Bebês no combate ao bullying
Programa canadense adotado pelos EUA aposta na convivência entre crianças problemáticas e bebês para vencer a agressividade infantil
Livia Valim, especial para o iG São Paulo |
Vez por outra, surgem iniciativas e ideias que nos fazem acreditar novamente na bondade inata do ser humano. Assim é o projeto da organização beneficente Roots of Empathy (“Raízes da Compaixão”, em tradução livre. Site em inglês e francês). Baseado em uma ideia simples – a convivência de crianças com problemas de agressividade, desatenção ou timidez com bebês e suas mães – o projeto apresenta, ao longo de 14 anos de atividades, marcas surpreendentes: 88% das crianças que praticavam bullying (agressões contínuas, físicas ou psicológicas, para intimidar outras crianças) melhoraram seu comportamento, segundo pesquisa realizada pela psicóloga Kimberly Schonert-Reichl, da universidade canadense de British Columbia.
O Roots of Empahty promove visitas a escolas, mensais e guiadas, de bebês – que devem ter de dois a quatro meses no início do ano escolar – acompanhados de suas mães. Durante quarenta minutos, os alunos ficam em volta do bebê, que veste uma camiseta com a inscrição "teacher" ("professor"). A missão das crianças é tentar entender sentimentos, choros e vontades do bebê. O instrutor treinado pela organização serve como guia para ajudar as crianças na observação e dar nome às sensações do pequeno.
Enquanto o bebê é muito pequeno para ficar sentado, por exemplo, as crianças devem deitar a cabeça no cobertor, para entender qual é a perspectiva do recém-nascido. Aprendem também estratégias para confortar o bebê que chora e entendem que cada um nasce com um temperamento diferente, inclusive as próprias crianças e os colegas de classe. A cada mês, o bebê consegue fazer algo que não fazia na última visita, como rolar, engatinhar ou sentar. Com isso, os alunos têm uma verdadeira aula sobre seus próprios sentimentos e as necessidades e vontades do próximo. Ao final de nove meses, elas expressam maior gentileza e aceitação dos outros e apresentam diminuição das atitudes agressivas. Mas as explicações para esta virada ainda não estão totalmente claras.
Em contato com o sofrimento do outro
“Gostaria de ter tido esta ideia”, aprova o psiquiatra e educador Içami Tiba, autor de “Ensinar Aprendendo” (editora Gente) e da série “Quem Ama Educa” (Integrare Editora). “As crianças não estão sabendo como olhar para outra pessoa, pois estão mais preocupadas em serem olhadas. De repente, elas se sentem perante uma pessoa com tremenda vulnerabilidade, que precisa ser protegida. Essa sensação é muito útil para perceber que o outro sofre”, analisa.
Mas por que este efeito de compaixão não acontece, por exemplo, com a chegada do irmãozinho? Neste caso, a disputa pela atenção se sobrepõe. E o que isso tudo tem a ver com o bullying? Tudo! Os atos de violência física ou psicológica são cometidos por indivíduos que se divertem com o sofrimento de pessoas frágeis, incapazes de se defender. “Quando a criança tem a oportunidade de defender o sofrimento do próximo, vai perceber que o outro pode não estar gostando daquilo”.
Enquanto o bebê é muito pequeno para ficar sentado, por exemplo, as crianças devem deitar a cabeça no cobertor, para entender qual é a perspectiva do recém-nascido. Aprendem também estratégias para confortar o bebê que chora e entendem que cada um nasce com um temperamento diferente, inclusive as próprias crianças e os colegas de classe. A cada mês, o bebê consegue fazer algo que não fazia na última visita, como rolar, engatinhar ou sentar. Com isso, os alunos têm uma verdadeira aula sobre seus próprios sentimentos e as necessidades e vontades do próximo. Ao final de nove meses, elas expressam maior gentileza e aceitação dos outros e apresentam diminuição das atitudes agressivas. Mas as explicações para esta virada ainda não estão totalmente claras.
