domingo, 12 de setembro de 2010

Ter livros em casa aumenta o grau de educação
Pesquisadores descobriram que ter livros em casa pode ser mais benéfico aos filhos do que o grau de educação dos pais
Camila de Lira, iG São Paulo |

Por muito tempo se acreditou que o grau de estudos dos pais era um fator importante e determinante para a formação acadêmica dos filhos, mas, segundo uma pesquisa da Universidade de Nevada, a questão foi posta em dúvida. Segundo os pesquisadores, ter livros em casa é crucial para o aumento do grau de escolaridade dos filhos – e é mais importante do que o nível educacional dos pais.

Durante 20 anos, os pesquisadores analisaram hábitos de pais e crianças, assim como seus currículos, e chegaram à conclusão que as crianças que tiveram livros em casa avançaram pelo menos 3 anos no grau de escolaridade em comparação ao dos pais. De acordo com a psicopedagoga Maria Cristina Natel, a existência de livros é altamente benéfica para as crianças. “Nesta atmosfera, a criança tem uma imersão no ambiente da cultura e das letras, e isso faz com que ela se habitue ao universo da leitura, até mesmo antes de entrar na escola”, explica.

A pedagoga Célia Abicalil, coordenadora do Grupo de Pesquisa do Letramento Literário da Faculdade de Educação da UFMG, diz que a leitura forma o sujeito para a sociedade, porque faz com que ele tenha uma visão mais ampla de tudo que o cerca. “Uma criança que lê se torna um adulto mais inteiro no seu modo de olhar para o mundo”, diz.

Abicalil completa que o primeiro passo para incentivar a leitura é proporcionar o acesso aos livros, mas também aponta a importância de criar o hábito nos filhos. “Isso é fundamental para que eles se acostumem com o trabalho da leitura”, diz. Natel explica que os pais têm um papel importante nesta formação. “Não basta ter o livro em casa, o adulto precisa mediar o objeto de conhecimento”, diz.

Veja algumas dicas das especialistas que podem ser benéficos para estimular seu filho a ler
- Ler para a criança e contar histórias para ela é o primeiro passo. Tal hábito, segundo as pedagogas, pode começar desde a gravidez
- Ler em casa. O hábito de leitura dos pais influencia os pequenos a procurarem também os livros
- Criar um ambiente para a criança ler: um local com prateleiras baixas e com espaço para ela sentar
- Levar a criança em bibliotecas e livrarias
- Quando mais velhas, apresentar livros de assuntos que despertem o interesse e conversar com elas sobre os enredos dos livros

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O que os homens ensinam sobre a saúde da mulher. E vice-versa
O Delas ouviu seis especialistas e encontrou dicas preciosas de autocuidado em cada um dos sexos. Vejas as principais
Fernanda Aranda, iG São Paulo

Os homens são de Marte, as mulheres de Vênus e todas as diferenças que recheiam livros de autoajuda e conversas de bar, também aparecem na saúde.

A literatura médica, as pesquisas, os psicólogos e os psiquiatras já destinaram bom espaço para traçar o comportamento feminino e masculino nos consultórios, nas clínicas e nos hábitos preventivos de doenças.
As diferenças dos sexos são perceptíveis a qualquer profissional de saúde e os “aplausos” e “puxões de orelha” são distribuídos de forma igual entre os gêneros.

Como os homens já podem fazer as unhas sem que ninguém torça o nariz e as mulheres trocam pneu de carro sem que ninguém fique com pena, o Delas foi ouvir especialistas para saber o que elas podem aprender com eles quando o assunto é saúde. Ao mesmo tempo, o ginecologista e obstetra do Hospital da Mulher Pérola Byington, André Luiz Malavasi, alerta que a lição de casa também precisa ser feita pelos maridos, filhos, irmãos, namorados e amigos.

“As mulheres passaram séculos só observando o comportamento masculino. Como não tinham espaço na sociedade, assistiram”, afirma. “Quando conquistaram espaço, já tinham bagagem sobre o universo masculino. Já os homens ainda sabem muito pouco sobre as mulheres. Precisam olhar mais e observar melhor, processo que já começou mas ainda está só no início.”

Além de Malavasi, foram convidados a participar a psiquiatra Célia Lídia da Costa, os urologistas Joaquim de Almeida Claro e Luiz Renato Montez Guidoni, a dermatologista Clarice Kobata e a psicóloga especializada em estresse Ana Cristina Limongi-França.

