Perfil hormonal, resistência à camisinha e vacinação restrita as deixam no alvo da contaminação
Três características da população feminina com mais de 45 anos fazem com que elas estejam mais vulneráveis às infecções pelo vírus HPV.
Guia de exames: conheça os testes que detectam o HPV
A primeira delas é fisiológica, inerente ao processo de envelhecimento da mulher, explica a ginecologista Rosa Maria Neme, diretora do Centro de Endometriose de São Paulo e doutora pela USP.
“Com o passar dos anos, a imunidade da mucosa vaginal diminui, influenciada pelo declínio dos hormônios e da lubrificação, típicos desta fase”, diz a especialista.
Entrevista: HPV não é indicativo de traição
Este processo facilita o aparecimento de pequenas fissuras e machucados na área interna da genital, “o que serve de porta de entrada para a infecção viral do HPV”, completa a médica.
A principal via de contaminação do vírus é a relação sexual sem camisinha, sendo esta a segunda causa da maior vulnerabilidade delas na faixa-etária com mais de 40 anos.
Um inquérito feito pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde mostrou que, quanto mais velha a mulher, maior a resistência dela na hora de usar o preservativo.
Enquanto o índice de mulheres entre 15 e 24 anos que declararam usar camisinha em qualquer relação sexual foi de 34,8%, na população com mais de 50 anos a taxa registrada cai para 20,5%, 14,3 pontos porcentuais a menos. As razões por trás da resistência da mulher madura em fazer da camisinha uma constante não são poucas.
Uma delas é cultural, já que elas cresceram em épocas em que a aids, a doença sexualmente transmissível (DST) mais temida, ainda não colecionava tantas vítimas. Outra razão é a própria dificuldade do parceiro, em especial quando também tem mais de 50 anos, em manter a ereção na hora de colocar o preservativo, o que acaba influenciando no comportamento de risco de ambos.
Depoimento: Mulher, avó e HIV positivo
Além da negligência com a proteção sexual, os especialistas elencam uma terceira razão para trazer para a época da menopausa um risco aumentado de infecção pelo HPV. Ao contrário das adolescentes e das jovens adultas, as mulheres na maturidade não podem ser vacinadas contra o vírus. A imunização existente, por ora só disponível em clínicas particulares brasileiras, contempla apenas a faixa etária menor do que 21 anos, deixando as mais velhas à margem deste efeito protetor.
Danos
As três condições que colocam a mulher após a menopausa no alvo do HPV trazem outros danos adicionais. Quando não tratada corretamente, a infecção pode evoluir para o câncer de colo de útero, o segundo mais letal da mulher brasileira (atrás apenas do câncer de mama) e que só em 2012 vai fazer 17.500 novas vítimas (de acordo com a projeção do Instituto Nacional do Câncer).
Enciclopédia: Todas as informações sobre o câncer de colo de útero
Levantamento feito pelo Delas no banco de dados do Ministério da Saúde mostrou que, só nos últimos 4 anos, 68 mil mulheres com mais de 40 anos foram hospitalizadas devido a este neoplasia maligna, uma média de 1.415 pacientes por mês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário