terça-feira, 15 de março de 2011

O guia das perguntas difíceis

De onde eu vim? O que é sexo? Para onde a pessoa vai quando morre? Como responder estas e outras perguntas de acordo com a faixa etária do seu filho

Ana Carolina Addario, especial para o iG São Paulo


Foto: Getty Images Ampliar
Curiosidade infantil: perguntas fazem parte do desenvolvimento

Nascimento, religião, sexo, família. Toda mãe já passou pela saia justa de ser questionada sobre estes e outros temas por seu filho e não soube o que dizer (leia aqui relatos de mães e dicas para se sair bem nas respostas).

Selecionamos sugestões de respostas para as perguntas mais cabeludas – e mais comuns – das crianças. Assim você pode se preparar melhor para estes questionamentos e ajudar seu filho a entender o mundo da maneira mais real e sincera possível – sempre dentro das medidas da compreensão dele.

De onde eu vim?

Dúvidas sobre de onde vêm os bebês são geralmente as primeiras a surgir, conta a supernanny Cris Poli. Elas representam o período de autoconhecimento pelo qual toda criança passa.

Até 5 anos

Se seu filho pergunta “de onde eu vim?”, responda sempre falando a verdade, nada de cegonhas e entregas pelo correio. Explique que os bebês são feitos com a semente do papai e da mamãe e crescem em sua barriga.

A partir de 6 anos

Acrescente detalhes sobre como “a semente” do papai vai parar no corpo da mamãe, sobre como funciona a gravidez e como o corpo materno alimenta e desenvolve o bebê.

Adoção: para todas as idades

Se você tem um filho adotado, seja sincero. Esta é a melhor maneira de ganhar a confiança de seu filho e de mostrar que você é honesta com ele. Vale dizer que ele tem duas mamães e dois papais porque o papai e a mamãe que o fizeram não puderam cuidar dele, o que foi muito triste para eles. Por isso, você decidiu cuidar dele – e todos os quatro o amam muito.

Como é que o bebê sai da barriga?

Até 5 anos

Diga que quando o bebê fica grande ele tem de nascer, porque não cabe mais na barriga da mãe e precisa viver como o restante de sua família.

A partir de 6 anos

Aprofunde as informações sobre o que é o parto, quem o realiza, como ele é feito, e como o bebê chega ao mundo. A psicóloga clínica Dora Lorch, autora de “Superdicas para educar bem seu filho”, sugere que a mãe dê exemplos lúdicos sobre o crescimento do bebê no espaço da barriga, para que ele entenda a necessidade do pequeno se desenvolver.

O que é sexo?

Este é um dos temas que mais intrigam as crianças, bem como um dos que mais constrangem os pais. Falar sobre sexo deve ser uma conversa normal, conta a terapeuta familiar e psicanalista infantil Anne Lise Scappaticci. Afinal, é sempre melhor que seus filhos aprendam o significado dele dentro de sua própria casa – quanto mais os pais evitam o assunto, mais as crianças o consideram um desafio, e torna-se mais complicado filtrar as informações que elas buscam.

Até 5 anos

O conselho é começar dizendo que o sexo é um tipo de carinho que os pais trocam para mostrar que se amam. Pode dizer também que é uma coisa que os adultos fazem deitados e na intimidade, porque é um momento especial só entre os dois.

A partir de 6 anos

Quando as crianças estiverem um pouco maiores, explique que os órgãos genitais da mulher e do homem ficam diferentes, e que esse carinho provoca uma sensação muito agradável, e que é aquele ato que faz com que os bebês existam. Dica: sempre que for falar sobre sexo, reforce a ideia de que é uma coisa que os adultos só fazem quando se sentem preparados, e dê abertura desde cedo para seus filhos lhe procurarem para falar sobre o assunto.

O que é masturbação?

Para todas as idades
Contato físico é normal entre as crianças. Portanto, se você vir ou se seu filho lhe contar que uma menina o tocou, ou vice-versa, não se preocupe. Fique atenta, porém, para saber até onde as coisas vão e com quem ele brinca. Explique para seu filho que é normal tocar-se, todos fazem porque provoca uma sensação gostosa e o nome disso é masturbação. Esclareça que todos podem fazer, mas somente na intimidade.

O que é gay?

