quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Recicle suas metas para 2012



Está terminando o ano com algumas metas que não foram cumpridas? Saiba o que fazer com elas



Livia Valim e Paulo Alves para o iG São Paulo 


 
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Foto: Thinkstock/Getty Images
Como definir, estabelecer e atingir suas metas em 2012

Fim ou início de ano são os momentos mais propícios para determinar objetivos de vida, não é? Somos inundados pela sensação de fim de um ciclo e de recomeço que nos obriga a refletir sobre nossos desejos e sonhos para o futuro.

O problema é quando várias metas que foram estipuladas um ano antes continuam no mesmo lugar onde nasceram: apenas na imaginação.

Aí o sentimento bom de ‘construir o futuro’ dá lugar à sensação de fracasso.

“É necessário compreender e aceitar que podemos não conseguir tudo o que queremos, que podemos ter errado, que nos enganamos, nos decepcionamos e magoamos os outros”, diz o psicólogo clínico Gustavo Aurélio Tabosa, de São Paulo.

Aceitar nossas falhas e limites é essencial. Igualmente fundamental é saber identificar o que deu errado. Estabelecer metas é um exercício de foco e priorização. Precisamos escolher entre tantos sonhos e desejos, aquele que vamos perseguir para conseguir realizar.

Por isso, a pergunta que os especialistas fazem é: se você resolveu estabelecer determinada meta o que o impediu de atingi-la?

E segundo eles, são duas as razões que explicam as metas abandonadas no meio do caminho: planejamento errado ou execução problemática.

A etapa de planejamento começa exatamente no começo: como determinar qual é a sua meta

E a primeira regra é: uma meta que não depende de você para ser atingida não é uma meta.

“A sorte pode até estar envolvida, mas não deve ser decisiva. O empenho e a dedicação precisam ser fundamentais para a concretização de nossos objetivos”, ensina Gustavo.

A estudante de direito Ana Carolina Carmo, 20 anos, leva esse conselho à risca. Suas metas, todas cumpridas em 2011, eram de se dedicar mais ao trabalho e aos estudos. E foi exatamente o que ela fez. 

“Sempre defino metas para eu mesma cumprir, como ser mais organizada, por exemplo. E em 2011 consegui cumpri-las muito bem”.

Agora, não se engane achando que a maioria dos seus desejos dependem de ordem divina. Para encontrar um namorado, por exemplo, você precisa frequentar os lugares certos e se mostrar disponível para tal.

O life coach de São Paulo Douglas Ferreira montou um esquema que vai ajudar você a criar e a definir direitinho suas metas. Pegue já papel e caneta e comece a lista!
  • O quê? Descreva exatamente o que você quer para seu futuro. Não seja vago. Desejar um emprego, por exemplo, é diferente de desejar um emprego X, na empresa Y, com um salário Z. “Quanto mais específico você conseguir ser na formulação, mais sucesso terá na realização”, garante Douglas. 
  • Por quê? Ao responder isso, você determina quais são os reais motivos do seu desejo. Quando as razões são muitas, mais motivação você terá para realizar um desejo. Por outro lado, nesse ponto do processo você pode descobrir que aquele objetivo nem é tão importante assim e pode ser deixado de lado. 
  • Como? Essa é a parte mais importante da definição da meta. “Nessa etapa, constrói-se um planejamento para alcançar o objetivo”, diz o especialista. Descreva tudo o que está ao seu alcance para facilitar o caminho. De novo, quanto mais específico e detalhado for seu planejamento, mais chances você tem de que ele seja realizado. 
  • Quando? “Uma meta sem data de conclusão nunca será realizada”. Não basta escrever que você vai chegar onde quer em 2012, defina o mês, dia até, se for o caso! “Próximo ano” é uma expressão proibida, pois esse dia nunca chega, sempre será o próximo.

A hora da execução: depois de definir a meta mexa-se para alcançá-la

Deixe sua lista em um local acessível, como no criado-mudo ou na porta da geladeira. Sempre que possível, antes de dormir, por exemplo, releia e analise se está progredindo e se está conseguindo fazer os esforços necessários para conquistar seus objetivos.

“Algumas pessoas até acham que se comprometem, mas nunca conseguem dar o pontapé inicial no planejamento, ficam postergando indefinidamente o dia de começar de fato a fazer o que se propuseram a fazer. Quando percebem, o tempo se foi junto com as possibilidades do que fora planejado”, conta Gustavo.
Observe se isso acontece na sua vida. Se for esse o seu caso, formou-se um padrão de comportamento que precisa ser quebrado.

“É necessário desenvolver um sentimento de urgência e não permanecer no hábito de adiar os planos”, completa.

Um bom exercício para perceber se você é um adiador compulsivo, é escrever uma carta para si mesmo no último dia do ano, descrevendo suas metas. Ponha num envelope, cole e só abra no último dia de 2012. Cheque se conseguiu atingir suas realizações ou se as está deixando para amanhã.
 Mas como descobrir se é fracasso ou adiamento? A estudante de publicidade Vitória Liao, 20 anos, cumpriu algumas metas em 2011, mas deixou outras para 2012, sem grilos. “Fiz muita coisa que queria, como viajar e começar a trabalhar. Mas outras vou renovar para 2012. Pretendo emagrecer e fazer mudanças radicais na minha vida”, conta.

É esse o espírito: não cumpriu toda a lista em 2011? Recicle as metas para o ano que está chegando. “Não ter realizado uma meta não é sinônimo nem de fracasso nem de desistência. Pode ser apenas um indicativo de que o caminho que tomamos não é o ideal”, explica Gustavo.
 Repense, reavalie as ações desenvolvidas para a realização desse objetivo que não deu certo e estabeleça novas estratégias. Claro que você pode chegar à conclusão que não vale a pena insistir, mas só se você perceber que a meta perdeu sua importância. “Não existem metas impossíveis, o que existe é falha no planejamento”, promete Douglas.

Muitos dizem que preferem não estipular objetivos, para deixar a vida seguir seu curso. Se você pensa assim, analise se não é simplesmente o medo do fracasso falando mais alto.

“Estabelecer metas é o primeiro passo para alcançar aquilo que queremos”, acredita Gustavo. Quando estabelecemos objetivos, indiretamente começamos a nortear e a focar nossos pensamentos e ações no sentido da sua realização. Se não temos um norte na vida, ficamos perdidos e não conseguimos aproveitar ou mesmo perceber as oportunidades que batem à nossa porta.

“Determinar um objetivo é dizer a nós mesmos e aos outros que estamos definindo um ponto atual onde estamos e compartilhar para onde desejamos ir”, lembra Douglas.

E não basta definir as metas para 2012. Aproveite esse finalzinho de ano para definir também onde você pretende estar nos próximos cinco e dez anos. Acredite nos seus sonhos e injete o otimismo que vai permear sua vida em todos os anos incríveis que estão por vir!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os perfis masculinos mais comuns em sites de relacionamento


Estelionatário, bonzinho ou impotente: socióloga aponta as principais características dos homens que buscam uma parceira na rede

 

Andrea Giusti, iG São Paulo




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Foto: Thinkstock/Getty Images
Esconder a personalidade durante a conquista online é quase unanimidade


Quem resolve aderir aos sites de relacionamento precisa estar preparado para algumas surpresas. O conselho é da socióloga Cris Celentano, autora do livro “Namoro na rede – Será que dá certo?” (172 páginas). Esconder a personalidade durante a conquista online é quase unanimidade e raramente é possível confirmar a veracidade de algo que é dito, segundo ela.

Durante dois anos, Cris usou a ferramenta em busca de um novo parceiro. As experiências vivenciadas neste período resultaram em seu livro onde ela analisa os perfis masculinos mais frequentemente encontrados na rede. Os bem intencionados são raros comparados com os que desejam apenas sexo ou tenham algum interesse financeiro.

A autora lista algumas dicas para se livrar da lábia dos impostores e ter sucesso durante a procura. “A mulher precisa tentar checar as informações na internet e ter um contato pessoalmente. Também tem que ter cuidado com as frases feitas e as grandes promessas. Uma desilusão pode causar grandes danos à autoestima dessa pessoa que já está carente”, conta.

Com a ajuda da socióloga, fizemos uma lista com os seis tipos de usuários mais comuns em sites de relacionamento:

Os que querem sexo
‘Uma noite de sexo e nada mais’ é o principal motivo que leva os homens aos sites de relacionamentos, segundo Cris. Muitos deles são casados e usam a ferramenta para se aventurar, já com o objetivo de trair a mulher. Costumam falar frases de efeito e palavras ousadas, incitando a sexualidade. “Esse tipo de homem leva a conversa para a webcam, aparece sem camisa, chama a mulher de gostosa e chega a ficar excitado”, explica.
Dica da autora: não se deixe levar pela empolgação e cuidado com o excesso de intimidade!

Estelionatários

Interesseiros, os estelionatários estão prontos para dar o golpe. Aparentam ser bem sucedidos, falam de bens pessoais, viagens ao exterior e esbanjam cultura, mas tudo não passa de uma mentira. O jogo faz parte de um plano para adquirir confiança e encontrar uma pessoa da mesma classe social que ele finge ser. “O estelionatário descobre todas as posses da mulher e fecha o cerco”, alerta. Os estelionatários não procuram apenas dinheiro. Eles também tentam se aproveitar de contatos e oportunidades de negócios que a mulher possa proporcionar. “Enganam até três de uma vez”, diz.
Dica da autora: desconfie de pedidos de favor. Principalmente se envolver dinheiro!

 

Foto: Divulgação Ampliar
Cris Celentano analisa os perfis mais comuns na rede

Depressivos, impotentes ou fracassados

São homens inseguros que buscam atenção de uma mulher carente. Querem impressionar com o carro, bons restaurantes, presentes e precisam se autoafirmar com frequência. “Os três tipos são galanteadores e mentem com o objetivo de demonstrar superioridade”, conta a socióloga. Esse tipo de homem costuma ficar incomodado com a solidão, mas não demora muito para sumir e largar a mulher na mão sem nenhuma explicação.
Dica da autora: não se iluda com agrados exagerados!

Bonzinhos
Verdadeiros desde o primeiro contato, os bonzinhos mostram logo de cara o interesse em encontrar uma parceira e criam um vínculo particular. Falam sobre preferências, o que pretendem fazer no final de semana, as habilidades na cozinha e a rotina dos filhos. São assuntos de extrema intimidade que, inclusive, ele trata através do email pessoal, e não pelo contato do site de relacionamento. São considerados raridade entre os usuários e possuem dezenas de outras mulheres investindo na conquista.
Dica da autora: vale a pena ficar de olho!

Estrangeiros

Os gringos aparecem cheios de mentiras, promessas de uma vida melhor e mudança de país. Geralmente não possuem fotos e usam a fragilidade das mulheres para contar uma história comovente e alcançar seu objetivo. “Ele fala que é viúvo e agora busca uma brasileira pra ser feliz. Que mulher não quer morar na Europa? Mas são todos golpistas, pedem dinheiro com a desculpa de viajar para se encontrarem. A mulher deposita porque já está envolvida e fica no prejuízo”, explica Cris.
Dica da autora: não ouse abrir a carteira!

Tímidos ou feios

Não costumam incluir foto no perfil. É o grupo de homens que se considera feio ou que usa a internet como um meio de chegar até as mulheres, já que a timidez não permite esse encontro real. Inseguro, costuma mentir bastante - principalmente em relação ao físico – e, por isso, adia o primeiro encontro até onde pode. “É aquele cara desfavorecido, nerd, sem sorte e que não sabe se relacionar. Fica mais corajoso atrás do monitor”, conta.
Dica da autora: questione quem parece ser invisível!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Reconheça os sinais da depressão


Embora o período seja de alegria, algumas pessoas, expostas a fatores de risco, podem se sentir deprimidas

 

The New York Times 
 
 
 
Foto: Thinkstock/Getty Images Ampliar
O período de festas pode não ser tão feliz para algumas pessoas


A temporada de festas e férias costuma ser de alegria. Mas para muita gente o período pode levar à depressão.

"A proximidade das festas de final de ano pode causar a chamada depressão sazonal. Muitas pessoas se entristecem com a lembrança de entes queridos que já se foram e outras se sentem frustradas por não terem realizado os sonhos planejados", diz o cardiologista Roque Savioli, supervisor da Divisão Clínica do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP.

É natural que nessa época do ano, explica o especialista, os profissionais estejam no limite do estresse, sentindo-se mais cansados do que o normal.

"Algumas pessoas conseguem superar as decepções e a tristeza, depositando no ano que se inicia novas esperanças. Mas existem aquelas que acabam adoecendo e entrando em depressão."

A Clínica Cleveland, nos Estados Unidos, menciona alguns fatores de risco que podem levar algumas pessoas a sentirem-se deprimidas nos feriados. São eles:

- Entrar em férias com problemas familiares para resolver ou lembranças dolorosas

- Obrigar-se a se sentir feliz.

- Lidar com a perda de um ente querido ou passar as férias longe de amigos e familiares.

- Desenvolver expectativas irreais ou pensamentos negativos durante o ano que passou.

- Lidar com mudanças na família, como divórcio ou morte.

- Exagerar no álcool durante o período.

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domingo, 18 de dezembro de 2011

Solidão ou solitude?




Estar desacompanhado pode ser o céu ou o inferno: depende da disposição para se encontrar consigo mesmo

 

Verônica Mambrini, iG São Paulo

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Solidão ou solitude?Estar desacompanhado pode ser o céu ou o inferno: depende da disposição para se encontrar consigo mesmo
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Solidão ou solitude?Estar desacompanhado pode ser o céu ou o inferno: depende da disposição para se encontrar consigo mesmo
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“Uma viagem solitária faz você ficar mais próximo de si mesmo. E ainda que você esteja num local deserto, o sentimento de solidão fica longe”, diz o ex-advogado Arthur Simões, 29 anos. Ele sabe do que está falando: por 3 anos e dois meses, pedalou pelo mundo. Foram 35 mil quilômetros percorridos e uma boa parte do tempo, Arthur esteve sozinho. “Atravessei regiões desérticas ou mesmo países em que não cruzava com pessoas que falassem qualquer um dos idiomas que eu conheço. No Atacama, passei dias e dias sem ver ninguém”, conta.


Foto: Arthur Simões
Arthur Simões em Bolívia, no Salar de Uyuni. Nos três anos da viagem,
ele passou longos períodos sem companhia
Acostumado a praticar ioga e meditação, ele garante que foi tranqüilo. “Uma viagem solitária inevitavelmente leva você para um mergulho interior. E as pessoas nem sempre estão interessadas nesse tipo de questionamento. O mundo vira um espelho onde você vê o seu reflexo”, afirma.

Esse sentimento experimentado por Arthur dificilmente se assemelha com nossa visão de senso comum de solidão, mas se aproxima da definição que o Dicionário Houaiss dá de “solitude”, uma variante da palavra ‘solidão’, com foco nos seguintes aspectos: retiro, isolamento, privacidade, reclusão, mas sem sofrimento ou angústia. 

Na volta da viagem, em 2009, Arthur levou cerca de um ano para se readaptar à rotina, restabelecer amizades, contatos, rotinas. “Talvez minha viagem tenha sido solitária para eu descobrir que o bem mais precioso são meus amigos.” É como se os períodos de solidão ajudassem a viver melhor na companhia dos outros.


Para Hélio Deliberador, professor do Departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade de São Paulo, é necessário e saudável estar só. “É uma condição humana essencial. São momentos em que você é retirado da situação peculiar dos homens que é de ser com os outros”, diz. “A gente nasce ligado ao outro, somos gestados dentro de alguém, ligados pelo cordão umbilical. Mas no momento final da vida a gente faz o caminho contrário, em direção à morte, que é solitário”, diz. Esse tipo de solidão, contudo, é diferente, do estado de isolamento ou de alheamento, por retraimento ou inibição, que gera sofrimento.

Mesmo em tempos de redes sociais com centenas de amigos e excesso de estímulos e informação, o sentimento de solidão bate forte nessa época do ano. 


Leia mais:

20 coisas legais para fazer sozinha
A obrigação de ser a pessoa mais feliz do mundo
Ser gentil faz a diferença

“Isso acontece porque vínculo significa qualidade, não quantidade”, afirma Deliberador. “Na internet, por exemplo, posso ter uma rede de amigos extensa, mas não significa que eu tenha um contato qualitativamente saudável com o outro.” Ou seja, não é o número de pessoas ao redor que define se alguém é ou não solitário, mas a sua capacidade de criar vínculos.

Estar sozinha foi uma experiência tão boa para a doutoranda em lingüística Maíra Avelar, 27 anos, que ela vive agora o dilema contrário: como lidar com a divisão de espaço. 

Depois de morar sozinha por 4 anos, casou-se e está aprendendo a se adaptar ao outro. “Eu preciso muito da minha privacidade, adorava morar só”, conta. “Para quem nunca teve o sonho de se casar e nunca viu casamento como realização, é difícil abrir mão de ser sozinha”, afirma. “Eu sou bem sociável, tenho muitos amigos e não fico isolada, mas preciso muito do meu tempo e de espaço para estar comigo”, diz.

Casada há 3 meses, Maíra está se adaptando à convivência intensa, já que, além de viverem juntos, ela e o marido trabalham em casa, num home office.

Embora curta estar só, ela reconhece que não é para qualquer um. “Sozinho, você tem que se confrontar consigo mesmo. Pensar sobre sua vida fica inadiável e não tem em quem descontar frustrações”, afirma. 

“É um tipo de solidão muito positiva, que leva você a se reconstruir e a enxergar o seu papel nas relações em que vive. A gente não é nem um pouco estimulado a isso. No geral, as pessoas têm tanto medo de ficar sozinhas que nem experimentam.”

A psicanalista Diana Corso lembra que a solidão é uma experiência recente na história da humanidade. “Se sentir sozinho depende de se sentir isolado do contexto. No mundo pré-individualismo, não existia isso. Você estava o tempo todo com Deus, com a família”, afirma. 

Ela define a solidão como essa sensação de não ter importância, de não ter um lugar no mundo ou no coração dos outros – até a crença em um anjo da guarda, por exemplo, cria uma sensação de amparo. “A ideia de transcendência faz você se sentir menos só.”

A experiência de estar sozinho se torna incômoda justamente por nos colocar em contato com o que temos de repertório interior. Num mundo acelerado e repleto de estímulos de consumo é fácil sentir que temos pouco. “A sensação que se tem é de constante insuficiência. Como se o que temos por dentro não fosse validado pelo mundo, como se fosse muito pouco”, lembra Diana.

Não à toa, muitas pessoas não conseguem se desligar das redes sociais, do celular, da presença constante de amigos e da família nem mesmo para atividades prosaicas, como ir ao cinema ou fazer uma refeição. Assim como a psicoterapia, a solidão é um exercício de aprender a valorizar o que se tem. Melhor ainda se ela for uma pausa para o retorno ao estado de estar junto, como acredita Deliberador.

“Pela nossa natureza, temos sempre outros no cenário, é da nossa natureza construir relações de amor e amizade. Não tem sentido uma festa que a pessoa faz para ela mesma.” Mas a festa é melhor quando a casa está arrumada. 


sábado, 17 de dezembro de 2011

Nos EUA, colégios militares também se saem melhor em provas




Avaliação americana destaca resultado de escolas para filhos de militares. Lá, motivo parece estar ligado a menor foco em testes

 

The New York Times - IG



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Os resultados do programa de testes educacionais federais dos Estados Unidos de 2011, conhecidos como Avaliação Nacional do Progresso Educacional, ou Naep, na sigla em inglês, foram divulgados. E mais uma vez, as escolas de bases militares do país superaram as escolas públicas tanto nos testes de leitura quanto de matemática da quarta a 8ª série do ensino fundamental.


Nas escolas de bases militares, 39% dos alunos da 4ª série obtiveram notas que determina sua proficiência na leitura, em comparação com 32% de todos os alunos de escolas públicas. Ainda mais impressionante, a diferença de desempenho entre estudantes negros e brancos continua a ser muito menor em escolas de bases militares e está encolhendo mais rapidamente do que nas escolas públicas.



No teste de leitura Naep, negros da 4ª série em escolas públicas apresentaram uma média de 205 pontos dentre 500, em comparação a uma pontuação de 231 para estudantes brancos de escolas públicas, uma diferença de 26 pontos. Negros da 4ª série em escolas de bases militares pontuaram em média 222 em leitura, enquanto os brancos pontuaram 233, uma diferença de 11 pontos.

Na verdade, os negros da 4ª série de escolas de bases militares tiveram notas melhores do que os alunos da escola pública como um todo, cuja média de pontuação foi de 221.

Como explicar a diferença? Virou moda entre os educadores americanos voar para Helsinque para investigar como as escolas do país geram finlandeses tão produtivos. Mas por apenas US$ 69,95 por noite, eles podem se hospedar no Days Inn emde Jacksonville, Carolina do Norte, e investigar como as escolas aqui na base de Camp Lejeune geram americanos tão produtivos - brancos e negros.

Eles descobririam que as escolas de bases militares não foram sujeitas ao principal programa de educação do ex-presidente George W. Bush, o No Child Left Behind, ou ao de Obama, o Race to Top. Eles perceberiam que os testes padronizados não dominam as escolas e não são usados para avaliar professores, diretores e escolas.

