quinta-feira, 8 de março de 2012

“A valorização do professor começa pelo piso”, diz Mercadante

 

Em entrevista ao iG, ministro afirma que reajuste tem amparo legal e defende recursos do pré-sal para auxiliar municípios


Priscilla Borges, iG Brasília



Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, valorizar os professores brasileiros é meta fundamental para o País. Desde que assumiu o comando do ministério, ele anunciou a distribuição de tablets para os docentes do ensino médio, programas de formação, bolsas de estudo. Mas admite que cumprir o piso salarial do magistério deve ser a primeira medida de Estados e municípios para valorizar esse profissional.

Em entrevista ao iG, Mercadante afirmou que essa não é uma tarefa fácil e que há um limite de contribuição do ministério nesse sentido. “Temos outras responsabilidades a cumprir no apoio às prefeituras”, lembra. Garantir recursos do pré-sal para a educação, na opinião dele, pode ser uma boa solução para auxiliar os gestores municipais e estaduais a garantir melhores salários aos educadores.


Durante a conversa de quase uma hora, o ministro ressaltou que os cálculos feitos pelo MEC para reajustar o valor do piso são baseados em determinações legais – rebatendo de forma discreta as críticas feitas pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, de que o ministro teria “opinião furada” sobre esse assunto.

Em pouco mais de um mês à frente do MEC – cujo orçamento é dez vezes maior do que o da Ciência, Tecnologia e Inovação, antigo cargo de Mercadante –, o ministro se diz maravilhado com o desafio. “É um ministério complexo, com uma agenda dinâmica, dimensões imensas. Eu considero o maior desafio estratégico do Brasil ter uma educação de qualidade para todos”, afirma.

Nos próximos meses, Mercadante espera anunciar novos projetos para a alfabetização e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um novo programa para a educação no campo será anunciado ainda este mês. Confira os principais trechos da entrevista:

 
iG: Ministro, quais serão suas prioridades à frente do Ministério da Educação?
Aloizio Mercadante: Nosso primeiro esforço é acelerar o programa de creches e pré-escolas. Nós estamos contratando 1,5 mil creches por ano, no entanto, as prefeituras só estão conseguindo construir as creches num prazo de dois anos e meio. Montamos uma força-tarefa para, nos próximos 60 dias, verificarmos quais as medidas complementares podemos oferecer aos prefeitos e estamos terminando um estudo com o Inmetro para oferecermos serviços de engenharia de novos métodos construtivos, tipo estruturas pré-moldadas e novas tecnologias para acelerarmos isso. A deficiência é grande. Na pré-escola, estamos com 80% dos alunos matriculados, mas na creche temos em torno de 26% de cobertura.

A segunda grande prioridade é alfabetizar na idade certa. Essa eu diria que é uma das grandes prioridades dessa gestão, porque nós temos uma disparidade muito grande. Só 4,9% das crianças do Paraná não são alfabetizadas até os 8 anos de idade. Em Santa Catarina, 5,1%, para darmos bons exemplos. Quando você vai para o Nordeste, em Alagoas, 35% das crianças não são alfabetizadas na idade certa. Quando há creche e pré-escola, você tem mais chance de alfabetizar na idade certa, por isso esse nosso esforço. Nós temos de formar os professores de forma continuada; ter material pedagógico consistente e disponível; precisamos motivar os professores, premiando e valorizando os resultados que venham a ter e temos de avaliar as crianças.

iG: O programa alfabetização na idade certa vai incluir todas essas ações? Quando ele começará a funcionar?
Mercadante: Todas. É um projeto bem completo. Analisamos as melhores experiências do Brasil para formatar esse projeto. Nesta quinta-feira, vou participar do encontro do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e quero discutir o projeto com eles. É importante ouvir deles contribuições, esse tem de ser um grande pacto nacional. Nós vamos disponibilizar recursos, materiais, formação para os professores e motivá-los no programa. O melhor instrumento para isso é um novo programa, o Escola sem Fronteiras, que promoverá estágios desses professores nas melhores escolas do Brasil e do exterior. O pessoal da Capes está estudando as modalidades possíveis, mas estamos pensando no período das férias.

