terça-feira, 31 de agosto de 2010

Três mitos da psicologia
Livro derruba teorias de botequim e joga luz sobre o senso comum
Verônica Mambrini, iG São Paulo | 30/08/2010 18:50

De psicólogo, médico e louco, todo mundo tem um pouco – ou pelo menos acha que tem. Por meio de filmes, novelas, livros de autoajuda e conselhos de mãe, as pitadas de psicologia popular estão ao alcance de todos. O problema é que, muitas vezes, elas são apoiadas em idéias equivocadas ou que perderam o sentido com o tempo.

Para esclarecer dezenas de inverdades, o recém-lançado “Os 50 maiores mitos populares da Psicologia” (editora Gente) derruba, uma a uma, diversas “teorias de botequim”. Os autores, quatro professores de psicologia de universidades americanas, lançam mão de diversos estudos modernos para analisar conceitos com prazo de validade vencido. Esmiuçamos três deles; confira!

Os opostos se atraem

Quem não se lembra das rusgas entre os protagonistas da clássica comédia “Harry e Sally, feitos um para o outro”? Depois de passarem o filme inteiro brigando, os personagens vividos por Billy Crystal e Meg Ryan acabam se tornando melhores amigos. Por fim, descobrem que a amizade virou amor. Mas o final feliz entre pares muito diferentes (e brigões) costuma ser mais comum na ficção. Segundo a publicação, pesquisas clássicas mostram que tendemos a gostar de pessoas que apresentem atitudes semelhantes às nossas.

Por muito tempo, o relacionamento entre semelhantes foi considerado tedioso e sem graça, mas, na verdade, ele tende a solidificar vínculos e reduzir atritos. “Os relacionamentos mais satisfatórios e duradouros são entre os parecidos”, diz Thiago de Almeida, psicólogo especializado em relacionamentos amorosos.

De Marte ou de Vênus?

Segundo esse mito, no qual o best-seller de relacionamentos “Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus” foi baseado, pessoas do sexo masculino e feminino se comunicariam de maneiras diferentes. Os homens seriam mais objetivos e funcionais, enquanto as mulheres utilizariam a subjetividade no diálogo. Segundo o livro dos mitos, o escritor John Gray, autor da teoria Marte vs. Vênus, não se apóia em nenhuma pesquisa para fundamentar suas conclusões.

Novos estudos apontam que as diferenças na comunicação entre os sexos seriam insignificantes diante das semelhanças. Eles analisaram quatro pontos de diferença na linguagem: a) as mulheres falam mais do que os homens, mas a diferença é pequena e quase imperceptível; b) elas também costumam ser mais abertas, mas sem valores significativos; c) a respeito de interromper os outros durante uma conversa, os homens ganham, mas, de novo, a diferença é mínima; d) o único item analisado que mostrou diferenças significativas foi a percepção de sinais não verbais, em que as mulheres se destacaram. No fim, “há mais pontes do que abismos”, defende o psicólogo Thiago de Almeida.

Traços herdados não mudam

A genética transformou a forma de pensar a ciência comportamental. Da probabilidade de desenvolver doenças a traços de personalidade, tudo costuma apontar para os genes. Em partes, faz sentido, mas a generalização é exagero.

Longe de ser uma espécie de destino traçado em nossas células, é possível “driblar” os genes usando o ambiente a seu favor, ao contrário do que dita o senso comum. “A genética corresponde a cerca de 60% da personalidade. As influências do ambiente, a 40%”, diz Bruno Mendonça Coelho, coordenador do ambulatório de psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. Os traços determinados pela genética definem o comportamento, e correspondem a aversão ao risco, o desejo por novidades, a necessidade de gratificação para cumprir tarefas e a determinação. Já o caráter é decorrente do ambiente, como a educação familiar que a pessoa recebeu e a cultura em que vive. O caráter envolve como a pessoa vê a si e ao mundo, e as relações que constrói com ele, sendo mais egoísta, curiosa, fechada, etc.

A personalidade e os transtornos dela dependem, portanto, da interação entre nossa carga genética com a forma de viver. “A personalidade é relativamente estável, mas desde criança, todos os aspectos vão sendo trabalhados”, afirma Coelho. Ou seja, bem moldável, mesmo com uma herança pré-definida de quem somos. “Basta termos a abertura e disponibilidade para a mudança que ela pode ocorrer. Às vezes pode demorar e exigir treino, levar recaídas, mas conseguimos mudar”, afirma Marina Vasconcellos, psicóloga pela PUC–SP e terapeuta familiar e de casal pela Universidade Federal de São Paulo.

Serviço:

“Os 50 maiores mitos populares da psicologia – derrubando famosos equívocos sobre o comportamento humano”
Autores: Scott O. Lilienfeld, Steven Jay Lynn, John Ruscio e Barry Beyerstein
Editora Gente
Preço: R$ 49,90
Em Dário Meira, gestores tentam compreender nota no Ideb
Iniciativas são pequenas diante dos desafios, como professores sem formação adequada e escolas sem projeto pedagógico
Priscilla Borges, enviada especial a Dário Meira (BA) | 24/08/2010 07:00

“A cidade está abandonada”. Assim o microempresário João Oliveira descreve entristecido o próprio município, Dário Meira. Dono de uma pousada, ele faz críticas aos gestores locais e revela preocupação quanto ao futuro dos 3,6 mil estudantes da cidade. “As escolas estão ruins, as aulas acabam cedo. É uma tristeza”, garante.

Além de acompanhar de perto o calendário escolar do próprio filho, Oliveira se baseia em outro dado para afirmar que os colégios do município não vão bem. A cidade de Dário Meira, distante 400 quilômetros da capital da Bahia, Salvador, está entre as piores do Brasil no índice que mede a qualidade da educação. Nos colégios, faltam bibliotecas, laboratório de ciências e de informática.

As escolas de 1ª a 4ª séries do município alcançaram, em 2009, nota 2,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Nas séries finais (5ª a 8ª), o resultado não é mais animador: 2,9. Criado pelo Ministério da Educação em 2007, o Ideb pretende impulsionar a melhoria do ensino nas escolas públicas do País.

A partir do diagnóstico feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), considerando o desempenho de estudantes na 4ª e na 8ª séries do ensino fundamental e a quantidade de alunos aprovados pelas escolas, o MEC estabeleceu metas de crescimento nas médias para cada escola, rede, município e Estado do Brasil.

Dário Meira não conseguiu atingir a meta projetada para 2009 nas séries iniciais, que era de 2,8. Apesar de ter cumprido o objetivo estabelecido pelo MEC para a 8ª série (2,8), a nota ainda está bem distante do ensino de qualidade sonhado pelo ministério: 6,00.

O abandono descrito por João impressiona quem chega desavisado. Em plena segunda-feira, durante o dia, quando a equipe de reportagem do iG chegou à cidade, poucas pessoas circulavam pelas ruas. O comércio parecia fechado. Não era feriado local. Os 12 mil habitantes de Apuarema estão espalhados em distritos e fazendas na área rural. Não há centros culturais que promovam atividades para reunir os jovens.

No município, a única biblioteca também não recebe muitos estudantes, que não se sentem atraídos pelos três mil volumes do pequeno acervo disponível. Quando os jovens aparecem por lá, é para usar os computadores para fazer pesquisas. Stefany dos Santos Pereira, 13 anos, admite que tem frequentado muito o local. Sempre para fazer trabalhos escolares no computador. Aluna da 8ª série, ela gostaria que a escola oferecesse o que ela não tem em casa: livros e computadores.

Desiludido, João pretende matricular o filho em uma escola de um município próximo. Mas a Secretaria Municipal de Educação de Dário Meira se defende e diz que não há motivos para desacreditar nos esforços feitos por eles para garantir a aprendizagem dos alunos. Diretores, professores e o secretário de Educação, Eliabe Café, não se conformam com a nota recebida pelo município no Ideb e garantem que ela não reflete o
que acontece nas salas de aula das 25 escolas municipais.

Faltam professores e capacitação

O secretário garante que, a partir de diagnósticos feitos nas escolas desde 2007, quando assumiu a secretaria, coloca planos de ação em prática para melhorar a qualidade da educação. Materiais, como projetores, foram comprados para as escolas. Hoje, apenas 50% dos 190 docentes do município têm título de graduação, mas a secretaria apoia os interessados.

A prefeitura mantém uma casa alugada em uma cidade próxima para ajudar os 30 professores que estão terminando a faculdade. Eliabe reconhece, no entanto, que o município ainda precisa de professores licenciados nas áreas de história, física, química e matemática.

O pedagogo José de Lima, por exemplo, é um dos professores do município que dá aulas fora de sua formação. Estudante de filosofia, ele ensina história para as séries finais do ensino fundamental no Centro Educacional de Dário Meira. Lima acredita que todos têm parcela de culpa pelo resultado de Dário Meira no Ideb.

“Muitos professores não se preparam direito, o município deixa faltar recursos, os alunos não se comprometem com os estudos e os pais não acompanham os filhos. A gente faz reuniões e ninguém participa”, lamenta.

Há fatores apontados pelos profissionais da educação externos à escola que também fazem diferença para a aprendizagem dos alunos. As famílias, segundo eles, não participam da vida escolar dos filhos. A preocupação dos pais, muitas vezes, é a sobrevivência. Entre os 12,3 mil habitantes, 1.996 famílias se mantêm com o Bolsa Família. Toda semana, dezenas de moradores fazem fila na prefeitura para pedir ajuda para comprar remédios, fazer exames, pedir cesta básica.

No entanto, muitos estudantes se mostram com vontade de aprender nas salas de aula. Victor Pereira, de 13 anos, por exemplo, garante que adora a escola. Ele elogia a qualidade das aulas e diz que pretende seguir os estudos, assim como Camila Gomes, 13. “Quero ser uma cientista”, diz a menina. Outros já desanimam, em função da falta de perspectivas de emprego e de entrar em uma universidade – não há nenhuma no local, apenas dois pólos de faculdades privadas. “Quero terminar o ensino médio. Mas só. Não penso em fazer uma faculdade”, admite Paulo Cézar Silva, 14.