Elas vão ao psicólogo; eles à academia

Dois indicadores são básicos para medir qualidade de vida e prevenção de doenças. Um é o estresse. O outro a prática de exercícios. Para dar empate na guerra dos sexos, mulheres têm mais a ensinar aos homens com relação ao primeiro quesito. Já eles dão aula no tema briga contra o sedentarismo.

Segundo várias pesquisas já realizadas as mulheres são mais numerosas nas estatísticas de estresse. A última, feita por uma seguradora de saúde, mostrou que enquanto 51% delas dizem viver ameaçadas pelo estresse, entre eles a parcela cai para 39%. A vantagem estatística não é vista com maus olhos pela psicóloga especializada em estresse e consultora da Faculdade de Economia e Administração da USP, Ana Cristina Limongi-França.

“Dizem que as mulheres são mais estressadas, mas a minha avaliação é que elas ‘gritam’ mais. Colocam para fora o estresse e procuram ajuda especializada. Já os homens são mais retraídos, o que não é nada benéfico. A minha avaliação é que eles retraem tanto estes sentimentos que, não à toa, lideram os dados de mortes por infarto”, diz.
Se as mulheres vão mais à terapia, os homens procuram mais a academia e os exercícios físicos. O último inquérito de saúde do brasileiro, realizado pelo Ministério da Saúde, mostrou que o sedentarismo é epidemia nacional – só 10% praticam atividades físicas com a regularidade recomendada – mas as mulheres são ainda mais desleixadas do que eles. Enquanto 8% delas fazem ginástica, entre eles o dado sobe para 12%. Entre os meninos, quase 40% praticam esportes contra 22% das garotas. Lição aprendida!

Na sala de espera, o vazio deles e a pressão delas

Caso o estresse não seja controlado e a falta de exercícios fiscos culmine em um problema de saúde, por exemplo, a sala de espera pode servir como “laboratório” da diferença entre o comportamento feminino e o masculino. Se o paciente for homem, conta o coordenador do Hospital do Homem de São Paulo, Joaquim de Almeida Claro, ele sempre terá a companhia feminina, seja de esposa, mãe, irmã ou namorada. Já as mulheres, estarão sozinhas.

“A mulher quase sempre passa por um processo médico sozinha. Seja um câncer ou até mesmo o pré-natal”, afirma o ginecologista e obstetra do Hospital Pérola André Luiz Malavasi. Para ele, é muito importante a parceria e a companhia, inclusive, para a melhora do quadro clínico e evolução para a cura. “Eles podiam aprender isso com elas.”

Porém, se são mais presentes na sala de espera, também têm mais chance de fazer pressão. É fato que a ausência masculina como acompanhantes não permite fazer deles o exemplo, mas em outras áreas eles costumam ser mais relaxados. E a performance da mulher, apesar da “complacência”, nem sempre exclui pressão e crueldade, em especial quando o problema do homem é impotência ou ejaculação precoce, diz o urologista do hospital Santa Isabel e chefe do serviço de urologia do Hospital Geral de Guarulhos, da Santa Casa de São Paulo, Luiz Renato Montez Guidoni.

Eles demoram, elas se arriscam

É verdade que o caminho até chegar à sala de espera e consultas clínicas é bem diferente para ambos. As mulheres já nascem sabendo que vão ao médico e incorporam o autocuidado na rotina. Já os homens precisam de um problema de saúde bem mais complexo para cogitar uma visita ao doutor. A resistência é tão importante que as principais autoridades de saúde se reuniram, no mês passado, para “convencer” o sexo masculino a frequentar as consultas.

Se as mulheres vão mais ao médico – e deviam inspirar mais os homens – elas também arriscam mais a saúde em nome da estética, alerta a dermatologista Clarice Kobata. Apesar de estarem mais vaidosos do que antes, os homens ainda não topam sem reservas testar fórmulas mágicas, sem regulamentação, que prometem uma pele incrível ou cinco quilos a menos em uma semana. Rifar a saúde por causa do espelho tem o cigarro como um dos principais exemplos, conta a psiquiatra do ambulatório de tabagismo do Hospital A.C Camargo, Célia Lídia da Costa. A mulher até procura mais ajuda para parar de fumar do que o homem. “O problema é que elas utilizam o cigarro para emagrecer e quando engordam voltam a fumar. Eles sabem que não vale a pena arriscar a saúde a este ponto”, diz.

