quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

De menino, de menina
Estimular os filhos a brincar de boneca e as filhas a pilotar carrinhos incentiva a igualdade entre os gêneros no futuro
Renata Losso, especial para o iG São Paulo |

Foto: Alexandre Carvalho - Fotoarena
A psicóloga Larissa Carpintéro: tudo bem dar carrinhos para a filha e boneca para o filho

Meninas devem gostar mais de bonecas e meninos, de carrinhos. Embora seja mais comum que isso aconteça, não existe uma regra. Mas por que ainda incomoda, para muitos pais, ver seu menino brincando de boneca?
De acordo com Teresa Helena Schoen-Ferreira, psicopedagoga responsável pelo setor de Psicopedagogia do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente (CAAA) da Unifesp, a partir dos dois anos de idade da criança a sociedade já começa a dizer do que ou com o que o menino e a menina devem brincar. “Até esta faixa etária os brinquedos estão ligados ao desenvolvimento da criança. O que muda é a cor deles, como um chocalho rosa para menina e um azul para menino. Depois disso, você não costuma ver pai dando panelinha para o filho ou carrinho para a filha”, diz a especialista. E os meninos que por acaso gostam de bonecas ou de brincar de cozinhar com panelinhas? Eles acabam sendo os mais prejudicados.
“Nós estamos numa sociedade que sempre enfatiza o heterossexual, mas a mulher tem muito mais liberdade neste quesito do que o homem. Não tem problema se ela trabalha e é dona de casa, se ela usa ou não maquiagem, se ela escolhe estudar Engenharia ou Medicina. Mas não aceitam muito bem homens estudando Pedagogia ou Letras, por exemplo”, explica Teresa.
O problema dos brinquedos começa no medo que os pais – na maioria das vezes, principalmente o pai – têm do filho crescer e se descobrir homossexual. Mas os brinquedos de uma criança não irão influenciar na sexualidade dela. E, embora racionalmente muitos pais entendam isso, poucos se sentem confortáveis ao ver o filho brincando de boneca, preferindo constrangê-los – ou mesmo proibi-los.
É proibido proibir
Segundo Birgit Mobus, psicopedagoga da Escola Suíço-Brasileira, em São Paulo, muitos pais acreditam que incentivar ou simplesmente deixar os filhos brincarem com brinquedos dirigidos ao sexo oposto é como influenciá-los a serem homossexuais no futuro. No máximo, acontece o contrário: a criança já tem uma tendência à homossexualidade – o que poderá fazer com que ela se identifique mais com o sexo oposto e, consequentemente, prefira os brinquedos e atividades direcionados a tal. Qualquer que seja o caso, proibir não é nada saudável.
“Não podemos ensinar que o que é prazeroso é proibido. Pode ser que uma menina seja boa em jogar futebol, se sobressai nesta habilidade, e a mãe vai puni-la por isso?”, questiona Birgit. Segundo ela, esse veto pode afetar a formação da identidade da criança. Maria Cristina Capobianco, psicóloga especialista em comportamento infantil e adolescente, explica que o importante não é o brinquedo que é utilizado, mas a relação que seu filho ou filha terá com ele. Por isso, os pais precisam estar preparados para conversar com as crianças sobre o tipo de brinquedo que elas pedem: é importante saber porque elas querem aquele brinquedo e o que será feito com ele.
“É importante que as crianças possam explorar todo tipo de brinquedos e se imaginar nas mais variadas situações possíveis”, afirma Maria Cristina. Segundo ela, a atividade lúdica permite criar, pensar e sentir também aquilo que é vivido pelos outros e, assim, trabalhar os sentimentos conflitantes que são naturais no desenvolvimento. “A criança, quando brinca, cria situações imaginárias em que se comporta como se estivesse agindo no mundo adulto. Desta forma, seu conhecimento sobre o mundo vai se ampliando”, completa.
Hoje vou de carrinho, amanhã de cozinha
Para isso, os pais podem sim proporcionar um repertório amplo de brinquedos, independentemente do gênero ao qual eles são direcionados. É o que faz a psicóloga Larissa Carpintéro, de 33 anos. Mãe de Elis e João, ela conta que, quando a filha de seis anos era mais nova, costumava pedir que dessem a ela carrinhos e brinquedos que fogem do estereótipo feminino. “Eu queria que ela tivesse acesso a coisas diferente de bonecas, panelinhas e vassourinhas”. A iniciativa da mãe encontrava eco na menina: segundo Larissa, Elis vira e mexe se interessava por brinquedos designados aos meninos quando estava na escola ou quando ia visitar algum amiguinho.
O mesmo aconteceu com João, hoje com dois anos. Ele já se interessou pelo esmalte da irmã. E a mãe deixa que ele passe, sem problema algum: “Ele fica livre para brincar com o que tiver, seja de menino ou menina, e eu só vejo coisas positivas nisso”. Com João agora também brincando de boneca assim como brinca de carrinho, Larissa comenta ver na atividade uma maneira de ele exercitar um lado mais carinhoso e sensível, assim como Elis irá exercitar um lado mais objetivo ao se divertir com brinquedos tidos como masculinos.
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Para Teresa, essa desmistificação dos brinquedos vai além. Com o passar dos anos, os papéis sociais do homem e da mulher apresentaram algumas mudanças. Atualmente, mulher também trabalha fora de casa e homem também ajuda nos afazeres domésticos. Como, então, proibir um menino de brincar de boneca se é algo que, no futuro, poderá colaborar para o sucesso dele com os próprios filhos? Vetar as possibilidades da criança crescer com diferentes brincadeiras é um péssimo começo para uma época em que se luta pela igualdade de gêneros em diversos países. “Você tem que educar para a igualdade, então precisa existir a possibilidade de conhecer outros lados”, acredita a psicopedagoga.
Enaltecendo as diferenças
A bibliotecária Ana Marchesini tem o exemplo desta mudança dentro de casa. Ela e o marido se ajudam na cozinha e nos cuidados com o filho Guilherme, entre outras atividades. Portanto, ela não vê problema se o menino, hoje com seis anos, brinca de carrinho com o pai e, ao mesmo tempo, brinca de cozinha com panelas e fogãozinho. Mas ainda há quem veja: “Nunca me incomodei com isso, mas um amigo de meu marido nos visitou uma vez e, quando viu a cozinha de brinquedo do meu filho, disse que menino não brinca com isso”.
Segundo ela, proibir o filho de brincar do que gosta é criar problema onde não tem. O que a incomoda, no entanto, é a maneira como os outros vão ver a criança. “De vez em quando ele também brinca de Barbie com a prima e, por ser Barbie, me incomoda um pouco. Mas mais pelo preconceito que ele pode sofrer do que por qualquer outra coisa”, explica a mãe. E com razão. Fora de casa, a criança pode sofrer preconceito não só de outros adultos, mas principalmente de crianças da mesma idade. Se um menino que tem entre 10 e 12 anos não gosta de futebol, ele pode acabar sendo zombado pelos colegas da escola.
Para Teresa, a melhor forma de diminuir o preconceito em relação aos brinquedos é apresentar aos filhos todos os tipos de atividades – independentemente do gênero ao qual elas são direcionadas. Oferecer opções, sejam elas rosas ou azuis, não é condenável – muito pelo contrário. “É preciso enaltecer as diferenças”, afirma.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Estudo para decifrar o cérebro humano conta com a ajuda de moscas
Biólogos veem a criação de um atlas do cérebro da mosca como o primeiro passo para compreender o dos humanos
The New York Times |- IG
Foto: Getty Images
Imagem de microscópio eletrônico mostra a mosca da fruta, que agora tem um atlas com informações sobre seus neurônios

Pesquisadores taiwaneses conseguiram codificar cerca de 16 mil neurônios, de um total de 100 mil, no cérebro de uma mosca de fruta, ou drosófila, e reconstruir o mapeamento de seu cérebro.