Em contato com o sofrimento do outro
“Gostaria de ter tido esta ideia”, aprova o psiquiatra e educador Içami Tiba, autor de “Ensinar Aprendendo” (editora Gente) e da série “Quem Ama Educa” (Integrare Editora). “As crianças não estão sabendo como olhar para outra pessoa, pois estão mais preocupadas em serem olhadas. De repente, elas se sentem perante uma pessoa com tremenda vulnerabilidade, que precisa ser protegida. Essa sensação é muito útil para perceber que o outro sofre”, analisa.
Mas por que este efeito de compaixão não acontece, por exemplo, com a chegada do irmãozinho? Neste caso, a disputa pela atenção se sobrepõe. E o que isso tudo tem a ver com o bullying? Tudo! Os atos de violência física ou psicológica são cometidos por indivíduos que se divertem com o sofrimento de pessoas frágeis, incapazes de se defender. “Quando a criança tem a oportunidade de defender o sofrimento do próximo, vai perceber que o outro pode não estar gostando daquilo”.
O especialista lembra da agressão sofrida recentemente por três pessoas na avenida Paulista, em São Paulo, quando cinco jovens de classe média atacaram as vítimas supostamente impulsionados por homofobia. Na opinião do psiquiatra, eles não deveriam ser presos, mas sim passar por outro tipo de confrontamento. “O ideal seria que eles fossem trabalhar para hospitais que recebam pacientes que ficaram do jeito que eles deixaram as vítimas. Indo para a cadeia, eles ficam mais raivosos. Para recuperar alguém assim, tem que fazê-lo entrar em contato com o sofrimento que causou”, aconselha.
Destinado a crianças desde o jardim de infância até o equivalente ao oitavo ano do ensino fundamental, o Roots of Empathy existe desde 1996 no Canadá e já atingiu mais de 325 mil crianças. Recentemente, o programa se expandiu para o Reino Unido, Nova Zelândia e Estados Unidos. Pode ser um sopro de esperança ao país norte-americano, que frequentemente se choca com os resultados do bullying. O último caso a ganhar as manchetes foi o do estudante universitário Tyler Clementi, de 18 anos, que cometeu suicídio em setembro depois de sofrer cyberbullying (bullying através da internet).
Recentemente, o Departamento de Educação dos Estados Unidos publicou um guia dirigido a escolas e faculdades para que a violência física ou psicológica seja levada a sério. As instituições que não fizerem isso podem ser responsabilizadas legalmente por ações de violência de seus alunos. No Brasil, no final do mês passado, um parecer do Conselho Nacional de Educação responsabilizou a diretora de uma escola pública em Campo Grande (MS) por bullying e racismo sofrido por dois estudantes no ambiente escolar. E no estado do Rio de Janeiro é lei: as escolas devem notificar os casos de bullying à Polícia e ao Conselho Tutelar, sob pena de multa caso não o façam.
Destinado a crianças desde o jardim de infância até o equivalente ao oitavo ano do ensino fundamental, o Roots of Empathy existe desde 1996 no Canadá e já atingiu mais de 325 mil crianças. Recentemente, o programa se expandiu para o Reino Unido, Nova Zelândia e Estados Unidos. Pode ser um sopro de esperança ao país norte-americano, que frequentemente se choca com os resultados do bullying. O último caso a ganhar as manchetes foi o do estudante universitário Tyler Clementi, de 18 anos, que cometeu suicídio em setembro depois de sofrer cyberbullying (bullying através da internet).
Recentemente, o Departamento de Educação dos Estados Unidos publicou um guia dirigido a escolas e faculdades para que a violência física ou psicológica seja levada a sério. As instituições que não fizerem isso podem ser responsabilizadas legalmente por ações de violência de seus alunos. No Brasil, no final do mês passado, um parecer do Conselho Nacional de Educação responsabilizou a diretora de uma escola pública em Campo Grande (MS) por bullying e racismo sofrido por dois estudantes no ambiente escolar. E no estado do Rio de Janeiro é lei: as escolas devem notificar os casos de bullying à Polícia e ao Conselho Tutelar, sob pena de multa caso não o façam.
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