Ranking: Porcentual de alunos com aprendizado adequado à série por cidade

iG: O programa também prevê a oferta de bônus financeiro aos professores que tiverem bons resultados?
Mercadante: Até agora, a forma que achamos mais consistente de estimular os professores é com a bolsa do Escola sem Fronteiras. Também tem de dar algum estímulo para escola. Ela também tem de ser valorizada pelos resultados. Nós vamos discutir com os secretários de Educação para concluirmos o desenho desse programa em parceria, de forma consistente.

Nós estamos lançando também ainda agora em março, o Pronacampo. Só 15,5% dos jovens do campo estão no ensino médio. No campo, 23,2% de todas as pessoas com mais de 15 anos não estão alfabetizadas. O campo precisa ter um outro olhar por parte do Estado.

iG: O senhor poderia adiantar quais serão as ações práticas desse programa?
Mercadante: Toda a produção de material didático vai ser nova, focada no campo. Vamos oferecer também um programa de formação de professores voltado para isso; construir novas escolas, inclusive escolas com alojamentos. Nos últimos sete anos, tivemos mais de 30 mil escolas fechadas no campo. Estamos fixando também que, para fechar uma escola, a prefeitura ou Estado seja obrigado a consultar os conselhos estaduais e municipais de educação. Vamos estabelecer alguns critérios para o fechamento de escolas acontecer. Às vezes, é necessário, mas tem havido uma política de reduzir despesas, transferindo o ônus para o aluno. É muito mais fácil e barato para uma prefeitura, em vez de ter uma escola no interior, comprar um ônibus e fazer o aluno andar 100 km pra ir e mais 100 pra voltar.

No ensino médio, o que nós identificamos é uma evasão escolar muito alta. Uma parte é por causa da defasagem idade-série que vai se acumulando e se manifesta no ensino médio com o abandono da escola. A outra é que, para grande parte dos alunos, é preciso associar trabalho e educação, o que vamos fazer com o Pronatec. Além disso, a escola precisa ficar mais interessante. Um dos instrumentos mais importantes e rápidos nesse sentido é a distribuição do tablet com projetor digital, para que o professor melhore e crie um ensino interativo na sala de aula. Estamos distribuindo lousa digital, vamos dar toda a produção do Khan Academy, traduzida em parceria com a Fundação Lemann, e o Portal do Professor já tem 15 mil aulas prontas. Esse material vai dar um salto de qualidade na sala de aula.

Eu reconheço que é um reajuste forte e que há dificuldades. Agora, estamos falando em pouco mais de dois salários mínimos. Se nós quisermos ter professores de qualidade no Brasil, é preciso oferecer salários atraentes. Se não, tudo o mais que estamos falando não vai acontecer a médio prazo”
iG: O senhor acredita que distribuir esse material muda a divisão cultural entre professores e alunos no que diz respeito à tecnologia?
Mercadante: O arranjo social da escola é do século 18. Os professores são do século 20 e os alunos, do século 21. Eles são nativos digitais. Temos que chegar no aluno. Começando pelo professor, a gente chega mais seguro. É inimaginável um professor do século 21 não poder entrar no Google. Isso vai mudar. Nós já vamos até aumentar a distribuição. Além de dar o tablet aos professores do ensino médio, vamos estender o programa para todos os alunos que participam do Programa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid). Os universitários que estão se formando e fazendo estágio na escola pública vão ter o equipamento, para que eles cheguem na escola preparados para trabalhar novas tecnologias para a educação. Fizemos um seminário com 27 grupos de pesquisa do País na semana passada e a avaliação da inclusão digital na escola é excelente. Estamos montando um relatório completo agora. Todos têm a avaliação de que o processo gera motivação, criatividade, interatividade. É uma mudança de paradigma, que o Brasil tem de enfrentar.