OS DESAFIOS DO MUNICÍPIO (segundo professores, diretores, pais e alunos)
- Elaborar projetos pedagógicos nas escolas para orientar trabalho dos professores
- Acabar com os professores “leigos” – sem graduação – do quadro
- Reformular o plano de carreira dos docentes, ampliar o regime de trabalho da maioria para 40 horas semanais e remunerá-los melhor (hoje, o salário é de R$ 669, sem gratificações, por 20 horas
- Aumentar o programa de aulas de reforço para os alunos

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Como usar a intuição a seu favor
Ferramenta poderosa do cérebro, ela ajuda a resolver conflitos e a fazer escolhas
Thaís Manarini, especial para o iG São Paulo | 29/08/2010 11:46

Nos dias em que participavam de um curso, a produtora editorial Giuliana Trovato, 27 anos, e seu irmão estacionavam o carro no mesmo local. Depois de meses cultivando esse hábito, Giuliana um dia cismou que deviam colocar o carro em outro lugar. “Estava com uma sensação estranha”, lembra.

Apesar da insistência da produtora em parar o carro em outro lugar o irmão parou na vaga de sempre. “Pedi para não deixar nada de valor dentro do veículo. Mais uma vez ele teimou e largou um agasalho e um aparelho de música lá. Eu preferi levar minha mochila com o laptop”. Quando voltaram, a surpresa: o carro havia sido arrombado. Os assaltantes ficaram com o som e os objetos do irmão de Giuliana. “Pelo menos continuei com meu computador!”.

Imediatamente Giuliana lembrou da intuição que teve ao estacionar o carro. Também conhecida como sexto sentido, essa ferramenta importantíssima está longe de ser algo sobrenatural ou puramente místico. Segundo Katia Rech, psicóloga, psicoterapeuta e membro titular do Centro de Desenvolvimento da Intuição e Critividade (CDIC), do Rio de Janeiro, “trata-se de uma qualidade natural da psique humana”.

Mas, por se manifestar de forma inesperada e não ser resultado de um raciocínio lógico – extremamente valorizado pelo homem moderno ocidental –, a intuição muitas vezes é ignorada. Uma pena, afinal, uma boa parcela de todas as informações que captamos é enviada para o inconsciente sem que percebamos, isto é, driblando a consciência.

“Mais tarde, esse conhecimento pode emergir, resultando naquilo que chamamos de sacada ou insight”, conta Ari Rehfeld, psicólogo e supervisor da clínica de Psicologia da PUC de São Paulo. Portanto, ainda que sua origem seja desconhecida, aquele lampejo que surge vez ou outra pode fazer muito mais sentido do que se imagina.

Aliada na rotina

Se levada a sério, a intuição pode ser de grande valia tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, pois ajuda (e muito!) no momento de tomar decisões importantes e resolver conflitos. Para fazer uso desse excelente instrumento da mente, o primeiro passo é percebê-lo. De acordo com Katia, “normalmente sentimos a intuição como uma certeza interna e não como um desejo ou pensamento corriqueiro. É como um clarão instantâneo”.

Por outro lado, vale lembrar que a intuição é apenas um dos recursos disponibilizados pela mente para nos orientar. Trocando em miúdos: ela não deve ser encarada como uma certeza absoluta. “Aí vira bruxaria”, brinca Rehfeld. Portanto, quando ficar com a pulga atrás da orelha por causa do comportamento de uma amiga ou do namorado, lembra-se de que é preciso checar várias informações antes de tirar satisfação.

“Assim como o músico confunde as notas de uma pauta ao iniciar o aprendizado, é preciso estar atento para o fato de que podemos interpretar mal a mensagem que a intuição passou. Por isso, é útil testá-la no mundo real”, salienta Celana Cardoso Andrade, psicóloga clínica e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Foi o que fez a produtora Giuliana, desta vez apostando na própria intuição. Por conta da sensação de que a simpatia exagerada de uma colega de trabalho era, na verdade, sinal de falsidade, ela decidiu investigar.
“Não deu outra: peguei a fulana vasculhando meu computador e deletando alguns arquivos na hora do almoço. Isso só foi possível porque tive uma intuição estranha e voltei mais cedo para a empresa”, avalia.

Potencial intuitivo

O conhecimento intuitivo nasce com o ser humano. De acordo com Celana, “ele diz respeito à subjetividade. Isso que dizer que a intuição é uma parte natural da vida e pode ocorrer com qualquer pessoa, em diferentes situações”.

A questão é: por causa da correria do dia-a-dia, essa aptidão nem sempre é ativada, estimulada e apreciada. Sendo assim, é possível concluir que há pessoas mais conectadas com seu lado intuitivo do que outras. Mas, no final das contas, todo mundo é capaz de desenvolver e se beneficiar dessa habilidade.

“O que podemos fazer é, por meio da psicoterapia, meditação e outras técnicas, preparar as pessoas para terem um maior acesso à própria vida íntima, afetiva, inconsciente, intuitiva e simbólica”, observa Kátia, do Centro de Desenvolvimento da Intuição e Criatividade.

Abertura

Confira, a seguir, algumas dicas da psicóloga Celana para ter mais acesso a essa poderosa ferramenta. Mas, não se esqueça: para identificar os sinais e as mensagens enviados pela intuição, é preciso ter muita atenção e principalmente paciência.

1. Abra-se para novidades: assim, sua intuição poderá se infiltrar na consciência em vez de ser filtrada pela sua consciência

2. Respeite suas emoções, sensações, sentimentos e pensamentos. Quanto maior o contato com aquilo que você sente, mais fácil será ouvir a intuição

3. Esteja alerta para a interpretação que se soma à intuição. Esta está sempre correta, mas sua interpretação pode ser equivocada
Crédito estudantil passa a ser oferecido pelo Banco do Brasil
Estudantes têm, a partir desta segunda, nova opção de instituição financeira para aderir ao Programa de Financiamento Estudantil
AE | 30/08/2010 15:24

A partir desta segunda-feira, o crédito do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) também estará disponível nas agências do Banco do Brasil. A medida do Ministério da Educação (MEC) visa a facilitar o acesso e ampliar o número de estudantes beneficiados pelo crédito que, antes, era concedido apenas pela Caixa Econômica Federal.

"O MEC quis dar uma alternativa para os estudantes, para que eles possam escolher com que instituição desejam trabalhar", afirmou à Agência Estado o secretário-executivo do Ministério da Educação, Henrique Paim. "As condições do Fies no BB são as mesmas das oferecidas na Caixa, e o estudante vai, ao fazer o cadastro no programa, ter que escolher com qual instituição desejará operar".

O Fies tem uma taxa de juros de 3,4% ao ano e o pagamento da dívida é feito em um prazo de até três vezes o tempo do curso superior feito mais 12 meses, com um ano e meio de carência após a formatura do aluno. Para ter acesso, o aluno tem que apresentar fiador ou autorizar desconto em folha de pagamento. Inicialmente, o aluno preencherá cadastro no portal do MEC, depois validará a documentação junto à Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento da instituição e concluirá o processo na agência bancária, onde deverá entregar a sua documentação, a do fiador, e assinar o contrato.

O diretor de governo do BB, Sérgio Nazaré, explicou que as discussões para que o BB passasse a fornecer o Fies começaram há cerca de um ano, diante do objetivo do MEC de dinamizar o programa. Segundo ele, a operação é interessante para o BB, já que a instituição tem hoje 1,3 milhão de contas universitárias e, somente nos últimos 12 meses, foram abertas 242 mil contas dessa natureza.

Além disso, o executivo explicou que o BB conta com 35 agências em diferentes campi universitários e tem uma estratégia comercial de ampliar sua presença nesse ambiente. Nas operações do Fies, o BB vai receber uma taxa de administração que vai variar de 1,5% a 2%, mas ainda não há uma estimativa do banco sobre qual deverá ser o aumento das receitas da instituição com a inclusão do Fies na sua lista de produtos.

Henrique Paim, do MEC, destacou que a parceria com o BB se insere em um contexto de medidas adotadas para ampliar o alcance do Fies. Ele lembrou que neste ano foram tomadas duas medidas que estimulam a tomada desse crédito pelos estudantes. A primeira foi a transformação do Fies em um programa de "fluxo contínuo", ou seja, que pode ser acessado a qualquer momento pelo estudante, sem um período anual predefinido.

Outra medida para ampliar o programa - e que ao mesmo tempo traz retorno para o governo - foi adotada em maio. Ela estabelece que estudantes de magistério - Pedagogia e licenciatura em geral - ou de Medicina, que venham a trabalhar, no primeiro caso, em escolas públicas e, no segundo caso, em equipes do programa Saúde da Família, têm um desconto de 1% ao mês em sua dívida com o Fies - independentemente do salário recebido. Assim, de acordo com o tempo de prestação do serviço público, o estudante pode ter sua dívida com o governo zerada.

De acordo com Paim, o programa neste ano tem tido um desempenho bem melhor do que em 2009. Até este mês, já foram fechadas 47 mil contratações, ante 32 mil em todo o ano de 2009. Ao todo, segundo o secretário-executivo do MEC, existem cerca de 500 mil contratos no Fies.

domingo, 29 de agosto de 2010

Pais em conflito são mais propensos a bater nos filhos
Em lares de casais que trocam insultos, chances da criança apanhar dobram. Cônjuge agredido é o que mais bate
New York Times | 29/08/2010 09:33

Mesmo comportamentos agressivos considerados menos graves entre os cônjuges, como controle e insultos, levam os pais a bater mais nas crianças

Nova pesquisa mostra que crianças educadas em um ambiente familiar onde os pais têm comportamento agressivo entre si têm maior probabilidade de apanhar. O estudo constatou que 65% das crianças de três anos de idade tinham apanhado no mês anterior à pesquisa. Em famílias que relataram agressão entre os pais, o uso de castigo corporal acompanhado de agressão ou violência contra o cônjuge ocorreu em um a cada dois lares.

O objetivo do estudo foi ter uma melhor compreensão dos padrões de agressão e violência comuns entre os casais com filhos, além do uso de punição física com os filhos de três anos de idade”, disse Catherine Taylor, autora do estudo e professora de ciências da saúde comunitária da Tulane University School of Public Health and Tropical Medicine.

“As crianças que mostraram maior probabilidade de apanhar tinham pais agressivos ou violentos entre si, e a criança teve uma chance maior de sofrer a agressão física por parte do cônjuge agredido”, disse Taylor. Os resultados do estudo foram publicados na internet no dia 23 de agosto em uma prévia da edição impressa da revista especializada Pediatrics de setembro.

Agressões “leves”

Ela destacou que, diferentemente de outros estudos sobre agressão e violência entre os pais e o uso do castigo corporal, esta pesquisa foca em comportamentos agressivos ocorridos entre os pais e considerados menos graves, ao contrário de outros estudos, que analisaram o abuso doméstico violento.


“O tipo de agressão a que nos referimos são os comportamentos controladores e a agressão psicológica comum – coisas do tipo impedir que o outro se encontre com os amigos ou familiares, cortar o dinheiro ou ainda insultar ou criticar o parceiro”, disse ela. Participaram do estudo 2.000 famílias com filhos de três anos de idade, todas elas residentes em cidades grandes dos Estados Unidos.

Taylor relata que o nível de instrução das mães participantes foi bastante equilibrado: 27% delas tinham segundo grau incompleto, 27% concluíram o segundo grau e 27% frequentaram a universidade. Aproximadamente 19% concluíram o ensino superior. Segundo o estudo, em 60% das famílias os pais eram casados.

Os pesquisadores constataram que cerca de dois terços das crianças de três anos de idade tinham apanhado de um dos pais pelo menos uma vez no ano anterior. A conclusão é que, em lares onde ambos os pais eram agressivos ou violentos entre si – e não estamos falando de espancamento, apenas de parceiros que criticam ou insultam o outro –, as chances de uma criança apanhar dobraram.

“Realmente não é nenhuma surpresa que se há agressão entre os cônjuges, o agredido terá mais vontade de bater no filho. Mas, o que realmente nos surpreende é que uma prática que sabemos não ser eficaz com os filhos ainda é tão aceita e usada”, disse Lori Evans, professora clínica assistente de psiquiatria da criança e do adolescente no The Child Study Center, no NYU Langone Medical Center da cidade de Nova York.

“Tudo volta à antiga analogia que enquanto é obrigatório ter uma licença para dirigir um carro, ninguém nunca disse que é necessário fazer um curso básico antes de se tornar pai ou mãe. A questão é realmente a prevenção, ensinando os pais como lidar com o estresse, além de outras alternativas para disciplinar os filhos”, disse Evans.

Taylor complementou: “Pais que se encontram em relacionamentos onde existem comportamentos controladores ou agressivos, mesmo que pequenos, podem querer recorrer ao acompanhamento psicológico para se tratarem ou para o bem dos próprios filhos. Pode ser que eles não percebam que o estresse que sofrem pode influenciar na forma como disciplinam seus filhos”.

sábado, 28 de agosto de 2010

A sala de estar como sala de aula
Educação domiciliar é admitida em alguns países, mas no Brasil a discussão está apenas começando. Você educaria seu filho em casa?
Renata Losso, especial para o iG São Paulo | 27/08/2010 16:04

Em alguns países acima da linha do Equador, entre as diversas razões para se tirar o filho da escola estão convicções religiosas, o temor da violência no ambiente ou até mesmo a crença de que o professor não está preparado para educar as crianças de acordo com o que os pais têm como ideal. Embora não pareçam justificativas palpáveis aos brasileiros, em países como Canadá e Inglaterra estas razões podem ser consideradas pela família em conjunto com o Estado e a educação domiciliar – ou “homeschooling” – se torna uma opção válida. Mas optar por este modelo educacional no Brasil, porém, é outra história.

Em 2008, a Câmara recebeu um projeto para modificar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A proposta é que ela passasse a admitir a modalidade de educação domiciliar, em que a educação das crianças seria ministrada por membros da família ou guardiões legais, e serviços de uma escola institucional seriam utilizados como base anual para avaliação do progresso educacional. Ainda em análise, a alternativa não convence a relatora e Deputada Federal pelo Tocantins, Nilmar Ruiz. “Se a justificativa para a educação domiciliar é a falta de qualidade do modelo de educação atual, nós brasileiros temos que trabalhar e exigir uma educação de qualidade, e não buscar outra saída para compensar”, acredita a deputada.

Mas para Luiz Algarra, consultor organizacional em processos de aprendizado informal, o buraco é mais embaixo. “Cada vez mais vemos que as instituições de ensino não preparam o jovem para a nossa realidade”, afirma. De acordo com ele, incluir a educação domiciliar como um recurso legalmente válido é uma evolução dos métodos educacionais. “O aprendizado na convivência é a base de todo o aprendizado, e não precisa ocorrer especificamente dentro dos espaços escolares, que na maioria das vezes visa preparar os jovens principalmente para a competição do vestibular, que determina toda a política do ensino fundamental e médio”, diz ele.

Todos os livros para dentro de casa

Para Luiz Carlos Faria da Silva, professor adjunto da Universidade Estadual de Maringá, os problemas que envolvem o ensino escolar não param por aí. Adepto da educação domiciliar, ele já matriculou os filhos, Lucas e Júlia, hoje com 12 e 10 anos respectivamente, em duas escolas, mas nenhuma lhe agradou. Como havia educado os filhos em casa até eles completarem sete anos, Faria da Silva afirma que as instituições de ensino acabavam por desfazer o que havia sido feito dentro de casa. “Aqui no Brasil a escola não ensina mais a ler, escrever e contar. A ação escolar se tornou muito ineficaz e a hegemonia da concepção construtivista no Brasil é em grande parte responsável por isso”, critica.

Descontente com os modelos educacionais oferecidos atualmente, Faria da Silva ainda acredita que permitir o convívio dos filhos na escola torna muito difícil manter o controle da formação moral que prefere que eles tenham. “O mundo está girando muito rápido atualmente e isso cria uma modificação na estrutura moral que precipita a infelicidade e torna as pessoas mais insensíveis, dificultando a auto-reflexão do homem e da família”, afirma.

Católico e devoto da família, Faria da Silva admite que, se as coisas continuarem como estão, em breve ele e sua esposa representarão uma parte muito pequena da sociedade. “Nas escolas de hoje tudo é permitido. Não posso deixar que ensinem um minimalismo moral aos meus filhos”, afirma. E realmente ele não o permite. Após ser intimado pela primeira vez pelo Conselho Tutelar a colocar os filhos novamente na escola depois de tê-los tirado de uma escola particular, Faria levou-os para uma escola pública. “Mas foi um caos e eles ficaram lá por apenas duas semanas; aí resolvi enfrentar o Ministério Público”.

“Hoje o mundo e os costumes se transformam rapidamente, e as crianças são jogadas num turbilhão de informações em que a referência é não ter referência. E se os professores da escola pública não têm força para agir diante da vontade dos alunos, então a coisa é muito grave”, declara o professor. Com sua argumentação, Faria da Silva conquistou o direito de educar os filhos em casa com monitoramento e aplicação de provas realizadas por uma autoridade educacional de tempos em tempos. “A educação domiciliar no Brasil não está regulamentada, mas também não está especificamente proibida, se for comprovada”, diz.

Comprometimento social e familiar

Para o professor Carlos Simões Artexes, diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do Ministério da Educação, a iniciativa de apoio à Educação Domiciliar, a princípio, é mais maléfica do que benéfica: “Em nome da liberdade, o MEC compreende a proposta, mas dentro da política pública ela traz consequências secundárias”. De acordo com ele, o Brasil usou a obrigatoriedade de matricular as crianças e adolescentes no Ensino Básico como estratégia no direito à escolarização, o que torna o ensino domiciliar uma contraposição a essa tendência de comprometimento social.

“A educação domiciliar não fortalece a ideia da educação como direito de todos e configura interesses individuais. O modelo educacional das escolas de hoje é a forma de democratizar o conhecimento”, diz Artexes. Enquanto as desigualdades educacionais ainda estão sendo revertidas e o Brasil luta pela valorização da garantia educacional, monitorar a responsabilidade dos pais em relação à educação dos filhos tornaria tudo ainda mais difícil.

De acordo com Edimara de Lima, diretora pedagógica da Prima Escola Montessori, de São Paulo, nos países em que o ensino domiciliar é permitido, há um cuidado muito grande com a fiscalização e cobrança das famílias adeptas, independentemente dos motivos daquela família para optar pelo ensino em casa. “Existem situações em que a educação domiciliar é recomendada, como, por exemplo, quando a família vai morar em um país estrangeiro que não atende às necessidades educacionais da criança, ou quando princípios de uma cidade ou região não batem com os de nenhuma escola”, explica.

Mesmo com estas justificativas, Lima afirma que o primeiro grande drama deste estilo educacional é a questão da socialização. “A criança perde a vivência da vida escolar, que é rica e interessante”, afirma a educadora. Com regras distintas das existentes no ambiente familiar e autoridades diferentes das dos pais, a convivência com pessoas diferentes no ambiente escolar é algo que a educação domiciliar não irá suprir. “Discutir com o colega que tem uma opinião diferente da sua, por exemplo, é um tipo de situação que só ocorrerá dentro da escola”, exemplifica Lima.

Me empresta o lápis?

Para a também diretora pedagógica Anete Hecht, do Colégio I. L. Peretz, em São Paulo, a escola permite um convívio com colegas de classe que é diferente do convívio com os vizinhos, por exemplo – argumento usado pelos adeptos da educação domiciliar como suficiente para a socialização dos filhos. “Na escola, por exemplo, existem trabalhos em grupos, o aprendizado de respeitar as regras de convivência, viver em um mundo que não é isolado aprendendo com o modelo do outro, do par. Mas isso se manifesta na hora de aprender. Na hora de brincar, é diferente”, explica a especialista.

Em sala de aula as crianças e adolescentes tiram dúvidas uns dos outros e cada um acrescenta um conhecimento a mais para o outro, coisa que, para Hecht, dificilmente aconteceria na educação domiciliar: conhecer o mundo em par com o outro, com o grupo que está no mesmo momento de desenvolvimento que a criança. Já para Lima, esta questão vai mais além: “Uma criança educada em casa pode ter todo o conteúdo para passar no vestibular, se este for o objetivo dos pais ao optar pela educação domiciliar. Mas existe a possibilidade do jovem que foi educado assim ter dificuldades para conviver na universidade, onde ele viverá em um espaço em que ele não é o centro, por exemplo”.

Para Luiz Algarra, é muito difícil comparar o modelo de Educação Domiciliar com o modelo formal e os benefícios ou malefícios de cada uma dependem da meta a que se propõem. “Na educação domiciliar, se a meta é fazer com que a criança passe no vestibular, este será o resultado. Se a meta é a criança ter condições de viver bem em sociedade e desempenhar uma profissão, este também será o resultado”, acredita o especialista. Defensores da educação domiciliar apontam que, no caso do modelo formal, na maioria das vezes a meta é a competição – e é aí que mora a contrapartida da socialização.

“Se cada vez mais a maioria das escolas possui espaços de socialização restritos, onde ninguém discute e os professores veem os alunos como máquinas, o espaço relacional está então degradado e desrespeitoso”, explica Algarra. Ele acredita no poder da socialização em casa e na comunidade onde uma criança ou jovem vive, fora do modelo de educação atual. “Além disso, vejo que o sucesso do jovem no vestibular está muito ligado à segurança e tranquilidade, coisa que a educação residencial tem mais condições de propiciar. Os modelos pedagógicos negam os indivíduos ano após ano”, defende.

De acordo com Faria da Silva, interação social não é problema para seus filhos enquanto existe espaço de brincadeiras no prédio, convivência social na igreja e até mesmo na rua, com monitoramento dos pais. “Por volta dos 15 anos, quando eles terão vínculos sociais sem uma supervisão tão intensa pela parte do pai e da mãe, é que pretendo colocá-los no ensino formal. A partir deste momento, ele ganha outra dimensão”, diz o professor. À medida em que seus filhos forem se tornando mais autônomos, Faria da Silva planeja inseri-los em uma convivência social maior, sem a supervisão parental. “Além do mais, eles precisarão se preparar para o nível superior num patamar de especialização que nós, eu e minha mulher, não podemos oferecer”, observa.

De olho na fechadura

De acordo com a deputada Nilmar Ruiz, o modelo adotado pelo Estado é a educação como obrigação do Estado e participação da família, já que a escola não trata somente da educação cognitiva, mas também social e emocional. Para a diretora pedagógica Edimara de Lima, no entanto, a lei não deveria fechar as portas para a educação domiciliar, nem tampouco escancará-las. “Não acredito que somente pedagogos podem dar aulas. Meus receios quanto em relação à educação domiciliar, além da questão social, seria de que isso poderia satisfazer necessidades não-saudáveis de algumas famílias, como aquelas que são essencialmente discriminatórias”, revela.

Segundo ela, há um risco que se corre no caso da educação domiciliar ser devidamente admitida e legalizada no Brasil: famílias que se isolarão e exercerão demasiado controle sobre os filhos. Enquanto nas cidades pequenas há uma vida comunitária muito forte, nos grandes centros esta vida social é menos densa, e o perigo moraria principalmente aí – na falta de convívio com aquilo que é diferente, o que forma e estimula o conceito da tolerância. Já para Algarra, a união dos Ministérios do Trabalho e da Educação para certificar o trabalhador sem diploma que já exerce uma função específica já é um passo a mais para a valorização do aprendizado informal. “Nossos jovens já estão se tornando aprendizes em espaços que hoje não são vistos pelo Estado. Fechar os olhos para isso significaria abandonar conteúdos importantes para capacitá-los”, afirma.
Entenda a linha pedagógica da escola do seu filho
Conheça os diferentes métodos das escolas do país e saiba o que pode ser oferecido ao ensino das crianças
Renata Losso, especial para o iG São Paulo | 28/01/2010 17:33


Levar o filho para o primeiro dia de aula não costuma ser uma tarefa fácil, mas ainda mais difícil é escolher a escola adequada. Com diferentes métodos de ensino, muitos pais ficam confusos na hora de decidir qual é a linha pedagógica mais indicada para a educação da criança.

Os especialistas em educação afirmam que uma criança saudável e sem grandes problemas emocionais se dará bem em qualquer escola, independente do método adotado, mas a linha pedagógica deve ser escolhida de acordo com a personalidade de cada criança - aquela em que ela tem mais chances de se adaptar e levar uma vida equilibrada.

É preciso ter em mente que muitas instituições de ensino estão misturando os vários métodos pedagógicos, o que para a pedagoga e psicopedagoga Mara Gitti Assis, da Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico (EDAC), de São Paulo, não é algo correto. No entanto, ela acredita que o verdadeiro educador busca o que é mais adequado para cada aluno. “Você pode ter uma escola construtivista, mas o aluno pode necessitar de algo mais tradicional, por exemplo. O educador deve saber a necessidade da criança”, alega Mara.

Saiba o que oferece e como funciona o método das diferentes linhas pedagógicas que são adotadas pelas instituições do país.

Escola Tradicional

Nesta linha pedagógica, a mais utilizada no Brasil, o professor é o dono do saber e o aluno caminha na medida em que ele vai adquirindo o conteúdo. A criança, nesta escola, deverá absorver todo o conhecimento que o professor transmite, sem questionamentos. O professor ensina a matéria de forma sistematizada e não precisa levar em conta as particularidades de cada aluno. Este é um método utilizado também nas Universidades do Brasil. É uma linha interessante para crianças que não possuem grandes dificuldades de aprendizado, já que o conteúdo pode ser decorado.
Método de avaliação: A linha tradicional mede o conhecimento memorizado do aluno, que é transmitido pelo professor, por meio de uma prova. Quem não atinge a pontuação mínima, é reprovado e deve cursar o ano novamente.

Escola Comportamental

É uma linha muito semelhante à Tradicional, colocada em prática pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, mas, nesta prática, o ensino é conduzido através de estímulos, com uma troca constante entre professores e alunos. Desta maneira, o educador questiona e, conforme a resposta do aluno, ele vai moldando o conteúdo e conduzindo as crianças à realidade.
Método de avaliação: É idêntica à tradicional, com a possibilidade do aluno ser reprovado se não atingir a pontuação mínima.

Escola Construtivista

Nesta pedagogia, criada por Jean Piaget, o aluno deve adquirir autonomia e formar o seu aprendizado por meio da construção de hipóteses e resolução de problemas. Diferente da Escola Tradicional, o professor não detém totalmente o saber, ele é um orientador dos interesses das crianças. É o oposto da linha tradicional.
Método de avaliação: Na maioria das escolas que segue esta filosofia, a avaliação é contínua, ou seja, o aluno é avaliado durante todo o ano escolar. No entanto, há escolas que aplicam a avaliação comum da escola tradicional.

Escola Montessoriana

Este método pedagógico, criada por Maria Montessori, parte do princípio de que a criança precisa ter uma experiência concreta para chegar à abstração, pois somente assim ela assimilará o conhecimento. As salas de aula das escolas que seguem a linha montessoriana costumam ter, em média, 20 alunos, e diferentes materiais para realização das aulas. Ali, os alunos podem escolher as atividades do dia, mas é preciso que ele cumpra o programa obrigatório para poder avançar. Com isso, o professor conduz o processo escolar.
Método de avaliação: Depende muito da escola. Pode haver uma prova agendada anteriormente ou apenas a avaliação do empenho e interesse do aluno.

Escola Waldorf

Neste método de ensino, a criança possui o mesmo professor e turma durante todo o ensino fundamental e aprende de acordo com o ritmo do seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual. Na pedagogia criada pelo austríaco Rudolf Steiner, o interesse e os questionamentos do aluno são muito respeitados. Além das matérias tradicionais, há aulas de jardinagem, música, marcenaria e teatro no currículo escolar.
Método de avaliação: O aluno tem o seu conhecimento e suas aptidões medidas em sua atuação ao longo do ano, por meio de relatórios descritivos. Se tiver muitas dificuldades de adaptação, pode ser aconselhado a mudar de classe ou escola.

Escola Freiriana

Baseada nos ideais de Paulo Freire para a alfabetização, os aspectos culturais, sociais e humanos são muito considerados nesta linha pedagógica, portanto, a criança que vive no campo, por exemplo, será educada de forma distinta da criança que vive na cidade. Além disso, neste caso, o conhecimento só fará sentido quando o aluno se tornar capaz de transformar seu mundo externo e interno. Na linha Freiriana, a ética, a humildade, o respeito e a solidariedade, entre outros aspectos, são bastante defendidos e a educação está mais ligada à felicidade pessoal.
Método de avaliação: Também ocorre continuamente, a criança é avaliada ao longo do processo educacional.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Escolas não salvam o mundo, diz secretária do MEC
Para Maria do Pilar Lacerda, não dá para pensar em melhora profunda da educação sem melhorar o País como um todo
Priscilla Borges, iG Brasília | 27/08/2010 07:00

Chegar aos mesmos níveis de qualidade educacional dos países desenvolvidos exigirá do Brasil mais do que investimento nas escolas. A opinião é da secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva. Em entrevista ao iG, ela diz que é preciso tirar o caráter “salvacionista” da educação.

“Não dá para pensar em uma melhora profunda da educação sem melhorar o país como um todo”, ela admite. No entanto, a mineira, formada em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que o Brasil tem motivos para comemorar. Para ela, a população passou a exigir qualidade e políticas que resolvam os problemas do País.

Para Pilar, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – que mede a qualidade de ensino em escolas, redes e municípios – está contribuindo para mudar o ensino oferecido pelas escolas do País. Primeiro, serve de medida de avaliação. Depois, passou a definir políticas e estratégias para vencer desafios. “O resultado virá em médio prazo. Mas as mudanças estão acontecendo. A sociedade acompanha o Ideb hoje e cobra responsabilidades”, diz.

Pilar conversou com o iG sobre os resultados do Ideb dias após a equipe de reportagem do portal ter percorrido, no início do mês, 1.000 quilômetros pela Bahia, o Estado que amarga algumas das notas mais baixas do Brasil no índice. Desde segunda-feira, uma série de reportagens mostrou a realidade que justifica o desempenho das escolas de quatro municípios.

Professora da rede pública em Minas Gerais, desde 1976, Pilar já foi secretária municipal de Educação da Prefeitura de Belo Horizonte e presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Para ela, os municípios se tornaram foco das políticas, especialmente os que mais precisam. “Invertemos a lógica”, afirma.

iG: Qual a importância do Ideb para o País hoje, em sua avaliação?
Pilar: Ter uma medida da qualidade de ensino e oferecer um norte para as políticas públicas, que oriente a tomada de decisão em todos os níveis. Em nível local, nos municípios, acho que o mais importante foi que o Ideb proporcionou que eles tivessem consciência do próprio desempenho. O Ideb só tem sentido se servir para orientá-los a melhorar.

iG: O que mudou na educação brasileira a partir do Ideb?
Pilar: Acho que a criação do índice mudou a orientação das políticas do MEC para os municípios. O regime de colaboração tomou outro rumo a partir da primeira divulgação do Ideb. Antes, a transferência de recursos voluntária – aquela além da obrigatória – era feita para os municípios que apresentavam projetos. Passamos a dar prioridade aos que eram mais frágeis depois do Ideb. Invertemos a lógica. Acredito que os gestores das escolas também estão mais conscientes sobre sua situação e mais focados nos projetos pedagógicos. A cultura de avaliar e planejar a partir dos próprios resultados está chegando às escolas e isso só foi possível por causa do Ideb.

iG: E o que ainda deve ser mudado?
O interior da escola - professores, pais e alunos – precisa se apropriar mais desses resultados. É preciso promover debates internos sobre eles, para que as próprias escolas tomem decisões a partir daí. Até o Ideb, não havia essa cultura de avaliação, a escola não se conhecia, não havia comparação possível ou preocupação com esse desempenho. Mas essa apropriação do Ideb pela escola ainda é muito frágil.

iG: Muitas variáveis externas à escola influenciam diretamente a qualidade da educação e não são mensuráveis. A senhora acredita que algumas sejam mais determinantes? Como a sociedade deve olhar o Ideb, sabendo que não é capaz de medir tudo o que influencia o ensino?

Pilar: É muito importante lembrar que os fatores extraescolares são muito determinantes para o sucesso escolar. Nenhum dos países desenvolvidos na área educacional tem uma distribuição de renda ruim. Não dá para pensar em uma melhora profunda da educação sem melhorar o País como um todo. Educação é necessária, mas não é suficiente para salvar o mundo. É preciso reconhecer as especificidades de cada local e articular trabalhos com outros setores, como a saúde, a assistência e até a área que cuida de planejamento urbano, como rede de água, esgoto, asfaltamento. O Ideb é muito importante porque aponta os lugares frágeis e os que têm bons resultados. As avaliações devem ser feitas para garantir aprendizagem para todos. Não adianta reprovar crianças para não fazerem a Prova Brasil ou passar todo mundo sem que tenham aprendido. Nenhuma pode ficar para trás.

iG: O que a senhora acredita que pode ser feito para mudar realidades como as que a reportagem do iG visitou e apresentou a você?
Pilar: É importante fortalecer as áreas do campo, para que as pessoas permaneçam nesses locais e se fortaleça uma massa crítica local. Criar políticas em diferentes frentes como saúde, assistência social. Interiorizar as universidades federais e as escolas técnicas, porque onde tem campus tem pesquisa, mestrado, doutorado. Isso mantém a juventude na região, formando a massa crítica que vai atuar nas escolas e criar políticas públicas. Coisas que impactam positivamente na educação.

iG: Qual o maior desafio na área educacional que ficará para o próximo presidente, em sua opinião?
Pilar: O maior desafio será garantir escola para todos os alunos de 4 a 17 anos, tudo ao mesmo tempo e agora. A ampliação do ensino obrigatório foi aprovada recentemente. Três milhões de brasileiros ainda estão fora da escola e, até 2016, terão de estar incluídas. Isso significa garantir espaço físico, vaga e projetos pedagógicos contemporâneos que garantam permanência com aprendizagem. Acho que o próximo presidente não deve mexer no Ideb por enquanto. É preciso dar mais tempo ao processo para pensar em ajustes.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Em Jussari, alunos não conseguem aprender a ler e escrever
No município com um dos Idebs mais baixos do País na 8ª série, disputas políticas e falta de projetos atrapalham estudantes
Priscilla Borges, enviada especial a Jussari (BA) | 24/08/2010 07:00

Na sala de aula da 3ª série da Escola Municipal Antônio Ferreira Nobre, na cidade baiana de Jussari, muitas crianças levantam a mão quando perguntadas se ainda não sabem ler e escrever. O enteado de Girlane Alves Ferreira, de 20 anos, é um deles. “A gente tem de escrever para ele copiar em cima. Ele ainda não sabe ler”, admite.

Girlane, que também não concluiu os estudos e ainda está na 8ª série, diz que não sabe o que fazer. Ela tenta, mas não consegue a atenção do garoto. Ele não consegue se concentrar. E não é por causa do irmãozinho de três anos, a outra criança da casa. Logo ele cansa de fazer as tarefas e vai brincar na rua. Sem autoridade, ela pede que o pai intervenha. Ele, que largou a escola na 5ª série, não ajuda em nada. A mãe do menino desapareceu. "Acho que isso interfere. Ela não dá uma notícia mais", reflete Girlane.

“A professora disse que não sabe mais o que fazer e que a família tem de ajudar. Ele não conhece nem o alfabeto. Vai repetir o ano de novo. Eu também não sei o que fazer”, comenta. Perdida, Girlane saiu da escola do mesmo jeito que entrou: sem solução para o caso do enteado.

Culpar a família pelo fracasso dos filhos na escola não é raro entre os professores de Jussari. Para eles, os pais estão ausentes da educação dos filhos. De fato, a escola não vai conseguir resolver sozinha todos os problemas que afetam o aprendizado dos meninos. Mas, como o marido de Girlane, muitos pais não frequentaram a escola.

A pedagoga Mônica Samia, que à convite do iG acompanhou a equipe de reportagem visitas às escolas de Jussari, localizada a 80 quilômetros ao sul de Ilhéus, ajudou a identificar as práticas ruins e as boas adotadas no município. Mônica, que já coordenou duas pesquisas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre o Ideb desde 2007, lembra que o discurso de culpar os pais pelo fracasso dos filhos é contrário às experiências de sucesso na educação. “As escolas, por mais eficazes que sejam, não vão dar conta dos problemas sociais. Mas os professores têm de ter compromisso com a aprendizagem do aluno, não com o simples ato de ensinar. Não é dizer que vão dar aula e pronto. É buscar alternativa quando o aluno não aprende”, pondera.

Mônica ouviu o relato desesperado de uma professora das séries iniciais. Nair Barreto, 58 anos, dá aulas há 22 anos. Ela admitiu que, este ano, já pensou em desistir de ensinar mais de uma vez. “Até o ano passado, me sentia muito bem dando aula. Agora, não sei como trabalhar com meus alunos. Já pedi ajuda à coordenadora, à diretora e à vice”, desabafou.

Ela conta que tem um estudante de 14 anos na sala, no meio das crianças, que ainda não sabe ler. “A maioria não aprendeu a ler na idade certa. Os pais vão mudando de cidade procurando emprego nas lavouras. Outros largam os filhos com os avós. Ninguém tem compromisso com a escola ”, lamenta Nair.
Jussari tem um dos piores índices de qualidade da educação no País nas séries finais (5ª a 8ª) do ensino fundamental. Essa fase só conseguiu atingir nota 1,8 (em uma escala que varia de 0 a 10) no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Nos anos iniciais, o desempenho foi melhor: 3,6.
Mas o fato é que muitas crianças e adolescentes ainda não aprendem. Um dos grandes desafios do município é reduzir o número de alunos atrasados (com idade avançada para a série em curso, a chamada distorção idade-série). Em um acordo feito com o Ministério da Educação para receber ajuda, o município havia se comprometido a matricular 900 estudantes em programas de correção de fluxo até 2011. Até agora, nenhum participou segundo os próprios diretores das escolas.

Brigas internas

De acordo com professores e coordenadores, as disputas políticas em Jussari são intensas. “Se professores discordarem dos diretores ou forem de partidos diferentes do prefeito, por exemplo, não dão aulas e pronto”, afirma Zaluar José Santos Júnior, 34 anos, professor de literatura e diretor da Escola Municipal Plínio de Almeida.

Em 2008, os estudantes chegaram a perder dois meses de aulas por conta de greves. O pagamento dos salários atrasava constantemente. “Mas, desde o ano passado, não houve mais atrasos”, garante a coordenadora pedagógica do município, Lucimeire Matos. “Não há justificativa mais para isso. Acho que os professores não estão preocupados com os alunos”, reforça Santos.

Ele assumiu a direção do Plínio de Almeida há pouco mais de um mês. Antes dele, Lucimeire havia dirigido a escola, única que possui turmas da 8ª série do ensino fundamental. Ela conta que o colégio tinha o apelido de Carandiru até o início de 2009. “Estava tudo destruído. Quadros, paredes, carteiras. Os meninos jogavam as cadeiras pela janela”, recorda.

A pesquisadora do Unicef acredita que a destruição física do colégio se explica no fato de os estudantes não se sentirem parte dele. “Quando os alunos se sentem parte da escola, a preservam. Cuidam do ambiente porque sabem que ele também é deles”, analisa Mônica.