Elas questionam, eles obedecem

Na corrida para o médico, as mulheres chegam na frente. Mas a obediência aos conselhos do especialista é mais forte nos pacientes do sexo masculino, até porque quando visitam o doutor já estão em um estágio avançado da doença e questionar não é o comportamento mais indicado.

Outra característica é que a mulher nunca se coloca em primeiro lugar. Questiona a importância de tomar decisões, pensa nos filhos, no marido, no emprego. “O homem se coloca em primeiro lugar. Ele suporta menos ficar doente”, acredita o urologista Guidoni. O médico explica que este pode ser um aspecto positivo, desde que não extrapole, já que eles também, em caso de doença, costumam ser espaçosos.

“Pelo aspecto da busca da qualidade de vida, é uma postura positiva dos homens. Só é negativa porque acaba envolvendo demais essas pessoas, a família, como se fosse o centro do universo, o que pode sobrecarregar a mulher.”

Eles curam, elas postergam

A praticidade masculina aparece até quando as doenças diagnosticadas são mais sérias. Para comparar, o câncer de mama é uma doença que ameaça a feminilidade de forma muito semelhante àquela com a qual o câncer de próstata parece ferir a masculinidade. O problema delas ataca a vaidade, pode resultar na mutilação das mamas. O deles, pode acabar em incontinência urinária e disfunção erétil. As mulheres, até por reconhecerem sintomas que não são físicos, acabam sofrendo mais. Os homens concentram forças em melhorar.

“Os dois têm muito a aprender um com outro. Mas para resumir, diria que a mulher quer melhorar na medida do possível. O homem quer melhorar a qualquer custo”, define o urologista Guidoni.
Turmas nas escolas brasileiras são mais numerosas, diz OCDE
Estudo comparou a situação do País com a 38 países. Para especialistas, foco no aprendizado individual precisa acompanhar redução
Priscilla Borges, iG Brasília | 10/09/2010 07:00

As turmas escolares brasileiras possuem mais alunos do que deveriam. A quantidade de estudantes sob a responsabilidade de cada professor vem diminuindo, como recomendam especialistas, mas ainda é maior do que a ideal. Pedagogos ressaltam, no entanto, que diminuir o número de alunos por professor não é suficiente para garantir a aprendizagem de todos: é preciso mudar o compromisso com a educação.

Em cada classe do País, o número médio de estudantes sob a responsabilidade de cada professor é de 25 alunos nas séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º anos) e de 30 nas séries finais (6º ao 9º anos). Os dados fazem parte do estudo Education at a Glance (EAG) 2010, divulgado esta semana pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele analisa outros fatores, como investimentos em educação e escolaridade da população. Os dados financeiros e educacionais são de 2007 e 2008, respectivamente.

A pesquisa reúne informações dos 31 países da OCDE – Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos –, e de mais oito países convidados: Brasil, Federação Russa, Estônia, Eslovênia, Israel, China, Índia e Indonésia.

O tamanho das turmas brasileiras, segundo o estudo, é superior às de todos os países da OCDE. Neles, a média é de 21 alunos por classe nas séries iniciais e de 24 nas finais. Mas há variações entre os países. Na Coréia e no Chile, por exemplo, as turmas têm 30 alunos ou mais nas séries iniciais. Já países como Áustria, Finlândia, Portugal e México possuem 20 estudantes ou menos.

Na pré-escola, o cenário se repete. Cada professor precisa ensinar cerca de 19 alunos. Nos países da OCDE, a relação cai para 16.

Queda

De acordo com o estudo, o número médio de alunos por turma está diminuindo. Entre 2000 e 2008, nas séries iniciais do ensino fundamental, a redução foi de 1 aluno por classe e, nas finais, de 4 alunos por sala. Apesar dos números da OCDE, César Callegari, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), acredita, no entanto, que a realidade das salas de aula brasileiras ainda não é homogênea.
Ele afirma que há turmas muito numerosas ainda, chegando a mais de 30 alunos nas séries iniciais. Callegari acredita, no entanto, que a queda taxa de natalidade da população brasileira e as correções de fluxo têm contribuído para reduzir o tamanho das classes.