iG: O senhor falou da importância de valorizar o professor, dar estímulos, oferecer tecnologia e formação para que eles trabalhem melhor. Mas não é preciso dar melhores salários e carreira para que essa valorização ocorra?
Mercadante: Não há nenhuma tecnologia que possa substituir a relação professor-aluno, agora essa relação pode melhorar com boas tecnologias educacionais. A primeira forma de valorizarmos o professor hoje é cumprir o piso. Eu reconheço que é um reajuste forte e que há dificuldades reais. Agora, nós estamos falando em pouco mais de dois salários mínimos. Se nós quisermos ter professores de qualidade no Brasil, é preciso oferecer salários atraentes. Se não, tudo o mais que estamos falando não vai acontecer a médio prazo. Além disso, há a discussão da jornada, que deve ser um objeto de ampla negociação com os professores e entidades sindicais. A hora-atividade não pode ser tratada como uma questão trabalhista, desassociada de uma dimensão pedagógica.


O arranjo social da escola é do século 18. Os professores são do século 20 e os alunos, do século 21
iG: O MEC pode ajudar mais as prefeituras e os Estados a cumprir o pagamento do piso?
Mercadante: Nós repassamos, no mínimo, 60% do Fundeb para pagamento de salário. Tivemos um aumento significativo de repasse do MEC para Estados e municípios. O crescimento do orçamento do MEC foi exponencial nesses anos. Tudo isso é repassado na ponta. Temos de ter um pacto federativo em torno desse caminho. Temos outras responsabilidades a cumprir no apoio às prefeituras, como, por exemplo, as creches, a alfabetização na idade certa, o Pronacampo. Os investimentos tem de ser mantidos.

Rio Grande do Sul: Justiça manda governo gaúcho pagar piso a professores

iG: O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, deu uma declaração polêmica sobre a opinião do senhor sobre o piso...
Mercadante: A regulamentação do piso salarial foi votada por unanimidade pelo Congresso Nacional em 2008. Depois, o Supremo Tribunal Federal julgou uma ação confirmando a legalidade da lei do piso. Os parâmetros que o MEC utilizou para calcular o reajuste nesses três anos estão na lei aprovada, amparados por um parecer técnico da Advocacia Geral da União. Eu reconheço que há dificuldades para cumprir o piso, em grande parte dos casos por causa da estrutura da carreira, mas a maioria dos Estados já encontrou caminhos para resolver. Acho que os recursos dos royalties do pré-sal podem ser uma boa saída para nos ajudar nesse sentido.

iG: O senhor acredita que com a proposta atual do relator do Plano Nacional de Educação no Congresso de investir 8% do PIB em educação essas contas fechariam?
Mercadante: Precisamos votar logo o PNE, agora, para mim, a discussão mais relevante, além da fixação desse patamar, é associarmos o pré-sal à educação. Pelo menos 30% dos royalties. A gente poderia começar com participação maior e diminuir ao longo do tempo, fixar durante um período da história do Brasil, depois podemos cuidar de outros temas.

iG: Existem propostas para federalizar a carreira do professor? O senhor acredita que essa seja uma boa opção para alavancar a valorização desse profissional?
Mercadante: O Brasil tem o território do tamanho que tem, porque construiu um pacto federativo continental. Há um comando constitucional de que a educação é feita em regime de cooperação, de complementação. O papel do MEC é de assessoria técnica e financiamento. Os professores dos municípios e dos Estados são concursados, têm direitos adquiridos, têm uma carreira em andamento, o que nós temos é que trabalhar em parceria. Ter um grande pacto e trabalharmos na mesma direção.