Encontrariam Leigh Anne Kapiko, diretora da Escola de Ensino Fundamental Tarawa Terrace, uma das sete escolas desta região. Preparação para o teste? "Não", disse Kapiko. "Isso não é feito nas escolas do 

Departamento de Defesa. Nós nem sequer temos material para a preparação."
Nessas escolas, os testes padronizados são usados como se pretendia inicialmente, para identificar os pontos fracos de uma criança e avaliar a eficácia do currículo escolar.

Kapiko é a diretora tanto dentro quanto fora dos portões e acredita que as escolas de bases militares são mais carinhosas do que as escolas públicas. "Nós não temos que ser tão arregimentados, já que não estamos preocupado com a capacidade de uma criança de acertar um teste", disse ela.

Crianças militares não são submetidas a exercícios de teste de preparação. "Para nós," Kapiko disse, "as crianças são crianças, elas não são pequenos soldados."

De acordo com a agenda educacional de Obama, os governos estaduais agora podem ditar a diretores como coordenar suas escolas. Em Tennessee - que obteve pontuação 41 no NAEP e não fez nenhum progresso significativo em diminuir a diferença entre negros e brancos nos testes em 20 anos - o Estado agora exige quatro observações formais de um professor por ano, independentemente do diretor acreditar que ele seja excelente ou fraco. O Estado declarado que a metade da classificação de um professor deve ser baseada nas notas de seus alunos.

Kapiko, por outro lado, pode decidir a forma de avaliar seus professores. Para os mais eficazes, ela faz uma observação por ano. Isso dá a ela e a sua assistente tempo para visitar as salas de aula todos os dias.


Foto: Raphel Gomide Ampliar
Estudantes de Colégio Militar brasileiro em Olímpíadas de Matemática para Escolas Públicas

Um estudo de 2001 sobre o sucesso das escolas de bases militares, realizado por pesquisadores da Universidade Vanderbilt, cita a importância das boas relações entre o sindicato dos professores e a gestão.

Mas ajudar as crianças a conseguir sucesso acadêmico envolve muito mais do que o que se passa dentro das escolas. Pais militares não precisam se preocupar em garantir a cobertura de cuidados de saúde para seus filhos ou moradia adequada. Pelo menos um dos pais tem um emprego garantido na família.

O comando militar também coloca uma prioridade na educação. Bryant Anderson, um suboficial estacionado em Dahlgren, Virgínia, recebe uma folga do trabalho para servir como presidente do conselho de administração da escola da base e técnico do time de basquete.

Pais com filhos nas escolas civis onde Kapiko foi diretora não tinham esse tipo de apoio de seus empregadores. "Se o papai trabalha em uma fábrica, ele falta três vezes e é demitido", disse ela.

O bem-estar econômico da família tem um impacto considerável sobre a forma como os alunos pontuam em testes padronizados e é difícil fazer comparações exatas entre as famílias das escolas militares e públicas. 

Mas de acordo com um indicador, as famílias nas escolas de bases militares e públicas têm rendas similares: o percentual de estudantes que se qualificam para almoços subsidiados pelo governo federal é virtualmente idêntico em ambas, cerca de 46%.

O que está claro é que as escolas de bases militares fizeram notáveis progressos em reduzir o déficit de aprendizado.

Os militares têm um histórico muito melhor de integração do que a maioria das instituições. Quase todas as 69 escolas de bases militares ficam no sul do país. Elas foram abertas em 1950 e 1960, porque os militares estavam racialmente integrados e não queriam que os filhos de soldados negros frequentassem escolas racialmente segregadas fora das bases.

Nevin Joplin, um sargento da Força Aérea, tem um filho na sexta série na Base Aérea Maxwell, no Alabama. Joplin, que é negro e pai solteiro, disse que tanto ele quanto seu filho, Quinn, receberam amplas oportunidades para o sucesso. Quinn foi colocado em um programa para superdotados e Joplin disse ter sido tratado de forma justa no sistema de promoção militar. "Meu histórico passa por um conselho, sem o meu nome ou qualquer coisa que possa me identificar, eles só veem o que eu fiz e decidem de acordo com o meu mérito", disse.

O capitão Derrick Bennett Jr. também é negro e tem um filho de 7 anos na escola em Fort Benning, Georgia. Ele diz a sua raça raramente, se alguma vez, entra em jogo. Mas quando ele visita a família em Birmingham, não é o mesmo. No Alabama ainda há uma certa tendência a olhar para um homem negro de forma diferente, disse ele.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Novo decreto e PNE assustam defensores de educação inclusiva



Entidades temem mudança nas políticas que garantem a frequência de alunos deficientes em escolas regulares e protestam na internet

 

Priscilla Borges, iG Brasília



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O futuro educacional das crianças e dos adolescentes com deficiências preocupa organizações da sociedade civil. Elas temem modificações nas políticas de educação inclusiva que hoje orientam o Brasil. O receio de especialistas e pessoas que militam em defesa dos deficientes se baseia no relatório final do Plano Nacional de Educação (PNE) e no decreto presidencial nº 7611, publicado há quase um mês.

O relatório final do documento que define as estratégias educacionais para o País na próxima década propõe “universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, preferencialmente, na rede regular de ensino, garantindo o atendimento educacional especializado em classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou comunitários, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível sua integração nas classes comuns”.
A palavra “preferencialmente”, segundo as entidades, abre espaço para que crianças possam ser matriculadas somente em escolas especializadas, o que vai contra as políticas educacionais atuais. Hoje, os estudantes com algum tipo de deficiência devem frequentar escolas comuns e receber atendimento especializado no turno contrário ao das aulas, de preferência no próprio colégio. Se não for possível, instituições especializadas podem atendê-los.

“O texto do PNE é muito grave, porque é uma lei e contraria expressamente a Convenção da Organização das Nações Unidas ratificada pelo Brasil com força de emenda constitucional (Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – ONU/2006, ratificada pelos Decretos nº 186/2008 e nº 6.949/2009). Apenas o atendimento especializado pode ocorrer fora da rede regular”, ressalta Eugênia Gonzaga, procuradora da República em São Paulo.

Para Eugênia, se a redação do plano não for alterada no Congresso, as políticas para o ensino especial sofrerão um retrocesso. Ela conta que o Ministério Público de São Paulo já foi procurado por parlamentares para pedir auxílio técnico na elaboração de emendas que modificam essa meta. Por outro lado, o MPF em São Paulo vai apresentar uma recomendação de mudança em outro documento oficial que pode dar força ao texto do PNE.

É o Decreto 7.611, que orienta a educação especial, assinado pela presidenta Dilma Rousseff junto com o lançamento do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o Viver sem Limites. Esse documento revoga o anterior (Decreto 6.571, de 2008) e, segundo Eugênia, deixa dúvidas sobre como as crianças com deficiência devem ser atendidas na rede escolar – o que pode reforçar as propostas novas do PNE.

Protestos

Organizações e associações em defesa dos deficientes, como a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, protestam pela internet desde que os dois documentos foram divulgados. Há convocações para que as pessoas enviem mensagens de repúdio aos ministros da Educação, da Casa Civil e da Secretaria de Direitos Humanos e um manifesto foi criado para pedir que a Convenção da ONU seja cumprida.

