segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Uma lei para punir ou um programa para educar os pais?
Os objetivos da lei antipalmada seriam mais adequadamente atingidos com a adoção de um programa educativo
28/07/2010 12:04- Marlene Ortega

Você, como mãe, editaria “leis” como método de educação de seu filho? Pois é, parece que o governo pretende educar os pais a educarem seus filhos justamente por meio de uma lei. Se nos parece que isso não irá funcionar, qual seria o objetivo de proibir os pais de usarem palmadas pedagógicas na educação dos filhos? Os defensores da lei antipalmada afirmam que os castigos corporais aplicados às crianças deixam nelas marcas psicológicas que se manifestam na fase adulta.

Muitos de nós ainda não entendemos esse argumento, até porque levamos algumas boas palmadas quando criança. E, ao recordar de alguma traquinagem que fizemos, reconhecemos ter sido merecedores do tal corretivo por abusar dos limites, ter esgotado a paciência e tirado os pais do sério. Apesar de cada pessoa e cada lar contar com seus padrões e valores familiares, tendo modos diferentes de agir para educar os filhos, passa a existir uma regra de ouro básica que todos devem respeitar: é proibido aplicar na criança ou no adolescente qualquer tipo de castigo corporal. Em resumo, as palmadas pedagógicas não serão mais aceitas no entendimento da lei.

Em minha opinião, cabe aos pais, e não à escola ou ao governo, a responsabilidade de definir como preparar os filhos para se comportarem adequadamente dentro e fora de casa, alimentando a formação de um adulto que tenha educação e equilíbrio para interagir na sociedade. Não se sabe ao certo se o governo quer apenas alertar sobre possíveis traumas que podem resultar dos castigos físicos ou se realmente pretende punir os pais infratores. É mais ou menos como punir uma mãe por pegar o filho pelo braço para levá-lo ao banheiro e escovar os dentes, depois de muitas tentativas de explicar à criança de cinco anos o quanto esse hábito de higiene é importante para sua saúde. Esse caso poderá em tese ir parar no juiz para decidir se a mãe teve um comportamento aceitável ou não.

E, se faz sentido coibir os castigos físicos, não seria necessário criar algumas outras leis complementares que proibissem, por exemplo, os palavrões e insultos dos pais dirigidos aos filhos? Tem lógica admitir que não só a força física, mas também insultos morais possam produzir abalos emocionais semelhantes, com sérias repercussões no adulto. As ofensas verbais desmedidas, de gritos e palavrões dirigidos às crianças, podem ferir muito mais do que as palmadas pedagógicas.

Não estou fazendo uma defesa das palmadas, mas apenas considerando quão restrito será o resultado de sua aplicação. Na realidade, os casos de real violência contra a criança já são punidos pelo código penal e civil. Agora, uma palmada ou outra no bumbum, sem machucar a criança, não deveria suscitar dilemas. Será ridículo ver um pai denunciado à polícia por ter dado uma palmada no bumbum do filho que se jogou no chão do shopping, fazendo um verdadeiro escândalo por não conseguir o brinquedo que queria. E ainda existe a possibilidade de que os filhos se sintam poderosos para começar a agredir os pais, sabendo que estão protegidos pela lei. Não sei se a lei irá tratar desses desdobramentos.

O Brasil quer copiar normas de outros países, sem analisar a cultura local e o estágio de educação da própria população. Nesses dias de debates sobre o uso das palmadas, um pai enviou um e-mail para a CBN perguntando se houve discussão com a sociedade e com os pais antes da definição da regra. Vale reafirmar que não o surgimento da lei não se justifica em função do caso da procuradora de justiça que espancou uma criança de dois anos que estava sob sua guarda. Para extremos como este, já existem penalidades previstas.

Sem dúvida alguma, a principal orientação aos pais estaria relacionada à importância de assumirem a responsabilidade pela educação dos filhos, conversando com eles desde cedo, transmitindo valores éticos, de responsabilidade e respeito nas relações. Então, um programa de educação valeria mais do que uma lei. O desafio atual é o entendimento de como deve ser a educação das crianças em meio a um cenário de tantas mudanças globais. Hoje, elas têm muito acesso à informação desde cedo, estão conectadas com grupos multiculturais, trocam conhecimentos o tempo todo e sentem-se reis e comandantes em seu espaço pessoal. As crianças vão para a escola já com dois anos de idade, ficando o dia todo por lá, com atividades que são ótimas, mas que não substituem a educação que devem receber dentro de seus lares. Que grande questão esta lei levanta.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Entenda por que o Piauí entrou para a elite do ensino brasileiro
Carga horária elevada, competição entre escolas e desejo de mudar fazem Teresina ter quatro entre os 26 melhores colégios do País
Priscilla Borges, iG Brasília | 17/08/2010 08:00

A capital do Piauí, Teresina, está no topo da educação brasileira. Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009 mostram que quatro escolas da cidade – todas da rede privada – estão entre as 26 melhores do País. Até a semana passada, quando um colégio paulista ganhou na Justiça o direito de revisão de notas, a primeira piauiense aparecia em segundo lugar no ranking. Agora, caiu para a terceira posição. A quarta melhor escola do estado estava em 25º e passou para 26º.