iG: O senhor havia falado em criar equipes de professores que visitassem as casas das crianças dentro do programa alfabetização na idade certa. Isso se mantém?
Mercadante: Nossa expectativa – mas essa definição será feita em cada município – é de que os bolsistas do Pibid, que chegarão a 45 mil este ano, possam fazer visitas domésticas, como se fosse um médico da família. Em vez de Saúde da Família, teríamos um Educação na Família. Visitar, conhecer o ambiente ajudariam esses universitários a saberem das dificuldades dos alunos quando entrarem na profissão. E poderia reforçar o acompanhamento pedagógico das crianças. Essa experiência foi muito exitosa onde já foi feita, como no Uruguai.


iG: O senhor já definiu mudanças para o Enem? Há uma meta de ampliação do banco de itens para este ano? E o que vai mudar na redação?
Mercadante: Na semana passada, 24 universidades estiveram trabalhando online, inclusive no final de semana, para reforçar o banco de itens e foi um sucesso espetacular. Reforçamos muito o banco. Vai dar muito mais segurança ao processo. Nossa meta é chegar ao padrão americano, com 100 mil itens. Eles demoraram 85 anos, nós temos de chegar antes, mas o número de itens é uma informação reservada do Inep para a segurança do sistema. Nós vamos mudar a correção da redação. Não temos ainda uma posição fechada. Criamos um comitê de governança do Enem, com participação das universidades e um comitê técnico-científico, com avaliadores convidados e a equipe do Enem. Eles estão discutindo algumas alternativas para dar mais segurança à correção e diminuir a dispersão das notas, além de fortalecer os corretores. A redação sempre tem alguma subjetividade, então estamos aguardando os estudos para poder bater o martelo. Ter
Primeiro problema de Mercadante

iG: O senhor assumiu o ministério com uma denúncia revelada pelo iG sobre irregularidades no Prouni e determinou mais transparência à divulgação de preços e descontos. O MEC vai fiscalizar o cumprimento da portaria?
Mercadante: Fizemos uma reunião com todas as associações e entidades do setor privado e eles se comprometeram em autorregular o padrão de fixação das normas exigidas pela portaria. Vamos fiscalizar e exigir. É muito importante dar transparência ao pagamento de matrículas, com esses dados disponibilizados para darmos mais segurança aos estudantes. Eles têm direito à informação. Antes de pensar em penalidades, o que nos interessa é assegurar que isso seja implementado.

Foto: Alan Sampaio Ampliar
Mercadante se diz maravilhado com o desafio do Ministério da
  Educação

quarta-feira, 7 de março de 2012

Confiar na intuição pode ajudar a adivinhar eventos futuros

 

O palpite tem mais chances de estar certo se a pessoa tiver alguma informação sobre o assunto e confiar na intuição



Verônica Mambrini, iG São Paulo


Foto: Arquivo pessoal Ampliar
Ila fox ouviu a um mau pressentimento e trocou um terremoto por férias na praia


Há um ano, a ilustradora Ila Fox, 29 anos , estava com o destino decidido para as férias. Iria para o Chile com o marido, e de quebra, conheceriam a Ilha de Páscoa. Guias comprados, roteiros sendo definidos, e sem nenhum motivo, ela “pegou bode” da viagem. “Eu desanimei. Resolvemos ir para Pernambuco, conhecer Porto de Galinhas, em vez de ir para o Chile.” Da praia, o casal acompanhou pelo noticiário quando aconteceu um terremoto no Chile. “Estaríamos justamente na Ilha de Páscoa, onde houve até alerta de tsunami. Se tivéssemos ido, a viagem estaria acabada na metade!”, diz a ilustradora.
Para os pesquisadores da Columbia Business School, a intuição de Ila não tem nada de sobrenatural. Intuição é conhecimento acumulado!

É esse conhecimento acumulado, que nossa intuição resume para nós, e que nos permite fazer melhores previsões. É uma janela que os raciocínios mais analíticos bloqueariam.
“Quando confiamos em nossa intuição, o que parece certo ou errado resume o conhecimento e as informações que adquirimos conscientemente e inconscientemente sobre o mundo ao redor. É esse conhecimento acumulado, que nossa intuição resume para nós, e que nos permite fazer melhores previsões. É uma janela que os raciocínios mais analíticos bloqueariam”, diz Michel Plan, da Business, Marketing, Columbia Business School, que conduziu um estudo recente sobre os efeitos da intuição.

Em janeiro do mesmo ano, Ila tinha acompanhado o forte terremoto no Haiti. “Na época, eu pesquisei que o maior terremoto do mundo foi no Chile”, lembra. Não foi o primeiro insight de Ila: ela sempre tenta ouvir intuições. A última vez que não ouviu, se arrependeu. “Voltando de viagem de novo, tive vários pensamentos ligados a câmeras. Quando fui ver, tinha esquecido a minha no avião e teria daria tempo para recuperar se eu tivesse checado na hora se ela estava comigo mesmo”.


...quem acredita na intuição tem mais chance de prever eventos futuros, um efeito apelidado de “oráculo emocional”.
De acordo com o estudo conduzido pela Columbia Business School, quem acredita na intuição tem mais chance de prever eventos futuros, um efeito apelidado de “oráculo emocional”. Em uma série de oito estudos em que os participantes foram solicitados a predizer eventos futuros, como as chances do candidato democrata para a eleição americana de 2008, o vencedor do American Idol, as tendências no índice Dow-Jones, o vencedor da liga universitária de futebol americano e até a previsão do tempo, os resultados mostraram que os que confiavam mais na intuição tinham uma tendência maior de acertar o resultado final do que os que não confiavam nos insights.

Os pesquisadores usaram diversas metodologias para avaliar e medir a confiança dos participantes na própria intuição. Independente do método, os que confiaram foram mais precisos nas previsões do que o grupo de controle. Numa das pesquisas, envolvendo a candidatura de Clinton ou Obama em 2008, os 72% dos confiantes na intuição previram corretamente Obama, contra 64% dos não confiantes na intuição.

No American Idol, a diferença era de 41% de acerto no vencedor para os confiantes contra 24% dos pouco confiantes. Em outro estudo, os participantes tiveram de predizer os índices da Dow Jones. Os confiantes foram 25% mais precisos.

De acordo com os pesquisadores, a teoria funciona de forma mais exata quando os participantes da pesquisa têm informação relevante sobre o assunto. Por exemplo, em um dos testes, os participantes que confiavam na intuição acertavam mais a previsão do tempo, porém só quando ela se referia a locais perto da casa deles, não cidades em outros países.

...os resultados mostraram que os que confiavam mais na intuição tinham uma tendência maior de acertar o resultado final do que os que não confiavam nos insights.
Se tivermos uma base sólida de conhecimento sobre determinado assunto, o futuro não precisa ser totalmente indecifrável, mas precisamos aprender a deixar nossa intuição falar.

 

terça-feira, 6 de março de 2012

“A educação básica terá um colapso por falta de professores”

 

Maria Lucia Vasconcelos, professora e ex-secretária, lançou livro sobre a etapa escolar e avalia que País deve investir no docente



Marina Morena Costa, iG São Paulo |

Em meio ao debate sobre o reajuste e o cumprimento do piso salarial do magistério, Maria Lucia Vasconcelos é enfática: sem valorização da carreira, teremos um colapso na educação básica pela falta de professores. “Tem que haver investimento do Estado no professor. É uma profissão estratégica”, afirma a ex-secretária de Educação de São Paulo e atual presidente do Conselho Municipal de Educação da capital paulista.

Foto: Divulgação Ampliar
"Educação está na pauta na imprensa, mas não está na pauta política”, avalia a professora Maria Lucia Vasconcelos


A professora e ex-reitora da Universidade Presbiteriana Mackenzie lançou nesta terça-feira o livro “Educação Básica” (Editora Contexto), no qual discute os principais temas e problemas dessa etapa com outros educadores. Os cinco capítulos abordam a formação do professor, a autoridade do docente, a ação do professor em sala de aula, o diálogo na escola e o olhar jornalístico para a educação.

“A autoridade tem que ser exercida em todos os níveis da educação. Dar liberdade excessiva para o aluno acaba complicando a relação dos docentes com os estudantes”, destaca Maria Lucia. Para a educadora, os professores precisam chegar à sala de aula melhor preparados e mais seguros de seu trabalho para conduzir os alunos. E a formação universitária deve ser reformulada, para que esteja mais próxima da realidade escolar.

Leia a entrevista concedida do iG:

iG: Muitos jovens profissionais reclamam que a faculdade está distante das salas de aula, com professores que não conhecem a realidade atual e oferecem uma formação técnica e prática muito deficiente. As licenciaturas precisam de uma reformulação para formar melhor os nossos professores?

Maria Lúcia: Não há diálogo entre a universidade e a educação básica. Há um fosso. A universidade continua fazendo o que ela acha que deve fazer sem conhecer a realidade e as necessidades dos professores. Não vejo como melhorar a qualidade da formação sem mexer nas licenciaturas e na valorização do professor. Daqui a pouco vamos ter um colapso na educação básica pela falta de professores. Já estamos com uma crise braba, para algumas disciplinas como história e geografia em que é muito difícil encontrar professores. Tem que valorizar a carreira, torná-la mais atraente.

Foto: Divulgação
Livro "Educação Básica", de Maria Lucia Vasconcelos trata dos temas e problemas desta etapa da educação

iG: Governos dos Estados reclamam do reajuste do piso e sugerem que ele siga a inflação...

domingo, 4 de março de 2012

Em vez de se aposentar, professora forma campeões de matemática

 


Com o mesmo salário a que teria direito em casa, Botelho continua a lecionar e tem cada vez mais premiados em Olimpíada de Matemática


Cinthia Rodrigues, enviada a Uberlândia


Desde que as Olimpíadas Brasileiras de Matemática para Escolas Públicas (Obmep) começaram, em 2005, a organização divulga quais são os professores com mais alunos premiados em todo o Brasil. A cada ano são cerca de 130 nomes. Quando a lista de 2011 foi divulgada, o iG procurou os listados em todas as sete edições e chegou a apenas três heptacampeões. Entre eles, uma professora que poderia estar aposentada, recebendo o mesmo salário em casa, mas todo ano assume novas classes - e nelas surgem campeões da competição.


Foto: Cinthia Rodrigues/iG
Maria Botelho e o ex-aluno Bruno Sá relembram resultados em Olimpíadas de Matemática


Maria Botelho Alves Pena, 51 anos, é professora da rede pública há 31 anos, os últimos 20 deles em Uberlândia, Minas Gerais. À façanha dela só se igualam Antonio Cardoso do Amaral, da pequena Cocal dos Alves, já conhecida por ser um fenômeno na Obmep, e José Luiz dos Santos, do Colégio Militar de Salvador.

Cada vez que a gente forma um medalhista, ele vai embora. Vão para a faculdade, às vezes para o exterior... Vão construir nosso futuro"
Mesmo neste seletíssimo grupo, uma desvantagem destaca a professora em relação aos demais hepta. Amaral acompanha os mesmos alunos do 6º ano ao ensino médio. Neste percurso, às vezes, um aluno é premiado várias vezes enquanto avança nos estudos e antes de se formar. José Luiz também tem o privilégio de trabalhar em uma instituição federal com alunos selecionados e recursos financeiros acima da média. A professora mineira atua em uma escola comum, a Messias Pedreiro, e com alunos dos últimos anos do ensino médio.

“Cada vez que a gente forma um medalhista, ele vai embora”, diz ela com um sorriso largo. “Vão para a faculdade, às vezes até para o exterior... Vão construir o nosso futuro”, explica orgulhosa.
Nas duas primeiras edições das olimpíadas ela trabalhava apenas com turmas de 3º ano. Em 2005, a escola teve 17 menções honrosas e um ouro. A medalha e a 14 menções vieram para alunos da Botelho, como é chamada por colegas e estudantes. Em 2006, foram 28 menções, um ouro e uma prata. De novo, medalhas e a maior parte dos premiados estudaram com ela.