Em termos similares àqueles que definem computadores, a equipe descreve a arquitetura geral do cérebro da mosca como uma composição de 41 unidades de processamento local, 58 feixes que ligam as unidades a outras partes do cérebro e seis centros.

Biólogos veem esse atlas do cérebro da mosca como o primeiro passo para compreender o cérebro humano. Seis dos elementos químicos que transmitem mensagens entre neurônios são os mesmos nas duas espécies. E a estrutura geral _ dois hemisférios com inúmeras ligações cruzadas _ também é similar.

“Acho que esse é o começo de um novo mundo”, disse Ralph Grenspan, neurobiólogo da Universidade da Califórnia, em San Diego. Agora os biólogos deverão ser capazes de comparar os comportamentos da mosca de fruta, detalhadamente estudados, com os circuitos cerebrais estabelecidos pelo novo atlas, disse ele.

O atlas é mantido num supercomputador em Taiwan, que pode ser consultado por biólogos de moscas do mundo todo. Eles também podem atualizar o atlas, subindo suas próprias imagens de neurônios de moscas. “Acho que isso irá realmente acelerar o progresso”, afirmou Josh Dubnau, neurobiólogo do Laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York.

A equipe de Taiwan é liderada por Ann-Shyn Chiang, que trabalha no projeto há uma década. Ele reuniu um grupo de 40 pessoas, que incluem programadores e engenheiros de computação, trabalhando num orçamento de aproximadamente US$1 milhão por ano.

A base do atlas é uma técnica para visualizar a estrutura tridimensional de neurônios individuais, além do núcleo da célula, seu longo axônio e as pequenas ramificações, ou dendritos, através dos quais é feito o contato com outros neurônios.

A complexa estrutura de um neurônio pode ser tornada aparente com uma proteína verde fluorescente, baseada numa usada por águas-vivas. O gene para a proteína é inserido no genoma da mosca de fruta, junto a outro gene que o reprime. Chiang desenvolveu uma técnica para suspender a repressão sobre o gene em apenas um neurônio a cada vez. Quando o gene se expressa, a proteína verde fluorescente chega a todas as partes do neurônio, definindo sua estrutura em detalhes impressionantes.

Ele também inventou um incrível solvente para tornar transparente o cérebro da drosófila. Isso é crucial para que o neurônio verde brilhante seja representado com precisão. O solvente é tão eficaz que, se um pesquisador não ficar de olho no cérebro dissecado enquanto ele está numa lâmina de microscópio, o cérebro simplesmente desaparecerá quando o solvente for adicionado, segundo Dubnau.

Cada cérebro de mosca tem tamanho e formato diferentes. Assim, a equipe de Chiang teve de definir as dimensões médias para macho e fêmea, criando um cérebro virtual com dimensões padronizadas. Em seguida, eles desenvolveram algoritmos para revisar a imagem 3-D de cada neurônio _ de forma a trazê-las ao registro com o cérebro padrão. Isso significa que todas as 16 mil imagens de neurônios, cada uma obtida de uma mosca diferente, podem ser comparadas entre si.

Em seguida, cada neurônio recebe um código de barras com as coordenadas de onde fica seu núcleo celular considerando-se o cérebro padrão da Drosophila, além de informações sobre as quais outras partes do cérebro o neurônio se conecta, e que tipo de transmissor químico ele usa.

Houve um grande contratempo quando o projeto já estava pela metade; Chiang descobriu que poderia coletar dados cinco vezes mais rápido se registrasse as imagens dos neurônios de outra maneira. “Infelizmente”, disse ele por e-mail, “tivemos de jogar todos os dados antigos fora”, embora mais de três mil neurônios já tivessem sido registrados.

Os códigos de barra dos neurônios são dados numéricos que podem ser manipulados por computador. Com 6 mil imagens em mãos, a equipe de Chiang foi capaz de analisar a arquitetura geral do cérebro da drosófila fêmea. O elemento básico, chamado por eles de unidade de processamento local, é um grupo de neurônios com interneurônios de conexão que não se estendem para além do grupo. Feixes de neurônios de maior alcance conectam as unidades de processamento local umas às outras.

As unidades de processamento local correspondem às regiões anatômicas conhecidas do cérebro da mosca. Elas são as mesmas em todos os indivíduos e lidam com tarefas específicas, como paladar ou movimento.

O cérebro da mosca acaba sendo “um sistema híbrido entre a computação em grade e um supercomputador”, afirmou Chiang. “Ele nos diz como um cérebro complexo é montado e como ele opera. Dadas as crescentes evidências de conservação em programas genéticos sustentando o desenvolvimento e as funções cerebrais, o cérebro humano tende a consistir de unidades de operações básicas similares”.

Até hoje, o único sistema nervoso explorado em mais detalhes é o do nematelminto C. elegans, outro organismo de laboratório. Mas o sistema do pequeno verme possui apenas 302 neurônios, e talvez não seja inteiramente merecedor de ser considerado um cérebro. O cérebro da mosca, com seus 100 mil neurônios, pode ser um melhor ponto de partida para compreender o cérebro humano, que possui estimados 100 bilhões de neurônios _ cada um com cerca de mil sinapses.

“A beleza deste artigo está na plenitude do que ele fez; está na presciência que foi necessária para desenvolver, ao longo de uma década ou mais, um grupo completo de novos métodos para resolver um problema visto como fundamental”, disse Dubnau, referindo-se ao trabalho da equipe de Chiang. O relato de Chiang foi publicado na última edição da “Current Biology”.

“Ontem, quase caí da cadeira”, afirmou Olaf Sporns, que projeta modelos computacionais de circuitos neurais na Universidade de Indiana. A matriz exibindo a interligação do cérebro da mosca, no artigo de Chiang, atingiu Sporns como a matriz que ele havia recentemente construído para o córtex humano.

A construção do cérebro da mosca e dos mamíferos parece seguir o mesmo princípio de “mundo pequeno”, aquele do alto agrupamento local de neurônios, reunidos com conexões de longo alcance. “Então existe uma semelhança aqui, e acho que isso se relaciona com o fato de esses sistemas precisarem cumprir metas similares”, disse Sporns.

“Agora os pesquisadores podem apontar com exatidão como as informações fluem através da rede cerebral da mosca, na busca por certos resultados”, afirmou ele.

Chiang diz que continuará construindo seu atlas até ter imagens de todos os 100 mil neurônios do cérebro da mosca, e afirma ainda não pensar em mapear as sinapses _ as precisas conexões que um neurônio faz com os outros.

Mas Greenspan diz que seria possível _ em princípio _ mapear sinapses dividindo em duas a proteína verde fluorescente usada para delinear os neurônios. Os neurônios poderiam ser obrigados a exportar as meias-proteínas a suas sinapses, e quando as duas metades se fundissem, elas brilhariam em verde e permitiriam que a sinapse fosse lida e mapeada.

