segunda-feira, 4 de abril de 2011

Do amor, com amor

O amor não vem pronto, é construído entre os amantes 


Será imaginável que o Amor é aquele que vem pronto, do jeitinho que a gente imaginou? O outro pé do sapatinho de cristal, perfeito! - mas tão frágil, tão ilusório...

Ou será que é um encontro de gigantes que se enchem de coragem e humildade para despirem-se um para o outro, juntos e para que assim seja - juntos e verdadeiros, íntimos nas suas imperfeições- dinâmicas, mutantes, alquímicas imperfeições. Compartilhadas, convividas e compreendidas para que, na alquimia da comunhão, a matéria-prima da imperfeição possa ser transformada, integrada e virar mais intimidade, maior penetração, mais encontro, mais entrega. Para mais Amor. Maiúsculo e melhor. Melhor e mais maduro, porque mais real, ainda que menos ideal. Tudo bem, eu nunca quis ser um sonho.

Já sei que amar se aprende amando - do direito e do avesso, de a a z, dos ossos à pele. De verdade.

Também sei que cada um chega para O Encontro com marcas, marcos, cicatrizes, hematomas e fantasmas de dores e amores já vividos antes. Onde enfiar isso tudo para viver um Grande Amor?

Eu, que nunca quis ser um sonho, acredito que isso tudo também é da alçada do Amor, da grandeza do Amor: poder abrir-se e ser de verdade. Transformar o casal ideal (e irreal) em dois seres de verdade que vão, aos poucos, se revelando e crescendo juntos.

Eu, que nunca quis ser um sonho, prefiro ser à vontade, mas atenta e zelosa. Quanto mais leve e despida de defesas, mais atenta, quanto mais despida mais zelosa. Assim, creio, o Amor perdura, cresce, ensina, alimenta, fortalece, leva adiante - juntos.

Será isso um sonho?

É com o meu Amor que eu quero crescer. Aprender junto, perto, com. Quero poder rever e compartilhar minhas marcas, nódoas, marcos, medos e vícios com a mesma serena soltura com que partilho meus brilhos e néctares. Não para imperar, só para revelar, para contar dos caminhos da minha alma, das armadilhas que invento (ora presa, ora algoz), das artes e manhas de que quero me desenroscar.

Sonho é conversar sobre isso de mãos dadas, no banco da praça, na beira do lago, ao pé do fogo, no morno da cama, enroscada e saciada trocando confidências de alma nos braços do meu amado companheiro.

Como poderia ser a amizade suprimida das relações amorosas? Por que não ser o seu amor, também um de seus grandes amigos? Aliás, como amar alguém em quem não se confia e que não admiramos?

Saber que, às vezes, o outro acredita em meus potenciais mais que eu mesma – e me incentiva o salto,
acreditando na minha força de voo, é nutriente importante para o crescimento pessoal e profissional. Amor estimula e nutre.

Sinto que um amor desse tamanho nos obriga a enfrentar o que é difícil, aquilo que não-se-sabe-ainda, mas que demanda esforço e atenção. Porque nada vem pronto, nem chega de encomenda. Conviver não é fácil, apesar de tão desejável, porque envolve também nossos medos e manias. Sei que por ser difícil não se resolve no choque nem se dissolve do ato, requer esforço com paciência porque requer tempo, a atenção.

Assim, devagarinho e com dedicação, a relação cria raízes fundas na confiança e no diálogo, na parceira que constrói a intimidade – onde se faz o ninho em que o casal pode se aconchegar.

Lucia Rosenberg (Colunista do IG)

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