Foto: Cinthia Rodrigues/iG Ampliar
Ficha da biblioteca de um dos alunos mostra que a pesquisa vai além da sala de aula

“Começaram a dizer que só dava para ganhar no terceiro ano, então eu peguei turma do segundo (ano do ensino médio) também”, conta. Logo, os premiados começaram a vir também desde o segundo ano. Agora, ela inscreve a escola inteira, alunos dela ou não, de todos os anos. “Alguém não quer participar?”, perguntou em uma sala de primeiro ano, na quinta-feira, após contar a história de sucesso da escola. Ninguém levantou a mão.

O que ela faz de diferente?

Perguntados sobre o que explicaria o desempenho da professora, seus alunos levantam hipóteses. “Ela adora o que faz, não para um segundo, está sempre cheia de livros e caixas. É até engraçado com aquele tamanho dela”, diz Steffn Borg, um dos premiados em 2009, se referindo ao 1,54 metro de altura da mestre.

Bruno Miranda de Sá, premiado com prata em 2010 e 2011, acha que é o incentivo a pesquisa. “Eu não sei se ela sabe mais que os outros professores, apesar dela saber muito, mas ela instiga a gente a se aprofundar. Traz sempre um exercício mais complicado para quem quiser evoluir no assunto”, diz.

O incentivo funciona. Cartões da biblioteca de ex-alunos mostram que a maioria dos livros emprestados são de matemática incluindo títulos como “Ensaios fundamentais”, “O romance das equações algébricas”, “A arte de resolver problemas” e “O último teorema de Fermat”. Alunos se reúnem fora do tempo de aula e até aos sábados para fazer exercícios extras.

Patrick Nunes Leite, de 16 anos, menção honrosa em 2011 e que agora está no último ano do ensino médio, acha que a professora se diferencia por dar importância a cada exercício ou dúvida. “Lembra aquela questão do Ita (Instituto de Tecnológico de Aeronáutica)?”, provoca.

Foto: Cinthia Rodrigues/iG Ampliar
Cerimônia de premiação dos destaques de 2011 na Obmep

Botelho conta a história: “Ele me aparece com questão de vestibular faltando cinco minutos para acabar a aula. Geralmente, quando são da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), eu nem ligo, porque conheço todas, mas era do Ita (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). Eu ia dizendo ‘ai’ quando o sinal tocou. No final, consegui achar o problema logo e mandei a resposta para ele”, diz ela e o aluno completa: “Ela colocou no meu facebook em minutos, sendo que era algo totalmente fora da aula dela”, diz.

Motivação

Financeiramente, todo o trabalho de Botelho desde o ano passado é extra. Ela completou o tempo mínimo para aposentadoria, de 25 anos, em 2005. Na época, não podia se aposentar por não ter completado 50 anos de idade, o que ocorreu em 2010. "Eu tenho dois cargos de 24 horas cada. Me aposentei de um e outro mantenho para continuar lecionando. Por cada um, meu rendimento é exatamente o mesmo, R$ 1.500 cada", conta.

Basta uma visita à escola para entender que a motivação dela vai além do salário. Na última quinta-feira, ela, os colegas e a direção preparam uma festa para anunciar os 53 premiados de 2011 (1 medalha de prata, 5 bronzes e 47 menções honrosas). A maioria dos alunos, já está na Universidade Federal de Uberlândia, mas veio apenas para a celebração. "Aquele ali está fazendo engenharia, aquele também. Tem um que passou para engenharia, mas preferiu cursar matemática", vai apontando.