Claudia Grabois, da Rede Inclusiva, Direitos Humanos Brasil, Portal Inclusão Já!, afirma que a rede quer garantias de que as políticas de educação inclusiva não serão modificadas, apesar da ambiguidade do decreto. “A Convenção é clara: a obrigação do Estado é oferecer ensino inclusivo. As pessoas com deficiência precisam ter independência e autonomia asseguradas e a eliminação da discriminação. Não há como pensar nisso sem passar pela escola”, diz.

Na opinião da especialista, as famílias das crianças com deficiência precisam reconhecer que a educação inclusiva como um direito e lutar por ele. “Às vezes, é mais fácil falar que vai existir preconceito na escola em vez de quebrar barreiras”, diz.

Na avaliação de Claudia Werneck, coordenadora da Escola de Gente – Comunicação em Inclusão, muitas famílias ainda são “alvo de manipulação financeira e partidária”. “As famílias de crianças com deficiência são muito solitárias ainda, porque essas crianças não são vistas como solução pela comunidade e sim como problema. O direito à educação inclusiva é da criança e não da família”, ressalta.

Ao iG, o ministro da Educação, Fernando Haddad, garantiu que as políticas de inclusão do MEC não serão alteradas. Para ele, ao contrário, o novo decreto beneficiará as crianças com deficiências que ainda não estão na escola. “Vamos fazer a busca ativa”, diz. Ele explica que o decreto autoriza, por exemplo, que o MEC compre veículos escolares para municípios a fim de promover a inclusão de quem está fora da escola por não ter como chegar ao colégio.
“O decreto incorporou os termos da Convenção e compatibiliza textos de decretos anteriores, deixando claro que vamos fomentar a dupla matrícula, que garante às crianças com deficiência um turno em classe regular e outro em atendimento especializado, o que permite oferecer à criança com deficiência o melhor ambiente para seu desenvolvimento”, comenta.

Viver sem Limites

De acordo com o MEC, o Viver sem Limites consolida ações que já eram executadas pelo MEC: criação de salas de recursos multifuncionais nas escolas; adequação arquitetônica de escolas; busca de crianças com deficiência que estão fora da escola (BPC na Escola); formação de professores e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais. O plano vai permitir também a compra de transporte escolar acessível; formação profissional das pessoas com deficiência (pelo Pronatec e a criação de cargos de professores de Libras nas instituições federais.

A secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, Cláudia Dutra, afirmou ao iG que o objetivo é eliminar as barreiras para incluir as pessoas que deveriam, mas estão fora da escola. Segundo ela, entre os 435.298 brasileiros de 0 a 18 anos que têm deficiências e recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – concedido a idosos e deficientes com dificuldade para se sustentar – 206.281 (47%) não estudam.

A justificativa de 52% deles é a própria deficiência. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45 milhões de brasileiros possuem alguma deficiência. “Por isso, o BPC na escola objetiva, nas três esferas de governo, identificar e eliminar as barreiras e promover a inclusão escolar dessa população”, diz a secretária. A meta é fazer com que, em quatro anos, pelo menos 378 mil crianças estejam frequentando a escola.

A secretária conta que o MEC já transferiu R$ 81 milhões para custear ações como reformas nas escolas (em 11.047 prédios) e adquirir recursos para as salas multifuncionais. Até 2014, o governo investirá R$ 7,5 bilhões no plano todo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Priscila Cruz: “Temos que dar a devida urgência à Educação



À frente do Todos pela Educação, administradora articula para que melhorias no sistema de ensino aconteçam mais rápido

 

Marina Morena Costa, iG São Paulo




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Priscila Cruz: “Temos que dar a devida urgência à Educação”À frente do Todos pela Educação, administradora articula para que melhorias no sistema de ensino aconteçam mais rápido
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Priscila Cruz: “Temos que dar a devida urgência à Educação”À frente do Todos pela Educação, administradora articula para que melhorias no sistema de ensino aconteçam mais rápido
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Aos 25 anos, Priscila Cruz tinha a vida profissional praticamente traçada. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), trabalhava em uma das maiores empresas de consultoria estratégica do mundo. Com uma boa remuneração, seu próximo passo seria assumir um cargo de direção no escritório de Nova York. Mas algo a incomodava.



Ao receber o convite para trabalhar no Comitê do Ano Internacional do Voluntário no Brasil, em 2011, pediu uma licença de seis meses do emprego para viver uma experiência no terceiro setor. O trabalho ao lado de Milú Villela – presidenta do Museu de Arte Moderna (MAM), acionista do banco Itaú e mãe de um colega de faculdade – recebeu destaque na Organização das Nações Unidas (ONU). E a vontade de trabalhar em algo que acreditasse falou mais alto.


No ano seguinte, foi uma das criadoras do Instituto Faça Parte, ONG que incentiva projetos de voluntariado desenvolvidos por estudantes e conectados com proposta pedagógica. Mas ainda havia um ponto que a incomodava: o buraco era bem mais embaixo. Projetos de alunos de 14 anos chegavam ininteligíveis. “O que adianta ter um superdesenvolvimento social e emocional, se você não sabe se expressar na sua língua?”

Da vontade de impactar diretamente na melhoria da qualidade da educação, nasceu em 2005 o Todos pela Educação, movimento da sociedade civil que Priscila dirige desde então. Ela define o Todos como um “óleo nas engrenagens”, um articulador, que procura diminuir as tensões entre os agentes da educação – sindicatos, pesquisadores, acadêmicos e os poderes executivo, judiciário e legislativo – para que as peças girem de forma mais suave e mais rápida.

E é de rapidez e prioridade que carece a educação, na avaliação de Priscila. “Precisamos dar urgência à Educação. As crianças que estão hoje na escola não vão ficar lá para sempre. Cada ano de espera é um ano perdido.”

Aos 37 anos, mãe de duas meninas, uma com 1 ano e 9 meses e outra de 3 anos, ela gostaria de colocá-las em uma escola pública de qualidade. Mas acredita que o foco do País deve ser dar mais para quem tem menos. Sobre o trabalho que desenvolve e as angústias em relação à educação no Brasil, Priscilla conversou com o iG na sede da organização. Leia trechos do depoimento:


Foto: Marina Morena Costa Ampliar
Priscila Cruz é diretora-executiva do movimento Todos pela Educação
Veja mais sobre mulheres e educação:

Mudança de planos

Em 2001, o terceiro setor não era organizado como é hoje. Era uma loucura uma menina que fez FGV e São Francisco ir trabalhar com isso. Reduzi meu salário, mudei a perspectiva da minha carreira, porque decidi trabalhar com o que eu gosto, numa época que ninguém fazia isso.
 
Terceiro setor

Costumo dizer que trabalhamos mais do que em empresa. A equipe tem que ser muito enxuta, porque todo o financiamento que recebemos tem que ser colocado o máximo no projeto final e o mínimo na estrutura fixa. Somos em nove pessoas e acabamos trabalhando mais, porém muito mais feliz. A gente sabe que algumas crianças vão aprender mais, por causa do que estamos fazendo aqui.

