornal.
Para a psicopedagoga brasileira Carla Labaki, dificilmente uma relação de apenas duas crianças é horizontal, o que significa que uma acaba tendo o controle e o poder sob a outra. “Crianças que têm poucos amigos fatalmente enfrentam mais dificuldades em se relacionar com os demais".
Segundo os especialistas norte-americanos, ter apenas o melhor amigo não ajuda na construção da autoestima e pode fortalecer tendências possessivas em relações futuras. Mas a principal preocupação dos que defendem que a criança deve andar em grupo é o bullying. Eles justificam que os pares são frequentemente "atacados" por outras crianças. No acampamento de Jacobs, por exemplo, existem "conselheiros de amizades", que analisam as relações das crianças e agem quando elas começam a se tornar destrutivas: dividem os pares, os times e até mesmo separam os melhores amigos na hora do almoço.
"Grandes amizades não são desencorajadas, muito pelo contrário. Queremos apenas que nossas crianças não rejeitem ou excluam coletivamente seus colegas. No entanto, se percebemos que uma amizade entre duas crianças está sendo destrutiva, não hesitamos em separá-las", disse Jan Mooney, psicólogo daTown School, em Nova York, ao jornal.
A psicopedagoga Labaki afirma que esta é apenas uma forma de se prevenir o bullying, mas ela ressalta que a melhor maneira de prevenção continua sendo o diálogo constante. “É preciso ensinar às crianças sobre ética e respeito”, diz.
Suzana Leporace, coordenadora pedagógica do colégio Dante Alighieri, em São Paulo, acredita que nem sempre dá certo trabalhar com crianças em grandes grupos. "Algumas gostam de conviver com muitos amigos. Outras são mais tranquilas e preferem ter um relacionamento mais afetuoso com apenas uma pessoa. Depende muito de cada criança, e de como cada uma se desenvolve. É preciso respeitar as diferenças ", diz.
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