Entenda como o bullying pode mudar a vida do seu filho
Conheça os casos de duas pessoas que enfrentaram o assédio violento dos colegas e entenda as sequelas enfrentadas pelas vítimas
Dannyrooh tem 10 anos e sofre de miastenia grave, doença crônica que provoca fraqueza muscular e fadiga em resposta a esforços físicos. Por isso, ele não pode participar das aulas de educação física na escola. Mas alguns de seus colegas de classe não entenderam o problema e no início da 4ª série Dannyrooh começou a ser vítima de bullying. “Todos os dias o chamavam de ‘menininha’, ‘fracote’, até que começaram a bater nele”, diz a mãe Josecleia de Oliveira, autônoma. Não era à toa que o menino andava tão diferente e desanimado antes de Josecleia descobrir o problema.
Leia também:- Bullying não se resolve com violência
- Entrevista com Ana Beatriz Barbosa, autora de "Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas"
- Como lidar com um filho que pratica bullying
“Durante a noite, eu percebia que ele chorava. Quando eu perguntava qual era o problema, ele dizia ter tido um pesadelo. Mas pesadelo todos os dias?”, questionou a mãe. Depois de três meses aguentando a barra sozinho, Dannyrooh finalmente falou sobre o bullying. Mas a escola em que o menino estudava, em Curitiba, no Paraná, não se mostrou muito disposta a resolver o caso. Hoje ele cursa a 5ª série em outra escola. E recentemente ganhou um pé quebrado por causa de um menino que o bateu. “De novo, meu filho ficou com medo de voltar à escola”, conta ela.
Omissão escolar
Ao saber que o filho tinha apanhado de outras crianças, Josecleia imediatamente procurou a escola. Ouviu da pedagoga que aquilo “não acontecia por maldade”. Na segunda vez, aconteceu na saída. “Disseram que fora da escola nada podia ser feito, já não era mais problema deles”, relembra. Foi o estopim. Josecleia chegou ao ponto de entrar na escola e ameaçar toda a sala de aula do filho. “Errei, mas eu estava sofrendo tanto que cheguei a um estágio inimaginável”, explica.
Ao final do ano, Josecleia procurou uma nova escola. Conversou com a diretora e ela garantiu que as crianças praticantes do bullying não seriam aceitas ali. O comprometimento escolar, obtido pela cobrança e atuação da mãe, teve efeito. Dannyrooh hoje tem vários amigos e sua vida melhorou bastante: “Eu ficava muito aborrecido, não brincava com ninguém e me odiavam. Agora não”. Ele afirma, com toda certeza, que ninguém merece passar pelo mesmo que ele.
Para o psicólogo e terapeuta familiar João David Cavallazzi Mendonça, a história de Dannyrooh ressalta o problema das escolas em lidar com o bullying. “Uma instituição jogou o bullying para debaixo do tapete, a outra inibiu. Mas só isso não adianta. O bullying pode ser criado a qualquer momento”, afirma. A atenção dos pais, que não faltou para o garoto, não é menos importante. “Expressar o afeto pela criança e reforçar as qualidades dela pode ajudá-la muito a se blindar contra o peso do assédio”, diz João David.
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“Durante a noite, eu percebia que ele chorava. Quando eu perguntava qual era o problema, ele dizia ter tido um pesadelo. Mas pesadelo todos os dias?”, questionou a mãe. Depois de três meses aguentando a barra sozinho, Dannyrooh finalmente falou sobre o bullying. Mas a escola em que o menino estudava, em Curitiba, no Paraná, não se mostrou muito disposta a resolver o caso. Hoje ele cursa a 5ª série em outra escola. E recentemente ganhou um pé quebrado por causa de um menino que o bateu. “De novo, meu filho ficou com medo de voltar à escola”, conta ela.
Omissão escolar
Ao saber que o filho tinha apanhado de outras crianças, Josecleia imediatamente procurou a escola. Ouviu da pedagoga que aquilo “não acontecia por maldade”. Na segunda vez, aconteceu na saída. “Disseram que fora da escola nada podia ser feito, já não era mais problema deles”, relembra. Foi o estopim. Josecleia chegou ao ponto de entrar na escola e ameaçar toda a sala de aula do filho. “Errei, mas eu estava sofrendo tanto que cheguei a um estágio inimaginável”, explica.
Ao final do ano, Josecleia procurou uma nova escola. Conversou com a diretora e ela garantiu que as crianças praticantes do bullying não seriam aceitas ali. O comprometimento escolar, obtido pela cobrança e atuação da mãe, teve efeito. Dannyrooh hoje tem vários amigos e sua vida melhorou bastante: “Eu ficava muito aborrecido, não brincava com ninguém e me odiavam. Agora não”. Ele afirma, com toda certeza, que ninguém merece passar pelo mesmo que ele.
Para o psicólogo e terapeuta familiar João David Cavallazzi Mendonça, a história de Dannyrooh ressalta o problema das escolas em lidar com o bullying. “Uma instituição jogou o bullying para debaixo do tapete, a outra inibiu. Mas só isso não adianta. O bullying pode ser criado a qualquer momento”, afirma. A atenção dos pais, que não faltou para o garoto, não é menos importante. “Expressar o afeto pela criança e reforçar as qualidades dela pode ajudá-la muito a se blindar contra o peso do assédio”, diz João David.
10 anos depois
A artista plástica Samantha Reis, hoje com 29 anos, começou a sofrer bullying na pré-adolescência. Por vergonha e falta de coragem, não foi capaz de contar aos pais o que acontecia na escola. “Você só tem coragem de falar 10 anos depois”, afirma.
Aos 10 anos, mesma idade de Dannyrooh, ela começou a enfrentar a maldade dos colegas de sala. “Eu tinha tudo para não ser aceita: usava óculos de fundo de garrafa, aparelho, era gorda”, conta. Ao chegar ao colegial, Samantha passou a fazer aulas de teatro e cursou magistério, assim seu horário de saída seria diferente das outras classes e ela não teria de enfrentar o momento de maior vulnerabilidade, quando todos os alunos estão fora das salas e mais longe dos olhos dos professores.
Ainda assim, certo dia ela seguia em direção à saída quando um grande grupo de colegiais começou a sair de suas classes. “Eles se uniram e começaram a me xingar”, conta. “Foi uma coisa de filme norte-americano. Mas contei com a ajuda de um menino popular da escola, que deu uma de super-homem”, completa. Os dois se conheceram nas aulas de teatro e o garoto enfrentou o grupo de “bullies”, dizendo que ninguém a conhecia para falar com ela daquela maneira. “Ele tinha se permitido conhecer uma pessoa diferente”, avalia.
Para a Samantha daquela época, contar aos pais que era rejeitada por causa de sua aparência parecia completamente absurdo. “Eu sempre fui criada para sublimar a questão da aparência. Isso não era importante”, diz. O teatro ajudou a criar um pouco de autoconfiança, mas ela assume que até hoje tem a autoestima abalada pelo bullying sofrido na adolescência. “Eu ainda tenho medo de assumir que não sei algo a respeito de um assunto, porque o que me segurava na escola era ser inteligente”, conta. Mas o tempo também deu a ela alguma tranquilidade em relação ao passado. “Ao entrar na faculdade, comecei a ver que o mundo era diferente daquilo”.
De acordo com o terapeuta João David, os pais poderiam ter desempenhado um papel determinante se soubessem o que acontecia. “A criança não tem a percepção mais ampla, do adulto ou da escola, sobre o caso, e pode ficar fragilizada”, diz. Embora Samantha não tenha conversado com os pais, eles sempre foram muito presentes em sua vida. Isso pode ter impedido que ela oprimisse algumas características de sua personalidade. “Se não encontra um ambiente favorável em casa, a criança pode acabar se fechando ainda mais”, diz o terapeuta.