Santos sente que os estudantes não vêem interesse na escola. Por isso, elaborou projetos para tentar resgatá-los. Ele e outros professores dão aulas de vôlei, futebol, dança e basquete para os jovens. A condição para permanecer nos projetos é tirar boas notas.

Stefany Araújo Carlos, 14 anos, estuda na Plínio de Almeida há dois anos. Ela diz que a indisciplina dos alunos era grande no ano passado, o que atrapalhava muito quem queria aprender. As aulas estão mais calmas. Para ela, os projetos ajudaram os alunos a se manterem interessados nos estudos. Ela é uma das que participa das atividades.

As dificuldades de aprendizado na adolescência são distintas das enfrentadas na infância. Sem ter descoberto o prazer da leitura ou compreendido os conteúdos lá atrás, sem mochila, caderno novo ou computador, Joanderson Costa, 16 anos, não consegue se concentrar mais nas aulas. Para ele, que é repetente e ainda está na 8ª série, a escola, as aulas e os professores são chatos.

Ele não gosta de ler ou escrever. Não pensa em fazer um curso superior. Promete "tentar" concluir pelo menos o ensino médio, porque sabe que, sem esse diploma mínimo, será difícil conseguir um emprego no futuro. "Eu só gosto de jogar bola. Queria ser jogador de futebol", diz.

O diretor da escola enumera alguns dos desafios que considera enormes para que o município consiga melhorar a qualidade de ensino. A primeira é a formação dos professores. Apenas nove dos 31 docentes da escola dão aulas das disciplinas em que se formaram. A outra é a evasão. “Nas turmas diurnas, 30% dos estudantes abandonam a escola. À noite, 70%”, alarma.

No noturno, os estudantes já são adultos. Santos conta que o cansaço e a busca por trabalho os faz desistir da escola. Durante o dia, saem da escola as crianças que acompanham os pais em mudanças atrás de trabalho também. O Conselho Tutelar tem ajudado a escola na tarefa de cobrar os pais que não mandam os alunos para a escola.

OS DESAFIOS DE JUSSARI (segundo professores, diretores, pais e alunos)
- Acabar com as disputas políticas entre professores, diretores e gestores e fazer com que todos se comprometam a ensinar os alunos de fato
- Criar projetos que incentivem a leitura e a escrita dos alunos. Não deixar que eles sejam aprovados sem aprender
- Estabelecer programas de reciclagem para os professores, plano de carreira para melhorar os salários e aumentar os salários
- Envolver os pais com a escola e, inclusive, estimulá-los a estudar
Desenvolver programas para combater a distorção idade-série e a evasão
Problemas na qualidade de ensino extrapolam a sala de aula
Municípios com piores Idebs não têm centro cultural ou áreas de lazer. Nas escolas, faltam bibliotecas e laboratórios
Priscilla Borges, enviada especial a Bahia | 24/08/2010 06:50

Os estudantes de alguns dos municípios com piores índices de qualidade na educação enfrentam problemas dentro e fora da sala de aula. Na sala de aula, professores com falhas na própria formação e sem cursos contínuos de atualização encaram disparidades que complicam o processo de aprendizagem. Como crianças e adolescentes que não aprenderam a ler e a escrever na idade correta e correm atrás do prejuízo. Muitas vezes, os alunos desinteressam-se pelas lições do professor. Em casa, não encontram o apoio que precisam. As famílias, quase todas com baixo nível de escolaridade, estão preocupadas em driblar a pobreza e a falta de emprego.

As estatísticas criadas para apontar a qualidade da educação não são capazes de medir todas essas variáveis, que influenciam diretamente o sucesso ou o fracasso de estudantes, escolas e municípios. O iG percorreu, no início do mês, mais de 1.000 quilômetros pela Bahia, Estado que amarga algumas das notas mais baixas do Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), para conhecer essa realidade por trás dos números.

Na maioria dos municípios visitados, grande parte da população se sustenta com o Bolsa Família. Os municípios, pobres, não oferecem biblioteca, espaços culturais, atividades esportivas ou de lazer. Nas escolas, não há livros ou laboratórios de ciências. Nas casas, falta qualquer material didático e escolar.


O índice

Criado pelo Ministério da Educação em 2007, o índice combina notas dos estudantes em provas de português e matemática, aplicadas na 4ª e na 8ª séries, com as taxas de aprovação dos alunos. O MEC estabeleceu metas para cada escola, rede, município, Estado e para o País a partir do índice. Em 2022, espera que as escolas de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental cheguem à nota 6, considerado o desempenho de países desenvolvidos. A meta para alunos de 5ª a 8ª série é de 5,5 no mesmo ano.
Ideb cria cultura de avaliação, opinam especialistas
Apesar de limitações, notas para ensino levam gestores e educadores a repensar práticas pedagógicas e buscar alternativas
Priscilla Borges, enviada especial à Bahia | 26/08/2010 07:01

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) está criando uma cultura de avaliação no País. A opinião da pedagoga Mônica Samia é compartilhada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que já realizou duas pesquisas sobre os impactos causados pela divulgação das notas que medem o ensino nos municípios brasileiros, desde 2007.

Apesar de reconhecer limitações nas estatísticas para avaliar todos os fatores que influenciam a qualidade de ensino nas escolas, Mônica acredita que o Ideb contribui para que professores, coordenadores, diretores e secretários repensem o próprio trabalho. “Ele possui falhas, mas retrata alguma coisa. O Ideb impulsionou as redes a quererem melhorar”, diz.

Calculado a partir das notas dos estudantes em provas de português e matemática, aplicadas na 4ª e na 8ª séries, e das taxas de aprovação dos alunos, o Ideb estabelece metas de crescimento para cada escola, rede, município e Estado. As duas variáveis foram escolhidas para medir o conhecimento dos estudantes e o quanto elas estão avançando nos estudos.

A educadora Maria de Salete Silva, coordenadora do programa de educação do Unicef no Brasil, acredita que os brasileiros precisam mudar o modo como encaram a avaliação. “Dar nota é sempre vinculado à punição, mas o grande objetivo da avaliação deve ser a melhoria. O Ideb é apenas um indicador, mas provocou mudanças em diferentes áreas nos municípios que cresceram as médias”, analisa.

O iG percorreu, no início do mês, mais de 1.000 quilômetros pela Bahia, o Estado que amarga algumas das notas mais baixas do Brasil no Ideb, em busca de conhecer a realidade por trás dos números e as justificativas do sucesso e do fracasso de escolas e municípios no processo educacional. Desde domingo, uma série de reportagens mostrou a realidade de quatro municípios: Apuarema, Dário Meira, Jussari e Boa
Vista do Tupim.

A convite do iG, Mônica acompanhou a equipe de reportagem em visitas às escolas de Jussari, localizada a 80 quilômetros ao sul de Ilhéus. Ela se impressionou com a descrença de alunos e professores. “Os estudantes não se sentem parte da escola. Os professores não têm compromisso com os alunos”, diz.

Os municípios visitados são apenas exemplos que se repetem em todo o País. Na Bahia, Mônica ressalta que o descaso com a educação é histórico. “As disputas políticas afetam muito o trabalho de gestão das secretarias municipais e acabam chegando às escolas, como ocorre em Jussari. Isso é cruel com os estudantes”, analisa.

Mudanças de postura

A última pesquisa coordenada por Mônica – Caminhos do Direito de Aprender – analisou municípios que foram mal avaliados e conseguiram melhorar o desempenho. Em todos, a vergonha de estar na lanterna os fez mudar. Em Apuarema, município com pior nota na 4ª série, professores e diretores envergonhados sentem o peso de estar no final da lista.

A falta de infraestrutura física das escolas, os problemas socioeconômicos dos municípios, os recursos escassos para investimentos em professores e colégios e a pouca participação dos pais na vida escolar dos filhos não impediram que gestores e educadores cruzassem os braços.

“Espaços adequados e limpos e bons materiais são direitos. As escolas não resolverão sozinhas todos os problemas sociais de onde estão inseridas. Mas os profissionais da educação não podem se isentar da responsabilidade que têm e deixar de buscar alternativas para que os alunos aprendam”, pondera Mônica Samia. Em Boa Vista do Tupim, a postura dos profissionais foi essencial nesse processo.

Especialista em formação de professores, Mônica critica a naturalização do fracasso escolar. “As escolas serem ruins e meninos não aprenderem é mais natural para o País do que eles irem bem. Essa cultura nociva está enraizada nas pessoas. Com a divulgação de resultados, isso está sendo rompido, porque aparece para a sociedade”, analisa.

Eni Bastos, superintendente de Avaliação da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, concorda. “Desde que o Ideb foi criado, a imprensa, a sociedade, as famílias acompanham o desempenho das escolas, querem saber se elas estão bem ou não. É importante termos uma avaliação externa, que possamos definir políticas para melhorar”, afirma. A superindente diz que os resultados nada confortáveis dos municípios baianos fizeram com que a secretaria estadual decidisse ajudá-los a melhorar.

Segundo Eni, serão realizados encontros com os gestores municipais para explicarem a importância e o funcionamento do índice este ano. Depois, eles pretendem organizar cursos de capacitação para os gestores e os professores. “Não vamos conseguir melhorar a rede estadual se não trabalharmos com a municipal. Precisamos identificar as dificuldades deles o quanto antes, para que eles aprendam”, defende.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Assédio moral é desrespeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos


Em razão da recente publicação em veículos de imprensa de artigo que questiona a atuação do Ministério Público do Trabalho no combate ao assédio moral praticado por patrões contra seus empregados, a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) vem a publico esclarecer que:

A dignidade da pessoa humana está no artigo 1º da Constituição como um dos fundamentos da República brasileira. A dignidade é um valor, mas não é uma abstração. Tem um conteúdo materializado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e na própria Constituição, em especial no artigo 5º.

O artigo VI da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida perante a lei. Um desses lugares é o ambiente de trabalho, onde se passa grande parte da vida. É preciso cuidar em especial do reconhecimento da dignidade no ambiente de trabalho, porque neste há uma relação de poder entre empregador e empregado, que precisa ser delimitada por regras, para não se degenerar em abuso e exploração.