Todos pela Educação

O Todos tem cinco metas e cinco bandeiras*. Para que elas sejam atingidas e melhor implementadas, dependemos dos Estados, municípios e da União. Sinto que as pessoas concordam com a importância desses objetivos, mas que ninguém mergulha e vai até as últimas consequências para implantá-los de forma obcecada. Então o Todos atua como um óleo nas engrenagens. A gente faz com que as entidades nos usem para estreitar relações umas com as outras e fazer com que a engrenagem gire de forma mais suave e mais rápida. Somos neutros, porque defendemos o aluno e só ele. Para nós o que importa é que ele aprenda, passe de ano, conclua o ensino médio e entre na faculdade.

Currículo nacional

Temos a necessidade urgente de ter um currículo nacional. É muito injusto ter o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e estabelecer metas para todas as redes e escolas sem dizer o que elas têm que fazer para melhorar. Metade do Ideb é a Prova Brasil e essa avaliação é uma caixa preta. Se eu não souber que aprendizagem é essa, fica tudo no discurso e não cai no concreto. E a educação acontece no concreto, na sala de aula, na relação do professor com o aluno.

Formação e valorização do professor

As faculdades de formação de professores ficam muito nas teorias. O professor sai da faculdade sem ter ideia do que é uma sala de aula e sem ter técnica. Nos países que estão no topo do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), a prática, a didática, o como dar aula é tão valorizado quanto a teoria, a sociologia da educação. Há uma resistência muito grande da academia em mudar os currículos.
A tarefa de ensinar é muito complexa. Por isso a profissão do professor deveria ser das mais valorizadas e a preparação para ela deveria ser muito mais rigorosa e técnica. Não é uma questão de amor. Fazer 30 alunos com perfis diferentes e com históricos familiares diversos aprenderem é difícil. Nenhum médico sai da faculdade e já vai fazer uma cirurgia no coração. Já o professor cai de paraquedas na sala de aula.

Trabalho x filhos

Tenho duas filhas, a Mariana, de 1 ano e 9 meses, e Maria Fernanda, de 3 anos. O bom é que a maternidade disciplina. Quando você não tem filhos, parece que o céu é o limite. Já sai daqui várias vezes às 22h, 23h. Mas agora eu me disciplino para às 19h me ‘pirulitar’ e chegar em casa a tempo de encontrá-las acordadas. Gosto de colocá-las na cama, contar historinha e elas dormem por volta das 21h. Nós mulheres somos super agilizadas, queremos dar conta de tudo, achamos que somos supermulheres e na verdade não somos.

A urgência da Educação

Quando a gente vê uma criança ferida, não ficamos pensando “ai, coitadinha”. A gente pega e leva direto ao hospital. Com a educação não damos essa urgência. A gente fica no debate, discute-se muito, passam-se os anos e nada. A gente está com o PNE um ano inteiro no Congresso, sem o direcionamento para as políticas públicas dos próximos 10, não sabemos quando vai ser aprovado e ninguém está desesperado. Temos que assumir compromissos. Por isso defendemos a criação de uma lei de responsabilidade educacional. Se os resultados não são alcançados, ninguém é punido. O único punido no Brasil é o aluno.
 
* Metas e bandeiras do Todos pela Educação

Meta 1: Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola
Meta 2: Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos
Meta 3: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série
Meta 4: Todo jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos
Meta 5: Investimento em Educação ampliado e bem gerido

Bandeira 1: Formação e carreira do professor
Bandeira 2: Definição das expectativas de aprendizagem
Bandeira 3: Uso relevante das avaliações externas na gestão educacional
Bandeira 4: Aperfeiçoamento da gestão e da governança da Educação
Bandeira 5: Ampliação da exposição dos alunos à aprendizagem

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pesquisas questionam quantia ideal de sal para a saúde do coração



Pouco sódio poderia ser tão prejudicial quanto o excesso. Pesquisadores defendem consumo moderado




The New York Times | IG

Foto: Thinkstock/Getty Images Ampliar
Muito sal aumenta a pressão arterial; pouco, pode interferir nos níveis de colesterol e fazer mal


Para pessoas com doenças cardíacas ou diabetes, comer com pouco sal pode representar risco tanto quanto comê-lo em grande quantidade, informam pesquisadores.

A redução de sal é muito importante para pessoas que consomem mais de 6000 ou 7000 miligramas de sódio por dia, diz Martin O'Donnell, autor de um estudo publicado na edição de novembro do periódico Journal of the American Medical Association.

Leia também: Dossiê do sal

Pessoas que já consomem quantidades moderadas de sal, porém, podem não precisar reduzir o consumo, acrescentou O'Donnell, professor associado da Universidade McMaster, em Hamilton, Ontario, no Canadá.


"Estamos percebendo que pode haver uma quantidade moderada ideal de sal que as pessoas devem consumir", diz John Bisognano, professor de medicina e diretor de cardiologia ambulatorial do Centro Médico da Universidade de Rochester, em Nova York .

"Isso é reconfortante para quem segue uma dieta moderada com a utilização do condimento”.
Bisognano não estava envolvido com o estudo, que foi financiado pela empresa farmacêutica Boehringer Ingelheim.

Depois de anos insistindo que as pessoas deveriam reduzir a ingestão de sal, os especialistas recentemente começaram a debater se a diminuição é realmente boa para todos.

Um estudo recente descobriu que apesar da redução do sal fazer baixar a pressão arterial, também pode aumentar os níveis de colesterol, triglicérides e outros fatores de risco para doenças cardíacas.

Outro trabalho descobriu que a menor excreção de sódio (essa é uma forma de medir a quantidade de sal consumido) foi associada a um aumento do risco de mortes relacionadas ao coração, enquanto a excreção de sódio superior não estava ligada ao aumento dos riscos de pressão arterial ou complicações do coração em pessoas saudáveis.

No entanto, no último estudo, os resultados foram um pouco diferentes. Esses autores analisaram a quantidade de sódio e potássio que foram eliminados na urina em um grupo de cerca de 30 mil homens e mulheres com doença cardíaca ou de alto risco para doença cardíaca. Os participantes foram acompanhados, em média, por mais de quatro anos.


Neste estudo, os níveis de excreção de sódio que estavam maiores ou menores do que a faixa moderada foram associados ao risco aumentado. Por exemplo, pessoas que eliminaram níveis mais altos de sódio do que aquelas com valores médios tiveram risco maior de morte por doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), ataque cardíaco e hospitalização por insuficiência cardíaca, diz o relatório.

Por outro lado, pessoas que excretaram níveis inferiores à média estavam em risco aumentado de morte por doença cardíaca e hospitalização por insuficiência cardíaca. Quando os pesquisadores avaliaram os níveis de potássio, descobriram que um nível mais elevado de excreção do nutriente foi associado a um menor risco de acidente vascular cerebral.

"A importância da ingestão de potássio precisa ser enfatizada, uma descoberta que pode ser perdida na discussão sobre o sódio", argumenta O'Donnell, que também é professor associado da Universidade Nacional da Irlanda, em Galway.

"Dietas ricas em frutas e vegetais também são ricas em potássio."

Não está claro se essas descobertas – que surgiram a partir de uma população já com alto risco de problemas cardíacos – também podem ser aplicadas para reduzir as populações de risco.

"Eles estão realmente olhando para o mais doente dos doentes. Como isso se aplicaria a todos nós?", questionou Daniel Anderson, professor assistente de medicina na Universidade de Nebraska.

