terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Pais têm atitudes equivocadas na educação de filhos
Contradição entre discurso e ação é o principal problema, segundo pesquisadora. Pais valorizam diálogo, mas admitem punição física
Agência USP - IG

Foto: Getty Images
Pais valorizam diálogo, mas admitem punição

Pesquisa feita com 860 pais evidencia a diferença entre as concepções educativas e as intervenções concretas deles sobre seus filhos adolescentes. “Apesar de os pais valorizarem o diálogo, 69,7% deles afirmaram que concordam em punir fisicamente o seu filho caso ele faça algo muito errado”, revela Luciana Maria Caetano, professora do curso de pedagogia da Universidade São Francisco e responsável pela pesquisa.
O trabalho de Luciana faz parte de sua tese de doutorado defendida no Instituto de Psicologia (IP) da USP e mostra, por meio das respostas dos pais a questionários, as contradições na forma que eles educam seus filhos: “No discurso, eles (os pais) se preocupam em ensinar o respeito mútuo, a importância do diálogo, a arcar com as conseqüências. Entretanto, nas atitudes concretas aparecem as dificuldades.”
No caso de bater nos filhos, Luciana lembra que os pais, com essa atitude, estão ferindo a integridade física e psicológica dos jovens. Ela comenta que esse tipo de punição ensina aos adolescentes uma justiça retributiva. “Por esse conceito de justiça, os pais passam um modelo de resolução de conflitos fundamentado na violência ou troca, ou seja, os filhos pagam por aquilo que fazem. Bateu no irmão? Então será punido da mesma forma. Essa atitude se vê, por exemplo, no trânsito, quando um motorista é fechado por outro e tenta compensar tentando passá-lo depois.”
Segundo Luciana, o modelo ideal de justiça é a distributiva, que considera as condições de cada filho, com suas necessidades, suas características e suas dificuldades.
Autonomia
Além de justiça, a pesquisa analisou o que os pais pensam da obediência, respeito e autonomia na relação com os filhos. Sobre autonomia, o questionário mediu o grau de importância que os pais dão a essa concepção na educação e a participação deles na construção da autonomia moral dos filhos na adolescência.


Mais uma vez, os pais deram respostas contraditórias. Por um lado, eles consideram importante que o filho seja autônomo e apoiam questões como dar oportunidade de escolhas aos filhos, incentivar que estes tenham suas opiniões e que arquem com as consequências de seus atos. Em contrapartida, ao julgarem o ideal de como devem ser as relações de respeito com os seus filhos, 84% concordam que um pai nunca deve confiar no filho e 57,9% concordam que os pais devem dar palpite em tudo o que o filho faz.
Outro aspecto enfatizado por Luciana é a utilização da barganha pelos pais para que seus filhos os obedeçam. O recurso serve como uma espécie de troca entre pai e filho. “Podemos citar como exemplo o caso de um filho que não quer fazer lição e os pais fazem uma troca, cortando o acesso dele à internet. O problema é que o jovem não aprenderá porquê ele deve fazer a lição e se adequará as oportunidades da barganha. Adolescentes que só fazem coisas por trocas futuramente não compreenderão as razões e princípios das regras.”
Luciana ainda ressalta a importância de se construir uma reciprocidade moral nas relações familiares, o que implica em relações de respeito mútuo, cooperação e confiança. “Para isso, os pais precisam ser fonte de boas regras e exemplo para os filhos. Obedecer à autoridade por medo ou por culpa não favorece a construção da autonomia. O autônomo é aquele que age bem com liberdade de escolhas”, conclui.
Amostra

A pesquisa abordou pais (20,6%) e mães (79,4%) de adolescentes com idades entre 12 e 20 anos. Havia participantes de cada uma das cinco regiões do país (42,8% do Sudeste, 20,2% do Nordeste, 16,5% do Centro-Oeste, 11% do Norte, e 9,3% do Sul).
A amostra com os pais foi realizada no ambiente escolar (54,8% na escola pública e 45% na privada), de diferentes condições econômicas.
Na pesquisa, os participantes tinham de responder a um questionário em que atribuíram notas de 1 a 7, as quais variavam de opções com as quais eles discordaram totalmente e aquelas com as quais eles concordaram totalmente.

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