“A relação professor/aluno tem pautado muitos estudos. Sempre com propostas de reduzir a quantidade de alunos por sala e por professor. Há docentes que dão aulas para 600 alunos por semana nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio. Eles vão passar o ano sem conhecer os nomes dos alunos. O número menor de estudantes por sala aumenta as chances de um bom ensino e uma boa aprendizagem”, diz. Callegari ressalta que, com turmas numerosas, a atenção dada pelos professores a cada estudante é muito menor.

Para Maria de Fátima Guerra, professora do Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), mais do que reduzir as turmas – o que considera importante para melhorar qualidade das aulas – é preciso mudar o foco do ensino. “O ensino precisa ser individualizado e atender as necessidades específicas de cada um”, afirma.

“Precisamos de menos alunos por turma, mas isso por si só não resolve as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Se o professor não trabalha a individualização do ensino, não garante aprendizagem. Não importa se uma turma tem mais alunos, se ela tiver um excelente professor”, pondera a professora.

Maria de Fátima lembra que uma solução para as classes numerosas é trabalhar com grupos em sala de aula. “É possível estimular a dinâmica de redes de aprendizagem, em quer todos participam dentro do grupo”, diz. “É a cultura da aprendizagem que a gente precisa trabalhar”, afirma.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Por que o sexo é reprimido?
Regina Navarro Lins: O objetivo da repressão sexual é fabricar indivíduos adaptados para a sociedade autoritária
Portal Ig - 06/09/2010 08:13

Selma tem 57 anos. Recatada, por conta da rígida educação religiosa que teve, o sexo nunca foi uma coisa simples para ela. Muito dedicada aos filhos e ao marido, teve uma grande surpresa quando ele, após 37 anos de casamento, lhe comunicou que desejava se separar e saiu de casa. O ex-marido, feliz com a nova mulher, passou a evitar contatos com ela. “Sofri demais, por muito tempo, cheguei a pensar em suicídio. Quando estava um pouco melhor, conheci um novo vizinho. É um viúvo, gentil e carinhoso. Gostou de mim e saímos algumas vezes. Fiz muitas fantasias de reconstruir a minha vida, mas quando sugeriu que fôssemos à sua casa, o mundo desabou. Fiquei achando que ele estava me confundindo com uma mulher fácil. A partir de então, achei melhor me afastar.”

Muitos, ao lerem o caso de Selma, dirão que isso não existe mais, que atualmente ninguém se comporta dessa forma. Não sei não. Você acredita mesmo que hoje exista liberdade sexual? Que as pessoas busquem desenvolver ao máximo o prazer? Apesar de um grande número de homens e mulheres buscar relações sexuais mais livres, respeitando os próprios desejos, uma grande parcela da população ainda se submete a valores morais anacrônicos, sem nenhum questionamento.

O sexo é ainda tão reprimido, tão cheio de tabus e preconceitos, que a maioria não sabe diferenciar o que realmente deseja do que aprendeu a desejar. Quantas vezes você ouviu uma amiga afirmar, após ter ficado de carícias e beijos a noite inteira com um homem, que não foi ao motel porque não sentiu vontade? Ou um amigo dizer que não está a fim de sair com determinada mulher, quando no fundo o medo é de falhar a ereção?

A repressão sexual é um conjunto de interdições, valores e regras estabelecidas pelo social para controlar a sexualidade das pessoas. O maior perigo da repressão sexual é quando, de tão bem-sucedida, não se percebe sua existência. Por meio da educação, os valores e as proibições sociais são assimilados de tal maneira que, depois de internalizados, se expressam sob a forma de culpa e vergonha. E a ideia de que há no sexo algo de pecaminoso é absurda, causando sofrimentos que se iniciam na infância e continuam pela vida afora. Desde cedo, as crianças aprendem a associar sexo a algo sujo, perigoso. E dentro das famílias essa ideia ainda ganha um reforço. Por conta de todos os preconceitos, se vive como se sexo não existisse, e ninguém fala com tranquilidade sobre o assunto.

Na verdade, a repressão sexual é um enigma estranho e paradoxal. Se todo ser humano sente prazer com estímulos sexuais, por que então, o tempo todo e em toda parte, sempre existe alguém tentando restringir a liberdade sexual das pessoas? Uma explicação possível está no fato de que, quanto mais se amplia, aprofunda e diversifica a vida sexual, com mais coragem, vontade e decisão se vai vivendo. Transgredir e contestar as regras impostas pode, portanto, tornar as pessoas “perigosas”.