Escola, casa e internet
Samantha fica contente por não ter passado por estes apuros em uma época de popularização da internet, como hoje. “Quando eu saía da escola, o bullying acabava. Dentro de casa eu estava segura”, diz. Mas a rede, até hoje acusada de perpetrar e intensificar as perseguições, teve papel oposto no recente caso do garoto australiano Casey Heynes, de 15 anos, que reagiu ao assédio constante de um colega de escola jogando-o contra o chão. Para João David, o bullying não deve ser resolvido com violência, como aconteceu com Casey. Mas não se pode negar que a web salvou o adolescente ao quebrar o silêncio em torno do problema sofrido por ele. “A internet também pode servir para uma reflexão a respeito do bullying”, afirma.
A artista plástica Samantha Reis, hoje com 29 anos, começou a sofrer bullying na pré-adolescência. Por vergonha e falta de coragem, não foi capaz de contar aos pais o que acontecia na escola. “Você só tem coragem de falar 10 anos depois”, afirma.
Aos 10 anos, mesma idade de Dannyrooh, ela começou a enfrentar a maldade dos colegas de sala. “Eu tinha tudo para não ser aceita: usava óculos de fundo de garrafa, aparelho, era gorda”, conta. Ao chegar ao colegial, Samantha passou a fazer aulas de teatro e cursou magistério, assim seu horário de saída seria diferente das outras classes e ela não teria de enfrentar o momento de maior vulnerabilidade, quando todos os alunos estão fora das salas e mais longe dos olhos dos professores.
Ainda assim, certo dia ela seguia em direção à saída quando um grande grupo de colegiais começou a sair de suas classes. “Eles se uniram e começaram a me xingar”, conta. “Foi uma coisa de filme norte-americano. Mas contei com a ajuda de um menino popular da escola, que deu uma de super-homem”, completa. Os dois se conheceram nas aulas de teatro e o garoto enfrentou o grupo de “bullies”, dizendo que ninguém a conhecia para falar com ela daquela maneira. “Ele tinha se permitido conhecer uma pessoa diferente”, avalia.
Para a Samantha daquela época, contar aos pais que era rejeitada por causa de sua aparência parecia completamente absurdo. “Eu sempre fui criada para sublimar a questão da aparência. Isso não era importante”, diz. O teatro ajudou a criar um pouco de autoconfiança, mas ela assume que até hoje tem a autoestima abalada pelo bullying sofrido na adolescência. “Eu ainda tenho medo de assumir que não sei algo a respeito de um assunto, porque o que me segurava na escola era ser inteligente”, conta. Mas o tempo também deu a ela alguma tranquilidade em relação ao passado. “Ao entrar na faculdade, comecei a ver que o mundo era diferente daquilo”.
De acordo com o terapeuta João David, os pais poderiam ter desempenhado um papel determinante se soubessem o que acontecia. “A criança não tem a percepção mais ampla, do adulto ou da escola, sobre o caso, e pode ficar fragilizada”, diz. Embora Samantha não tenha conversado com os pais, eles sempre foram muito presentes em sua vida. Isso pode ter impedido que ela oprimisse algumas características de sua personalidade. “Se não encontra um ambiente favorável em casa, a criança pode acabar se fechando ainda mais”, diz o terapeuta.
Escola, casa e internet
Samantha fica contente por não ter passado por estes apuros em uma época de popularização da internet, como hoje. “Quando eu saía da escola, o bullying acabava. Dentro de casa eu estava segura”, diz. Mas a rede, até hoje acusada de perpetrar e intensificar as perseguições, teve papel oposto no recente caso do garoto australiano Casey Heynes, de 15 anos, que reagiu ao assédio constante de um colega de escola jogando-o contra o chão. Para João David, o bullying não deve ser resolvido com violência, como aconteceu com Casey. Mas não se pode negar que a web salvou o adolescente ao quebrar o silêncio em torno do problema sofrido por ele. “A internet também pode servir para uma reflexão a respeito do bullying”, afirma.
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