sábado, 12 de fevereiro de 2011

Exercícios vigorosos são aliados no combate ao câncer de próstata
Segundo pesquisadores, pacientes com a doença deveriam se exercitar por três horas por semana
The New York Times
Foto: Getty Images Ampliar
Exercícios vigorosos por três horas semanais podem reduzir chances de morte por câncer de próstata

Nova pesquisa sugere que pacientes com câncer de próstata que praticam quantidades modestas de exercícios físicos vigorosos regularmente aparentemente diminuem os riscos de morrer da doença.

Três horas ou mais por semana de prática vigorosa de ciclismo, tênis, corrida ou natação parecem melhorar o prognóstico entre tais pacientes, constatou a equipe de pesquisadores. Eles complementam, porém, que mesmo a atividade física moderada parece diminuir os riscos em geral de morte por qualquer causa.

“Este é o primeiro estudo realizado com homens com câncer de próstata a avaliar a atividade física depois do diagnostico em relação à mortalidade em virtude da doença e em geral”, observou Stacey Kenfield, autor do estudo e pesquisador associado do departamento de epidemiologia da Harvard School of Public Health e também do Channing Laboratory at Brigham and Women’s Hospital, ambos localizados em Boston.

“Nós observamos benefícios em níveis de atividade possíveis e nossos resultados sugerem que homens com câncer de próstata deveriam fazer atividades físicas para a saúde como um todo, mesmo que em pequena quantidade, como 15 minutos diários de caminhada, corrida ou ciclismo. Atividades vigorosas podem ser especialmente benéficas para o câncer de próstata, assim como para a saúde em geral, com a freqüência de três ou mais horas semanais”.

O resultado do estudo foi publicado na edição de janeiro do Journal of Clinical Oncology.

Os pesquisadores observaram que, embora o câncer de próstata seja o tipo de câncer mais comum entre homens norte-americanos, a notícia não é tão ameaçadora. Eles ressaltaram que mais de 80% dos pacientes com câncer de próstata têm a doença localizada, e o índice de sobrevivência de 10 anos após o diagnóstico é acima de 93%. O resultado disso é que mais de 2 milhões de americanos sobrevivem ao câncer de próstata.

O estudo

Para explorar como os exercícios podem melhorar as chances de sobrevivência, Kenfield e sua equipe acompanharam a rotina de exercícios de mais de 2.700 homens diagnosticados com câncer de próstata depois de 1990. As avaliações ocorreram a cada dois anos.
As atividades avaliadas foram a caminhada, corrida, ciclismo, natação, remo, subida de escadas, tênis, squash, frescobol e/ou golfe. Levantamento de peso e trabalho pesado ao ar livre também foram incluídos na analise, e todas as atividades receberam a chamada classificação “tarefa metabólica equivalente”, ou valor MET, de acordo com a quantidade deenergia que cada um necessitava em relação ao sedentarismo.

Depois de determinar a classificação MET abaixo de seis para atividades não vigorosas e acima de seis para as vigorosas, os autores determinaram quantas horas MET por semana eram gastas por cada paciente com base na natureza e no ritmo de cada atividade da qual participavam.

Um total de 548 pacientes morreu durante o estudo, um quinto deles como resultado direto do diagnostico de câncer de próstata. Mas, a equipe de pesquisa constatou que quanto mais ativos eram os pacientes, menor o risco de morte por câncer de próstata ou de qualquer outra causa.

Quanto mais horas os pacientes se dedicavam a exercícios tanto vigorosos como não vigorosos, melhor os resultados em termos de sobrevivência. Por exemplo, os homens que computavam nove ou mais horas MET por semana – o equivalente a correr, pedalar, nadar ou jogar tênis por cerca de 90 minutos por semana – apresentaram risco 33% mais baixo de morrer de qualquer causa e risco 35% mais baixo de morrer de câncer de próstata.

As atividades vigorosas, porém, aparentemente conferiram um maior benefício de sobrevivência do que as não vigorosas. Comparados aos homens que participaram de atividades vigorosas (como ciclismo, tênis, corrida e/ou natação) por menos de uma hora por semana, aqueles que participaram em 3 horas ou mais apresentaram uma queda de aproximadamente 50% no risco de morte por qualquer causa e 61% no risco de morte por câncer de próstata.

Na verdade, apenas as atividades vigorosas foram relacionadas a uma queda no risco de morte por câncer de próstata, observaram os autores do estudo.

Entretanto, como base nestes dados, mesmo uma pratica mínima de exercícios concedeu aos pacientes uma vantagem em termos de sobrevivência em geral. Por exemplo, os homens que registraram entre 5 e 10 horas semanais de atividades não vigorosas apresentaram risco 28% mais baixo de morte por qualquer causa, comparados aos homens que realizaram menos de uma hora semanal de exercícios semelhantes. E este risco relativo caiu 51% entre os homens que realizaram mais de 10 horas semanais do mesmo tipo de atividade.

Caminhar é preciso

Concentrando-se especificamente na caminhada (atividade física mais popular atualmente, que representa mais de um terço do total de horas MET por semana entre os pacientes), Kenfield e sua equipe constataram que sete ou mais horas semanais de caminhada conferiram um “benefício significante” relativo a caminhar menos de 20 minutos por semana.
Os autores constaram que o ritmo também faz uma diferença. Os homens que caminharam em ritmo “normal” apresentaram risco 37% mais baixo de morrer de qualquer causa do que aqueles que realizaram uma caminhada mais “tranqüila”. Aqueles que caminharam em ritmo “ligeiro” ou “muito ligeiro” tiveram resultados ainda melhores, registrando uma queda de 48% no risco de morte.

“Existem diversas formas pelas quais os exercícios físicos podem ter um efeito sobre a biologia do câncer de próstata. A atividade física aumenta a sensibilidade à insulina e pode afetar a bioatividade do fator de crescimento da insulina (IGF-1), que influencia a proliferação, migração e angiogênese celular – a formação de novos vasos sanguíneos – podendo levar à progressão do câncer.

A atividade física também diminui os fatores inflamatórios e estimula as funções imunológicas. Ainda está sendo estudado como estas ações moleculares trabalham em conjunto para afetar a biologia e os resultados do câncer de próstata”, disse Kenfield.

O Dr. Basir U. Tareen, médico responsável pelo departamento de oncologia urológica do Beth Israel Medical Center de Nova York, descreveu o estudo como “revolucionário”.

“Há muito tempo sabemos que as pessoas que praticam exercícios em geral são mais saudáveis e tem melhor saúde cardiovascular. Então não me causa surpresa o fato das pessoas que se exercitam terem um nível de sobrevivência geral melhor. Mas, nunca antes havíamos analisado os exercícios em relação à sobrevivência ao câncer de próstata. E é muito animador ver um estudo tão bem feito, onde foi constatada possibilidade de mostrar, de forma sistemática, que o aumento de atividades físicas pode melhorar significantemente a sobrevivência ao câncer”, disse Tareen.

Ele complementou: “Estamos esperançosos que este estudo será um ponto de partida para muitos outros, pois ainda temos de descobrir exatamente porque isso ocorre em nível molecular. Provavelmente existe uma relação entre uma probabilidade mais baixa de contrair infecções em pessoas que se exercitam, ou ainda uma relação com o sistema imunológico. Mas, mesmo agora já posso dizer a meus pacientes que se eles se exercitarem pelo menos três horas por semana eles terão uma importante redução no risco de mortalidade por câncer”, disse Tareen.

Por Alan Mozes

Tradução: Claudia Batista Arantes

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