terça-feira, 17 de agosto de 2010

Entenda por que o Piauí entrou para a elite do ensino brasileiro
Carga horária elevada, competição entre escolas e desejo de mudar fazem Teresina ter quatro entre os 26 melhores colégios do País
Priscilla Borges, iG Brasília | 17/08/2010 08:00

A capital do Piauí, Teresina, está no topo da educação brasileira. Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009 mostram que quatro escolas da cidade – todas da rede privada – estão entre as 26 melhores do País. Até a semana passada, quando um colégio paulista ganhou na Justiça o direito de revisão de notas, a primeira piauiense aparecia em segundo lugar no ranking. Agora, caiu para a terceira posição. A quarta melhor escola do estado estava em 25º e passou para 26º.

As quatro escolas da capital piauiense mais bem posicionadas no ranking do Enem são, em ordem, Instituto Dom Barreto (3º lugar), Instituto Antoine Lavoisier de Ensino (13º), Educandário Santa Maria Goretti (19º) e Colégio Lerote (26º). Apesar das 23 posições entre eles, apenas 27,54 pontos os separam nas notas dos alunos no Enem 2009.

O feito das escolas de Teresina só foi repetido pela capital paulista e superado pelo município do Rio de Janeiro, que possui oito escolas entre as 25 primeiras. Proporcionalmente, a conquista de Teresina chama mais a atenção. No Rio, 684 colégios públicos e privados oferecem o ensino médio. Em São Paulo, 1.239. Em Teresina, apenas 168.

O Inep só calcula as notas no Enem das escolas em que mais de dez alunos concluintes do 3º ano do ensino médio participam da prova. Do total da capital piauiense, 128 tiveram resultados divulgados. Dos 64 colégios privados do município que oferecem ensino médio, 52 tiveram notas. Os quatro primeiros representam 8% da amostra da rede privada de Teresina.

A diferença é enorme quando comparada ao Rio ou a São Paulo. Na lista dos que ganharam notas no exame, no Rio de Janeiro, aparecem 444 nomes. Entre os melhores da cidade, a maioria é escola privada, mas há uma federal e uma estadual. Os oito melhores do Rio simbolizam 2% do total das escolas particulares com conceito. Em São Paulo, os quatro melhores do Enem (todos privados) representam 1,4% dos 279 colégios dessa rede com nota.

Cidades com o mesmo porte de Teresina – que possui cerca de 802 mil habitantes e 62 mil alunos no ensino médio – não alcançaram nível educacional parecido com o da capital piauiense ainda. Natal, capital com 806 mil habitantes não possui nenhuma escola entre as 100 melhores. São Bernardo do Campo, que possui 810 mil moradores, por exemplo, tampouco. As duas cidades ainda possuem menos estudantes na etapa: 43 mil e 37 mil.

Receitas nada secretas

O segredo das escolas de Teresina para obter tanto destaque é simples. Primeiro, elas investem em uma carga horária de estudos que impressiona. Das quatro escolas com mais destaque no Enem, em três a jornada diária de aulas supera sete horas. Na outra, é de seis horas e meia. A rotina semanal só termina aos sábados, com aulas regulares e simulados. E tanto esforço não se restringe aos alunos do 3º ano: já começam no ensino fundamental.

A metodologia semelhante não é mera coincidência entre as escolas de Teresina. Nem é uma orientação ensinada nas faculdades aos futuros professores da região. A resposta – dada pelos próprios estudantes ao iG, que visitou as quatro escolas na última semana – é a concorrência entre elas. “Há uma competição muito grande entre elas. Uma escola boa vai seguindo a outra”, admite André Acioli Lins, 17 anos, aluno do Educandário Santa Maria Goretti.

Para os alunos, a disputa por melhores notas é saudável. Segundo os estudantes, os colegas de outras escolas serão os concorrentes diretos na busca pelas vagas na universidade. E a disputa, até onde se tem notícia, se restringe ao universo intelectual. Grande parte dos professores dá aulas em mais de uma dessas mesmas escolas, inclusive.

Por fim, o sucesso das escolas de Teresina também pode ser explicado, segundo alunos, professores e diretores, pelo desejo de mudança dos estudantes. Primeiro, vontade de transformar a imagem que o Estado tem no País. “Acho que a gente se esforça também para dar mais visibilidade ao Piauí e mudar a visão que as pessoas têm daqui”, diz Felipe Adriano Bezerra, 17 anos, estudante do Instituto Lavoisier.

A segunda é a mudança física mesmo. Eles buscam as melhores instituições do País. Com a concorrência acirrada, estudam ainda mais. A vontade de sair do Piauí tem explicação. “Queremos buscar a melhor formação para depois podemos voltar e evoluir a condição do Estado”, pondera Marcus Vinícius Gonçalves, 17 anos, aluno do Lavoisier.

Um comentário:

Guilherme disse...

Enquanto isso, a escola pública va arrumando, por meio de subterfúgios,um jeitinho daqui, outro dali para promover, automaticamente, uma massa enorme de alunos semialfabetizados. Até quando vamos continuar com esse engodo?