A violência praticada no ambiente de trabalho como ameaça à dignidade do ser humano é denominada assédio moral. O assédio moral é um conjunto de condutas abusivas, de qualquer natureza, exercido de forma sistemática durante certo tempo, em decorrência de uma relação de trabalho, e que resulta em vexame, humilhação ou constrangimento de uma ou mais vítimas. Tem a finalidade de se obter o engajamento subjetivo de todo o grupo às políticas e metas da administração, por meio da ofensa aos direitos fundamentais. Pode, mas não necessariamente, resultar em danos morais, físicos e psíquicos.

Se o assédio moral ameaça a dignidade do ser humano, precisa ser combatido. O Ministério Público do Trabalho (MPT) é um dos instrumentos que a sociedade brasileira criou para defender a dignidade no ambiente de trabalho e, em especial, os direitos sociais dos trabalhadores. Os membros do MPT têm se esforçado para cumprir esta obrigação constitucional. Foram, assim, propostas inúmeras ações civis públicas visando concretizar o direito de todo trabalhador de ser tratado dignamente e reconhecido como pessoa. Mas a atuação ministerial não se esgota na esfera judicial.

O Ministério Público do Trabalho também participa ativamente de iniciativas de esclarecimento de empregadores e empregados sobre os limites a serem observados para manter intacta a dignidade do ser humano no ambiente de trabalho. Apesar dos recursos extremamente escassos, têm sido viabilizadas campanhas de conscientização, que se somam ao esforço pessoal dos membros do Ministério Público, frequentemente convidados para proferir palestras sobre o tema e para escrever artigos doutrinários, o que fazem voluntariamente.

Contudo, alguns não se conformam com esta atuação, pois ainda possuem uma mentalidade arcaica que não reconhece o valor do ser humano. Não percebem que o trabalho existe para o benefício de todos e não somente para aferição do lucro. Não se dão conta de que a produção pode ser alcançada sem desumanizar o trabalhador, sem tratá-lo como uma máquina ou como uma mera peça de engrenagem.

Exemplo deste pensamento ultrapassado pode ser encontrado em artigo que tem sido publicado em diversos veículos de comunicação, assinado pelo senhor Édison Freitas de Siqueira. Para atacar o Ministério Público do Trabalho, o senhor Siqueira maldosamente extrai frases do contexto a que elas pertenciam numa cartilha educativa e as utiliza para contestar o direito constitucionalmente assegurado aos trabalhadores de denunciarem quando estiverem sendo vítimas de assédio moral.

No entanto, nas modernas relações de trabalho, pautadas pela ética e responsabilidade social, essa cultura não tem mais lugar. Os que ainda pensam de forma contrária logo perceberão que o lucro é possível sem afrontar a dignidade do ser humano e que a produção é maior se o trabalhador estiver num ambiente de trabalho sadio e equilibrado, em que ele é tratado como uma pessoa. A missão de um verdadeiro empreendedor vai muito além do enriquecimento. Sua responsabilidade é ajudar na construção de um mundo mais humano.

Brasília, 23 de agosto de 2010,

SEBASTIÃO VIEIRA CAIXETA
PRESIDENTE

Fote: congressoemfoco
Em dois anos, número de afastamentos por depressão sobe 41%
A doença atinge 121 milhões de pessoas no mundo, segundo OMS
Maria Carolina Nomura, iG São Paulo | 25/08/2010 05:45

O número de afastamentos do trabalho por conta de transtornos afetivos saltou de 3.918, em 2007, para 6.403, em 2009, aponta o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Uma das justificativas para o aumento, segundo o órgão, foi a instituição do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), mecanismo que estabelece a causa da doença com o trabalho, em 2007. Como esse nexo ainda não estava regulamentado, muitas doenças eram subnotificadas.

Diagnósticos mais precisos e a disseminação de informações sobre a doença também auxiliaram os trabalhadores a reconhecerem os sintomas da enfermidade que pode ter sua origem no ambiente de trabalho e no estresse.

Trabalho e depressão - Um estudo feito pelo Instituto do Trabalho e da Saúde (Instituto of Work and Health), no Canadá, conduzido em 2006, constatou que as condições de trabalho estão conectadas com a depressão, especialmente em mulheres.

Segundo a pesquisa, das 218 mulheres entrevistadas, 30% mostraram ter sintomas de depressão que sugeriam um tratamento clínico. Entre os fatos que estariam relacionados à doença estão grande esforço no trabalho e pouca recompensa, falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e ter crianças menores de 18 anos em casa.

Doença de milhões

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a doença atinge 121 milhões de pessoas no mundo inteiro, 17 milhões só no Brasil. Estima-se que em 2020, será a segunda doença de maior impacto global, perdendo apenas para as cardíacas.

“O cansaço físico excessivo e a perda de interesse em geral dificultam a realização das atividades rotineiras. Tudo parece demandar esforço extra. O raciocínio e a memória ficam lentos e o que antes era fácil de entender e de resolver, agora não é mais”, explica a psicóloga clínica Viviane Sampaio.

“O deprimido esquece-se do que devia fazer, para quem ia ligar, o que escreveu ou falou. Por não conseguir armazenar os dados em sua memória, tem mais dificuldade para tomar decisões, se concentrar, se organizar e planejar suas tarefas”, acrescenta a psicóloga.

“Só chorava”

A advogada G.P, 30, que toma remédio para conter a depressão há quatro anos, conta que antes da medicação pensou em tirar a própria vida. “Eu só chorava. Não conseguia pensar, me vestir, comer, nada. Um dia, reuni forças e fui ao trabalho. No meio do caminho, me deu um ataque de pânico e só me lembro de ver uma amiga. Não sei como, mas consegui ligar para ela, que me salvou.”

A relações públicas Denise Muraro, 44, comenta que, apesar de ter saído do estado crítico de depressão, ainda não conseguiu voltar ao trabalho, do qual está afastada desde junho. “A terapia e a medicação estão ajudando, mas volta e meia, eu me pego novamente na cama, prostrada. Disseram para eu fazer exercícios físicos, mas, como, se não consigo nem levantar?”, diz.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Educar sem bater é possível
Especialistas diferenciam autoridade de autoritarismo e explicam os princípios para ter – e manter – a autoridade com seu filho
Tariana Hackradt, especial para o iG São Paulo | 18/08/2010 09:03

Impor limites não é tarefa fácil para pai algum. Muitos têm medo de perder o amor dos filhos por serem severos demais. Porém, a autoridade parental é indispensável para educar, criar consciência e, consequentemente, começar a construir o caráter das crianças. O importante é não confundir “criar regras” com “impor vontades”. E é possível fazer isso tudo sem bater.

Adela Stoppel de Gueller, psicóloga e coordenadora do setor de Clínica e Pesquisa do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientae, chama atenção para o fato de que os pais são, inicialmente, a referência mais importante de autoridade de uma criança – e não devem se esquecer disso nem quando são enfrentados pelos filhos. “À medida em que as crianças crescem e vão ganhando autonomia, elas questionam a autoridade parental e as leis da sociedade. Nesse momento, é importante que os pais mostrem aos filhos que a autoridade que eles detêm não é arbitrária, que não é um capricho”, recomenda.

A psicóloga explica que discutir as decisões tomadas pode desgastar a autoridade dos pais. “É importante que os pais, quando devem dizer não, não tenham que ficar se justificando. Não é a explicação do ‘não’ que coloca as crianças para pensar, é o ‘não’ puro e simples que faz com que elas reflitam pela lei e pelos limites”, defende Adela. A educadora Cris Poli reforça o argumento da psicóloga e afirma que, desde pequenos, temos que aprender que vivemos em uma sociedade que tem limites. “Pais não podem temer deixar os filhos frustrados porque vão negar algum pedido deles. Ensinar, colocando regras, é educar”, fala a apresentadora do programa “Supernanny” (SBT).

Autoridade x autoritarismo

A linha entre autoridade e autoritarismo parece tênue. Porém, os dois conceitos são bastante distintos. Enquanto autoridade significa impor regras necessárias para um bom convívio, autoritarismo é sinônimo de imposição, uso excessivo de poder. Mara Pusch, psicóloga da Unifesp, diz que autoridade parental não deixa criança alguma retraída ou traumatizada. “Os pais precisam entender que autoridade é mostrar que você tem o poder de decisão sobre o seu filho. O problema é que, quando dessa decisão não é bem exposta às crianças, vira autoritarismo. O filho precisa enxergar que tem autonomia para escolher o que quer, mas que o seu desejo pode ser ou não realizado”.

Uma criança se sente acuada quando sofre uma vigilância constante, quando há controle em demasia sobre as suas ações. Adela destaca que, ao notarmos crianças retraídas ou sufocadas, é preciso pensar que ela está sentindo o peso da autoridade como excessivo e que pode não ter forças para suportá-lo. “O retraimento é como um refúgio para os filhos que se sentem assim. É importante que os pais repensem seu lugar e escutem a criança. Às vezes, em alguns desses casos, é a criança quem cria uma imagem de um pai extremamente autoritário e isso não corresponde à realidade. Nessas horas, pode ser importante consultar um especialista”, afirma a psicóloga.

O fim da palmada

Um projeto de lei do governo federal que prevê punição para quem aplicar castigos corporais em crianças e adolescentes está tramitando no Congresso Nacional. Sua aprovação, que é bastante provável, marcaria o fim da era das palmadas e dos beliscões, tão conhecidos pelos adultos de hoje. A discussão, que gera muita polêmica, é tratada por Cris Poli com naturalidade. A educadora defende, desde sempre, que para educar não é preciso bater. “Métodos de disciplina é que ensinam o que é certo e errado. Palmadas e puxões de orelha são usados apenas pelos pais que não conseguem se impor e perdem a paciência com os filhos”, fala. “Eu sequer vejo necessidade de uma lei para proibir isso. O que precisamos é de uma campanha de conscientização disciplinar”, acrescenta a educadora.