"Fico preocupado como vamos interpretar isto no sentido de que muito pouco sódio é uma coisa ruim."


Bisognano concorda. "Mas nós não queremos passar a mensagem de que as pessoas devem acrescentar mais sal à comida a partir deste momento", diz o professor.

A quantidade ideal de sódio consumida é apenas um aspecto da saúde do coração, fala Karen Congro, diretora do Programa Bem-Estar para Vida no Hospital Brooklyn Center, em Nova York.

“Você tem que fazer intervenções de estilo de vida", afirma a especialista.


As novas orientações dietéticas americanas recomendam que pessoas acima de dois anos de idade tenham como limite de ingestão diária de sódio menos de 2300 miligramas (mg).

Pessoas com idades acima de 51 anos, negros e qualquer indivíduo com diabetes, alta pressão ou doença renal crônica devem considerar reduzir o consumo para 1500mg por dia, dizem os especialistas. Estima-se que o americano médio consuma 3400 miligramas de sódio por dia.


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dupla jornada torna mulheres mais completas, diz dona do Blue Tree Hotels

 


Referência no setor de hotelaria no Brasil, Chieko Aoki defende maior participação feminina na liderança de empresas





Danielle Assalve, iG São Paulo

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    Foto: Divulgação Ampliar
    Chieko Aoki, dona do Blue Tree Hotels: 'profissionais que sabem aproveitar bem seu tempo são altamente valorizadas no mercado de trabalho'

    Dividir bem o tempo entre trabalho e família pode ser um desafio, mas é também um fator que ajuda a preparar melhor as mulheres para exercer cargos de liderança em grandes empresas. A avaliação é de Chieko Aoki, dona do Blue Tree Hotels e uma das principais empresárias do Brasil. “As várias jornadas que as mulheres precisam enfrentar deixam-nas mais preparadas e completas”, diz.

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    Segundo ela, o planejamento e disciplina necessários para conciliar as demandas profissionais e domésticas tornam as mulheres “mais competentes e com visão mais ampla das coisas”. O resultado? “São profissionais bem preparadas e eficazes, que sabem maximizar o seu tempo, sendo executivas altamente valorizadas no mercado de trabalho”.

    Chieko fala com conhecimento de causa. Com quase trinta anos de experiência no setor de hotelaria, ela conta que no começo de sua carreira “alguns homens ficavam constrangidos” com sua presença em reuniões. Hoje é referência no setor, à frente de uma das maiores redes hoteleiras do Brasil – a Blue Tree possui 22 hoteis e um resort no País, além de um hotel no Chile.

    Em entrevista ao iG, ela diz que procura sempre “dar quilometragem a mais do que outras pessoas” e vê nisso um fator importante para quem quer se destacar na profissão. “Fazer mais – sem prejuízo de alguma parte – só traz benefícios”, conta. Em sua trajetória profissional, Chieko sempre teve o apoio de sua família e conta que seu marido, John Aoki, foi seu “grande e maior incentivador para seguir a carreira em hotelaria”.

    Nascida no Japão, Chieko veio com os pais e o irmão para o Brasil em 1956, aos seis anos de idade. Formou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP), fez pós em administração no Japão e foi aos Estados Unidos cursar especialização em hotelaria. Foi presidente do Caesar Park e do Westin Hotels & Resorts, até lançar, em 1997, o Blue Tree Hotels.


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    No decorrer dos anos, a dama da hotelaria brasileira conta que teve momentos em que pensou em desistir de tudo. “Mas isso dura, no máximo, um dia, porque no dia seguinte já estou pronta para resolver os problemas e enfrentar os desafios”, diz. O segredo, segundo ela, é focar em alcançar seus objetivos. “Quero ficar satisfeita com tudo que faço e isso exige tanto empenho e energia que, na verdade, não sobra tempo para outras coisas, principalmente medo ou fraqueza”.

    Chieko é uma das maiores defensoras da inserção de mulheres em cargos de liderança no Brasil, tanto no setor privado quanto público. Presidiu por dois anos o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais (LIDEM). Atualmente, uma das empresárias que ela mais admira é Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza. “Além de ser uma grande empreendedora, com visão estratégica e inovadora, ela é um ser humano de uma generosidade imensa”, diz.

    Várias pessoas serviram de inspiração profissional para Chieko, incluindo Akio Morita, fundador da Sony. "Uma vez ele me disse para nunca desistir da excelência ou de atingir meus sonhos". Sua trajetória mostra que ela tem seguido o conselho à risca.

    Confira a seguir a íntegra da entrevista que Chieko Aoki concendeu ao iG:

    iG: Sua empresa possui políticas de “empoderamento” de mulheres? A ocupação de mulheres em níveis mais altos na hierarquia é importante para o equilíbrio da empresa?

    Chieko Aoki: Não temos na Blue Tree política específica de “empoderamento” de mulheres porque elas são valorizadas regularmente na empresa, faz parte da nossa cultura. Assim, nunca tivemos na Blue Tree a necessidade de criar uma política específica para isso. As mulheres na Blue Tree casam, têm filhos e continuam fazendo carreira com a mesma dedicação, ou ainda maior, no decorrer dos anos. Temos executivas admiráveis que, mesmo casadas e com filhos, dão conta de viajar a semana inteira, planejando a sua agenda e da família com organização, comprovando que quem é competente tem esta qualidade em tudo que faz, inclusive na condução e no cuidado da família. Acredito inclusive que as várias jornadas que as mulheres precisam enfrentar deixam-nas mais preparadas e completas, pois passam a aplicar os aprendizados do lar e do trabalho, que têm características diferentes e também similares, no jeito de tratar, resolver e até de liderar situações. Há complementações positivas para todas as jornadas. A título de exemplo, a Blue Tree conta com 70% de colaboradores mulheres, no Corporativo e nos hotéis, com várias gerentes e diretoras. Talvez isso seja uma das chaves do sucesso da Blue Tree.

    iG: Conciliar a carreira com outros “papéis” femininos foi – ou ainda é – um desafio para você? Qual é a maior angústia de uma mulher que ocupa um cargo executivo máximo de uma empresa?

    Chieko Aoki: Realmente, conciliar a carreira com diversos outros “papéis” é um desafio no sentido de que o tempo é sempre pouco para tudo que se quer fazer. Por outro lado, assim como diz o ditado, “se tem algo para ser feito, dê para quem está ocupado e não para quem está sem fazer nada”, pois quanto mais as mulheres atuam em várias ocupações, ficam mais competentes, mais preparadas e com visão mais ampla das coisas. Como resultado, são profissionais bem preparadas e eficazes que sabem maximizar o seu tempo, sendo executivas altamente valorizadas no mercado de trabalho. Fazer mais – sem exageros e prejuízo de alguma parte – só traz benefícios. Pessoalmente, busco sempre dar quilometragem a mais do que outras pessoas porque penso que o diferencial para melhor está nesta pequena, mas importante diferença. Quanto à angústia em ocupar o cargo executivo máximo de uma empresa, acredito que é a mesma de homens e mulheres – saber que precisamos cobrar-nos muito fazendo sempre o máximo e o melhor, porque cada passo ou decisão tem impacto na empresa e nos seus stakeholders. E que, na tomada de decisões difíceis, é preciso ser forte porque muitas vezes a decisão é solitária.

    iG: Sua família apoiou a sua carreira?