W. Reich, profundo estudioso da sexualidade humana na primeira metade do século XX, vai mais longe ainda. Ele afirma que a repressão sexual da criança torna-a apreensiva, tímida, obediente, “simpática” e “bem comportada”, produzindo indivíduos submissos, com medo da autoridade. O recalcamento — resultado da interiorização da repressão sexual — enfraquece o ‘Eu’ porque a pessoa, tendo que constantemente investir energia para impedir a expressão dos seus desejos sexuais, priva-se de parte de suas potencialidades.

Portanto, conclui Reich, o objetivo da repressão sexual consiste em fabricar indivíduos para se adaptar à sociedade autoritária, se submetendo a ela e temendo a liberdade, apesar de todo o sofrimento e humilhação de que são vítimas. James W. Prescott, respeitado neuropsicólogo e pesquisador americano, concluiu que uma personalidade orientada para o prazer raramente exibe condutas violentas ou agressivas e que uma personalidade violenta tem pouca capacidade para tolerar, experimentar ou desfrutar atividades sexualmente prazerosas.

Ao contrário de outras culturas, em que alcançar o máximo de satisfação no sexo é importante, a nossa cultura judaico-cristã valoriza mais o sofrimento, considerando-o uma virtude. O prazer é visto com maus olhos. Se você quiser comprovar, basta fazer uma experiência. Quando chegar amanhã ao trabalho, conte uma desgraça, daquelas bem cabeludas. Diga como está sofrendo e como viver é difícil. Garanto que todos vão se mobilizar, ficar ao seu lado, tentando ajudar de todas as maneiras. Daqui a uma semana, faça o oposto. Conte como está feliz, diga que teve uma noite maravilhosa, de intenso prazer sexual. Mas se prepare. Seus colegas vão tentar disfarçar, mas se afastarão com risinhos irônicos e passarão a te olhar diferente, de um jeito meio crítico.

Não é de admirar, portanto, que tanta gente renuncie à sexualidade ou que a atividade sexual que se exerce na nossa cultura seja de tão baixa qualidade. Na maioria das vezes ela é praticada como uma ação mecânica, rotineira, desprovida de emoção, com o único objetivo de atingir o orgasmo o mais rápido possível. Resulta daí ser o desempenho bastante ansioso, podendo levar a um bloqueio emocional e a vários tipos de disfunção, como impotência, ejaculação precoce, ausência de desejo e de orgasmo, sem falar nos casos mais graves de enfermidades psíquicas. É preciso descomplicar o sexo.

Há algum tempo, perguntei a diversas pessoas o que elas pensavam a respeito da repressão sexual. Aí vão algumas respostas.

João Ubaldo Ribeiro (escritor)
Ainda existe muita repressão. Essa frase do Nelson Rodrigues, muito citada, ilustra bem isso: “Se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo, ninguém se dava com ninguém.” O grau de repressão é altíssimo, inclusive da pessoa com ela mesma.

Elza Soares (cantora)
Fui muito atacada durante a minha relação com o Garrincha, mas não me arrependi de estar amando, não. Mas eu fazia comparações. As sociedade foi muito preconceituosa por eu ser mulher, negra e pobre, e denunciar a hipocrisia.

Lula Vieira (publicitário)
O sexo é reprimidíssimo, por ser uma coisa muito libertária. As religiões e os poderosos acham que sem reprimir o sexo não há possibilidade de domínio político ou social. A primeira preocupação de qualquer religioso é cuidar do sexo. A repressão sexual é uma forma de dominar.

Luiz Mott (antropólogo, fundador do Grupo Gay da Bahia)
Há pesquisas rigorosas que comprovam grandes semelhanças psicológicas entre pessoas racistas, machistas e homofóbicas. Todas ostentam personalidade do tipo autoritária, com graves dificuldades em conviver com a "alteridade". Em termos de religião, via de regra tendem ao fanatismo; em política são fascistóides. O Brasil é o campeão mundial em assassinatos de homossexuais!

José Ângelo Gaiarsa (psicoterapeuta e escritor)
Bom, a pedra de toque na repressão sexual é: “mãe não tem xoxota”. Veja bem, fala-se em liberação sexual, mas mãe não tem xoxota.
Estimule a resiliência nas crianças desde cedo
Livro norte-americano ensina como criar os filhos para que eles enfrentem bem os problemas ao longo da vida
Livia Valim, especial para o iG São Paulo | 06/09/2010 09:13

Segundo o dicionário Houaiss, resiliência é a “propriedade que alguns corpos têm de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação”. Tomando emprestado o termo da física, a psicologia valoriza esta qualidade humana de lidar com os problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Com tanto instinto protetor, muitos pais preferem poupar os filhos dos problemas a ensinar a enfrentá-los, o que cria adultos com fraquezas insuperáveis.