Mara defende o castigo como uma boa forma de punição para os filhos que descumprem as regras da casa. Para a psicóloga, o castigo tem que ser algo que tanto a criança quanto o adulto consigam cumprir. Não pode ser uma atitude drástica. “Não adianta o pai ameaçar e não dar conta do recado. Se a criança só fica tranquila com o videogame, e o pai tira isso completamente dela, não vai funcionar. Não defendo castigos assustadores, pois isso gera medo”.

Adela complementa o argumento da psicóloga dizendo que os pais devem refletir sobre os castigos que impõem e admitir quando foram severos demais na hora de aplicá-los. “Admitir um erro não implica em perder autoridade, ao contrário, é algo que pode fortalecer os pais porque a criança vê ali um ser racional, que reflete sobre suas ações”, diz.

Recuperando a autoridade

Nunca é tarde demais para recuperar a autoridade com o seu filho. Pelo menos é o que dizem as três especialistas. Para Adela, antes de tentar resgatar o controle da situação em casa, os pais têm que olhar para si mesmos e recuperar a confiança em si. “Se conseguirem isso, os filhos vão perceber e passar a confiar na palavra deles”, explica.

Para os casos mais graves, quando as crianças já não respondem às regras e fazem birra por qualquer coisa, Mara sugere terapia familiar. “Pode ser bom para o pai entender por que perdeu a autoridade e visualizar a dinâmica da casa. Normalmente, quem está dentro da situação não consegue enxergar direito. É importante também perceber como a criança age em outros ambientes, se é sem limites fora de casa”, recomenda.

Cris Poli afirma que o mais importante é que os pais se convençam de que a autoridade está com eles e que educar é uma responsabilidade, não uma escolha. “A minha experiência indica que o primeiro passo é assumir o papel de educador dentro de casa e se posicionar com firmeza. A partir daí, o pai ou a mãe tem que rever sua postura e tentar mudar o que está errado”, finaliza.
Bater em crianças: crime ou educação?
Em mais de 20 países, bater no filho pode levar os pais à cadeia. No Brasil, campanhas buscam colocar fim à “palmada pedagógica”
Clarissa Passos, iG São Paulo | 15/12/2009 13:17

Em agosto deste ano, depois de um polêmico referendo realizado pelo correio, a Nova Zelândia consultou a população sobre a lei conhecida como “antipalmada”, promulgada em 2007, que torna crime dar uma palmada nos filhos. A maioria das pessoas, 87,6% dos eleitores, votou pela extinção da lei, ou seja, quer voltar a ter o direito de dar uma palmada “pedagógica” nos filhos. O governo neozelandês, no entanto, ainda não decidiu se vai alterar a legislação e revogar, de fato, a lei.

Na Suécia, desde 1979, bater em uma criança – ainda que seja um eventual tapinha depois de uma malcriação – pode levar os pais para a cadeia. O país foi o primeiro a proibir as palmadas “padagógicas”. Na América Latina, Uruguai, Venezuela e Costa Rica já seguiram o exemplo sueco e enquadraram a palmada como crime. Além deles, países como Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Israel também criaram leis criminais que protegem a criança de eventuais palmadas, ainda que seja com o intuito de educá-la.

No Brasil, o tapinha visto como educacional não é crime e continua sendo socialmente aceito – desde que ocorrido no âmbito familiar. “Aqui, a chamada palmada pedagógica não é penalizada do ponto de vista criminal. Agora, se ela levar a algum tipo de dano físico, pode ser enquadrada como lesão corporal”, define Paulo Afonso Garrido de Paula, procurador de Justiça do Estado de São Paulo, professor de Direito da Criança e do Adolescente da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

De acordo com o promotor, que também é um dos autores do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), tornar crime o hábito de dar palmadas ainda não é o melhor caminho para o Brasil. “Criminalizar é complicado porque é difícil determinar os limites da palmada pedagógica”, diz.

O ideal seria apostar primeiro em uma mudança cultural. “O caminho é investir em campanhas educativas, que expliquem que não é causando dor que você vai conseguir educar bem”, opina Paulo. Uma das iniciativas desse tipo no Brasil é a rede “Não Bata, Eduque”, que visa contribuir para o fim da prática da palmada como instrumento de educação. Nascida em 2005, a rede conta com o apoio de várias instituições, como a Fundação Xuxa Meneghel, capitaneada pela apresentadora.

Leis brasileiras

No Brasil, a lei é guiada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A primeira parte do Estatuto proclama os direitos essenciais dos menores, como o direito à integridade física, moral e espiritual. A segunda parte criminaliza algumas condutas, como submeter uma criança a vexame ou constrangimento – coisa que pode ser feita mesmo sem palmadas.

O Estatuto também obriga que agentes da saúde, professores ou outros profissionais sociais que tenham relação com a criança denunciem qualquer suspeita de abuso ou maus-tratos.

Mas, afinal, bater para educar funciona? Para Maria Irene Maluf, pedagoga especialista em Psicopedagogia e Educação Especial, a resposta é clara: bater não funciona. “O tapa pode resolver na hora, principalmente quando a criança raramente é repreendida dessa forma, mas não ensina o autocontrole”, alerta. O melhor é mostrar por meio de repetições e do estabelecimento claro de limites.

Aos adultos que ainda acreditam que um filho que não apanha vira uma criança sem limites, a pedagoga explica que ocorre o inverso: pais que sempre recorrem às palmadas é que podem perder os parâmetros. “Agressões são formas de desrespeito e deixam marcas de rejeição. Ou acovardam diante da vida ou criam brutamontes que farão ainda pior com seus próprios filhos”, diz ela.
Uma lei para punir ou um programa para educar os pais?
Os objetivos da lei antipalmada seriam mais adequadamente atingidos com a adoção de um programa educativo
28/07/2010 12:04- Marlene Ortega

Você, como mãe, editaria “leis” como método de educação de seu filho? Pois é, parece que o governo pretende educar os pais a educarem seus filhos justamente por meio de uma lei. Se nos parece que isso não irá funcionar, qual seria o objetivo de proibir os pais de usarem palmadas pedagógicas na educação dos filhos? Os defensores da lei antipalmada afirmam que os castigos corporais aplicados às crianças deixam nelas marcas psicológicas que se manifestam na fase adulta.

Muitos de nós ainda não entendemos esse argumento, até porque levamos algumas boas palmadas quando criança. E, ao recordar de alguma traquinagem que fizemos, reconhecemos ter sido merecedores do tal corretivo por abusar dos limites, ter esgotado a paciência e tirado os pais do sério. Apesar de cada pessoa e cada lar contar com seus padrões e valores familiares, tendo modos diferentes de agir para educar os filhos, passa a existir uma regra de ouro básica que todos devem respeitar: é proibido aplicar na criança ou no adolescente qualquer tipo de castigo corporal. Em resumo, as palmadas pedagógicas não serão mais aceitas no entendimento da lei.

Em minha opinião, cabe aos pais, e não à escola ou ao governo, a responsabilidade de definir como preparar os filhos para se comportarem adequadamente dentro e fora de casa, alimentando a formação de um adulto que tenha educação e equilíbrio para interagir na sociedade. Não se sabe ao certo se o governo quer apenas alertar sobre possíveis traumas que podem resultar dos castigos físicos ou se realmente pretende punir os pais infratores. É mais ou menos como punir uma mãe por pegar o filho pelo braço para levá-lo ao banheiro e escovar os dentes, depois de muitas tentativas de explicar à criança de cinco anos o quanto esse hábito de higiene é importante para sua saúde. Esse caso poderá em tese ir parar no juiz para decidir se a mãe teve um comportamento aceitável ou não.

E, se faz sentido coibir os castigos físicos, não seria necessário criar algumas outras leis complementares que proibissem, por exemplo, os palavrões e insultos dos pais dirigidos aos filhos? Tem lógica admitir que não só a força física, mas também insultos morais possam produzir abalos emocionais semelhantes, com sérias repercussões no adulto. As ofensas verbais desmedidas, de gritos e palavrões dirigidos às crianças, podem ferir muito mais do que as palmadas pedagógicas.

Não estou fazendo uma defesa das palmadas, mas apenas considerando quão restrito será o resultado de sua aplicação. Na realidade, os casos de real violência contra a criança já são punidos pelo código penal e civil. Agora, uma palmada ou outra no bumbum, sem machucar a criança, não deveria suscitar dilemas. Será ridículo ver um pai denunciado à polícia por ter dado uma palmada no bumbum do filho que se jogou no chão do shopping, fazendo um verdadeiro escândalo por não conseguir o brinquedo que queria. E ainda existe a possibilidade de que os filhos se sintam poderosos para começar a agredir os pais, sabendo que estão protegidos pela lei. Não sei se a lei irá tratar desses desdobramentos.

O Brasil quer copiar normas de outros países, sem analisar a cultura local e o estágio de educação da própria população. Nesses dias de debates sobre o uso das palmadas, um pai enviou um e-mail para a CBN perguntando se houve discussão com a sociedade e com os pais antes da definição da regra. Vale reafirmar que não o surgimento da lei não se justifica em função do caso da procuradora de justiça que espancou uma criança de dois anos que estava sob sua guarda. Para extremos como este, já existem penalidades previstas.

Sem dúvida alguma, a principal orientação aos pais estaria relacionada à importância de assumirem a responsabilidade pela educação dos filhos, conversando com eles desde cedo, transmitindo valores éticos, de responsabilidade e respeito nas relações. Então, um programa de educação valeria mais do que uma lei. O desafio atual é o entendimento de como deve ser a educação das crianças em meio a um cenário de tantas mudanças globais. Hoje, elas têm muito acesso à informação desde cedo, estão conectadas com grupos multiculturais, trocam conhecimentos o tempo todo e sentem-se reis e comandantes em seu espaço pessoal. As crianças vão para a escola já com dois anos de idade, ficando o dia todo por lá, com atividades que são ótimas, mas que não substituem a educação que devem receber dentro de seus lares. Que grande questão esta lei levanta.