As quatro escolas da capital piauiense mais bem posicionadas no ranking do Enem são, em ordem, Instituto Dom Barreto (3º lugar), Instituto Antoine Lavoisier de Ensino (13º), Educandário Santa Maria Goretti (19º) e Colégio Lerote (26º). Apesar das 23 posições entre eles, apenas 27,54 pontos os separam nas notas dos alunos no Enem 2009.

O feito das escolas de Teresina só foi repetido pela capital paulista e superado pelo município do Rio de Janeiro, que possui oito escolas entre as 25 primeiras. Proporcionalmente, a conquista de Teresina chama mais a atenção. No Rio, 684 colégios públicos e privados oferecem o ensino médio. Em São Paulo, 1.239. Em Teresina, apenas 168.

O Inep só calcula as notas no Enem das escolas em que mais de dez alunos concluintes do 3º ano do ensino médio participam da prova. Do total da capital piauiense, 128 tiveram resultados divulgados. Dos 64 colégios privados do município que oferecem ensino médio, 52 tiveram notas. Os quatro primeiros representam 8% da amostra da rede privada de Teresina.

A diferença é enorme quando comparada ao Rio ou a São Paulo. Na lista dos que ganharam notas no exame, no Rio de Janeiro, aparecem 444 nomes. Entre os melhores da cidade, a maioria é escola privada, mas há uma federal e uma estadual. Os oito melhores do Rio simbolizam 2% do total das escolas particulares com conceito. Em São Paulo, os quatro melhores do Enem (todos privados) representam 1,4% dos 279 colégios dessa rede com nota.

Cidades com o mesmo porte de Teresina – que possui cerca de 802 mil habitantes e 62 mil alunos no ensino médio – não alcançaram nível educacional parecido com o da capital piauiense ainda. Natal, capital com 806 mil habitantes não possui nenhuma escola entre as 100 melhores. São Bernardo do Campo, que possui 810 mil moradores, por exemplo, tampouco. As duas cidades ainda possuem menos estudantes na etapa: 43 mil e 37 mil.

Receitas nada secretas

O segredo das escolas de Teresina para obter tanto destaque é simples. Primeiro, elas investem em uma carga horária de estudos que impressiona. Das quatro escolas com mais destaque no Enem, em três a jornada diária de aulas supera sete horas. Na outra, é de seis horas e meia. A rotina semanal só termina aos sábados, com aulas regulares e simulados. E tanto esforço não se restringe aos alunos do 3º ano: já começam no ensino fundamental.

A metodologia semelhante não é mera coincidência entre as escolas de Teresina. Nem é uma orientação ensinada nas faculdades aos futuros professores da região. A resposta – dada pelos próprios estudantes ao iG, que visitou as quatro escolas na última semana – é a concorrência entre elas. “Há uma competição muito grande entre elas. Uma escola boa vai seguindo a outra”, admite André Acioli Lins, 17 anos, aluno do Educandário Santa Maria Goretti.

Para os alunos, a disputa por melhores notas é saudável. Segundo os estudantes, os colegas de outras escolas serão os concorrentes diretos na busca pelas vagas na universidade. E a disputa, até onde se tem notícia, se restringe ao universo intelectual. Grande parte dos professores dá aulas em mais de uma dessas mesmas escolas, inclusive.

Por fim, o sucesso das escolas de Teresina também pode ser explicado, segundo alunos, professores e diretores, pelo desejo de mudança dos estudantes. Primeiro, vontade de transformar a imagem que o Estado tem no País. “Acho que a gente se esforça também para dar mais visibilidade ao Piauí e mudar a visão que as pessoas têm daqui”, diz Felipe Adriano Bezerra, 17 anos, estudante do Instituto Lavoisier.

A segunda é a mudança física mesmo. Eles buscam as melhores instituições do País. Com a concorrência acirrada, estudam ainda mais. A vontade de sair do Piauí tem explicação. “Queremos buscar a melhor formação para depois podemos voltar e evoluir a condição do Estado”, pondera Marcus Vinícius Gonçalves, 17 anos, aluno do Lavoisier.