Com um diagrama completo dos neurônios da mosca e suas conexões sinápticas, os pesquisadores poderiam testar suas ideias sobre como a informação flui no cérebro _ e até mesmo computar o produto que deveria resultar de certa entrada.

“Se tivéssemos um mapa celular completo e um bom banco de dados, a criação de organismos virtuais não estaria fora de cogitação”, concluiu Sporns.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Escolas federais são bons modelos, mas difíceis de replicar


Destaque em avaliação internacional, rede federal tem professores muito bem pagos, infraestrutura cara e seleção de alunos

Cinthia Rodrigues e Priscilla Borges, iG São Paulo e Brasília


Professores com pós-graduação e bem remunerados, infra-estrutura de ponta e, em alguns casos, seleção de alunos. Essa é a receita da rede federal de educação que tradicionalmente se destaca no País. No último índice conhecido em 2010, o destaque foi internacional. Os resultados dos colégios militares e institutos federais, que compõem o sistema federal, colocaram os estudantes destas escolas entre os melhores do mundo no Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa). Os desempenhos obtidos por eles foram superiores aos obtidos por França, Estados Unidos, Israel e Canadá e só ficaram atrás de Japão, Coréia, Cingapura, Finlândia, Hong Kong e Shangai.

O Ministério da Educação (MEC) fez questão de divulgar os resultados obtidos pela rede federal em separado para mostrar que o Brasil consegue oferecer ensino público de qualidade. Porém, os diferenciais deste grupo vão muito além das carências primárias da rede pública comum.

O primeiro ponto de divergência é o investimento. Enquanto o gasto médio com cada aluno desta etapa de ensino da rede pública de Estados e municípios foi de R$ 2.317 em 2009, a média de investimento por aluno nos institutos federais foi de R$ 7,2 mil no mesmo período. Nos colégios militares, o investimento foi bem maior: R$ 14 mil. Com mais recursos, essas escolas conseguem oferecer equipamentos, laboratórios, bibliotecas, computadores, aulas de dança e atividades esportivas. No caso dos institutos, formação técnica e profissional no turno contrário ao das aulas.
Professores muito bem pagos

Além disso, podem investir na formação de professores e pagar salários bem mais altos. A média de um docente da educação básica no País é de R$ 1,5 mil, segundo o MEC. Quem consegue entrar nos concorridos concursos públicos dos institutos federais começa a carreira ganhando R$ 4 mil. Um doutor chega a receber R$ 11,7 mil por mês. Os gestores da rede federal, por tudo isso, já esperavam os bons resultados.
O diretor do Instituto Federal de São Paulo, Carlos Alberto Vieira, explica que a instituição vai do ensino médio integrado ao técnico até a pós-graduação. "Os professores são contratados para o instituto e podem dar aula tanto aos adolescentes quanto no mestrado. São profissionais muito bons", explica.

Getúlio Marques Ferreira, secretário adjunto de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, foi aluno, professor e diretor de institutos federais. Ele reconhece que a valorização da carreira dos professores, que possuem planos bem definidos de crescimento e encontram boa estrutura de trabalho, é um ponto central para o sucesso das escolas federais. Mas defende que a preocupação com uma formação mais ampla é o grande diferencial da rede.

“A estrutura de laboratórios, biblioteca, quadras esportivas e de lazer permite que o aluno permaneça na escola os três turnos. A formação integral do indivíduo é o que nos orgulha. Nosso objetivo não é manter uma formação tecnicista”, ressalta o secretário.

Para o Exército, esse também é um dos aspectos fundamentais para o sucesso dos colégios militares. Os estudantes têm inúmeras atividades disponíveis, como clubes de estudo, atividades de música, dança e esportivas.

Para poucos

Hoje, há 38 institutos federais funcionando no País, responsáveis por 354 unidades acadêmicas espalhadas em capitais e cidades do interior. Segundo Ferreira, eles são responsáveis pelo atendimento de 348 mil alunos. Até 2014, a expectativa é atender 500 mil jovens.

O sistema de colégios militares é composto por 12 instituições, que ficam nas cidades de Santa Maria (RS), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Juiz de Fora (JF), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Campo Grande (MS) e Manaus (AM). Juntos, eles atendem cerca de 14 mil alunos. O calendário e a proposta pedagógica é a mesma em todos eles.

Além de pouco numerosas, essas escolas não atendem qualquer aluno. No caso dos institutos federais, há prova de seleção para distribuir as vagas que chegam a ter concorrência de 70 inscritos por vaga. “Com certeza, o fato de pegarmos os melhores tem impacto, mas acredito que ele não é maior do que a estrutura oferecida pela escola”, pondera Ferreira. Vieira concorda. "Nossos alunos da Educação de Jovens e Adultos entram sem seleção e também têm resultado diferenciado", alega.

Alunos dizem que fazem a diferença

Os alunos pensam diferente. Para a maioria, o diferencial é a seleção, tanto de professores, quanto deles mesmos. "Aqui todo mundo tem um grande interesse em aprender", comenta Laerte Vidal Júnior, de 17 anos, que estudou em escolar particular antes de ser aprovado na seleção do Instituto Federal de São Paulo. O colega Ricardo Oba Costa, da mesma idade, é uma amostra do interesse pelo conhecimento. "Estou fazendo técnico em informática para aprender mais conteúdos da área de exatas. Pretendo cursar filosofia ou sociologia e sou realmente bom nas áreas de humanas, por isso vim para cá, para me ensinarem o que eu não sei", comenta.

Os amigos Caio Nery, de 17 anos, e Carolina Costa Silva, de 18, também acham que os alunos são o grande diferencial. Os dois estudaram o ensino fundamental em particulares, e ela chegou a fazer um cursinho para passar no Instituto Federal de São Paulo. "Sempre quis o melhor. O fato de todos aqui serem inteligentes, bem preparados e interessados faz as aulas renderem mais e os professores poderem ir mais longe", avalia ela.

No caso dos colégios mantidos pelo Exército, 70% dos alunos são filhos de militares (que ainda estão na ativa) e entram sem provas de seleção. Os outros 30% são civis ou militares que precisam passar em concurso. A prioridade das vagas nas escolas é para os estudantes que são transferidos de cidade com os pais.

Perspectivas ampliadas

Para Ângela Menezes, diretora do campus de Planaltina do Instituto Federal Brasília, o papel das escolas federais mudou ao longo dos anos. Inicialmente, o objetivo era colocar jovens de baixa renda no mercado de trabalho, os ajudando a definir uma profissão. Com o destaque que a rede ganhou nos últimos anos, o público e a disputa por vagas mudaram. “Os alunos sabem que, além de sair daqui com uma perspectiva profissional, eles podem ser aprovados nos melhores vestibulares do País e continuar sua formação”, comenta.

No campus de Brasília, um dos dois cursos oferecidos na modalidade integrada com o ensino médio, o de agropecuária, não tem uma concorrência grande. Cerca de quatro candidatos disputam cada vaga. Mas a formação atrai jovens de outros Estados, como Goiás, Minas Gerais e Bahia. Quem não tem condições de se manter pode disputar uma vaga na casa do estudante local, onde receberá alojamento e alimentação.

Os 550 alunos da instituição são atendidos por 68 professores. Desse total, 27 são mestres e sete, doutores. A maioria deles só atua na escola e pode desenvolver projetos de pesquisa e extensão. O salário mínimo inicial é de R$ 2,1 mil. Os alunos também contam com psicólogo, assistente social, médico e dentista para atendê-los. Podem fazer aulas de dança, teatro, música. “O que precisamos hoje é divulgar melhor a rede. Todos os semestres sobram vagas aqui”, afirma Ângela.