Pensando nisso, o pediatra Kenneth Ginsburg, do Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, se juntou à Academia Americana de Pediatria para lançar “A Parent’s Guide to Building Resilience in Children and Teens: Giving Your Child Roots and Wings” (“Um guia para os pais construírem resiliência em crianças e adolescentes: dando a seu filho raízes e asas”, em tradução livre). O livro explica que as crianças precisam saber que existe um adulto na vida delas que acredita e as ama incondicionalmente, mas não há como impedir a presença do estresse. “O truque é descobrir quando alguma coisa é realmente uma emergência ou as emoções estão apenas o fazendo agir como se fosse”, diz o médico na publicação.

Um artigo publicado na Healthy Children Magazine explica quais são os sete “C’s” definidos por Ginsburg como técnica para os pais ajudarem o filho na preparação para a vida:

Competência - Ajude as crianças a se focar em seus pontos fortes, incentive que tomem decisões e reconheça as competências de irmãos individualmente, evitando comparações.

Confiança - Reconheça sempre que seu filho fizer algo bem feito e não obrigue seu compromisso com mais tarefas do que pode suportar.

Conexão - Permita a expressão de todas as emoções, assim as crianças se sentirão confortáveis para pedir ajuda em momentos difíceis. Crie também uma área comum onde a família fique junta e possa conversar.

Caráter - Demonstre como os comportamentos afetam as outras pessoas, a importância de viver em sociedade e nunca faça declarações racistas ou estereotipadas.

Contribuição - Fale que muitas pessoas no mundo não têm tudo que precisam e crie oportunidades para que a criança contribua de alguma maneira.

Competição positiva - Demonstre estratégias de competição positivas no dia a dia e entenda que os pequenos precisam passar por algumas situações de estresse para aprenderem a lidar com ele.

Controle - Ajude seu filho a entender que os eventos da vida não são somente aleatórios: a maioria deles acontece como resultado de escolhas e ações.

Tecendo a resiliência

Estimular a resiliência está ligado a acolher e dar uma estrutura familiar saudável às crianças, ao mesmo tempo em que se ensina a enfrentar adversidades e respeitar regras. No começo da vida, o bebê é ansioso. Quando sente fome ou frio, demora pra entender que terá alguém para suprir suas necessidades.
Lá pelo quarto ou quinto mês, começa a entender que consegue o que quer, mas algumas vezes precisa esperar um pouco. “É aí que a criança começa a desenvolver a resiliência”, explica o neuropediatra Saul Cypel, consultor do Programa de Desenvolvimento Infantil da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

“Para começar, é preciso servir de exemplo. Os pais devem demonstrar integridade, confiança e autoestima elevada”, ensina a psicóloga da clínica Elipse, em São Paulo, Beatriz Otero. É de responsabilidade dos pais também validar seus filhos como pessoas, ou seja, demonstrar apoio ao que eles sentem e não diminuir seus medos e incertezas só por serem preocupações infantis.

Quando ele demonstra medo do escuro, por exemplo – você pode simplesmente dizer que bicho papão não existe ou compreender o sentimento, contar que também sente medo de algumas coisas, mas que está lá para apoiá-lo. Assim, seu filho não terá vergonha de expressar emoções e se sentirá seguro para viver plenamente os medos e enfrentá-los.

Uma das situações mais eficazes para estimular a resiliência nas crianças são os jogos em família. Deixar que elas ganhem sempre não ajuda em nada, pois você está criando a falsa impressão de que na vida nunca se perde. “Quem não convive com frustrações não cresce”, diz o dr. Cypel.

Explique também que seu filho não pode ter tudo o que quer. Um bom exemplo é levá-lo apenas como companhia pra comprar algo para você. Deixe ele perceber que o vendedor mostrou dez peças e você só levou uma. Depois, explique a importância de se fazer escolhas e que você gostaria de levar mais, mas não pode por “isso” e “aquilo”. “Não se cria resiliência por decreto. É um trabalho que vai sendo alinhavado como um tecido”, Cypel.