    Chieko Aoki: Todos na minha família adoram empreender e encontrar novas oportunidades no mercado. Comigo não foi diferente. Além de se tornarem uma referência para mim, meus familiares sempre me proporcionaram apoio irrestrito e ajuda para crescer profissionalmente e realizar os objetivos da Blue Tree. Meu marido, especialmente, foi o meu grande e maior incentivador para seguir a carreira em hotelaria. Sou muito grata à minha família que sempre me ajudou, de um jeito natural e sutil, para que não sentisse que precisava contar com ajuda da família para dar conta do trabalho.

    iG: Ainda existe machismo nas empresas?

    Chieko Aoki: É verdade que ainda há casos de discriminação em relação às mulheres, tanto nas tentativas de crescer dentro do ambiente de trabalho, quanto no relacionamento interpessoal com a equipe. Se isso não acontecesse, não teríamos tantos movimentos nas empresas trabalhando na diversidade com foco nas mulheres. Recentemente, ouvi de uma alta executiva de uma grande empresa respeitada no mercado que ela estava sendo sutilmente discriminada na ampliação de suas responsabilidades, ou seja, estavam limitando oportunidades para o seu crescimento. Por isso muitas empresas têm comissões de diversidade, focando na ampliação das mulheres no mercado de trabalho. Com todos estes movimentos, em pouco tempo este tema será uma questão superada, como aconteceu com muitas conquistas e mudanças, cujos benefícios temos a felicidade de usufruir, como igualdade no direito ao voto, acesso a educação e etc.

    iG: Existem diferenças na forma como mulheres e homens executam a gestão? Quais?

    Chieko Aoki: Acredito que, de uma forma geral, as mulheres têm mais leveza na tomada de decisão e na atuação, porque possuem muito foco nas pessoas, no ser humano. Nesse aspecto, como acredito que o mundo de hoje demanda mais atenção e cuidado com as pessoas, as mulheres são ótimas líderes. A mulher conta com participação, presença, flexibilidade, sensibilidade, sabedoria de ouvir e de se fazer ouvir. E essas características estão gerando mudanças nas comunidades – seja na empresa, nas cidades, no mundo político, nos negócios, na família, isto é, na sociedade como um todo. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que existem muitos pontos positivos no estilo de liderança masculino, como objetividade e foco no resultado de forma pragmática. Não acredito que existe padrão, especialmente quando se trata de homens e mulheres; cada ser humano é complexo, mas único. Assim, é difícil dizer de forma radical que mulheres têm qualidades diferentes dos homens e vice-versa. Ao mesmo tempo, homens e mulheres estão aprendendo mutuamente com estilos de cada um e, em breve, vamos ver qualidades e formas de liderar similares, nos homens e nas mulheres.

    iG: Em algum momento você pensou em desistir ou não investir tanto na carreira como executiva?

    Chieko Aoki: A gente pensa em desistir sempre que encontra dificuldades ou quando as coisas não andam na velocidade ou da maneira como queremos. Mas isso dura no máximo um dia, porque no dia seguinte já estou pronta para resolver os problemas e enfrentar novos desafios. Pode-se desistir a qualquer momento, isso é muito fácil. Mas não perco tempo pensando nesta questão, e sim em como fazer a empresa crescer em qualidade e em quantidade para chegar aos meus objetivos. Quero ficar satisfeita com tudo que faço e isso exige tanto empenho e energia que, na verdade, não sobra tempo para outras coisas, principalmente medo ou fraqueza.

    iG: Qual foi o momento mais marcante em sua trajetória como executiva?

    Chieko Aoki: Acredito que não tive momentos marcantes específicos, mas muitos momentos marcantes no dia a dia que me emocionaram, incentivaram e me fizeram acreditar que a carreira estava valendo toda a dedicação e muito mais. Quando decidi criar a Blue Tree Hotels, contei com o apoio de muitos amigos e colegas de trabalho, pessoas que acreditavam no meu profissionalismo e que me ajudaram a sonhar com uma rede de hotéis com a minha cara, meus ideais e seguindo o que acreditava ser a melhor forma de fazer hotelaria. Este foi um momento muito importante na minha trajetória, pois nunca fazemos nada sozinho.

    iG: Você já buscou aconselhamento de mulheres executivas, com mais experiência?

    Chieko Aoki: Uma das executivas que admiro é a Luiza Helena Trajano. Além de ser uma grande empreendedora, com visão estratégica e inovadora, ela é um ser humano de uma generosidade imensa, com uma preocupação genuína pelo bem-estar das pessoas. Outra grande fonte de aprendizado é o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais, o qual presidi por dois anos, e cujo objetivo é ampliar a inserção das mulheres nas lideranças privadas e públicas da sociedade brasileira.

    iG: Você acredita que a forma como as mulheres são vistas dentro das empresas mudou nos últimos dez anos?

    Chieko Aoki: Com certeza muita coisa mudou nos últimos anos. Quando comecei minha carreira,
    eram poucas as mulheres no ambiente hoteleiro. Alguns homens ficavam constrangidos com a minha presença em reuniões, mas mesmo assim eu sentia que era convidada para participar de muita coisa justamente por ser a única mulher. Hoje esse preconceito quase não existe mais, pois a presença da mulher no mercado de trabalho é uma tendência natural. A mulher vem realizando papel cada vez mais importante e maior na sociedade, inclusive em altos cargos executivos. Resumindo, houve muita mudança nos últimos dez anos e vamos ter muitas mais e com maior velocidade, porque, como já disse anteriormente, a própria sociedade e o mercado mudaram. Hoje, eles precisam contar muito mais com a visão e o jeito de fazer das mulheres para atender, ou perceber, as necessidades do mercado.

    iG: Qual é seu maior modelo ou pessoa que serviu de inspiração para sua carreira?

    Chieko Aoki: Muitas pessoas me inspiraram em minha carreira. Recebi ótimos conselhos de personalidades maravilhosas, como Akio Morita, fundador da Sony. Uma vez ele me disse para nunca desistir da excelência ou de atingir meus sonhos, mesmo enfrentando dificuldades, pois essas situações são grandes lições camufladas para testar nossa capacidade. Também aprendi muito com os ensinamentos de Peter Drucker, John Naisbitt, Jim Collins e outros gurus e visionários do mundo dos negócios.

    iG: Qual seu livro preferido, de cabeceira?

    Chieko Aoki: Tenho muitos livros do Peter Drucker que gosto de ler e reler com frequência. Outro livro que mantenho sempre comigo é “Empresas feitas para Vencer”, de Jim Collins.

    iG: Qual o seu conselho para jovens executivas que estão começando a carreira?

    Chieko Aoki: Minha recomendação é que as mulheres continuem, agilizem e fortaleçam as metas e o ritmo que vêm abraçando para serem excelentes profissionais. Trabalhar, suar, buscar sempre o melhor resultado de qualidade e quantidade continuam sendo os requisitos básicos para ter sucesso no trabalho. As empresas querem rentabilidade e expansão e isso se alcança com profissionais qualificados, éticos e com boa energia. Felizmente, vejo que as mulheres estão nesta linha, estão investindo e abraçando esse jeito de fazer e ser, plantando as sementes para um futuro diferente.