Os amigos Italo Daniel da Silva, 16, Ellen Cristina Gomes, 16, Geyse Luiza Fernandes, 16, Bruno dos Santos, 16, Helinton Soares, 16, Marcelo Ricardo da Silva, 16, e Laércio Mendes, 17, escolheram fazer o ensino médio junto com o ensino técnico em agropecuária por causa das possibilidades de mercado. Alguns pensam em cuidar dos negócios da família, que é produtora rural. É o caso de Marcelo, que saiu da Bahia para estudar em Brasília.

“Acho que vamos sair à frente dos outros. A gente amplia muito nossa visão aqui e os professores são muito capacitados”, afirma o estudante do 2º ano do ensino médio. Para os jovens, a experiência prática desenvolvida desde o começo do curso favorece a compreensão, inclusive, de conteúdos teóricos do ensino médio, que talvez não fariam sentido se restritos às explicações em sala de aula.

Italo conta que dificilmente um professor falta às aulas e isso, para ele, é fundamental. “Às vezes, temos aulas até domingo”, conta. “Acho que sairemos à frente na faculdade também”, completa.
Como proteger seu filho na internet
4 a cada 10 pais acreditam saber tudo que seus filhos fazem na web, mas 62% das crianças já passaram por "experiências negativas"
Clarissa Passos, iG São Paulo |


Foto: Getty Images
Acompanhar seu filho na rede é a atitude essencial para protegê-lo

As crianças brasileiras são campeãs mundiais de tempo passado online: elas ficam, em média, 18,3 horas por semana conectadas à internet. A média mundial é de 11,4 horas por semana - 10% a mais do que no ano passado, quando a média era 9,17 horas semanais. Este e outros dados interessantes sobre a relação das crianças com a web - e o papel dos pais nesta equação - foram divulgados ontem em um relatório de uma empresa de segurança online.
De acordo com o Norton Online Family Report, realizado com mais de 9.800 pessoas em 14 países - entre eles Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, França, Índia, Itália, Japão e Reino Unido - 4 a cada 10 pais afirmam que sempre sabem o que seus filhos estão fazendo online. Um número surpreendentemente alto diante da quantidade de crianças que afirmam ter "experiências negativas" na web: 62% das entrevistadas. Será que os pais realmente monitoram seus filhos? "É possível que eles monitorem o computador de casa, mas muitas vezes as crianças acessam de locais públicos", alerta a advogada Marcela Macedo, do escritório especializado em direito digital PPP Advogados e coordenadora do Movimento Criança Mais Segura na Internet.
52% dos pais admitiram que estão conscientes das atividades internéticas das crianças somente "algumas vezes". Só 5% dos pais confessaram não ter a menor ideia do que os filhos fazem online. Mas, para as crianças, 20% dos pais não sabem de suas atividades e paradeiros virtuais.
E, afinal, o que as crianças fazem online?
Segundo as respostas delas mesmas, 83% jogam, 73% navegam pela internet, 71% fazem tarefas escolares e 67% conversam com os amigos.
Seis a cada 10 pais se preocupam com a possibilidade de seus filhos ficarem expostos a conteúdos indecentes. Eles temem, ainda, que as crianças forneçam informações pessoais demais. Uma preocupação que, para Marcela, tem muita razão de ser. "A criança pode não publicar o endereço da escola onde estuda, mas posta, por exemplo, uma foto com a camiseta do uniforme. Ela não tem experiência suficiente para filtrar aquilo que ela publica, ou para entender o risco que estas informações podem trazer", diz ela.
Experiências negativas
Na pesquisa mundial, 62% das crianças disseram ter tido experiências negativas online. 41% delas relataram ter sido convidadas a fazer parte de redes sociais por pessoas que não conheciam. 33% baixaram vírus. 25% viram imagens violentas ou de nudez e 10% foram convidadas por pessoas desconhecidas a se encontrar com elas na vida real.
As crianças reagem a estas experiências negativas de maneiras diferentes. Mais de um terço delas sentem raiva, frustração, medo e preocupação depois das experiências. Um quinto sentem-se envergonhadas, pois acreditam que a culpa pela experiência é delas.

"É fundamental que as crianças saibam que seus pais vão ouvi-las e ajudá-las a corrigir as coisas", recomenda Marian Merritt, Conselheira de Segurança na Internet da Norton, no relatório. Marcela concorda e revela a palavra-chave para que os filhos naveguem com segurança: participação. "Os pais precisam participar da vida digital dos filhos, para evitar ao maximo que as coisas ruins cheguem às crianças. O que eles acharem necessário para a segurança dos filhos, devem fazer", recomenda. É importante lembrar que os pais também devem conhecer a rede: "Não há como orientar sem conhecer", finaliza.
Dicas práticas para monitorar o uso da internet por seu filho
- De tempos em tempos, pesquise os nomes da criança em um sistema de busca, para ver o que aparece.
- Dependendo da idade de seu filho, vale ter as senhas de emails, programas de mensagens instantâneas e redes sociais das quais eles participam. Você pode criar os perfis junto a ele.
- Navegue junto à criança e estabeleça horários para o uso do computador em casa.
- Instale um bloqueador de endereços impróprios.
- Navegue sozinho, participe das redes sociais em que seus filhos se encontram, tenha perfis de programas de mensagens instantâneas. É preciso conhecer para ensinar.
- Deixe o computador de casa em um lugar de passagem, como numa mesa no corredor ou na sala.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Distração de adolescentes pode ter explicação neurobiológica
A falta de atenção típica da fase pode ser causada por fatores biológicos. Mas especialistas afirmam que esta não é a única razão
Renata Losso, especial para o iG São Paulo |
  • Foto: Getty Images
    Adolescentes nem sempre são capazes de se concentrar: condição neurológica e preguiça se confundem

    A cena é comum: você abre a porta de casa e seu filho adolescente, que deveria estudar para a prova de geografia, deixou os livros em cima da mesa e foi brincar com o irmãozinho ou zapear entre os canais de televisão. Você o chama de relaxado, o lembra de que é mais importante e invariavelmente ele diz que não consegue se concentrar. Você pode até achá-lo irresponsável, mas uma recente pesquisa britânica revela que, dependendo do caso, a neurobiologia também pode explicar o problema.
    Realizado pelo Instituto de Neurociência Cognitiva da University College London (UCL), da Universidade de Londres, na Inglaterra, o estudo publicado no Jornal da Sociedade de Neurociência indicou que o cérebro dos adolescentes está estruturalmente mais parecido ao das crianças do que ao dos adultos. “Não é sempre fácil para os adolescentes prestarem atenção às aulas, por exemplo, sem deixarem a mente divagar. Mas isso não acontece por culpa deles”, afirmou o Dr. Iroise Dumontheil, um dos autores da pesquisa, ao site do jornal britânico The Guardian.
    Juntamente à equipe de pesquisa, ele monitorou, por meio da ressonância magnética, as atividades cerebrais de um grupo de adolescentes enquanto tentavam resolver um problema matemático. No entanto, a região do cérebro chamada de córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e também pela realização de diferentes tarefas ao mesmo tempo, entre outros encargos, apresentava um nível inesperado de atividades, indicando que o cérebro estava sendo menos eficaz que o de um adulto e atuando de maneira caótica.
    Ainda de acordo com o The Guardian, a Dr. Sarah-Jayne Blakemore, líder do estudo, afirmou que a grande quantidade de substância cinzenta – corpos celulares que carregam mensagens dentro do cérebro – é a principal razão para tal movimentação no cérebro. À medida que envelhecemos, esta quantidade diminui. Mas para a psicóloga Carolina Nikaedo, especialista em adolescentes da Clínica EDAC - Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico, em São Paulo, são vários os fatores que devem ser considerados para justificar a falta de atenção.