Foto: Cinthia Rodrigues/iG Ampliar
Raphael, menção honrosa e medalhista após ter sido reprovado antes de estudar com Botelho

Botelho também não sabe dizer o que faz de diferente. "É o feijão com arroz", chega a dizer. Para ela, o que forma os campeões é o mesmo que a mantém ali: o ambiente. "A turma vai pegando um gosto por estudar e vai procurando fazer mais, ir mais longe, isso afeta os demais", analisa.

Um exemplo que ela gosta de citar é o do ex-aluno Raphael Nunes Pacheco, que chegou a ser reprovado no segundo ano e era desinteressado pelos estudos. "Quando eu soube, peguei no pé dele. Um menino inteligente deste! Aí, falei para a turma: quero que vocês se encarreguem de acolhê-lo e puxá-lo para o grupo de vocês." Em 2010 ele recebeu uma menção honrosa e, em 2011, uma medalha de bronze.

"Você não pode gostar de nada que não entende", diz o ex-aluno que também voltou para a festa. "História e geografia ainda dá para você ir levando mais ou menos, mas a matemática precisa ser entendida inteira. O aluno só gosta depois que entende que um exercício complicado é útil e pode ser resolvido com fórmulas. Acho que essa beleza é que ela mostra para a gente."

sexta-feira, 2 de março de 2012

Você é louco pelo quê?

 

Os prazeres cotidianos são extremamente importantes e cumprem um papel fundamental numa vida motivada e feliz


Verônica Mambrini, iG Delas |



Foto: Arquivo pessoal Ampliar
É raro o dia em que a chocólatra Karen fica sem chocolate

O chopinho com os amigos, a trilha sonora nossa de cada dia, o chocolatinho no fim da tarde. Quem não cultiva um pequeno prazer? Algumas pessoas levam tão a sério seus gostos e preferências que são tachadas de “viciadas” naquilo que gostam. Nem sempre é para tanto.

“Gostar de ler, de futebol ou de internet não é vício. É vício quando passa a perturbar outros prazeres na sua vida”, explica a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, autora de “Sexo, drogas, rock’n’roll & chocolate – o cérebro e os prazeres da vida cotidiana”.

A neurociência explica, existe uma distância entre prazer e vício
Faça os testes do Delas
É ótimo ser louco por alguma coisa. “Quanto mais prazer você sente, mais capacidade de sentir e encontrar prazer em outras coisas”, afirma Suzane.

Um bom exemplo é o exercício: quem encontra uma atividade física que gosta e começa a praticar, em poucos dias percebe que seu interesse e sua motivação por outras coisas e aspectos da vida aumentam. Faça o teste. Só não vale uma atividade que a pessoa não goste, porque o corpo entende como estresse.

Sem prazer seríamos dominados pela depressão
O prazer está longe de ser uma futilidade. “A ausência completa dele é a depressão profunda, que faz você não sair da cama porque o cérebro não encontra um motivo”, afirma a neurocientista.

A dose faz toda a diferença: o sinal de alerta acende quando um prazer se torna dependência. “O vício se forma quando a dose habitual de alguma coisa não é mais suficiente para dar prazer. Por isso que você precisa de uma quantidade ou intensidade cada vez maior para ter a mesma sensação", diz Suzana. É como se o cérebro de "blindasse" para se proteger de uma overdose de estímulos.

Há dois principais fatores que determinam o que vai detonar esse gatilho da recompensa: predisposições genéticas e experiências individuais. Um bom exemplo são as pessoas que adoram sabores amargos. “Quem é pouco sensível ao sabor amargo consegue apreciar sabores que os outros sequer toleram. É uma variação genética. Combinado com a história de vida, como uma boa lembrança associada, uma pessoa pode extrair um prazer extraordinário de algo que ninguém mais vai gostar”, explica Suzana.

Portanto, pode cultivar seus prazeres inocentes sem culpa. “A melhor maneira de viver com qualidade é justamente aprender a identificar o que nos faz bem e cultivar”, diz Suzana.

Agora leia histórias de pessoas que contaram para o Delas como se relacionam com suas paixões na vida.

Karen Polaz, louca por chocolate