Falar sobre sexualidade com seus filhos deve ser um exercício frequente. Mas para conseguir falar com tranquilidade sobre homossexualidade com os pequenos, é preciso derrubar seus próprios preconceitos e entender que esta é uma orientação sexual como qualquer outra.

Até 5 anos

Explique que homossexual é a pessoa que gosta de outra pessoa do mesmo sexo – pessoas que gostam do sexo oposto são chamadas heterossexuais. Um menino gay sente atração por outros meninos; e a menina gay, ou lésbica, prefere as meninas.

A partir de 6 anos

Conte que eles podem manter relações sexuais, caso se amem. Explique que muitas pessoas se sentem incomodadas com o fato de outras pessoas serem gays e que a homossexualidade tem muitos nomes diferentes.

O que acontece quando alguém morre?

Para todas as idades

Muitas vezes, as perguntas que as crianças fazem são mais simples do que se imagina. Quando a dúvida de seu filho for sobre morte, por exemplo, comece falando o mais básico sobre o assunto: ”morto” é a pessoa ou animal que deixou de respirar, e seu corpo não funciona mais. O coração da pessoa que morre para de bater, seu cérebro para de pensar e seus músculos não funcionam nunca mais. Em geral, pessoas e animais só morrem quando estão muito velhos, e quem morre não volta mais.

Quem é Deus?

Até 5 anos

De acordo com Anne Lise, falar sobre Deus é uma conversa para cada família, já que a resposta será sempre orientada pela crença de cada um. Portanto, se você quiser dar uma explicação genérica por não seguir nenhuma religião, uma boa saída é dizer que Deus são todas as coisas boas que fazemos para o mundo e para as outras pessoas.

A partir de 6 anos


Se você não segue nenhuma religião, pode contar sobre as representações de Deus nas diversas religiões, para que ele comece a procurar a que mais lhe interesse. Se você é religioso, este é o momento de começar a ensinar seu filho sobre suas crenças e costumes.

Por que vocês estão se separando?

Até 5 anos

Explique que quando um casal deixa de se amar, cada um resolve seguir sua vida. É importante frisar muito e sempre que a separação dos adultos não implica na separação da criança com seus pais. Se os dois puderem conversar juntos com a criança, melhor ainda, de modo que ela entenda que não deixará de ver nenhum dos dois, e que eles se preocupam com a sua felicidade.

A partir de 6 anos

Para crianças mais velha, exponha a decisão a que chegaram sobre com quem ela vai morar, colocando os motivos de maneira clara, sempre com muito amor.

Por que meu cabelo é assim?

 

Foto: Alexandre Carvalho/ Fotoarena Ampliar
Julia Lessa, de 5 anos, quis saber porque era a única morena entre os amigos da escolinha

 

Para todas as idades

Algumas crianças questionam o fato de serem diferentes de seus coleguinhas da escola, seja porque tem a cor da pele diferente, seja porque tem os cabelos de outro jeito. No caso de seu filho questionar o fato de não parecer com seus amiguinhos, diga que cada pessoa tem características particulares, mas isso não faz com que ninguém seja melhor do que ninguém. Somos todos iguais e devemos nos respeitar. Todos temos os mesmos direitos, e ninguém deve ser insultado por isso.

Posso beber cerveja?

Para todas as idades

Diga que o álcool é uma substância química contida em bebidas que, quando as pessoas bebem, sentem-se descontraídas e soltas. Mas o álcool não faz bem para a saúde, e só os adultos podem consumir, porque faz mal às crianças.

Se quiser aproveitar e falar sobre as drogas, explique que elas são substâncias químicas que afetam o cérebro, e que quem usa pode se viciar (ou seja, sentir a necessidade de usar frequentemente). Se o consumo for muito grande, a pessoa pode chegar a morrer. Portanto, drogas são algo muito perigoso, que devem ser evitadas para que se possa crescer saudável.

Leia mais: do primeiro gole ao primeiro porre e o DNA do alcoolismo dos jovens

Fontes: Cris Poli, educadora; Dora Lorch, psicóloga e autora; Anne Lise Scappaticci, terapeuta familiar e psicanalista infantil; “Perguntas que as crianças fazem & como respondê-las” (Editora Globo), Miriam Stoppard

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimas dicas para situações tão embaraçosas!
Abração