    Tudo ao mesmo tempo
    Segundo a especialista, a região frontal do cérebro também tem uma participação muito ativa no que é chamado de capacidade de controle inibitório, que nos ajuda a focar a atenção numa palestra ou numa aula, por exemplo, e inibir outros estímulos, como pessoas conversando ou o barulho de um ventilador. “Por ser esta uma região que se desenvolve por um grande período após o nascimento, não é que a criança ou o adolescente não preste atenção em nada, mas sim pode estar prestando atenção em tudo ao mesmo tempo”, explica.
    Esta habilidade – ou a falta dela – explica também o envolvimento emocional que possuímos com uma determinada atividade, independentemente de sermos adolescentes ou adultos. “Se jogar videogame gera mais prazer a um indivíduo, ele estará liberando as substâncias desta sensação, que facilita o funcionamento da região do córtex pré-frontal do cérebro e consequentemente a inibição de outros estímulos”, revela. Portanto, se os estudos não atraem tanto o adolescente, será comum deixar os livros sempre para depois.
    Mas de acordo com Geraldo Possendoro, psiquiatra, psicoterapeuta e mestre em Neurociências e Comportamento pela Universidade de São Paulo (USP), é preciso lembrar que o processo de desenvolvimento da atenção é muito mais complexo do que imaginamos. E os aspectos neurobiológicos inclusos neste processo ainda não são inteiramente conhecidos: “até então não há certeza absoluta sobre as estruturas cerebrais de um adolescente, se já estão maduras e se as atividades já estão sendo realizadas de forma completamente adequada”.
    Na opinião do especialista, embora a estrutura que torna alguém capaz de prestar atenção ainda não esteja completamente desenvolvida, na adolescência ela está prestes a chegar ao fim. Mas há variações neste desenvolvimento: “as pessoas possuem ritmos diferentes, então algumas amadurecem este mecanismo mais cedo, outras mais tarde”. Mas segundo ele, também há uma terceira justificativa para a falta de atenção que não corresponde ao processo atencional ou à irresponsabilidade: o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
    Transtorno ou preguiça?

    Nas pessoas com TDAH, a liberação de neurotransmissores relacionados à atenção é desregulada. Isso dificulta, entre outros aspectos, a concentração. Segundo Possendoro, a primeira suspeita acerca de uma criança com TDAH costuma ser feita na escola, onde os professores observam o comportamento dos alunos diariamente. “Mas 60% destas crianças acabam melhorando espontaneamente quando chegam à adolescência”, revela ele, que ainda afirma que, para diagnosticar o transtorno, muitos critérios devem ser analisados.
    No entanto, Nikaedo lembra que os pais devem ficar atentos à irresponsabilidade e à preguiça dos adolescentes. “Este tipo de informação sobre as questões de neurodesenvolvimento se tornou acessível, então eles podem acabar colocando a culpa no cérebro, como se não tivessem controle”, explica a especialista. É preciso estar atento para não deixar que tal desculpa explique o problema sem que seja propriamente avaliada, mas também não deve ser ignorada como se o TDAH fosse apenas uma moda da modernidade.
    Tecnologia 24 horas
    Toda a tecnologia envolvida na vida atual traz um constante incentivo para que os adolescentes tenham sua atenção dividida, e não concentrada. Mas culpar somente a tecnologia não é a solução. “Se o meio exige do cérebro cada vez mais uma atenção dividida, com a televisão, o rádio, a internet 24 horas, as crianças se predispõem a isso desde cedo”, avalia Possendoro.
    Para Nikaedo, a tecnologia pode colaborar para o desenvolvimento da criança, mas as escolas precisam saber como utilizá-la. “Um adolescente que tem tudo dentro de casa pode acabar se entediando quando chega à sala de aula e senta numa cadeira dura para ficar prestando atenção somente ao professor”, completa a especialista.
    A solução, para Possendoro, é que as escolas passem a estimular a atenção focada, a capacidade de concentração das crianças. E em casa isso também pode acontecer: “é preciso proporcionar momentos cotidianos para que elas se foquem, seja conversando com os pais ou lendo um livro ao invés de estarem com milhares de janelas abertas na internet, falando com os amigos no MSN e assistindo TV ao mesmo tempo”.
    Outra possibilidade é dividir o tempo de estudo em períodos menores também pode colaborar para o maior desempenho. “Se você sentar e estudar por cinco horas seguidas, por exemplo, provavelmente três horas serão improdutivas”, diz Nikaedo. Então ela indica que a presença de intervalos a cada 45 minutos, por exemplo, pode tornar este período mais produtivo quando o cérebro ganha momentos de descanso.
Crianças X computadores: benefícios e males da era tecnológica
Manter as crianças longe do computador ou ensiná-las desde cedo? Especialistas debatem o dilema entre educação e proibição
Renata Losso, especial para o iG São Paulo
Foto: Getty Images
Criança ao computador: impossível isolá-los da tecnologia

Antigamente não tinha choro nem vela: a brincadeira fora ou dentro de casa consistia basicamente de atividades com bolas, bonecos, carrinhos e jogos como esconde-esconde. Hoje, são poucas as crianças que nunca pediram para mexer no celular da mãe ou não tentaram descobrir o que havia de tão interessante na tela do computador do pai. Mas até que ponto permitir o envolvimento com estes eletrônicos é benéfico aos filhos? Para Valdemar Setzer, professor aposentado do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP (Universidade de São Paulo), não há o que discutir: até que eles cheguem aos 17 anos, passatempos tecnológicos deveriam estar fora de questão.

“Tanto o computador como todos os outros meios eletrônicos exigem uma enorme autodisciplina e um enorme autocontrole, coisa que as crianças e jovens não possuem”, afirma o especialista, também autor do livro “Meios Eletrônicos e a Educação: Uma Visão Alternativa” (Editora Escrituras). Segundo Setzer, as crianças ainda estão desenvolvendo a capacidade de discernir o que é verdadeiro ou falso, bom ou mau, e colocá-las diante de uma tela cheia de possibilidades e informações é uma porta aberta para diferentes perigos. Mas nem todos os especialistas são tão radicais. Tadeu Terra, professor e Diretor Editorial de Mídia Digital do COC, escola pioneira no uso de computadores em salas de aula, defende que o papel dos pais é ser guia e mediador na relação com a tecnologia, e não proibidor –  até porque, segundo ele, as crianças terão contato com celulares, computadores e com a internet quer os pais permitam, quer não.

Para Setzer, o tipo de pensamento estimulado pelo computador é excessivamente exato e restrito para uma criança. “Ele prejudica a capacidade de pensar e imaginar delas, mostrando que o uso frequente do computador é um dos fatores para a piora do rendimento escolar, por exemplo”.

Criatividade em falta?


“Qualquer atividade virtual é irreal e se apresentam figuras e desenhos, não há a imaginação. Porque usar o computador se há jogos que podem ser jogados com as mãos?”, questiona Setzer. Ao contrário dele, Tadeu Terra não vê o universo virtual como tamanha ameaça às crianças. “Os jogos físicos e virtuais podem ser equivalentes: a questão está na proposta do jogo, e não no meio utilizado”, diz. Segundo ele, os pais devem pensar primeiro em quais habilidades a criança está desenvolvendo.

O pediatra antroposófico Antonio Carlos de Souza Aranha concorda com a questão levantada por Setzer. “É importante que a criança desenvolva primeiramente a criatividade e o raciocínio para depois utilizar os meios eletrônicos livremente, sem se tornar dependente da tecnologia”, acredita. As festas infantis atuais exemplificam bem o que ele quer dizer: enquanto hoje costuma haver a necessidade de um ambiente temático, além de um profissional para animar a festa de aniversário do filho, antigamente só era necessário deixar as crianças no quintal para que elas inventassem o que fazer e se divertissem. “Hoje em dia as crianças são cada vez mais consumidoras e menos criativas em todos os níveis – ação, emoção e pensamento – e isso é um grande perigo”, diz o pediatra.

No entanto, se houver uma ênfase da família em desenvolver estes três níveis de capacidade, colocar a criança em contato com o computador ou até mesmo com a televisão pode ocorrer sem malefícios. Por outro lado, se houver acomodação dos pais, a coisa muda de figura: colocar uma criança sem supervisão diante de um destes meios é arriscado.

Tecnologia 24 horas

Deixar a criança brincando no computador o tempo inteiro está mesmo fora de cogitação. De acordo com Terra, os pais devem estabelecer uma disciplina para o uso dos meios eletrônicos, e não simplesmente eliminar o computador da vida dos filhos. “As crianças já possuem uma atração muito grande pela tecnologia, a menos que você nunca a deixe chegar perto de qualquer meio eletrônico”, afirma. Contando que grande número de adultos anda para lá e para cá com celulares em mãos, este contato se torna inevitável. “Uma criança de três anos já é capaz de entrar sozinha na internet e assistir um vídeo no Youtube, então você precisa mostrar o que aquilo significa”, revela ele.
Embora os meios eletrônicos estejam espalhados por todos os lados e haja a possibilidade de serem utilizados de maneira correta por crianças e jovens, Terra ainda aponta que há riscos a serem evitados. “Como pai e educador, minha função não é a de tirar o computador das crianças, mas sim de mostrar o que significa. Senão ele vai fazer escondido”, afirma.

Evitar que um pré-adolescente crie um perfil numa rede social, por exemplo, é bastante difícil, mesmo que os pais o proíbam. A questão, portanto, é: quem irá informá-lo sobre as medidas que devem ser tomadas por questão de segurança, como por exemplo, não revelar informações pessoais? “Existem vários pais que acham que os filhos nem sabem mexer no computador, mas um dia descobrem que eles têm até perfil no Orkut. Incluir a tecnologia como algo que faz parte do dia a dia e vê-la de forma positiva é necessário”, acredita Terra.

Mas tampouco é preciso colocar um computador no quarto do seu filho para que ele não se sinta “por fora” diante dos colegas de escola. O pediatra ressalta que, junto às atividades de introdução à informática, é essencial que as crianças tenham outros estímulos: “Os pais devem se preocupar em desenvolvê-las através das artes, das atividades criativas e também das atividades físicas”. Afinal, levar somente a facilidade mecânica dos computadores em consideração não colabora para o desenvolvimento de novas capacidades. É como aprender a fazer contas direto na calculadora: você perde a aquisição da capacidade mental de calcular.

Faixa etária e autonomia

O professor Valdemar Setzer é categórico: o uso de computadores sozinho, sem supervisão dos pais, deve começar somente a partir dos 17 anos – segundo ele, a idade em que o jovem já está preparado para utilizar a tecnologia de forma saudável. O pediatra Antonio Carlos de Souza Aranha é menos radical: para ele, a partir dos 14 anos já é possível que o jovem utilize a informática com autonomia, sem a possibilidade de se tornar dependente: “Os pais são livres para educarem os filhos como preferirem, mas a criança que não desenvolver capacidades criativas poderá usar o computador para fugir do contato com o mundo – assim como algumas fogem nas drogas”.

Terra discorda. “Existem atividades educativas que as crianças de quatro anos já podem realizar no computador, naturalmente acompanhadas dos pais”, revela ele. “Mas é necessário realizar um trabalho para que ele chegue na adolescência agindo de forma segura diante da internet, por exemplo”, completa. Segundo ele, a criança entrará em contato, de uma maneira ou de outra, com a tecnologia, e terá mais interesse de descobrir o que é o plano digital. “À medida que ela for solicitando isso, os pais devem ter muita atenção: não é como deixar a criança brincando com uma bola no quintal. Os riscos que ela corre diante do computador são realmente maiores”, revela o especialista.

“A civilização não andaria hoje sem o computador, mas a criança deve passar pelas etapas que a humanidade toda já passou até agora”, resume Antonio Carlos. Ou seja: desenvolver primeiro a criatividade e o raciocínio próprios, para depois dominar uma ferramenta que é parte integrante da vida moderna – e que jamais funcionaria sem a criatividade e o raciocínio humanos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Videogame para reabilitação


Aparelho é alternativa de tratamento para pacientes com movimentos comprometidos

Bruno Folli, iG São Paulo

A sessão de fisioterapia ganha ares de brincadeira com o videogame. Os tradicionais exercícios para recuperação de movimentos são combinados com o jogo, que simula atividades de ioga e até competições esportivas.

“O Walter já é craque”, brinca Sérgio de Souza Pinto, fisioterapeuta da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo). Ele orienta o paciente Walter Oshvat, de 61 anos, a se equilibrar sobre uma plataforma branca. Seus movimentos são captados pelo aparelho e usados numa espécie de sinuca virtual, onde o jogador-paciente precisa acertar esferas dentro de uma caçapa.

“É um exercício de equilíbrio”, explica o fisioterapeuta. Os movimentos são sutis para quem vê de fora, mas exigem força e concentração do paciente, que chega a ficar ofegante. “Cansa, mas é divertido”, conta Walter – ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e perdeu boa parte dos movimentos no lado esquerdo do corpo.

“Só conseguia andar escorando nas paredes de casa e vivia caindo”, recorda. Hoje, com o tratamento, Walter já consegue andar sozinho e usa as mãos para gesticular com naturalidade enquanto fala. “Estou ótimo”, comemora.

Motivação

O videogame já está sendo usado há mais de dois anos na Unicid como complemento terapêutico. “Ele não substitui outros recursos de reabilitação, é apenas mais uma alternativa”, explica o fisioterapeuta Fábio Navarro. Ele trouxe o projeto à universidade após participar de um congresso no Exterior.

“O jogo é bom por motivar os pacientes”, explica o especialista. Algumas pessoas reclamam dos exercícios tradicionais da fisioterapia e não conseguem realizar determinados movimentos. “Mas com o jogo, elas se distraem e, sem perceber, acabam realizando o movimento. É como se o paciente se esquecesse do problema enquanto está interagindo com o game”, afirma Navarro.

Vítimas de AVC, como Walter, costumam obter bons resultados com o game. “Os exercícios são um estímulo para o controle dos movimentos”, explica Souza Pinto.

Paralisia

Quem sofre um derrame pode ter o sistema nervoso central afetado, o que prejudicará a percepção dos estímulos externos. Essa percepção é fundamental para que o corpo estabeleça seu equilíbrio e tenha controle dos movimentos.

Walter ainda tem sequelas do AVC. “Não sinto a ponta dos dedos, mas consigo mexer as mãos”, descreve. Seu fisioterapeuta explica que os danos causados pelo derrame impõem certos limites à recuperação. “O movimento pode não ficar 100% recuperado porque houve lesão do sistema nervoso”, esclarece o especialista.

A alternativa é estimular o que restou do sistema nervoso para alcançar o máximo de controle sobre os movimentos. Walter, por exemplo, anda sem ajuda de muletas ou bengalas, mas seus passos já não têm mais tanta firmeza.

Lesões ortopédicas

O game consegue resultados ainda melhores com pacientes que sofreram lesões ortopédicas, como fraturas nos membros inferiores ou superiores.

“Como não existe a limitação da lesão no sistema nervoso, a recuperação pode ser completa”, afirma Souza Pinto.

Diferente das lesões neurológicas, que requerem tratamentos de pelo menos seis meses, as lesões ortopédicas podem ser cuidadas em poucas semanas.

“O paciente precisa trabalhar a coordenação e a força para recuperar os movimentos que perdeu ao ficar muito tempo com parte do corpo imobilizado”, explica.

Esportes simulados

Na Unifesp, o Lar Escola São Francisco também tem usado o videogame para reabilitação de lesões nos membros superiores. “Usamos jogos de basquete e baseball”, conta a terapeuta ocupacional Sandra Regina de Almeida Pacini.

A vantagem do jogo virtual, em vez do jogo real, está no controle dos movimentos. “Não há risco (de novas lesões) para o paciente”, comenta. Além disso, muitos sequer teriam condições de participar de jogos reais.

Com um controle que capta os movimentos dos pacientes, o console permite inclusive jogar simulações de boliche e de tênis. “Esses jogos são bons porque exigem a repetição do mesmo movimento”, conta Pacini. Essa repetição é fundamental para o paciente recuperar a força e a coordenação do movimento. Mas a especialista alerta que o tratamento deve sempre ter acompanhamento de um profissional.

Por mais que o jogo seja originalmente um recurso de entretenimento, o estado fragilizado de alguns pacientes pode ser agravado se ele realizar tais movimentos de maneira inadequada.

No caso dos exercícios de equilíbrio, o fisioterapeuta fica sempre próximo do paciente para o caso dele cair.

“Temos que estar preparados porque isso acontece mesmo”, alerta Souza Pinto.

Já em paciente com tumor nos ossos, o que requer um longo período com o membro imobilizado, o game pode até ser contraindicado.

“O movimento pode ser muito brusco. Há casos de pacientes que sofrem fraturas ao trocar de roupas”, afirma Pacini.
O que são prebióticos e probióticos


Conheça os benefícios dessa dupla no funcionamento saudável do organismo

Thaís Manarini, especial para o iG São Paulo

Além de matar a fome, alguns alimentos têm a capacidade de promover benefícios ao organismo e, por isso, são conhecidos como funcionais. Esse é o caso daqueles que são ricos em prebióticos e probióticos.

Estes dois componentes que ganharam fama por ajudar o intestino a trabalhar sem entraves, acabando, assim, com a incômoda prisão de ventre – segundo dados da Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO), cerca de 20% da população sofrem diariamente com esse problema.

Veja a seguir, o que são e como agem os prebióticos e probióticos, onde encontrá-los e como aproveitar a propriedades benéficas de cada um.

Probióticos

De acordo com Priscila Meirelles, nutricionista funcional de Pelotas (RS), os probióticos são produtos farmacêuticos ou alimentares (podem ser encontrados em iogurtes e leites fermentados) que contêm um ou mais micro-organismos vivos, como os lactobacilos e as bifidobactérias. Depois de consumidos, esses “bichinhos” se dirigem principalmente para o trato gastrointestinal e urogenital, estimulando o funcionamento saudável dessas áreas.

“O intestino é a principal porta de entrada de nutrientes no organismo. Mas, assim como os nutrientes são absorvidos pela parede intestinal, agentes maléficos também podem entrar por esta porta. A função dos probióticos é colonizar e proteger a parede intestinal, evitando, assim, que moléculas alergênicas e micro-organismos patogênicos façam mal à saúde”, declara a nutricionista.

“Acredita-se que a presença desse exército pode evitar a formação de células responsáveis pelo desenvolvimento do câncer de cólon, por exemplo.”

Ao se integrarem à flora do intestino, deixando-a equilibrada, Vladimir Schraibman, cirurgião gástrico de São Paulo (SP), conta ainda que os “micro-organismos do bem” auxiliam no trabalho de absorção dos nutrientes, tais como ferro, cálcio e vitaminas do complexo B, entre outros.

“Dessa forma, o valor nutritivo e terapêutico dos alimentos aumenta de forma significativa”.

Para se beneficiar dos efeitos dos probióticos, basta investir no consumo de produtos que contenham estes micro-organismos. Isso pode ser feito por meio de suplementos – com indicação de médico ou nutricionista – ou de alimentos que reúnem certa quantidade desses compostos, como iogurtes e leites fermentados.

“Os probióticos normalmente precisam ser mantidos sob refrigeração constante e têm pouco tempo de vida”, ressalta Schraibman.

É preciso lembrar ainda que o consumo de alimentos fontes de probióticos deve ser diário para garantir o aumento do batalhão de defesa. E tem mais: para fortalecer esses micro-organismos, tornando-os cada vez mais atuantes, é bom caprichar também na ingestão de algumas substâncias especiais, chamadas prebióticas.


Prebióticos

Segundo Mônica Dalmacio, mestre em nutrição pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e co-autora do livro Alimentos e sua ação terapêutica (Ed. Atheneu), os compostos prebióticos são fibras não-digeríveis que funcionam como alimento para as bactérias intestinais benéficas, isto é, os probióticos – daí a importância de apostar na dupla para reorganizar a flora intestinal.

Os representantes mais conhecidos desse grupo têm nomes complicados: frutooligosacarídeos (FOS) e inulina. Mas o que interessa mesmo é que eles podem ser facilmente encontrados. Os FOS, por exemplo, estão concentrados em alimentos de origem vegetal que podem ser comprados na feira ou no supermercado, como cebola, alho, tomate, banana, cevada, aveia, trigo, mel e cerveja. Já a inulina está presente principalmente na raiz da chicória, e também no alho, na cebola, no aspargo e na alcachofra.

“Além de ajudar no sistema imune, atuando com os probióticos, esses elementos auxiliam nas funções intestinais, evitando a constipação, e reduzem a absorção de gorduras e açúcares”, conta Mônica.

Pesquisas recentes mostram que a inulina tem a capacidade de aumentar a absorção de cálcio e de magnésio pelo organismo.

“O cálcio é importante na prevenção de doenças ósseas, como a osteoporose, e o magnésio atua diretamente na contração muscular”, comenta a nutricionista de Pelotas.

Para notar benefícios, os alimentos ricos em pré-bióticos devem ser consumidos diariamente. Mas é válido frisar que pessoas com problemas intestinais não podem cometer exageros!

De acordo com Ruth Clapauch, vice-presidente do departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), nesses casos o consumo de fibras pode resultar em diarreia ou flatulência. “A dica é acertar na dose”, diz. Outra recomendação é beber bastante água, já que o líquido ajuda na formação e eliminação do bolo fecal.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Poucas mulheres conhecem o vaginismo
A disfunção impede a penetração e causa sofrimento, porém poucas buscam ajuda
Portal IG
Eu tive um relacionamento de 10 anos e, durante todo esse tempo, nunca consegui ter uma relação sexual completa, com penetração. Hoje estou separada e tenho medo de começar um novo relacionamento e o problema se repetir. O que devo fazer?
A dúvida da leitora reflete um problema que atinge aproximadamente 6% da população feminina: o vaginismo. Ao contrário do que muitos acreditam, essa disfunção sexual ainda é bem pouco conhecida da maioria, e talvez por isso as pessoas não busquem o tratamento adequado.
Algumas comunidades de apoio já se formaram em torno do drama feminino. Existem blogues, por exemplo, que alertam sobre o sintoma e oferecem ajuda a partir da troca de experiências.
Os primeiros sintomas do vaginismo geralmente aparecem no início da vida sexual, marcando assim a experiência do coito pelas dores devido a impossibilidade total ou parcial da penetração. Isso tudo porque os músculos que estão ao redor da entrada da vagina se contraem independente da vontade da mulher. Como consequência, sua trajetória com experiências dolorosas provoca comportamentos evitativos para novos encontros sexuais ou relacionamentos amorosos.
Na maior parte dos casos, a origem é de ordem psicológica: aspectos da feminilidade; culpas (principalmente de origem religiosa); medo da intimidade; dificuldade para receber carícias ou toques; traumas de infância; fantasias ou situações reais de abuso, violência física e/ou psíquica, entre outros.
O fato é que os relacionamentos ficam comprometidos e a mulher deixa de viver sua sexualidade de forma plena, além de experimentar sentimentos e fantasias vão além da sexualidade, como solidão, ansiedade, angústia, inadequação por não ser “normal”, fantasias de rejeição no meio social e familiar, falta de confiança em si e nos outros, baixa autoestima, autoimagem desvalorizada.
Outro problema enfrentado é o exame ginecológico de rotina em que se observam reações de “defesa” da paciente com a aproximação do médico, pela expectativa do toque, podendo provocar contrações até severas e prolongadas. Nestas tentativas frustradas do exame, não é difícil ouvir do médico a seguinte frase: “Isso não é nada, na próxima relação sexual é só relaxar que você consegue”. Como se ela já não tivesse tentado inúmeras vezes inclusive durante o exame – e sem sucesso.
Outras propostas de tratamento oferecidas por alguns profissionais são: a) o corte em cruz nos músculos do intróito vaginal com prescrição de coito diário; b) o método de alargamento em que o médico introduz o espéculo na vagina da paciente e deixa por alguns minutos. Ambos são dolorosos e ineficazes.
Em função de todo esse quadro indico a você e a todas as mulheres afetadas pelo vaginismo a procura de uma terapia sexual cuja proposta de tratamento oferece excelentes resultados. Sem o devido tratamento suas chances de viver o mesmo problema são enormes.
Para os que desejam saber mais a respeito indico meu livro:
"Vaginismo, Quem Cala Nem Sempre Consente...!!! Descubra-se e vença seus medos"
110 páginas; Editora Biblioteca 24x7
Autores: Fátima Protti e Oswaldo M. Rodrigues Jr.

Competências e Habilidades



Competências e Habilidades - Video


Timidez e isolamento social podem trazer
prejuízos à vida pessoal e profissional.


Em nossa sociedade, muitas vezes as pessoas com maior habilidade de comunicação acabam tendo melhor desempenho em sua vida pessoal e profissional. Indivíduos com características como timidez e isolamento social podem apresentar um repertório pobre de habilidades sociais, além de dificuldades na conversação, na expressão e nas interações, e consequentemente, acabam demonstrando insegurança e desconforto nos contatos sociais, nos quais necessitam falar de si, expressar afeto ou desagrado, defender seus direitos e/ou lidar com a crítica dos outros.


Precisamos então, antes de dar continuidade a essa reflexão, definir habilidades sociais e o que significa ser uma pessoa socialmente habilidosa. Certamente muitas pessoas podem ter uma tendência a representá-la a partir de um sentido normativo de “boa educação” ou de cumprimento de rituais formais de uma convivência social, relacionando essa expressão com uma compreensão equivocada de termos como “traquejo social”.


Para melhor compreensão do seu real significado, o termo habilidades sociais, escrito no plural, pode ser aplicado aos diferentes tipos de comportamentos sociais de um indivíduo. Esses comportamentos podem ser: iniciar, manter e finalizar conversas, pedir ajuda, fazer e responder perguntas, fazer e recusar pedidos, defender-se, expressar sentimentos, agrados e desagrados, pedir mudança no comportamento do outro, lidar com críticas e elogios, admitir erro e pedir desculpas, escutar empaticamente, entre outros.


De forma resumida, podemos definir esse termo como a habilidade para lidar satisfatoriamente com as mais variadas situações sociais: trabalhos em grupo, contatos telefônicos ou virtuais, falar com o chefe, convidar alguém para sair, ser convidado para sair, iniciar um namoro, ajudar um amigo em necessidade, pedir ajuda e mil outras situações. Significa também poder expressar o que se pensa e sente de forma coerente e respeitando os outros.


Tais comportamentos contribuem para a competência social, auxiliando as pessoas a terem um relacionamento mais saudável e produtivo. Competência social é aqui descrita como uma capacidade de desenvolver pensamentos, sentimentos e ações tendo em vista objetivos pessoais, da situação e da própria cultura, os quais trazem conseqüências positivas tanto para a pessoa quanto para sua relação com os outros. Desempenho social, por sua vez, diz respeito a todo tipo de conduta emitida no relacionamento com as demais pessoas.

 
E o que se espera de um indivíduo socialmente habilidoso? De uma forma simples, se espera apenas que saiba quando, onde e como se comportar de maneira adequada. Porém, quando essa habilidade apresenta-se pouco desenvolvida, tendemos a nos comportar de forma passiva, aceitando o que nos é imposto, não estabelecendo limites e deixando que os outros decidam por nós. Muitas vezes, as pessoas que têm pouca habilidade social, podem também ter problemas psicológicos como timidez excessiva ou fobia social, depressão, síndrome do pânico, dificuldades sexuais e outros.


Aprender a ser socialmente hábil significa, muitas vezes, aprender a se prevenir contra transtornos psicológicos. No momento em que os indivíduos conseguem ser socialmente habilidosos, isso pode auxiliar na prevenção e redução de dificuldades psicológicas. Mas aprender essas habilidades, entretanto, nem sempre é uma tarefa fácil e, muitas vezes, necessita auxílio de um profissional especializado.


E aqui podem surgir dúvidas. É possível minimizar a timidez, melhorar nossas relações sociais e desenvolver tais habilidades? A resposta para essa questão é que indivíduos que apresentam dificuldades voltadas ao campo dos relacionamentos sociais devem buscar a ajuda de profissionais da área da saúde mental, os quais podem se utilizar de inúmeras estratégias, entre elas o Treinamento em Habilidades Sociais, para auxiliá-los na aquisição de maior competência interpessoal e individual em classes específicas de situações. Esse aprendizado de novas habilidades interpessoais pode, então, capacitar os indivíduos para serem assertivos na defesa de seus direitos, promovendo interações sociais mais satisfatórias e propiciando uma melhor qualidade de vida.